Vamos falar de saudade? Foi este o tema do 1º exercício do Workshop Online de Escrita para Blogues do Viaje Comigo. O resultado? Mais de três dezenas de textos em que os participantes se soltaram e deixaram que a escrita fosse o canal para desabafarem. E a coisa mais linda de se ver/ler é que nenhum texto é igual ao outro. Mas, a carga emocional está espelhada em todos.
Alguns preferiram manter o anomimato, por isso, alguns textos mantêm somente as iniciais como assinatura. Estão aqui publicados, consoante a ordem de chegada ao meu e-mail. Bravo!
TÍTULOS DOS TEXTOS SOBRE SAUDADE
1 – Saudades de ir, CT
2 – A minha saudade: é tua, é de todos nós, Soraia Peixoto
3 – Essa palavra saudade… em tempo de pandemia, Cidália Alves
4 – Ai que saudades!!!, DF
5 – Ofélia, SJ
6 – Vamos falar de saudade, CDM
7 – Saudade de ser livre, Ana Catarina Santana
8 – Aprender a viver com saudade, AM
9 – Três parágrafos de saudades de quase tudo, ZT
10 – No porta-bagagens ela traz comida e amor, AMF
11 – Memória Olfactiva (A Minha Aromaterapia), TG
12 – O Poder da Ressurreição, IG
13 – Memorias de Infância em Tempo de Isolamento Social, PD
14 – Saudade de Nós, Rui Castro
15 – Vírus da Saudade, DC
16 – Mudanças, PA
17 – Compasso de espera, Sandra Yonekura
18 – Saudades do Desconhecido, Cláudia Duarte
19 – Tudo é saudade, Marisa Heliodoro
20 – Saudade do Agora, SR
21 – Sau-da-de, Vanessa Rodrigues
22 – Vibe do Momento, CG
23 – Os dois lados da saudades, SA
24 – E por falar de saudades, Pedro Moita
25 – A Júlia, a Mongólia e eu, Paulo O.
26 – À busca de saudades, Pedro Rocha
27 – Saudades em tempo de corona, KP
28 – A tal Saudade, CR
29 – Memória da Saudade e Saudade da Memória, Liliana Ferreira de Sousa
30 – “Aquela Lembrança…”, Fya Miranda De Oliveira
31 – Viver a Saudade. Adriana Cunha
32 – Chama-se rotina!, Maria Correia
33 – Saudade não sabe do quê, Vítor Rodrigues
34 – Saudades de ser pequena, EH
35 – Tentativa de Saudade, Carolina Antunes Salgueiro
36 – Saudade…, Maria Saraiva
37 – Saudade: Antídoto contra o confinamento?, LS
38 – Chama-se rotina!, Maria Correia
39 – Falar de saudade…, JPF
1 – SAUDADES DE IR
As nossas vidas mudaram de um dia para o outro, o coronavírus veio alterar as nossas rotinas por completo. Não pediu licença para entrar, invadiu o nosso espaço, afastou-nos da nossa família e dos nossos amigos. Não mais pudemos pôr o pé fora de casa sem o receio, o extremo cuidado, para que este vírus não nos apanhe ao virar da esquina.
Tenho saudades, muitas. Saudade de sair e ir sem destino, percorrer a pé novos lugares ainda desconhecidos para mim, sentir os cheiros e os sons que deixam ficar memórias profundas. Saudade da brisa do mar, do som das ondas a rebentar, varrendo as conchas e as pequenas pedras. Saudade dos encontros, dos jantares sem hora para terminar, do toque e do afeto, daqueles que connosco partilham a vida. Como a saudade me preenche neste momento… No entanto, a Natureza abraça-me a cada instante, através do canto dos pássaros junto à janela, com o vento que toca nas folhas das árvores, com o Sol que espreita entre as nuvens. A Natureza e os Animais tornaram-se mais próximos, são o refúgio que nunca desaparece, qualquer que seja a situação.
Este é o tempo que nos estremece e nos faz olhar para dentro, ajuda-nos a perceber o que de facto é importante, a estabelecer metas mais concretas para o futuro. Este presente não pode adormecer, não o podemos apagar, não sem antes absorvermos tudo aquilo que ele tem para nos dar e que necessitamos para o dia de amanhã. Aí daremos conta do quão importante foram os dias de isolamento, da proximidade que criámos connosco próprios, do auto-conhecimento e do crescimento interior que germinaram em nós.
Amanhã saberei abraçar com a profundidade e a conexão de sentimentos que o abraço em si exige, olhar nos olhos do outro e entendê-lo na sua plenitude. Depois do afastamento a proximidade será ainda maior. Acredito que compreenderei tudo o que está a acontecer lá mais à frente e, nesse momento, espero que tudo tenha valido a pena. Afinal de contas, cada um de nós faz parte de um todo que gostaríamos que fosse melhor e mais maravilhoso.
Autor: CT
2 – A MINHA SAUDADE: É TUA, É DE TODOS NÓS
Saudade. Nos tempos em que vivemos, a palavra “saudade” é uma espécie de melancolia, que nos faz companhia, que traz esperança e, ao mesmo tempo, (re)conforto num dia a dia que se tornou mais rotineiro e incerto. Olhando pela janela, sinto uma calma apática pelo silêncio desassossegador que vem lá de fora, pela ausência de ruído daquela gargalhada genuína das crianças que, na sua inocência, correm e gritam sem preocupações.
Saudade de quando tínhamos tudo e não se dava o devido valor. É uma frase “cliché” mas agora sei que é verdade. E dói. Dói porque o futuro é uma incerteza e a saudade ainda agora começou. Saudade de fazer a mala – coisa que detesto fazer. Saudade de rumar ao aeroporto e apanhar o avião, com destino a uma nova aventura. Já disse que adoro viajar? Sinto saudade de chegar a uma nova cidade e sentir-me perdida. Com aquele “frio na barriga” e de pensar “e agora?”. Mesmo com aquele roteiro, que faço questão de estar o mais pormenorizado possível, o impacto de aterrar e ser surpreendida pelo desconhecido é a minha verdadeira adrenalina. Saudade de aprender novas línguas, descobrir novos sabores, desvendar novos cheiros, conhecer novas pessoas e colecionar novas memórias. Saudade de pessoas, de estar, de ser, do toque, do abraço.
E é aqui que mais dói. Ao escrever “abraço”, as lágrimas caem-me pelo rosto, depois de mais um dia de solidão, que esta nova realidade de teletrabalho nos trouxe. Tenho saudade de poder olhar nos olhos e de abraçar – tirem-me tudo, menos o gesto de abraçar quem mais gosto. Neste momento, em que a vida está suspensa, em que os planos são adiados, em que as vitórias que alcançamos não têm o mesmo impacto, tenho saudade de viver e de me sentir livre. As consequências, físicas e mentais, que vamos ter de aprender a lidar, dão-me saudade da normalidade (boa) que tinha e que pensava ser apenas banal.
Se é a vida a pôr-nos à prova? Talvez. Mas agora sim, toca-nos a palavra tipicamente portuguesa, que é nossa e sem tradução – a maldita saudade.
Autor: Soraia Peixoto