Escrever em papel - Foto: DariuszSankowski ©Pixabay
Publicado em Junho 27, 2020

“Viagens na Minha Terra”, o tema para escrita criativa no Nível 2 do WOEB

Workshop de Escrita

4 – Mira – a região da Gândara

A vila de Mira, no concelho de Coimbra, é a minha terra de coração. Passei lá todos os meus verões na infância e sempre que posso dou lá um salto. Terra da família, dos bailaricos de verão, das amizades de vida.

Ao chegar ao centro da vila aconselho uma visita à Igreja Matriz, do século XVII e repleta de talha dourada. Aqui encontramos a estátua do santo padroeiro de Mira – São Tomé, que dá nome às festas da Vila, realizadas em julho. Ansiava por estas festas, pois eram as maiores do concelho.

Mira é mais conhecida pela sua praia (a Praia de Mira) que exibe orgulhosamente a bandeira azul há mais de 30 anos! Em frente ao mar encontramos a Capela Nossa Senhora da Conceição, a padroeira dos pescadores, e uma estátua que os homenageia. Esta capela para mim sempre foi um ponto de paragem. É diferente do que estamos habituados: totalmente em madeira, mas muito acolhedora.

Na praia temos a barrinha (um grande lago de água doce) onde é possível fazer passeios de gaivota. Quando era pequena era possível tomar banho nestas águas. Numa das zonas da barrinha existia mesmo uma prancha de saltos e era paragem obrigatória depois de uma dia de praia, para tirar o sal do mar do corpo.

A ciclovia ao redor de Mira tem mais de 40km, boa para passeios a pé ou de bicicleta pelas povoações, floresta ou dunas da praia. Aqui encontramos antigos moinhos de água. A minha família tinha por hábito alugar um moinho recuperado e fazer broa, com farinha acabada de moer. Passávamos o dia a conversar e a comer comidas típicas: caldeiradas, sardinha na telha, chanfana, entre outros. As típicas Casas Gandarezas, um símbolo da região e omnipresente no território, fazem-me lembrar a casa dos meus avós e querer uma igual.

Não sendo repleta de monumentos históricos e castelos para se conhecer, Mira é ponto de paragem, e de férias, para muita gente. Os costumes e o cuidado em manter algumas das suas heranças culturais no tempo é mais do que motivo para um fim-de-semana ou umas férias numa praia mais a Norte.

Autora: Dália Cavaco

5 – Montemor-o-Novo, além da queijada

Montemor-o-Novo, tão atravessado a caminho do Sul, tão adiado na premência de estender a toalha na areia do litoral. É tempo de sacudir pressas e ir além da queijada, aqui chamada Cernelha, a acompanhar o café à beira da estrada.

A primeira vez que vim a Montemor-o-Novo, viviam-se os primeiros anos após a abertura da autoestrada A6. Respirava-se desânimo neste lugar de passagem, espoliado do rendimento certo da venda das típicas queijadas de requeijão e empadas de galinha aos excursionistas. O trânsito desviado do centro era tido como uma trágica sentença de morte, o fim dos que sobreviviam a servir quem anda em viagem.

A Câmara Municipal desdobrava-se em iniciativas com vista a reanimar estas casas de comidas. Eram os concursos de gastronomia alentejana, as semanas do borrego, da vitela tradicional do montado e da gastronomia de caça.

Foram tempos de descoberta à mesa. Recém chegada para ficar, completamente por minha conta, deixei-me facilmente conquistar por favadas de caça, nacos de vitela na pedra, ensopados de borrego e secretos de porco preto. Tornei-me fã dos tintos alentejanos, do queijo e do pão.

