A minha relação com a região do Douro é de amor… um amor profundo! Numa outra vida certamente deixei coisas por viver por aqui, porque, sempre que entro no Alto Douro Vinhateiro, sinto-me mais completa e sinto que preciso de ficar, cada vez mais tempo. Olho para o que chamo de “geometria indescritível”… os montes, uns atrás dos outros, só recortados pelo rio Douro e seus afluentes, com os desenhos dos muretes e dos socalcos dos vinhedos.
É como olhar para um quadro, uma imagem suspensa, com mil palavras que lhe cabem… É lindo de morrer o Douro Vinhateiro e há sempre algo novo para visitar, para provar, para nos deslumbrar. Todos os anos o visito e todos os anos fico com a vontade de lá voltar rapidamente. Quem sabe, um dia, mudo-me para lá!
Onde ficar alojado? Tem aqui abaixo algumas sugestões de locais onde já fiquei alojada no Douro Vinhateiro. E também de quintas onde já fiz várias provas e que voltaria lá outras vezes, por isso, aconselho.
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Classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, desde 2001, o Alto Douro Vinhateiro tem a mais antiga DOC do mundo: sendo a região vinícola demarcada mais antiga do mundo, decretada pelo Marquês de Pombal, no ano de 1756. Nesse ano, foi criada a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, que viria a delimitar a produção de vinho, tornando-a a primeira região demarcada do mundo. E, para a demarcação, foram colocados 335 marcos de granito nos terrenos.
A riqueza vínica do Douro Vinhateiro não vem só das condições climatéricas e dos solos xistosos e graníticos. Foi o trabalho árduo do Homem, que moldou os montes em socalcos e permitiu que a produção crescesse, sem perder a qualidade. Antigamente, o processo era ainda mais trabalhoso e demorado: as uvas saíam das vinhas, diretamente para cestos, que iam para as adegas para serem pisadas. Depois, o líquido ia para os tonéis que navegavam, normalmente em barcos rabelos, até à cidade do Porto. Melhor dizendo, até à cidade de Vila Nova de Gaia, onde ainda permanecem todas as caves de vinhos do Porto e Douro, podendo ser visitadas e fazendo provas.
Visitar esta região duriense é subir a miradouros e ficar deslumbrado com a vista; fazer trilhos; conhecer a cultura e provas de vinhos; passeios de comboio; e fazer uma imersão na gastronomia regional.
O QUE VISITAR?
É verdade que, as visitas e provas nas quintas produtoras de vinho são o programa de quase todos os que visitam a região, mas há mais para conhecer. Como o Alto Douro Vinhateiro está distribuído por 13 municípios são muitas as sugestões, por isso, selecionamos algumas. As vilas e aldeias do Alto Douro Vinhateiro são repletas de tradições e História para descobrir, começando pelo património – as capelas e as igrejas, as casas senhoriais oitocentistas e as quintas – e conhecendo as tradições locais.
– Apesar de a cidade de Peso da Régua ter tido um crescimento urbanístico exagerado e pouco regulado – deixando-a pouco pitoresca – ainda assim aconselhamos que passe por lá, até porque algumas quintas de vinhos estão aqui perto situadas. Também é aqui que está o Museu do Douro e alguns bons restaurantes que ocuparam uma lateral da estação de comboios.
– Na estação de comboios de Peso da Régua, algumas das antigas instalações foram transformadas em restaurantes que servem a gastronomia regional. Experimente!
– Na Régua: se estiver bom tempo, aproveite para desfrutar das esplanadas viradas para o rio Douro.
– O Museu do Douro está situado na cidade de Peso da Régua. Pode ser visitado todos os dias, das 10h00 às 18h00.
– Vá visitar a Estação do Pinhão, com os seus azulejos tradicionais que mostram a vida das gentes e cenas das vindimas. Além dos barcos rabelos, era desta estação que saíam muitos litros de vinho do Porto e Douro, nas carruagens dos comboios.
– As quintas de alojamento, das grandes produtoras de vinhos, sabem bem receber e têm restaurantes que servem a boa gastronomia regional. Além disso, servem sempre os seus vinhos, o que é uma ótima oportunidade de experimentar as harmonizações propostas. – Pode fazer passeios de barco no rio Douro.
– No Pinhão, além do comércio tradicional pode ir até à esplanada do hotel Vintage House ou conhecer a Quinta da Roêda, na margem direita do rio.
– Se atravessar a ponte do Pinhão tem a Quinta das Carvalhas e, ali mesmo, está a loja onde, além de comprar, pode provar os néctares da vetusta Real Companhia Velha.
– São João da Pesqueira: visite a bonita aldeia de Trevões, com inúmeras capelas e ermidas.
– Em Foz Côa pode conhecer o muito interessante Parque Arqueológico – com as milenares pinturas rupestres – e o Museu do Côa.
COMO IR PARA O DOURO VINHATEIRO
Pode ir de carro, autocarro, mas uma das viagens mais bonitas é a que é feita de comboio na linha do Douro. Pode, aliás, ir de comboio até à Régua e depois, da mesma forma, ir até ao pitoresco Pinhão (mas existem poucos comboios para lá, o que poderá limitar). Para outra zona, da região demarcada, o melhor é mesmo ir de carro ou autocarro, e organizar as suas visitas da melhor forma. De carro terá mais liberdade para se movimentar. Também poderá contratar empresas que fazem os tours na região e preparam todo um programa, consoante os seus pedidos.
