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Publicado em Maio 4, 2020

Se pudesse voltar ao passado… o exercício da aula 2 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

11 – QUANDO A MENTE DESAFIA O PASSADO

A quarentena é propícia a devaneios inesperados. A mente gosta de vaguear pelos espaços vazios cá de casa, até aqueles que as próprias pernas se recusam a visitar. Quando se senta no sótão vazio, sozinha, reaviva as memórias que estavam guardadas na gaveta, sacode o pó, e começa a despejar lembranças do passado. Memórias de infância ou da adolescência que estavam cuidadosamente seladas mas
que, mesmo assim, teimam em bater à porta e, mesmo sem convite, fazem questão de entrar.

Os problemas ganham uma importância acrescida na adolescência. As aparências iludem e as amizades parecem não ter prazo de validade. Alimentam-se das palavras e dos gestos simples e sinceros que não se esgotam quando somos crianças.
Torcemos muitas vezes o nariz ao jantar que está na mesa, fazemos birra quando não nos fazem as vontades, levamos um não a peito e vemos muitas vezes o mundo a desabar, mesmo ali diante dos nossos olhos. Sonhamos que um dia vamos partilhar as mesmas aventuras e os mesmos desgostos que os atores da novela.
Ansiamos a hora em que a nossa liberdade deixa de ser limitada pela autorização escrita do encarregado de educação. Temos sede de trabalhar e sede de independência. A idade adulta é uma espécie de quimera que nos dá alento mas nem por isso carrega responsabilidade.

A mente ri-se, maquiavélica. Como pude esquecer-me do quão bom era ser criança? A mente levanta-se e revisita novas gavetas, aquelas que se enchem do abraço dos avós, da felicidade inocente das amizades sinceras, da comida tão boa que o paladar infantil teima em não apreciar. A vida adulta é agora bem diferente do que a que
algum dia imaginaste. O que era importante ontem, deixou de o ser. Sabes que não mudavas nem uma vírgula, mas, se pudesses, não suplicarias pela idade adulta, pela ansia do futuro que não chega, pela liberdade incondicional. Pedirias apenas tempo, aquele que te escorreu pelas mãos tão depressa quantos os teus sonhos e que teima
em desaparecer. A mente levanta-se, volta para o seu quarto, e adormece em poucos segundos. Tens saudades da sua ausência e agora não tens forma de a expulsar.

Autor: IG

12 – COME ANTES UMA PEÇA DE FRUTA QUE TE FAZ MELHOR, RAPAZ…

Depois dos três desejos, o conselho para o nosso passado deve ser a fantasia mais apetecida. Mas por muito apetecível que seja esta possibilidade, acredito que chegamos todos à mesma conclusão: é um paradoxo.

Diz-se que o pior sentimento às portas da morte é o arrependimento. Dávamos então o conselho para ser mais destemido e arriscado? Mas isso não nos tornaria numa pessoa francamente diferente daquela que se acha capaz de aconselhar o petiz que fermentou em mestre? Se nos achamos capazes de ensinar, não deveríamos aconselhar a mesma escola? Que direito temos nós de nos privar do que a vida tanto se esforçou por nos atirar à cara? Após ter passado grande parte dos meus “anos 20” em estado depressivo, em que a vida social se limitava à interacção com um ecrã de televisão, seria muito fácil
aplicar uma borracha no assunto. O que fica por dizer é que essa circunstância me moldou numa pessoa mais paciente e conhecedora do meu particular “eu”. Gostaria da pessoa que me tornaria se tivesse alterado drasticamente esse degrau de aprendizagem?
Estaria essa pessoa sequer a transpor esse cenário neste texto? Com certeza a maior lição que podemos retirar dos nossos erros é que estes foram forçosamente necessários.

Já todos fomos culpados de ufanismo. A apetecível tentação de usarmos as nossas adversidades para nos escalarmos em relação a quem nos ouve na capacidade de sofrer e aprender e. simultaneamente, tornar o sofrimento comum. Lições que deram fruto ao fim de um singular desgosto ou em que foram necessárias várias estações a podar o campo. Um sumo só possível de degustar devido à tentativa/erro que a vida proporciona. Até a ciência precisa de experimentação e todo o cientista desconfia quando a solução é fácil.
Querem o meu conselho para o jovem Vítor? Não te ponhas a pensar demasiado neste tipo de conselhos rapaz, come mas é uma peça de fruta que te faz melhor…

Autor: Vítor Rodrigues

13 – VIAGEM NO TEMPO

Voltar ao passado é uma viagem ao tempo da felicidade, das brincadeiras na rua, às 5h da tarde, a hora do banho, de mangueira no quintal, onde aproveitávamos sempre para continuar as brincadeiras, escorregando na água e sabão no pavimento. Às vezes, a brincadeira saía mal, mas quem se preocupava? Quando somos pequenos as dores passam rápido, assim como o tempo que nos parece eterno, mas na verdade, continua o seu tic-tac, tic-tac.

Maria-rapaz era o meu nome, trepar arvores, saltar muros, jogar futebol faz parte da minha infância, assim como ir com a bata de terylene até ao quase aos joelhos como mandava a tradição no colégio das madres que frequentava e deixar a saudosa irmã Bragança com os cabelos em pé de tão irrequieta que era…

Se voltasse ao passado o meu conselho seria registar todos os pedacinhos, todos os momentos de felicidade pura e inocente que vivi, não pensando que esses seriam cortados pela raíz por uma guerra absurda que levou tempo demais. Apesar de tudo continuo aquela menina que o tempo não consegue apagar, irreverente, aventureira, curiosa e sempre em busca da felicidade.

Autor: Maria Saraiva

14 – VIDA – UMA APRENDIZAGEM

E se nos fosse permitido regressar ao passado com o conhecimento do presente?
O que mudaria, que conselhos se daria?

Há tempos, assisti a uma entrevista com jornalista conhecida. Falava sobre si e sua caminhada ao longo da vida e como se sentia grata e abençoada. Aos olhos do público, o seu percurso é irrepreensível em atitudes e conquistas e deu-me que pensar, “Huuum! E eu, como avalio o
meu ?…”. Recolhi-me em pensamentos introspetivos.
Fiz flash-back.

De repente, percorro-me num chorrilho de desafios, vicissitudes e conquistas divididos em etapas por acontecimentos marcantes – antes do divórcio, depois do divórcio, antes e após o transplante, saídas e entradas profissionais… – que curiosamente são separadores de emoções contrastantes: dores/alegrias.

Fosse possível mergulhar nos meus tempos de infância munida da mágica de outros contrastes e jogar ao quente/frio com a criança que fui, a tentação seria driblar a tristeza e os momentos de fracasso, rumo ao sucesso, ao êxtase contínuo.
Mas na verdade, vida é uma conquista pessoal, um ribeiro que percorremos com mais ou menos turbulência, dependendo das escolhas que fazemos e dos obstáculos que encontramos.
A incerteza do percurso traz em si a beleza da travessia e dei comigo a pensar que maniatar más experiências não enleva, nem resulta necessariamente noutras boas.

Fosse possível regressar ao passado, diria à menina que fui:
“Olha com olhos de ver, atenta ao caminho e a quem te rodeia, faz as tuas escolhas na confiança do teu valor e do que podes trazer aos outros e ao mundo, cria a beleza da tua viagem, sê grata e acima de tudo diverte-te!

Autor: LS

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