Quis a pandemia que eu ficasse uns tempos a morar pelo Algarve e principalmente pela cidade de Olhão (da Restauração), cidade Cubista. Posso dizer que eu não a escolhi, foi ela que me escolheu. E ainda bem. É que, muito provavelmente, foi o lugar mais pitoresco e genuíno onde já fiquei em terras algarvias. Ainda que goste de todo o Algarve, de uma ponta a outra, Olhão traz o que de mais tradicional existe e esta proximidade da Ria Formosa e das ilhas, fá-la ainda mais encantadora.
A vida que se leva em Olhão é feita como as marés da Ria Formosa. Vão e vêm, várias vezes ao longo do dia. Vão e vêm pássaros. Vão e vêm os mariscadores, que andam nas marés baixas. De madrugada, saem os barcos de pescadores para ir buscar os peixes frescos, para depois os mercados se encherem de compradores.
Mesmo com a pandemia, os mercados sempre funcionaram e isso sempre me manteve “ligada” à terra. Ia lá buscar frutas e legumes, sobretudo, assim como os frutos secos e queijos… que perdição! Tenho muitas saudades de ter estes mercados a dois passos da minha casa e das minhas “voltas”. Ao final do dia, refugiava-me naquele que é um “santuário”: na ria Formosa, e ia ver o deslumbrante pôr do sol, junto às salinas. Por vezes, tinha companhia de flamingos e outras aves.
- Guia / Roteiro de Olhão
- Restaurantes de Olhão
- Alojamentos em Olhão (aqui e aqui)
- Mercados de Olhão
- Caminho das Lendas
- Arte urbana conserveira
- Salinas e Ria Formosa
Bem-Vindos a Olhão da Restauração
Sinto que nos quase dois meses que lá vivi fiquei a sentir-me um bocadinho uma “filha” da terra. Que me desculpe o meu Porto que não troco nem por nada… mas é fácil rendermo-nos aos encantos bairristas de Olhão! Cidade Cubista e terra de pescadores e gentes da ria e do mar, a vida é feita na rua, nas esplanadas, nos cafés, nos restaurantes simples, que servem peixe e mariscos maravilhosos.
As construções de Olhão, cidade piscatória do Algarve, dão-lhe o apelido de “cubista”. Encaixadas em ruelas estreitas, as casas brancas, já datadas do século XVIII, exibem platibandas e portas coloridas, chaminés algarvias e terraços de inspiração árabe. A História de Portugal tem aqui um episódio muito importante, daí ser conhecida por Olhão da Restauração. Conhece a história? E as suas lendas? O mar é o centro de tudo. Aliás, o mar e a ria. A tradição da pesca e das conservas fazem parte da história de quase todas as famílias olhanenses.
Só como enquadramento histórico-político: no início do século XIX, Olhão estava sob o domínio dos franceses e a Corte Real tinha “fugido” para o Brasil. Os olhanenses, descontentes sobretudo com regras na pesca, prepararam uma emboscada na Ponte de Quelfes, dando origem ao movimento que expulsaria as tropas francesas. Foi em 1808 que isso aconteceu, tendo a soberania sido restaurada a 16 de junho, passando a ser Vila da Restauração, em setembro, por decreto do Príncipe Regente.
Estive a viver em Olhão quase dois meses, numa casa no centro histórico de uma cidade que considero que é ainda um dos locais mais genuínos do Algarve. Os mercados são de facto um dos locais onde tem de se ir. Um de frutas, verduras e afins e outro de peixe e marisco. Ao sábado, de manhã, além do funcionamento normal destes dois mercados, vêm os produtores de vários locais (e da serra) com produtos frescos da terra. Desde frutas, vegetais, frutos secos, bolos de amêndoas e figos, folares (um dos bolos tradicionais de Olhão), há de tudo um pouco para rechear a dispensa para se comer produtos da terra. E que bons são!
Pela ruas pedonais, cheia de lojas de comércio tradicional, e casas de azulejos tradicionais, há pormenores internacionais importantes: desde os restaurantes chineses e indianos, há também lojas com produtos de Marrocos, Índia, Bangladesh, etc… o mundo cabe em Olhão! Aliás, há ainda uma Praceta de Agadir, que se deve à geminação das cidades de Olhão e Agadir, em Marrocos, desde 1987.
A Ria Formosa
Eleita uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, a Ria Formosa é uma das três áreas protegidas no Algarve e é composta por cinco ilhas-barreira e duas penínsulas, onde existe uma enorme biodiversidade. Olhão é um dos pontos (e porto) de partida. Existem os barcos normais (ferry) de transporte de passageiros, mas também existem táxis e ainda, para quem tem pouco tempo, os barcos turísticos que os podem levar a visitar todas as ilhas, com explicação do que se pode ver na Ria Formosa.
BAIRRO DA BARRETA
O Bairro da Barreta é um dos lugares mais tradicionais de Olhão e também o lugar pelo qual muitos estrangeiros se apaixonaram e escolheram ficar a morar. Arranjaram as casas de forma tradicional e aqui se fixaram, principalmente já reformados, a aproveitar o bom tempo do Algarve. A Barreta renovou-se e há até quem lhe chame a nova coqueluche do Algarve.
