Escrever em papel - Foto: DariuszSankowski ©Pixabay
Publicado em Junho 27, 2020

“Viagens na Minha Terra”, o tema para escrita criativa no Nível 2 do WOEB

Workshop de Escrita

Na escrita de viagens, como se pode ser criativo sem cair em frases feitas e dando a conhecer a nossa “terra”? Almeida Garrett pegou em algo “simples” e transformou-o em título: “Viagens na Minha Terra”. Um dos mais conhecidos livros de viagens por Portugal, serviu como o tema central para um exercício de escrita criativa no Nível 2 do Workshop Online de Escrita para Blogues (WEOB), do Viaje Comigo. E este foi o resultado dos textos criativos dos participantes.

1 – Sorr(a)ia porque está em Coruche, terra boa de gente boa, Ana Fernandes
2 – Os ares e as terras que levam a Tronco, Cidália Alves
3 – Destino: paraíso, Maria Saraiva
4 – Mira – a região da Gândara, Dália Cavaco
5 – Montemor-o-Novo, além da queijada, ZT
6 – Portugal, o Paraíso escondido no Oeste da Europa, Vanessa Rodrigues
7 – Porto, meu porto, Susana Júlio
8 – Trafaria, onde o Tejo se faz ao mar!, Ana Santana
9 – Porto de abrigo, Sara Rial

1 – Sorr(a)ia porque está em Coruche, terra boa de gente boa

Coruche, a capital mundial da cortiça, é uma pequena vila ribatejana que descansa na margem norte do Rio Sorraia. Foi lá que cresci e foi lá onde vivi metade da minha vida mas de onde resultou tudo o que sou hoje. Pelas suas gentes, pela sua natureza rural, pelo seu rio e pela sua Padroeira, Coruche é uma terra de grande diversidade que merece a sua visita.

Assim que entramos na vila, damos de caras com o Rio Sorraia. O rio traz-me à memória recordações muito antigas. Lembro-me de que no inverno quando chovia bastante, o rio galgava as suas margens e inundava parte da vila. Todos os meus colegas de escola que moravam na margem sul do rio, ficavam em casa, sem ir para a escola. Eu ficava muito chateada porque, morando no centro da vila, no lado norte, tinha os acessos livres de água e podia ter escola normalmente. Hoje em dia já não temos este problema porque foi construído um muro que torna quase impossível ao rio invadir a vila. Hoje, o rio é para mim um ponto de meditação e reflexão.

Coruche tem gentes integras e espontâneas e, sobretudo, tem pessoas que gostam de saborear as delícias típicas do concelho, como são exemplo a carne de alguidar, o arroz de feijocas com petinga frita ou o bolo de mel e as areias do Sorraia. Lembro-me de quando era criança nas matanças dos porcos, o dia era de azáfama total. Eu acho que só atrapalhava porque, na verdade, estava um pouco alheia ao que me rodeava e só queria era brincar. Mas recordo-me que a melhor parte desse dia era quando surgia a carne de alguidar com batatinhas fritas que as minhas avós me preparavam com carinho.

Quem vai a Coruche não pode deixar de percorrer a Rua Direita, onde estão algumas das lojas mais antigas, a Câmara Municipal e outros edifícios históricos. Recordo com carinho a papelaria Aguarela, onde eu ficava sempre colada ao vidro a ver todas as novas coleções de mochilas e material escolar. Por trás da Câmara Municipal, de acesso íngreme, está a Igreja do Castelo, onde repousa a nossa Padroeira, Nossa Senhora do Castelo. Para mim, este ponto mais alto é o melhor para se poder apreciar a vila de Coruche e a lezíria. Ainda nos dias de hoje lá vou sempre que posso para encontrar a minha paz interior.

Coruche é para mim a vila mais bonita de todo o mundo, foi nela que cresci e será que um dia pretendo envelhecer. A pessoa que sou tem uma estreita ligação com aqueles costumes e foi lá que o meu caminho começou a ser trilhado. Naquelas ruas estão os meus passos e podem também estar o seus, se vier de coração aberto e com vontade de acolher um povo naturalmente sorridente e amigo.

Autora: Ana Fernandes

2 – Os ares e as terras que levam a Tronco

Tronco situa-se, ali onde os ares e as terras descem para o concelho de Valpaços e Lebução, pouco antes de entrar em terras de Vinhais. O acesso à aldeia é feito pela EN13, o rodopio da subida de Chaves para Tronco, atravessa aldeias e montes de se perder de vista.

