Workshop de Escrita - ©Free-Photos Pixabay Workshop de Escrita - ©Free-Photos Pixabay
Publicado em Abril 27, 2020

Vamos falar de saudade? Textos da aula nº1 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

13 – MEMÓRIAS DE INFÂNCIA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

Como foi bom passar de novo uma tarde na companhia dos meus amigos Nuno, Luísa, Sabidinho, Quico e Carlitos. Não são amigos de carne e osso, por isso não foi necessário quebrar regras de isolamento social nem efetuar videochamada. São personagens de uma revista, o Nosso Amiguinho, e que bons momentos me proporcionaram em criança e no entrar da adolescência com cada história, cada enigma, cada imagem, cada jogo ou atividade.

Foi por acaso que os reencontrei, quando num dos aborrecidos dias desta duradoura quarentena, em casa, arrumava no sótão objetos que não utilizo mais, mas que também dos quais não me quero desfazer. Algures na capa o cifrão característico da nossa antiga moeda relembrou-me que de lá para cá várias primaveras passaram, e que eu cresci: que saudade!

Passei toda essa tarde a reler os conselhos do Nuno, a aprender com o génio Sabidinho, a apreciar as sugestões saudáveis (e outras não tanto) da “chef” Luísa, a brincar com o Quico e o Carlitos através dos seus inúmeros passatempos, e a estudar com todo o grupo a história de Portugal, desporto, música, cinema, o mundo, os animais, entre tantos outros temas. Sou adulto, sim, mas não me envergonho de dizer que adorei vestir a pele de criança por uma tarde e divertir-me com eles. As horas passaram e eu nem percebi. Quando anoiteceu dei conta que todo o trabalho a fazer teria de ser terminado no dia seguinte.

Percebi mais tarde, que por incrível que pareça, esta publicação mensal ainda se encontra à venda, após todos estes anos. É caso para dizer que o Nosso Amiguinho foi e continua a ser, tal como orgulhosamente escrevem em todas as edições, a revista de todas as crianças. Eu tenho o prazer de afirmar que faço parte da comunidade que cresceu a ler esta revista, e tu? Neste tempo de quarentena, que momentos da tua infância já recordaste com saudade?

Autor: PD

14 – SAUDADE DE NÓS

Saudade de nós

O confinamento social que vivemos é um dos melhores gatilhos para a evocação do nobre sentimento da saudade. Afinal, tudo aquilo que aprisiona repetidamente os nossos movimentos – sejam do corpo ou da alma – acaba por nos conduzir a um passado que tantas recordações nos guarda: das mais distantes e inesquecíveis até às mais simples e recentes. Incluo-me neste pensar global. E dou por mim a refletir sobre as saudades que tenho de ir todos os dias comprar pão! Ou então de, quando vou, abrir a porta da padaria sem recear que o puxador, já desgastado de tanto uso, conserve o vírus. Será esta saudade sinal de um estado de loucura individual – ou coletivo (quero acreditar que não estou sozinho) -, ou será, antes, um ‘louco’ sinal de que a liberdade é o nosso bem maior?

Há muitas outras coisas que me deixam saudades nestes tempos de stand-by: conviver, conversar e cumprimentar sem restrições; viajar em família e conhecer, sentir, absorver, por meio de todos os sentidos e da frieza da câmara fotográfica, os tons quentes, as imagens floridas ou os sons da época. Podia prolongar a lista, mas todas vão entroncar na liberdade, essa, cuja conquista comemorámos novamente há dias. Essa, que está suspensa… Mas o nobre sentimento que nos povoa a alma dá-nos mais do que excelentes lembranças. Hoje, traz-nos à realidade uma saudade que, para muitos, nem chegou a sê-lo. Tudo por causa do dia a dia frenético a que nos habituámos a viver e da falta de tempo para nos observarmos e para respeitarmos o nosso ser. Sim, porque essa existência nasceu connosco, apenas se foi perdendo nesta sociedade inimiga da reflexão.

