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Publicado em Abril 27, 2020

Vamos falar de saudade? Textos da aula nº1 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

6 – VAMOS FALAR DE SAUDADE

A saudade não é um sentimento que facilmente me atinge, mas, em tempos de coronavirus, parece que esse sentimento chegou para ficar.

Talvez o meu cérebro e consciência estejam pré-programados pelas decisões e planos que tomei no passado, sendo que, quando estes saem ‘furados’, a minha mente, inconscientemente, sofre de sentimentos inesperados.

Penso que assim o foi, uma vez que, deveria ter chegado a Portugal há cerca de uma semana para o casamento da minha cunhada. Iria ser uma interrupção na viagem de volta ao mundo de um ano (ou quem sabe mais…) que estou a fazer.

O meu ‘eu’ racional e consciente, ficou parado em Santa Marta na Colômbia por motivos que todos conhecemos, como lógicos e óbvios, e que tanto sei aplaudir em momentos de crise. Mas a verdade, verdadinha, é que o sentimento de saudade começou a apertar e que, cada vez mais, sinto vontade de abraçar fisicamente aqueles que mais gosto. A minha mãe, o meu pai, os meus amigos… A incerteza de quando é que os voltarei a poder a abraçar começa a azucrinar o lado consciente do meu cérebro.

Só o tempo ditará o fim da contenção social e parece-me que o melhor em tempos de incerteza é a agarrar-me com toda a força ao meu todo racional.

Autor: CM

7 – SAUDADE DE SER LIVRE

Saudade. A palavra mais ouvida nos últimos meses. Mas saudade do quê? Sinto saudade de ser livre. Mas quando é que somos realmente livres? Quando estudamos e temos mil prazos e provas? Quando trabalhamos e temos mil tarefas e responsabilidades?

Só me lembro de dois momentos em que me sinto livre: infância e viagem. Colocando na balança e sendo razoável, eu sei que vou voltar a viajar. É inevitável, é o mundo e é necessário. Sei que vou voltar a viver essa paixão e a sentir-me livre, com o descolar do avião. Mas e a infância? Isso sim, por muitos vírus e muitas voltas, não vai voltar. Isso sim, saudade.

Saudade porque vivi, porque senti, sei o que é e não posso voltar a esses dias. Mais do que a minha casa, mais do que a escola ou até mesmo a casa dos meus avós, saudades. Daquela pequena taberna que sempre me pareceu uma extensão da casa dos meus avós, de tão colada que é. Casa dos avós e taberna eram um só, e, para mim, foram casa. Saudades da mistura do cheiro a tabaco com os cozinhados da minha Belinha. Saudades de ver o meu avô. De camisa de manga curta e maço no bolso da camisa, cigarro numa mão e abanico na outra, na rua, à porta da taberna, de volta do seu fogareiro. Saudades de arrumar os pacotinhos de açúcar no cestinho de verga ondulado. Saudades da maldita porta, metade castanha metade verde, que nunca consegui abrir. Saudades das sopas de leite noturnas e o leite com chocolate, que só a minha Belinha fazia. Se há coisa que o vírus me ensinou, foi a priorizar. A recordar e a reviver. Viver intensamente o que nos é permitido e recordar sempre aquilo que não voltará.

Autor: Ana Catarina Santana

8 – APRENDER A VIVER COM SAUDADE

A vida gosta de nos pôr à prova e a mim já o fez mais do que uma vez! Já lá vão uns anos em que um acidente me fez parar tudo, durante algum tempo, e mudar o rumo das coisas. Nessa altura foi difícil adaptar-me e ver-me privada de toda a minha rotina, de tudo o que me dava prazer. Tive que aprender a viver com saudade. Saudade do sabor a sal na pele, de enterrar os pés na areia, de dançar a minha música preferida.

Agora, ter que ficar em casa, em período de pandemia, pode não ser fácil, mas, com tanta coisa para fazer e ocupar o tempo, acabamos por nos habituar.

A saudade pode ser dura, triste, difícil mas pode ser também um sorriso, uma gargalhada, um cheiro, uma brisa. Por isso, hoje, saboreio os momentos com todos os sentidos e guardo-os, bem seguros, na minha memória, para mais tarde os resgatar.

Autor: AM

9 – TRÊS PARÁGRAFOS DE SAUDADES DE QUASE TUDO

Não sei exatamente há quantos dias estou em casa, não os conto um a um, sei que é há mais de um mês, desde o dia 17 de março. A novidade inicial, a largueza dos dias sem compromissos extratrabalho, vai dando lugar a uma gorda rotina que acelera as horas. É grande o corrupio. O cardápio sentimental onde deve estar a saudade foi atirado para um canto. Tenho que evocar a saudade. Não é difícil. Aos poucos resgato as alegrias e os prazeres de outros momentos, noutra dimensão temporal e espacial.

Revejo uma sucessão de bons instantes e sinto saudades, muitas. Sinto saudades de jogar ténis, do copo ao fim do dia na esplanada, às vezes sem hora de voltar para casa. De ir jantar fora e sair. Sinto saudades dos passeios no campo, das idas à praia, de acampar, de apanhar o avião, de andar de comboio, de conduzir o carro estrada fora, dos grandes espaços ao ar livre, da serra da Estrela. Saudades de ir.

Também sinto saudades de estar. Estar com os amigos e com a família. Estar e tocar, beijar e abraçar, dar as mãos. De inspirar fundo e aspirar a pele de quem neste rebuliço ficou para trás, de estar confinada num terno enlaço. De amar ao perto e de estar perto. Nesta viagem, de destino incerto e sem data marcada para o regresso, tenho saudades de quase tudo. Só não tenho saudades de casa.

Autor: ZT

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