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Publicado em Maio 11, 2020

Falemos de comida… textos da aula 3 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

21 – UMA EXPERIÊNCIA CULINÁRIA IMERSIVA

De todas as minhas histórias no universo gastronómico, há uma que me marcou especialmente. Não porque tenha ocorrido em destino exótico com ingredientes e preparos inusitados, nem porque tenha resultado de um sucesso culinário meu. Esta história faz parte das experiências do palato que nos mexem com todos os sentidos e mais além! O protagonista? Um bolo com fantasia dentro.
Não, não foi o de noiva, nem o do batizado dos meus filhos, nem foi confeção planeada. Foi um de aniversário, na minha infância e simplesmente tropecei nele.

Celebrava os dez anos daí a uns dias e passar para os dois dígitos em idade, era para mim um marco especial. Ia em passeio habitual com os meus pais, ao seu café domingueiro entre amigos, no centro da Parede. O percurso pela Av. da República em direção ao Limo Verde sabia-o de cor e porque já era “crescida” seguia ao meu ritmo, observando o bulício e espreitando as montras. Destas, a da Pastelaria Ribeiro era paragem obrigatória. Uma mostra de topo, em matéria de cake design da altura! Pelo menos para os meus olhos.
Fiquei grudada ao vidro limpando-o dos reflexos da rua, em imersão total no universo dos contos de fadas. E foi aí, entre personagens e cenas conhecidas recriadas em alegres e açucaradas coberturas, que o descobri! Um bolo tão minucioso, como se fosse uma escultura de chocolate – coelhinhos de massapão em alegre brincadeira jogando ao sobe-e-desce e pulando entre flores campestres, enquanto outro descansava recostado a um tronco generoso feito de bolacha de chocolate. O seu realismo era tal que, de repente, era como se uma ilustração de um livro infantil ganhasse vida! Validava o mundo do faz de conta e para mim era o quanto bastava para o tornar mágico, único. Corri para os meus pais entusiasmada e comuniquei-lhes a minha descoberta: aquele seria o meu bolo de aniversário e também (como o sabia muito caro) a minha prenda, apressei-me a esclarecer!

A festa teve lugar a 300 km e a demorada viagem foi uma odisseia – quatro crianças acotovelando-se no banco de trás, o bolo equilibrado na chapeleira de um carocha e um sol perseguidor que eu vigiava amiúde pois não largava a traseira! Mais que proteger aquela obra de arte que eu antevia deliciosa e ansiava partilhar com os meus amigos, eu protegia o mundo da fantasia!

Autor: LS

22 – O INSUPERÁVEL BROWNIE TOP

Atenção: o delicioso cheirinho a chocolate não quer saber do confinamento e pode contagiar os vizinhos!
Desde que me lembro de ser gente, sempre tive bolo de chocolate pelos anos. Gosto muito e tenho provado muitos, incluindo aquele que dizem ser “o melhor bolo de chocolate do mundo”. Experimentei várias receitas, até ter encontrado a que considero a receita perfeita do bolo perfeito. E asseguro-vos, sem falso ufanismo, que nenhum bolo de chocolate superou, até hoje, o brownie de chocolate, cuja receita aqui partilho.

Precisam dos seguintes ingredientes:
5 ovos
2 chávenas de açúcar
250 gr de manteiga
1 tablete de chocolate de culinária (200 gr)
1 chávena de farinha de trigo
2 colheres de sopa de cacau em pó
1 colher de chá de fermento em pó

Como fazer?
1. Pré-aquecer o forno a 180oC.
2. Bater os ovos com o açúcar. Entretanto, derreter a manteiga com o chocolate (costumo usar o micro-ondas, mas também pode ser no fogão, com cuidado para não deixar queimar nem a manteiga nem o chocolate).
3. Juntar a manteiga e o chocolate derretidos à mistura dos ovos com o açúcar, continuando a bater.
4. À parte, misturar a farinha com o fermento e o cacau em pó e, de seguida, juntar ao preparado que está na batedeira.
5. Bater até estar tudo bem misturado. Fica uma pasta espessa, castanho claro, que se deita numa forma untada com manteiga ou, em alternativa, forrada com papel vegetal.
6. Levar ao forno, durante 40 minutos.
Como forma, costumo usar um pirex quadrado, com 25 cm de lado e 5 cm de profundidade, mas pode ser outro formato.