Se está à procura de alojamento, a escolha nunca vai ser fácil, porque dentro desta região têm vindo a surgir inúmeras quintas que se abriram ao Enoturismo. Algumas mais modernas, outras mais tradicionais, mas todas com a missão de proporcionarem as melhores experiências no Alto Douro Vinhateiro. Dizem os locais que nesta terra “são nove meses de inverno e três de inferno”. No verão, quando o calor começa a apertar as temperaturas passam facilmente os 40 graus e, por isso, uma piscina é sempre boa para refrescar e poderá ser motivo de escolher um alojamento em detrimento de outro…
E qual a melhor altura para visitar o Alto Douro Vinhateiro? Eu diria todo o ano, porque todas as épocas têm o seu encanto, mas sem dúvida que o florir da primavera e a altura até ao final das vindimas são as mais bonitas. Tudo tem mais cor e também, com os trabalhadores nos vinhedos, as terras ganham mais vida.
Conhecer a História do Douro Vinhateiro e saber como são feitos os vinhos do Porto e Douro, pressupõe uma vista à vila do Pinhão. Apesar de não ser a mais bela das localidades é aqui que está uma das mais bonitas estações de comboios do mundo. Com uma série de painéis, a estação do Pinhão conta, nos 24 conjuntos de azulejos, a tradição das vindimas, passo a passo, e até do transporte dos vinhos até às caves em Vila Nova de Gaia – que foi feita de barcos e depois de comboio.
É aqui que se encaixa a dureza do que é fazer vinho – ou trabalhar a erra, em geral – nestas terras. É preciso falar-se do trabalho que o vinho dá e da paixão que é preciso ter-se para continuar a produzi-lo. Mesmo com calor, com pragas, com o ganho a descer e os gastos a subirem – conhecem a história do Cachão da Valeira? Esta é uma terra de valentes, de gente resiliente, esforçada e muito trabalhadora. Talvez por isso eu gosto tanto de aqui estar.
Que quintas visitei? Algumas delas têm, além das provas e visitas às adegas, alojamento e restaurante incluídos, mas se não quiserem ficar, podem ir só fazer uma prova de vinhos, aproveitar um dia lá, um piquenique, etc. Há muitas hipóteses: desde as que têm adegas modernas às outras que mantêm as adegas históricas – outros mantêm ambas, conjugando o passado e o presente da tradição de fazer vinhos nesta região.
Aqui ficam algumas ideias de locais para fazerem provas de vinhos:
– Quinta do Pôpa
– Quinta do Seixo
– Quinta da Roêda
– Quinta da Côrte
– Quinta da Pacheca
– Quinta do Portal
– Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
– Quinta do Vallado
– Quinta de la Rosa
– Quinta das Carvalhas
Quintas, hotéis ou casas de turismo rural, do Douro Vinhateiro, onde já fiquei alojada e sugiro:
– Quinta da Côrte
– Quinta do Portal
– Six Senses Douro Valley
– Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
– Vintage House Hotel
– Hotel Rural Quinta do Vallado
– Quinta de la Rosa
– Quinta da Pacheca
– Quinta Padres Santos
– Casa de Gouvães
Ja fiz diversos passeios de barco no rio Douro, com partida do Pinhão e não só. Uma das experiências foi com a Pipadouro, com um barco exclusivo para o meu grupo, durante quase um dia inteiro. Mas é possível fazer passeios mais curtos, de uma hora ou de três horas – os barcos estão parados no cais do Pinhão e existem várias alternativas – navegando no rio Douro e perdendo-nos nesta paisagem… geometricamente trabalhada. Incrível este Douro Vinhateiro!
REGIÃO DEMARCADA DO DOURO
É no Alto Douro, a norte de Portugal, que está a Região Demarcada do Douro e que se divide em três zonas, que ocupam 250 mil hectares, dos quais têm 45 mil hectares de vinhas: Baixo-Corgo, Cima-Corgo e Douro Superior.
– Baixo-Corgo
Fica a Oeste, ocupando a margem direita do Rio Douro, desde Barqueiros até ao Rio Corgo (Peso da Régua) e a margem esquerda, desde a freguesia de Barrô até ao Rio Temi-Lobos, próximo de Armamar. Curiosidade: é a menor geograficamente, mas as vinhas ocupam 51% da região demarcada.
– Cima-Corgo
O Cima-Corgo, que está centrado na vila do Pinhão, ocupa 36% da região Demarcada do Douro. Começa nas fronteiras do Baixo-Corgo e vai até ao meridiano que passa no Cachão da Valeira.
Foi neste Cachão da Valeira que aconteceu um dos episódios mais conhecidos, ligado às grandes famílias vinhateiras. Tal era a rebeldia do rio Douro, na altura, que este era um local onde muito barcos se afundavam, entre os montes escarpados.
Num dos barcos, iam a bordo o inglês Barão de Forrester e a portuguesa Dona Antónia Ferreirinha (uma das poucas mulheres que, naquela altura, se destacou neste meio do vinho). O barco terá ido ao fundo e Barão de Forrester, dizem, por ter muitas moedas nos bolsos, se terá afogado. Já Dona Antónia se salvou devido às grandes saias, que se usavam na altura, e que se serviram de balão… Aconteceu este episódio a 12 de maio de 1861.
– Douro Superior
Vai desde as fronteiras do Cima-Corgo quase até à fronteira espanhola. Apenas ocupa cerca de 13% da Região Demarcada do Douro.