Quantas vezes olhamos para nós, como ser individual e descomprometido do dia a dia que nos cerca, que nos controla, que nos manieta? Quantas vezes nos assumimos como um ser íntegro, com necessidade de expandir os seus sentimentos, de ouvir o seu coração? Quantas vezes ousamos inverter a tendência que nos faz andar a reboque da vida para, finalmente, fazermos dela o que queremos, em consonância com a alma? Esta é uma excelente altura para refletir sobre a saudade de nós. A minha participação neste workshop vai ao encontro dessa reflexão. Resulta de um impulso sobre algo que mexeu comigo quando se me apresentou perante os meus olhos. Porquê? Porque tocou numa das minhas paixões: escrever. E isso está em nós, não no mundo que nos aprisiona.

Autor: Rui Castro

15 – O VÍRUS DA SAUDADE

No mês em que devemos celebrar a liberdade alcançada na Revolução dos Cravos, somos obrigados a lembrá-la entre paredes das nossas casas e isto dá-nos que pensar. E faz-me pensar sobretudo que, apenas há 4 meses atrás, nunca imaginamos o quanto a vida ia alterar. Em dezembro de 2019, começamos a ouvir falar de um novo vírus (SARS COV-2 ou Covid19), com origem na cidade chinesa de Wuhan, que provocava sintomas parecidos aos de uma gripe e que, tal como a gripe mais comum, poderia causar a morte a pessoas de grupos de risco (idosos, pessoas debilitadas e com problemas de saúde). Tal como alguns outros vírus já existentes no passado nunca ninguém achou (eu incluída) que este novo vírus viesse a parar as pessoas, as empresas….e o mundo! As nossas vidas sofreram alterações drásticas no seu dia-a-dia, tanto a nível pessoal como a nível de trabalho. Para uma boa parte das pessoas estas alterações permitiram-lhe colocar em perspetiva o que é realmente importante e perceber que afinal a vida que levavam, com mais ou menos folga, com mais ou menos glamour, com mais ou menos saídas e jantares fora, entre muitas outras coisas, afinal não era tão “má” quanto podiam julgar.

Na realidade, a minha vida acabou por não sofrer grandes alterações devido a este vírus que anda por aí à solta. Desde 2017 que tenho a possibilidade de trabalhar de casa e, ao fim de um ano, as vezes que vou para o escritório acabam por contar-se pelos dedos. No entanto, não deixo de sentir que este vírus me tirou a liberdade de poder sair quando me apetecia. De fazer a minha vida de acordo com a minha disponibilidade e vontade. Isso é o que sinto mais saudades: a liberdade de decidir se hoje quero ir dar uma volta até à praia ou ir até ao centro comercial ou simplesmente ficar sentada na varanda a ler um livro.

Que estes tempos nos permitam olhar para o que tivemos (sim no passado porque isto vai ser, como já li algures, a era antes do Covid e era pós Covid) e ter saudades de coisas que considerávamos como garantidas: o acordar de manhã e toda a azafama de preparar pequenos-almoços e os almoços do dia (ou decidir almoçar/jantar fora), levar os miúdos à escola, ir para o trabalho, conduzir, confraternizar com os colegas, ter reuniões, ir às compras sem horários e sem ter de esperar em filas pela nossa vez (e porque não podemos estar mais de x pessoas ao mesmo tempo naquele espaço), passear por onde nos apetecia e um sem número de coisas que fazíamos quase sem pensar e que sempre demos por garantidas. Mas ao mesmo tempo não podemos esquecer que estes tempos também nos trouxeram mais tempo em família e mais conversas (já muitas vezes esquecidas porque não havia tempo), mais refeições caseiras, novas experiências e muitas outras coisas, tais como o cheiro do pão quente feito em casa. Afinal, éramos felizes e apenas não sabíamos!

Autor: DC

Continue a ler na próxima página 1 2 3 4 5 6 7 8
Comentários

Poderá também gostar de

Regressar ao topo