No 3º domingo de agosto todos os caminhos levam a Tronco. Melhor altura para mergulhar nas suas tradições. A capela em honra do Senhor dos Passos, datada do início do século passado, à entrada da aldeia. Em seu redor um enorme largo onde se realiza a romaria. Razão da vinda à terra de emigrantes e migrantes. O forno do povo, ainda em funcionamento, é um entra e saí do tradicional assado de borrego.

Alvorada às 7h, largada de foguetes, saltamos da cama num bradar de palavrões. Por isso, é aconselhável não estarmos de ressaca!!!! Pelas 9h horas ecoam os trombones, os bombos e clarinetes! Eis que a banda passa, a Fanfarra e as majoretes! Terminam no largo principal calando os instrumentos. Os cabeça de família, esperam-nos, escolhem um músico, é convidado a marcar presença na sua mesa de festa. É a tradição.

Neste dia, veste-se roupa e calçado novo, usa-se os melhores adornos e arranja-se o cabelo. Missa campal no largo do Senhor dos Passos. Os andores, adornados com flores de todas as cores, cetins brancos reluzidos, purpuras, lilases e azuis celestes. Destaca-se o do Senhor dos Passos, imponente, cravejado de notas de euros. Um regalo para os olhos, as inúmeras crianças, figurantes em trajes de anjos, virgens Marias e meninos Jesus.

A procissão percorre a aldeia. As melhores colchas do enxoval, nas janelas, pétalas de flores chovem. Os devotos acompanham o cortejo, uns cumprem promessas, descalços, outros carregam oferendas em cera. Depois da fé, o almoço. O cordeiro, o bom vinho e a alegria em família. À tarde o baile e o leilão, à noite o arraial e o fogo de artifício.

Que mais direi de Tronco, terra que me viu nascer? Falar das suas vistas em largos horizontes que se perdem nas montanhas distantes. De cada terreno que tem nome próprio: a lagoa, as fontes-três, a corredoura ou o chabascal. O descanso que sentimos pelo isolamento, os passeios entre giestais e caminhos de cabras, os castanheiros seculares e à noite o estrelado céu tão nítido e reluzente.

Autora: Cidália Alves

3 – Destino: paraíso

Vivo em Luanda, cidade à beira-mar e uma baía rodeada de palmeiras, na grande marginal em semicírculo; às 17h começa o entardecer e noto a cidade modificar-se, mais lenta, menos ruidosa, a ganhar outros tons, primeiro um amarelo mais torrado, depois alaranjados e avermelhados. A água reflete os tons dourados do Sol, que vai baixando, quase no limite do horizonte e, ao contrário de outras latitudes, esconde-se atrás das nuvens.

É sempre uma emoção testemunhar mais um dia chegando ao fim com tanta beleza e esplendor, um caleidoscópio de cores que nem Matisse ou Kandinsky conseguiriam imitar.

Amanhece e partimos em direcção ao Sul, não é preciso ir longe para ver as maravilhas com que a natureza nos brindou, à direita vemos a Ilha do Mussulo, uma restinga comprida 30 km, de palmeiras verdejantes, para atravessar o mar bastam 10 min numa barcaça,  vulgo chata, mas esse não é o nosso destino. Dirigimo-nos a Cabo Ledo a 120 km da cidade.

A meio do caminho paramos no Miradouro da Lua, uma paisagem esculpida pela erosão do mar, chuva e vento, mais parecer um cenário lunar, a terra num degradé de cores, dos avermelhados ao bege,  o mar é pano de fundo. Lindo! Sem preço!

Continuamos viagem até à Barra do Rio Cuanza, cruzamos o rio e os macacos do Parque da Quiçama são a atracção, na berma da estrada. Et voilá, deixamos bananas. Mais 50 km e Cabo Ledo, finalmente!

Rumamos à Praia dos Surfistas, fazemos campismo selvagem; do cimo é-nos oferecida uma vista fabulosa, o Sol e o intenso azul do mar. UAU! Situada entre dois montes, num conjunto de pequenas baías entre falésias, criam uma meia lua. As ondas altas formam-se ao largo para se esbaterem na areia dourada da praia, a água quentinha invita ao banho. Nós e a natureza. A noite cai, o manto de estrelas serve-nos de tecto. Sinto-me preenchida e, embalada pelas ondas, sonho e nasce novo dia! Para almoço, lagostas do pescador e facilmente apanhamos quitetas para o jantar, saboreando um Gin! Oh, Vida difícil… Até já!

Autora: Maria Saraiva

Continue a ler na próxima página 1 2 3
Comentários

Poderá também gostar de

Regressar ao topo