A mesa não se faz só de comidas e vinhos e foi à mesa que conheci pessoas a quem me afeiçoei e que me ensinaram muito, sobretudo sobre Montemor e sobre o Alentejo. Recordo, com saudades, uma senhora que trabalhava no Posto de Turismo. Já tinha alguma idade, estava prestes a reformar-se. O corpo magro, a pele já muito enrugada, cabelo branco, forte, que usava curto. No duro rosto, dois olhos pequeninos, negros, cheios de vida e de vidas. Alentejana vivida, passara parte da vida a percorrer a Europa como guia turística. Era dona de um sem fim de narrativas, de saberes sobre o Alentejo e o mundo, que gostava de contar. A voz rouca, de muito fumar, animava as conversas à mesa, ou à lareira, que se prolongavam noite fora. Sempre com um copo de vinho na mão, branco, que gostava mais do que do tinto, acompanhado com o tradicional queijo de ovelha e o tão alentejano pão.

Autora: ZT

6 – Portugal, o Paraíso escondido no Oeste da Europa

Se me dissessem, “só podes escolher um país onde vais viajar o resto da vida, sem poder visitar mais nenhum” sabem que país eu escolhia? Portugal! E porquê? Porque Portugal é um paraíso que junta tudo do melhor que um bom viajante pode querer: paisagens de sonho, cidades cheias de vida, comida de excelência e sorrisos acolhedores das gentes que se encontram pelo caminho… Ainda não estão convencidos?

Começando pelo Norte do país, paramos no Gerês, um sítio inexplicável por palavras, onde somos abraçados pela Natureza que nos obriga a parar, a apreciar apenas cada brisa, cada olhar sobre o mundo do Miradouro da Pedra Bela. E aquele mergulho fresquinho fresquinho nas águas cristalinas da cascata da Portela do Homem, no Verão?

Ainda a Norte, mas mais a baixo, temos a segunda capital do país, o Porto! A satisfação que é almoçar uma francesinha, no café Santiago, por exemplo, onde a espera por uma mesa é complemente recompensada pela simpatia de quem nos atende e nos aconselha a melhor francesinha do mundo para o almoço?

No Centro do país, moram escondidas e serenas algumas das mais belas aldeias do mundo, onde as casinhas feitas com Xisto encantam tanto como os sorrisos das pessoas que lá moram.

E chegamos a Lisboa, a nossa menina e moça! A cidade de Fernando Pessoa e Amália Rodrigues. Em cada rua uma história, contada por aqueles que há anos saem para ir beber uma bica nas ruas da Baixa enquanto espreitam, por entre as “gordas” do jornal, aqueles que passam, completamente absorvidos pela magia das ruas lisboetas. Gosto tanto de descer a Rua Augusta, fechar os olhos e imaginar que o tempo anda para trás, para um tempo que não conheci.

E por falar em magia, bem perto de Lisboa, há coisa melhor que um passeio na Primavera em Sintra? Ao fazer o percurso da Vila Sasseti, a caminho do Castelo dos Mouros sinto-me a Alice no seu país das Maravilhas…

Com isto chegamos ao Sul do país, onde moram as gentes alentejanas, nas planícies de perder de vista onde as casinhas brancas traduzem a tranquilidade de um local onde o tempo parece andar mais devagar, para melhor podermos apreciar a vida. Aluguem uma caravana e conheçam cada recanto da Costa Vicentina. Quando chegarem ao fim do percurso, no Algarve, aproveitem o horizonte, deitados no areal das melhores praias do país. Se estiverem na praia da Inatel, em Albufeira, esperem que passe o Manel, e provem as melhores bolinhas de Berlim do mundo.

Aposto que agora não só já estão convencidos como nem sabem por onde começar! Comecem sem pressa, e apreciem cada tesouro escondido do Norte ao Sul de Portugal. Apreciem os sorrisos daqueles que vos recebem, perguntem-lhes a história do sítio onde estão, perguntem-lhes a sua própria história. É por tudo isto que quem vem a Portugal quer sempre voltar.

Autora: Vanessa Rodrigues

7 – Porto, meu porto

Jamais te trocaria por cidade alguma. Gosto de ti tal como és. Aliás, acho que neste momento não te falta nada, em tempos passados já não posso dizer o mesmo. Cresceste … ah se cresceste meu Porto!

Existe algo em ti que me faz preferir-te a muitas outras cidades. Gosto da tua dimensão, não és pequena, mas também não tens o exagero da grandiosidade onde facilmente nos perdemos. Tens rio, tens mar, tudo aquilo que nos permite relaxar, admirar e sonhar.