É preciso cuidado para não deixar queimar o bolo por cima, enquanto está no forno. O aroma a chocolate começa a libertar-se sedutoramente, sem pudor nenhum.
O brownie, quando pronto, apresenta uma crosta crocante por cima, normalmente estalada, deixando ver um recheio húmido, mais escuro, de cor castanho chocolate, de consistência suave. O cheiro é tentadoramente intenso. Na boca é a perfeição, já sabem!
Experimentem e digam-me: é ou não é um Brownie Top?

Autor: ZT

23 – BORDÉUS GASTRONÓMICA

Venho contar-vos sobre uma viagem realizada em fevereiro de 2020, antes do rebentar do vírus na Europa. Bordéus foi tanto e tanto me trouxe, mas acima de tudo tornou-se, inesperadamente, a oportunidade de provar, mergulhar e haurir a cultura e gastronomia francesas que facilmente, ao recordar, me colocam um sorriso na cara. Arrisco-me a dizer que, apesar de inicialmente não ter sido o local idealizado, foi das viagens mais marcantes e que mais memórias me traz- a companhia ajudou, confesso.

Entrei numa montanha russa gastronómica sem saber e amei cada segundo. Desde a mistura de ostras e tapas diversas a servir de entrada a uma piza deliciosa à beira rio, ao sushi comido no quarto de hotel e até à especial noite de 14 de fevereiro com vinho tinto a acompanhar, claro está.
Não obstante, admito que a refeição do dia anterior à nossa partida é a que melhores recordações me traz: almoçámos numa praça embebida de cultura e alegria. A música soava, as pessoas dançavam e o sol aquecia-nos num início de tarde invernoso. Nada nos retirava o sorriso dos rostos. Estávamos bem, estávamos felizes, tão felizes. Escolhemos aproveitar o momento com um vinho branco, mexilhão regado em sumo de limão, cebola, alho e maionese- um toque final estranhamente delicioso. E no meio do ambiente que se proporcionou, deixámo-nos levar. De sobremesa provámos iguarias típicas: pequenas delícias regadas em chocolate e caramelo, o doce e o salgado unidos em perfeita harmonia, numa explosão de sabores. Que maravilha!

É assim que me recordo de Bordéus. Pelas demandas intensivas por restaurantes, os vinhos tinto e branco em demasia que por vezes eram trocados por cervejas alternativas (diga-se de passagem que nenhuma ultrapassou as portuguesas em sabor), os presuntos variados, os queijos carregados. Uma delicia sem fim que me transporta para tempos passados e agora utópicos. Uma realidade para a qual não estávamos preparados mas que certamente nos fará dar mais valor às comidas que provamos, aos momentos que passamos e às pessoas que amamos.
Utopias, esperemos, a alcançar, mas que por enquanto nos deixam tanta água na boca.

Autor: Adriana Cunha

24 – COMER, VIAJAR, FOTOGRAFAR!

Quem acha que comer é um dos maiores prazeres da vida que se acuse! (EU!!) Prazer maior é comer enquanto viajamos, que é como quem diz, fazer uma viagem gastronómica. É uma das vertentes de todas as viagens que faço, explorar a gastronomia local, e uma virtude da minha prosápia portuguesa.

Esta minha veia de foddie tornou-se mais apurada logo na primeira viagem que fiz de avião… Para Itália, a segunda melhor gastronomia do mundo, logo depois da nossa, claro. Vivi três meses em Roma e claro que tive aquela saudade da sopinha da mãe, da feijoada da avó, do belo bitoque português, mas passei muito bem a viver da comida italiana. É daqueles países onde dá gosto só de passar em frente aos restaurantes. Aquele cheirinho a forno de lenha e queijo que vem da cozinha das pizzarias é qualquer coisa de fantástico. E a alegria com que os italianos cozinham dá à comida um toque ainda mais especial! Dá gosto ficar a vê-los girar a massa da pizza no ar enquanto esperamos já com água na boca. Esta que foi a minha primeira viagem a sério acabou por ser também o mote para uma vida de “comer, viajar e fotografar”. Depois de Itália seguiram-se outras viagens gastronómicas, umas mais bem sucedidas que outras porque há gastronomias mais ricas e outras menos. Mas mesmo nos países em que não há uma dedicação tão grande à culinária conseguimos surpreender-nos com algumas iguarias que fazem. Basta sabermos procurar e deixarmo-nos envolver, pelos sabores, pelos cheiros e pelas cores.

