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Publicado em Abril 27, 2020

Vamos falar de saudade? Textos da aula nº1 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

3 – ESSA PALAVRA SAUDADE…. EM TEMPO DE PANDEMIA

A minha vida social, antes-Covid19, era mínima. Os contatos físicos raros. O confinamento ou o “fique em casa”, adaptado a mim, “estar em casa”, não é conceito novo. A novidade do atual é não ter liberdade de escolha, para meu bem e de todos os outros. Falta de liberdade de movimentos, de ter direito à opção, de
não ter constrangimentos, disso sinto falta! Sair sem medos, sim, sinto falta! Não é a primeira vez que me assola este sentimento, o medo de uma doença. Já passei por dois cancros de mama e pelos respetivos tratamentos. Sei o que é contrair uma infeção, concretamente, uma septicemia com sépsis grave. Estar entre a vida e a morte.

Saudades dos amigos? Não! A convivência que mantínhamos, já era à distância. Poucas ou nenhumas saídas sociais. Saudade da família? Também não. Vivo com os meus pais há 14 anos. Os meus irmãos, apesar, de próximos, a frequência de convívio presencial era espaçada. Não somos família de grandes afetos ou demonstração dos mesmos. Por isso, o contato físico nunca esteve muito presente na minha educação. Saudade no sentido lato da palavra, talvez nunca senti. Penso que sou pessoa nada dada à saudade.

Contudo, sinto uma certa nostalgia da rotina que tinha antes da pandemia. O levar a filha à escola, motivo, pelo qual abria as portas do guarda-fatos para decidir que vestir. Maquilhar-me, não que use muita, mas havia um ritual básico. Hidrante, corretor, a base, por fim o toque de batom. Não faltava também o perfume. Disto tenho saudade. Lembrei, sinto falta ou saudade (ainda não consegui decidir) dos cinco minutos de café. Entrar no café, o cheiro do café, das torradas, do pão e da mistura de odores dos clientes.Decididamente, não são saudades, porque sou mulher de fracos apegos e de poucos afetos. Creio que é preciso uma ligação afetuosa para existir a saudade. O que eu preciso, de que sinto muita falta é de liberdade. No fundo não tenho saudade de nada.

Autor: Cidália Alves

4 – AI QUE SAUDADES!!!

Novos tempos chegaram! Quem diria que em pleno século XXI iríamos ser impedidos de fazer a nossa vida normal, que a desvalorizávamos precisamente por ser normal. Quem diria que íamos ter saudades dessa vida, saudades de respirar a cidade poluída, os jardins verdes e o ar do mar. Saudades de ir trabalhar e de ter uma rotina. Saudades de viajar e socializar com pessoas diferentes, de culturas diferentes.

Toda esta crise faz pensar e repensar no que vão ser as novas rotinas, ir a um bar protegidos com máscara e ser impossível levar um encontrão porque o espaço impõe limites ao número de clientes e distanciamento social de dois metros? Que saudades que vamos ter de ver aquele bar cheio com toda a gente divertida de copo na mão dançando ao mesmo tempo, e até, por vezes, com um encontrão deixar cair metade da bebida.
De ter que esperar infinitamente para ir à casa de banho e conhecer pessoas na fila para ajudar a passar o tempo… cumprimentar todos os amigos e amigos de amigos com beijos e abraços.

Novos tempos virão, e eu que estava a meio de uma viagem ao mundo de um ano, fiquei-me pelos seis meses até ficar “retido” na Colômbia. Não sei agora o que fazer, só sei que tenho saudades disto tudo, de trabalhar, de curtir, de viajar e principalmente, de ir a um restaurante ou um bar cheio de gente divertida.

Ai que saudades!!!

Autor: DF

5 – OFÉLIA

Para mim, a palavra saudade tem um nome, Ofélia, a minha avo materna. Partiu há mais de 20 anos mas está sempre presente, de alguma forma, no meu hoje. Posso até passar algum tempo sem me lembrar dela mas se algo me acontece, normalmente menos bom, enquanto a maior parte das pessoas optam por rezar ou algo assim eu prefiro falar com a ela, acho que está sempre a olhar por mim. Nem que sejam uns segundos, olho para o céu como se ela me ouvisse. É o meu anjo da guarda. Foi sempre assim, protegia-me de tudo. Era a verdadeira avó.

Viveu connosco até bastante tarde, tomava conta de mim e da minha irmã, enquanto a mãe e o pai estavam a trabalhar. Cozinhava muito bem e ensinou nos a cozinhar, a nós netas porque a minha mãe não sabe e nem gosta de cozinhar, só gosta de comer, por incrível que pareça. Passava imenso tempo a fazer crochê e chegou a ensinar-me a fazer uma camisola de malha. Ia comigo comprar roupas para as bonecas, fazíamos imensa coisa juntas.
Lembro-me perfeitamente, nas férias grandes de verão, aos três meses, íamos para o Algarve e ela sempre ao pé de nós. Tinha imensa piada. Não perdia a oportunidade de aplicar um ditado popular fosse qual fosse a situação, contava histórias aos nossos amigos, era tão bom !
Adorava alfarrobas e víamos sempre imensas quando íamos a pé para a praia. Tirava uma da árvore , mostrava-me e cheirava, ela adorava. Acho que a primeira vez que joguei às cartas também foi com ela. Quando eu já era mais crescida cheguei a ir com ela às consultas no hospital, ela tinha as tensões muito altas e também problemas cardíacos, chegávamos lá e o médico dizia : “D.Ofélia como é possível estar aqui com essas tensões tão altas e sempre bem disposta” e ela sorria e dizia algo, como sempre o fez, tinha sempre alguma coisa para dizer.
Teve cancro no estômago e, no dia em que foi operada, lembro-me perfeitamente, outra senhora mais nova com o mesmo problema também o foi. Ela sobreviveu e a outra senhora não. A probabilidade era pouca mas ela, com toda a sua genica, lá conseguiu. Toda ela era uma força, sempre arrebitada e sempre arranjada. A verdade é que a força interior faz toda a diferença, e isso não lhe faltava.

Os anos foram passando e começou a esquecer-se das coisas e começou a ficar muito complicado ela estar em casa, sem cuidados permanentes, além de que era muito teimosa. Foi para um lar e nem chegou a lá estar muito tempo, apanhou uma pneumonia e foi isso que a levou. Eram as férias da Páscoa, eu estava no Algarve, acordei a meio da noite e sentei-me na cama. Foi muito estranho. Passadas umas horas, os meus pais ligaram-me a contar que a minha avó tinha partido. Foi um aperto enorme no coração. Vim para o Porto e organizamos o funeral da minha avó. Sao muitas e boas as recordações da minha Ofélia.

Autor: SJ

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