O cruzeiro no Rio Douro, que me fez ver te por fora, mostrou-me as cores do teu coração. A Ribeira, situada na tua margem, cheia de história espelhada nas suas fachadas, coloridas pela vida de quem lá mora ou a visita.

As pessoas que em ti habitam são hospitaleiras. Quem nos visita é sempre bem recebido. Seja com sorrisos, seja pela boa gastronomia que temos. Sim, se existe um sítio onde nos podemos deliciar é no Porto. Podes sempre optar pela comida típica, como umas boas tripas à moda do Porto, ou um prato gourmet. A francesinha é obrigatória, seria uma falha imperdoável não provar. Não falta diversidade e acima de tudo qualidade. Dificilmente haverá algo que não gostes. Pomos alma em tudo o que fazemos. Que o digam as freguesas do Mercado do Bolhão, ensurdecidas pelo pregar das vendedoras. Seja peixe, fruta ou até as simples azeitonas exaltam o paladar de quem se atreve a provar.

Dizem que és uma cidade cinzenta, tretas! Temos dias cinzentos, sim temos. Dias que nos envolvem no romantismo e na história contada pelas tuas vielas e calçadas. Na noite de S. João não pares de laurear a pevide ou de dar corda aos vitorinos, senão o alho porro ou o martelo abatem sobre ti de pura diversão. Temos dias solarengos que iluminam os muitos espaços verdes que encontras na nossa cidade. Nada como um refresco, sentados nas Virtudes deslumbrados pelo pôr de sol que abraça o rio.

Meu Porto prometo não defraudar as expectativas de quem te visita pela primeira vez. Dois dias será pouco, mas tenho a certeza de que se for esse o único tempo disponível vai ficar o anelo de voltar e conhecer-te melhor.
Autora: Susana Júlio

8 – Trafaria, onde o Tejo se faz ao mar!

Trafaria, uma pequena vila piscatória banhada pelo Rio Tejo. Localiza-se em Almada e está a um rio de Lisboa. Aqui, é possível ter a calma e a paz de uma aldeia, muito próximo de uma metrópole. Não vivo aqui, mas cresci aqui e pertenço aqui. É aqui que me sinto em casa.

Com uma cultura e população muito endémica, os visitantes são sempre muito bem acolhidos. No passeio ribeirinho repleto de restaurantes e cafés, já comi as melhores refeições junto do rio enquanto assistia à tão familiar arte das redes. Com uma gastronomia típica e tradicional, o peixe e o marisco só precisam de atravessar meio metro da praia à cozinha.

Quem lá de barco, atravessa o Rio Tejo, deixa para trás Belém e o seu Padrão dos Descobrimentos e vem conhecer de perto, como vivem os que partiram para que esse Padrão fosse possível. Como vive quem vive do mar e a felicidade que isso traz.

Fazendo parte da história do nosso País, a sua pequena praia era habitualmente frequentada pela realeza para os seus passeios balneares. Em tempos, foi tão grandiosa e relevante que, atualmente, decidiram abandoná-la na margem, para que pudesse descansar. Uns anos mais tarde, foi casa de presos políticos em época de regime ditador e foi um dos principais pontos da manifestação do 25 de Abril. Em pequena, fazia deste sítio o meu local de brincadeiras com os meus amigos, sem sequer percebermos a importância daquele lugar. Para nós, era só o presídio, onde ensaiávamos a nossa marcha e assustávamos os mais novos.

Uma terra cheia de história e tradições, com uma forte cultura piscatória e alma bairrista. Vive do mar e da alegria da música. Terra de fados e de marchas populares. Terra de união e laços fortes. Nem todos são familiares, mas todos são uma grande família que prezam e valorizam as idiossincrasias da sua adorada vila.

Se passarem por Lisboa, não deixem de atravessar o rio, e venham conhecer esta pequena, mas maravilhosa vila, onde todos são família e sabem receber quem a quer conhecer.

Autora: Ana Catarina Santana

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