Desbloquear a escrita - Foto: ©Free-Photos Pixabay
Publicado em Maio 25, 2020

Da minha janela… Textos da aula 5 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

22 – DA MINHA JANELA: JÁ SE OUVEM VOZES

Da minha janela vejo a rua. É uma rua estreita, pedonal, no centro histórico de uma cidade alentejana. A rua foi arranjada há pouco tempo. A irregular e parda calçada foi arrancada para dar lugar a um piso mais amigo dos transeuntes. Tem grandes lajes de granito, muito lisas, formando uma espécie de passadeira central, ladeada de calçada feita de rugosos cubos, também em granito, ao mesmo nível. A cunctatória obra não está completa, faltando ligar a rua ao largo que existe no seu término, a ser remodelado em breve. Até lá, entre a rua e o largo há uma faixa de terra onde crescem bonitas papoilas.

A rua é tão pequena e direita que daqui posso contar quantas janelas e portas tem. São quarenta e quatro janelas e cinco portas. Só há portas num lado da rua. Do outro lado, e ocupando um quarteirão inteiro, queda uma enorme casa senhorial, muito bem cuidada, mas sempre fechada. Pertence a uma viúva, que imagino riquíssima e quase centenária, que não vive cá. São desta casa vinte e três das janelas que existem na rua.

Do meu lado da rua, bem mais modestas são as cinco casas, de dois pisos, brancas, com rodapés amarelos ou cinzentos. A última tem um pátio de onde saem ramos de jasmim, que, quando floridos, perfumam as cercanias.

Somos dezasseis vizinhos, todos nos conhecemos. O mais velho é o Sr. B., já nos oitentas, boina e bengala, passo arrastado, cordial e educado. A mais nova é a M., menina doce, a única criança da rua. Os restantes, cada qual com os seus hábitos, já a desconfinar, num entra e sai constante, bons dias e boas tardes, a partir das oito da manhã. Às onze da noite a rua dorme.

No início da rua há um café com três mesas de esplanada. Nela se pode tomar uma refeição, ou apenas um copo de vinho, com vista para o Castelo, e saborear a liberdade de mais um passo para a normalidade. O ambiente é convivial e alegre. O tom das conversas, que oiço perfeitamente da minha janela, é música para os meus ouvidos. Que bem sabe ouvir estas vozes vindas da rua!

Autor: ZT

23 – DA MINHA JANELA: A MINHA PAZ

Moro num sítio remoto: uma aldeia ribatejana, entre pinhais, e sinto-me a maior sortuda e privilegiada por isso, de verdade. Amo cada pormenor da minha casa e cada pormenor do sítio onde vivo. No que toca a opinar sobre isso sou bocadinho tendenciosa, admito. Faz parte de mim desde sempre, não me culpem por isso.

Quando acordo, lá fora o sol brilha, mas nem sempre, e quando a chuva aparece o cheiro intenso a erva molhada vem com ela. À noite as estrelas brilham tanto, tanto, que me fazem recordar as luzem que cintilam em noites de Natal- uma das muitas coisas de que senti falta quando fui para Lisboa estudar. Disso e de tudo o que acarreta viver numa aldeia: a proximidade com os vizinhos, o à vontade nas ruas e estradas onde quase nunca passam carros, a minha mãe na recente criada horta (resultante da quarentena forçada), os animais, os meus animais: a Pepa, Olívia e Leo; os passeios intermináveis com a Nhó, a cadela de uma vizinha adorada, os cheiros e os sons. Os sons- o que mais adoro. O relinchar dos cavalos, o som das árvores a baterem ao som vento e os pássaros frequentes e quase obrigatórios.

É nisso que penso quando me lembro da minha janela, a janela de minha casa. De tudo isto e da árvore de proporções extremas desnuda no Inverno e colorida de laranja e verde na Primavera, a ela paralela, sobrevoada por cegonhas que aí constroem o seu ninho e pássaros diversos que se apropinquam quando lhes trago restos de pão de há 3 dias: de uma beleza desmedida e admiração obrigatória- no meu caso durante horas.

Para ser sincera é aqui que me encontro, são estes os meus elementos e é este o ambiente em que tive oportunidade de ser criada. A janela de minha casa acalma-me e é a ela que recorro quando procuro conforto, quando me preciso de reencontrar no frenesim que é a vida e que tantas vezes nos tira tempo para respirar e dar valor ao que realmente importa. É na minha janela que encontro a minha paz.

Autor: Adriana Cunha

24 – DA MINHA JANELA: A VIDA

Olhando através do vidro, a primeira coisa que vi hoje foi a minha varanda cheia de vida. Num canto, uma alfazema a florescer, no outro uma pluméria com três galhos e mais ao fundo, entre outras plantas, um tomateiro com flores amarelas. Um deleite para a minha gata, que tanto gosta de se passear neste pequeno jardim. Em frente, a poucos metros, há outra varanda. Ocasionalmente vejo os vizinhos a almoçar na mesa comprida de madeira branca e cumprimento-os. Olhando para baixo, encontro a estrutura de um prédio em construção (que já ganhou mais um andar desde o início da quarentena) e um parque infantil ladeado por relva onde desbotaram inúmeras papoilas e malmequeres que pintam o cenário. A vida por aqui não parou.