Quando viajarem não chorem pela nossa comidinha, que é a melhor, eu sei. Aproveitem para provar os pratos típicos dos países onde vão, vejam como se faz. Às tantas dão por vocês quando voltam a casa à procura de restaurantes que tenham sabores parecidos ou até a tentar fazer em vossa casa. Eu estou desejosa que este confinamento acabe para ir a correr para um restaurante italiano… Um em cada dia da semana, durante os primeiros sete dias de liberdade a sério. Até já consigo sentir o cheirinho a mozzarela e parmigiano…

Autor: Vanessa Rodrigues

25 – QUE VEM NA EMENTA D’HOJE?

Se de viagens falamos neste jogo de textos, estas podem ser idealizadas tanto ao nível físico como ao nível mental. Desta forma, podemos haurir sabores, cheiros e sensações únicos e identificados com locais e épocas do ano.

Estando nós a chegar à época quente do ano, quero dizer-vos que algures por aí, está um prato de caracóis à minha espera! E também estão à minha espera umas sardinhas assadas na brasa e a pingar no pão… hum que sensação tão boa que me faz salivar na esperança de as poder comer de imediato… Muitos são os pratos que adoro e associo ao verão e a tantos locais deste pequeno país com uma imensa diversidade geográfica. Depois, quando o calor quiser ir embora e a escola voltar, são tantas as frutas e colheitas de outono que trazem à memória tantos aromas que me levam a sugar cada um deles até ao caroço… “Quero outra maçã reineta!” E quando o frio voltar, “Tragam-me um chazinho com uma torrada.” Vá, com pouca manteiga para não fazer mal… E se olharmos bem lá para fora pela janela, é fácil imaginar o que aí vem. Que vêm? A Primavera está aí de volta, tantas flores, tantos folhas e frutos, tudo renasce, tudo se completa estabelecendo um círculo perfeitamente natural.

Perante tão variado paladar gastronómico e geográfico torna-se difícil ou praticamente impossível, escolher um prato ou um sabor. Ainda bem que é assim, pois se há prazer que gosto de sentir é o de saborear um simples e inigualável pedaço de vida.

Autor: JPF

26 – A COMIDA QUE DÁ COR, CHEIRO E SABOR À NOSSA HISTÓRIA

Se estão a pensar que vão encontrar uma história inspiradora, de uma cozinheira que não devia ter escolhido comunicação como área a seguir, enganem-se. Nem mesmo estes tempos de quarentena revelaram talento para cozinhar. Em minha defesa, a minha mãe foge da cozinha. A minha avó idem. Contudo, há algo importante a salientar: eu adoro comer! Posso não ser uma goleadora nas panelas, mas sou uma excelente mister a saborear um bom “orgasmo gastronómico”. E muitos deles fazem parte do menu de recordações.

Quem me conhece sabe que o zomato pode contar comigo para experimentar as novidades da cidade. Tento sempre variar, mas italiano e sushi dão conta do meu cartão de alimentação. E os brunches? É só juntar uma vista agradável e tenho reserva marcada. Sei que muitos de vós se vão identificar comigo. Não é só a comida em si, são todos os momentos passados à mesa. Com a companhia certa. O que importa é sair de “barriga cheia”, com a certeza que é por aqui que nos conquistam. E nós utilizamos esse truque com os nossos. Seja aquele molho de soja, a envolvência do arroz com o salmão ou aquela sobremesa que nos faz voltar onde fomos felizes… a comer.

Não nasci para cozinhar mas nasci para apreciar esta arte. E nestes termos, considero-me uma empáfia. Não é empadão, é empáfia mesmo. Que saudades. De ir a um restaurante e olhar para as pessoas ao meu redor, vendo como são felizes a partilhar uma refeição. De fazer rotas gastronómicas em cidades que vou conhecendo por esse mundo fora: as massas inconfundíveis de Itália que reforçam o porquê de ser fã de queijo; o pior café mas com um cheiro divinal na Turquia; o vinho forte mas elegante de Bordéus; as especiarias exageradas de Marrocos; o chocolate belga que se desfaz na boca como nenhum outro; a paella de comer e chorar por mais na vibrante Barcelona. Deixo-vos a ânsia que tenho de voltar a cometer um dos meus pecados mortais: a gula, elenco principal do meu guião, da minha história.

Autor: Soraia Peixoto

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