É fácil perdermo-nos pelas ruelas do centro histórico de Olhão e pela Barreta mas, como não é grande, facilmente encontramos um ponto de referência, nem que seja, em direção da ria Formosa. O casario branco – de platibandas e portas coloridas – preenche as ruas estreitas, algumas muito altas, com açoteias remodeladas, e ainda mirantes e contramirantes. Aliás, dizem que era daí que as mulheres dos pescadores conseguiam avistar os barcos dos maridos e ficavam mais sossegadas ao saberem que estavam a regressar sãos e salvos.
O QUE VISITAR EM OLHÃO
É como se existissem duas partes bem diferentes da cidade de Olhão: a que engloba a parte dos prédios e da longa Avenida da República que vai desembocar na Capela Senhor dos Aflitos; e a parte do centro histórico, mais próximo da ria.
Como e por onde começar?
Posso sugerir que comece pelo Centro Histórico percorrendo o Caminho das Lendas que, através das lendas locais, dá a descobrir cinco praças bastante movimentadas. É, assim, a melhor forma de vos explicar como Olhão é uma cidade muito viva. Em que os habitantes fazem compras no mercado tradicional, nas lojas onde se conhecem os donos, ainda que também tenha as grandes superfícies comerciais.
A zona Ribeirinha estende-se ao longo da Avenida 5 de Outubro e é povoada de restaurantes e esplanadas, com vista sobre a bonita ria Formosa. A Zona Histórica engloba o Bairro da Barreta, formada pelos núcleos do Gaibéu e do Manuel Lopes (a Poente), e o Bairro do Levante (a Nascente).
– Caminho das Lendas
É um percurso pedonal que atravessa a zona histórica de Olhão, ligando cinco largos onde vai encontrar estátuas ou instalações artísticas – e todas estão ligadas a lendas locais. Leia mais sobre todos os pontos deste percurso, assim como as histórias das lendas.
São considerados os ex-libris da cidade e de visita obrigatória para qualquer pessoa que por lá passe. Mas, não são apenas para turista ver, como outros mercados que possam conhecer. Aqui, também os locais lá vão todos os dias. Começaram a ser construídos em 1912 e foram inaugurados em 1916. Ao sábado, o mercado passas também para a rua e vêm produtores locais vender os seus produtos frescos. No interior tem uma imagem com azulejos pintados por Costa Pinheiro. Leia mais.
– Caíque Bom Sucesso
Os caíques eram as embarcações de pesca mas também de comércio e transporte. Junto dos mercados está uma réplica que recebe visitas turísticas e de estudo. É uma réplica do barco que levou olhanenses ao Brasil, para dar a notícia ao rei D. João VI que tinham expulsado os franceses. Leia mais.
– Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário
A Igreja Matriz de Olhão foi construída entre 1698 e 1715, com o contributo dos pescadores olhanenses. Na capela-mor, está uma imagem de Nossa Senhora do Rosário (datada do século XVII), o Senhor Crucificado, feito em madeira de pinho da Flandres e um Santo Apóstolo. Nas traseiras da igreja está a Capela do Senhor dos Aflitos, com velas colocadas, para promessas dos devotos. Dizem que foi com aquela torre sineira que avisaram as populações das invasões dos franceses.
– Monumento aos Heróis da Restauração
Este marco, que fica entre a Igreja Matriz e o Museu Municipal, é um Monumento alusivo aos combatentes olhanenses, que participaram na revolta contra os franceses em 1808. A peça foi inaugurada em 1931 e é da autoria do arquitecto Carlos Chambers Ramos.
– Museu Municipal / Compromisso Marítimo
O edifício do Museu de Olhão foi construído em 1771 e restaurado em 2001. Na fachada tem um curioso nicho onde está a imagem de Nossa Senhora da Graça. Tem três exposições patentes: uma sobre a presença romana no concelho; outra sobre o “Sal de Olhão”, e a atividade salineira no território; e uma outra intitulada “Compromissos Marítimos no Algarve” sobre Irmandades ou Confrarias do Corpo Santo. Mais informação, aqui.
– Igreja Nossa Senhora da Soledade
Apelidada de “igreja pequena”, a Igreja Nossa Senhora da Soledade é um edifício do século XVII (entre 1600 e 1610) que foi mandado construir pelos habitantes de Olhão. No interior, destaca-se a imagem de Santa Lúzia e os retábulos do século XIX.
– JARDINS DE OLHÃO
Junto à Ria Formosa existem dois jardins em Olhão: o Jardim Patrão Joaquim Lopes e o Jardim Pescador Olhanense. Este último tem um coreto e os bancos com painéis de azulejos que retratam a revolta dos olhanenses contra os Franceses, assim como a viagem do Caíque Bom Sucesso para o Brasil.
– PORTOS DE OLHÃO
Existe o Porto de Recreio de Olhão, com capacidade para 350 embarcações e infra-estruturas de apoio; e o Porto de Pesca que é tido como o maior da região algarvia, onde estão as traineiras, barcos da marinha e barcos de recreio. Se passear por aqui – perto de onde saem os barcos para as ilhas da ria (Armona, Culatra e Farol)- vai ver o peixe litão a secar ao sol. As bilheteiras abrem uns minutos antes dos barcos partirem.