Impelida pelo desiderato de explorar de perto o que vejo do meu recanto, decidi ir lá fora. O vento soprava forte e, chegando ao parque, dei com um bando de pombos com dificuldade em levantar voo, uma cena algo cómica. De seguida, parei e detive-me a admirar o exterior do edifício onde vivo, um prédio moderno com três andares decorado com tijolos castanhos. No piso térreo, há um parque de bicicletas cingido por grades brancas e os restantes são rodeados por largas varandas com balaustradas de vidro. Uma delas chamou-me a atenção, tinha vasos com muitas cores: azuis, púrpura, ter-racota, um de madeira e outro de palhinha, a abarrotar de plantas verdejantes. A varanda ao lado tinha também vasos com flores cor de rosa e duas cadeiras de vime onde estavam sentadas senhoras de meia idade a conversar. Quando me viram, interromperam a conversa e disseram bom dia. Nos restantes cubículos, havia uma miríade de outras coisas: uma cama de rede, uma piscina insuflável, estendais com roupa a secar, jovens a ouvir música, pessoas a apanhar banhos de sol… Pergunto-me sobre a vida destas gentes, quem são e como serão as suas casas. Vendo do exterior, não me resta mais do que tentar adivinhar, através do vislumbre que tenho das varandas.

Reflito e chego à conclusão de que as nossas janelas são como a vida. Olhando para fora, cada um de nós vê o mundo com um jeito próprio. O “vizinho do lado” pode ter uma visão parecida mas sempre com um enquadramento diferente, e quem está de fora tem apenas uma ideia fugaz daquilo que se passa cá dentro. Por isso, é importante de vez em quando abrir a porta, deixar os outros entrar e partilhar com eles a nossa visão do que nos rodeia. E, mais do que tudo, em vez de ver a vida a passar através da janela, ter a coragem de sair e fazer parte do cenário: viver!

Autor: Cláudia Duarte

25 – DA MINHA JANELA: VEJO O ATLÂNTICO E O PACÍFICO

Vejo o estuário do Tejo e do outro lado a Costa. Para oeste, assim como quem se quer escapar está o farol do bugio, e um vai e vem cunctatório de barcos de todos os tamanhos: Um convite à viagem. E lá longe o cabo Espichel, que vejo muitas vezes porque quase sempre faz sol. Boa parte da vista é oceano e quando para cá vim morar lembro-me que me impressionou poder comprovar que a terra é redonda. Vê-se claramente que o horizonte descreve um arco…Vantagens de morar num alto! Mais perto, a Vila, com o movimento dos que vão e voltam da cidade e dos turistas que têm sido sempre cada vez mais. Até há dois meses, claro! Nunca faltava também o bulício dos estudantes, mas isso era dantes.

Da minha outra janela vejo os Andes. Vejo o fiorde que acaba no monte Balmaceda, coberto por gelos eternos. Vejo uns quantos barcos que por ele navegam, à espera da maré para poderem atracar. Quase sempre há neve, menos quando só vejo nuvens. Mas nunca por muito tempo, porque o clima está sempre a mudar. Mais perto vejo os dois choupos que temos no pátio e o Baco, o cachorro pastor preto e branco, que está sempre à espera de carinhos ou de comida. Temos a sorte de viver à beira do declive que leva à ribeira, pelo que os vizinhos estão bastante mais abaixo e só vemos mesmo paisagem. Como estamos virados a noroeste chega-nos o vento de frente. E só quem já esteve na Patagónia sabe que ele se ouve e que se vê. Aqui não há mistrais nem sirocos, chama-se lhe só vento!

Há muitos anos que passo os verões boreais na linha do Estoril, a ver o Tejo e o Atlântico, e passo os outros verões, austrais, na Patagónia, a ver o fiorde da última esperança, que é um braço do Pacífico. Tenho duas janelas para o mundo, em dois países, dois continentes, dois hemisférios . Sinto-me em casa por todo o lado e em lado nenhum. Quando era miúdo sempre achei que ia viver noutro país. Mas nunca pensei que em cada metade do ano ia ver da minha janela um oceano diferente.

Autor: Pedro Moita

26 – DA MINHA JANELA: AS NOSSAS JANELAS INTERNAS!

O Sol! A luz! Os primeiro intrusos do mundo lá fora, quando abro a janela do meu quarto! A cada janela que abro da minha casa, um novo portal se abre, uma nova dimensão, com diferentes imagens e sensações diárias.

Hoje quando abri a minha janela, senti expectativa e curiosidade no ar. É mais um dia de festa! Com novas oportunidades, novas aventuras.
Este despertar e esta esperança , permitem-me abrir outras janelas dentro de mim! A janela da mente, do coração e a janela da minha alma. As portadas estão bem abertas quando começo o dia!

Conforme as horas vão passando, a janela da minha mente é a mais difícil de controlar, por vezes fecha-se ou fica entreaberta! Tem vontade própria, pois insiste em ter conversas inconvenientes comigo, o que por vezes destabiliza as restantes e me faz ver um por do sol somente pela mente e não pela janela do coração!

Tentar o equilíbrio entre a luz e a sombra nas janelas da minha casa, as emoções que me despertam, a necessidade de sair da janela e abrir a porta para viver, experienciar, sentir na pele o sol, a luz! E à noite, através das janelas , ver as estrelas do céu , e com a luz do luar que vejo pela janela e adormecer.

Autor: Sandra Antunes

– THE END –

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