– Centro de Educação Ambiental de Marim
Como visitar? Seguir os trilhos pedestres. Ocupa 60 hectares com zona de mata, sapal, dunas, charcos, salinas; a sede do Parque Natural da Ria Formosa; casas tradicionais recuperadas; e vestígios arqueológicos da salga de peixe da época romana do século III.
– Poço das Bombas
No meio da Avenida da República está um painel de azulejos colorido que marca o local onde já existiu um importante poço. Tão importante que terá sido a principal fonte de abastecimento de água da povoação, onde se reabasteciam os aguadeiros que a distribuíam, de porta em porta. Foi reabilitado em 1998 e exibe um painel de azulejos de Jorge Timóteo, alusivo aos aguadeiros e uma fonte ornamental.
– SALINAS
Não estão descritas num plano turístico, porque são propriedade privada, mas também não estão vedadas. Esta salinas são o local perfeito para assistir a um mágico pôr-do-sol, com a ria Formosa como pano de fundo. Como chegar? Através da Avenida 5 de Outubro, indo a pé por um caminho de terra batida até aos rectângulos das salinas, que servem de refúgio a inúmeras aves aquáticas. Até flamingos encontrei por lá. Leia mais.
PRAIAS DE OLHÃO
A Ilha da Armona pertence ao concelho de Olhão, assim todas as praias desta ilha são tidas como de Olhão: Armona Mar, Armona Ria e Fuseta Mar. Existe ainda a praia da Fuseta Ria e, também ligada à ria, a Praia dos Cavacos, na aldeia de Marim.
No porto de Olhão, tanto pode apanhar o barco para a ilha da Armona como pode ir até à Culatra ou Ilha do Farol, que são do concelho de Faro. Todas têm praias lindíssimas.
DIVERSÃO EM OLHÃO
Já aqui referi que em Olhão vive-se muito na rua e há dezenas de esplanadas que podem comprovar o que digo. Mas é fácil de perceber porque os locais passam muito tempo a conviver ao ar livre.
Há-de haver muitos mais bares e discotecas dos que eu conheci… Mas o tempo que lá passei… foi de pandemia, e estavam (quase) todos fechados. Mas, saliento um dos melhores: o Re-Criativa República 14 é um espaço fantástico mesmo no centro da cidade.
O espaço está num edifício do século XIX, onde ficou instalada a Sociedade Recreativa Olhanense, em 1933. Tem um espaço bonito, com café e loja de discos de vinil e promove oficinas. Tem uma agenda cultural muito preenchida e diversa, com vários espetáculos (noites com cinema, concertos, exposições, etc.); Mercados de Trocas (de livros e roupas – no último domingo do mês) e Mercado de Produtos da Terra às quartas-feiras. Claro que, com a pandemia, tudo diminuiu, mas tem uma esplanada gigante perfeita para convívios fora de portas e para as quentes noites algarvias.
RESTAURANTES: ONDE E O QUE COMER EM OLHÃO
Se há cidade (desde 1985) onde vale a pena comer peixe e marisco é Olhão. E dizem-me que os turistas (e não só) vêm das outras cidades, de propósito, para aqui se refastelarem a comerem os melhores e mais frescos produtos da ria e do mar.
Aliás, nesta cidade existe uma forte tradição da indústria conserveira. Desde a primeira metade do século XX que isso a tornou bastante produtiva, ainda que a primeira fábrica de conservas tenha surgido já em 1881. Em 1919, já eram cerca de 80 as fábricas de conservas de peixe. Mas, na última metade do século XX começou a decair a indústria conserveira e a própria pesca. Há uma loja da Conserveira do Sul que ainda recorda esses tempos áureos e vende as conservas. E, no centro, as paredes das antigas fábricas estão com grafitis que retratam aqueles momentos.
O que é típico na gastronomia olhanense: amêijoas, o xarém de amêijoas, charrinhos alimados, lulas cheias à moda de Olhão, coelho com feijão-vermelho, polvo grelhado, salada de ovas, açorda de petinga, litão (peixe seco), raia alhada, etc.
Nos doces destaque para: o folar, leite creme, folhados à Moda de Olhão, pudim de mel, etc. Mais informação, aqui.
Reuni aqui algumas sugestões de restaurantes de Olhão, tendo experimentado todos.
ONDE DORMIR EM OLHÃO
Fiquei a viver uma casa no centro histórico de Olhão, mesmo ao lado da Câmara Municipal e a poucos minutos a pé de… tudo! Dos Mercados, das lojas, dos barcos que me levavam para as ilhas da ria Formosa, etc. Localização perfeita numa casa muito típica e tradicional e totalmente equipada. Leia mais aqui sobre a Maison Citron.
Um pouco mais afastado do centro (a cerca de 10 minutos de carro), tem a Cochichos Rural Farm Rural Guesthouse, com piscina e jardins enormes e várias casinhas, também totalmente equipadas. São os meus locais preferidos em Olhão.