Desbloquear a escrita - Foto: ©Free-Photos Pixabay
Publicado em Maio 25, 2020

Da minha janela… Textos da aula 5 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

11 – DA MINHA JANELA: VEJO A MUDANÇA

A vista da minha janela, seja que divisão for, não é muito interessante, diga-se. Não vejo o mar, que eu tanto adoro. Não vejo a acalmia do campo. No meio de prédios, carros e algumas pessoas que vão passando, não se passa nada. No entanto, desde há dois meses que tenho de lhe dar algum valor. Na verdade, apesar de banal, ela foi a minha companhia diária. E agora ela própria é a vista da mudança para uma nova janela, uma nova realidade.

Foi preciso parar e trabalhar em casa para dar mais valor a esta vista, inalterável há seis anos. O centro comercial, em frente, continua praticamente vazio; as árvores dão o (único) ar da sua graça; os moradores vão aparecendo de vez em quando. Nestes dois meses estive sempre ao lado desta vista, que se tornou vazia, silenciosa e inquietante com a situação atual. Aos poucos, sinto que o movimento é cada vez maior e oiço cada vez menos os pássaros a darem os bons dias. Daqui a umas semanas, deixarei de ouvir o que oiço agora para escutar outras melodias. A mudança está prestes a chegar e a minha vista vai ser diferente. Mais calma, espero eu. De qualquer das formas, será a vista que eu escolhi: desafogada, sem ninguém para cumprimentar à janela e sem ruído visual. É certo que ainda não vejo o mar, mas o azul do céu é mais consistente. Já não vou ter uma varanda para me acompanhar, mas será a vista a quem darei um “bom dia” com um sorriso bem rasgado. Não é a janela com que sonhei, mas é a janela – oito, mais concretamente, que traz mudança, progresso e novos capítulos. A minha vista de hoje não mudou, é certo, mas mudei eu. E, por isso, o aroma que entra quando abro a janela é de algo bom que está por chegar.

Nem sempre lidamos bem com mudanças, mas eu adoro-as. Estou muito perto de poder abrir uma nova janela – a da minha casa. Uma das maiores conquistas que aponto no diário da vida. Com a mudança vem a independência, o desafio, o desconhecido. E como eu gosto disto. O acordar e o deitar vão ter novos cenários. As ruas vão ser diferentes. Até as pessoas vão ter novos rostos. Estou pronta para alcançar tal desiderato – venha ele!

Autor: Soraia Peixoto

12 – DA MINHA JANELA: AS PAISAGENS QUE LIMPARAM O VÍRUS DO ISOLAMENTO

Pertenço ao intitulado grupo de risco e cumpri à risca o protocolo: confinamento total. Reclusa na própria casa em conta da quarentena, sem acesso a varandas ou jardim, o que me libertou foi a vista escancarada da janela do meu quarto! É que às páginas tantas, não é só o corpo, a mente começa com bichinho carpinteiro – vontade de se esticar para além de pensamentos redutores.

Foi de um quinto piso com paisagem privilegiada sob três concelhos que tive os meus momentos de evasão. A quinta centenária, em primeiro plano, de que resta um conjunto edificado, sempre foi tema de mistério. O núcleo original mantém a sua traça e a capela adjacente. Rodeiam-no outros elementos – anexos adossados posteriormente, numa trama densa e irregular fechada a olhos indiscretos por frondosos abetos. Para trás, o campo de ténis de pouco uso e parca manutenção deixa adivinhar que os tempos áureos desta propriedade de arquitetura apalaçada perderam-se entre as vicissitudes da história. Para mim, porém, a dignidade desta vizinha improvável, enclavada numa urbanização dos anos 80, é salva pela orla de palmeiras a engalanar o caminho, à entrada. A copa fica ao nível dos meus olhos sublinhando – pelo verticalismo e altitude, real e figurada que tal aporta – a antiguidade inócua ao tempo das árvores e reclamando para as mesmas o respeito e veneração que se dá aos anciãos. Muitas vezes me perdi na sua observação, em jeito de fuga, meditação, divagação …, entre a dança lânguida e cintilante da folhagem.

Em momentos de pôr do sol, com os raios a invadirem o quarto, os olhares são mais longínquos e espraiam-se para além da urbanização defronte, galgam o campanário da Igreja de S. Domingos de Rana e escalam a serra de Sintra em busca de histórias fantasiosas. O céu pinta-se ora de tons quentes, ou frios e exprime nas nuvens o seu temperamento sob a forma de arte.
Uma luminosidade cálida enche o quarto de energia e foi à sua presença retemperadora que eu recorri neste período desafiante, como terapia e bálsamo para a alma.

Autor: LS

13 – DA MINHA JANELA: AS ALMAS FELIZES

São poucas as pessoas que gostam de ver o mundo através da janela. Eu tenho essa sorte, já que consigo ver os sonhos a fluírem através dela. Desde os cantares dos pássaros do meu jardim até aos aviões a partirem para lugares distantes.

Ao olhar para o mundo através daqui, consigo ver um belo jardim, onde os tons de verde predominam, nos quais as folhas da Oliveira no centro, de cor mais escura, são capazes de dar um toque de simplicidade e, simultaneamente, de peculiaridade no espaço envolvente. Para além disso, os arbustos que circundam este sítio são o ecossistema para vários animais, onde os pássaros, como melros, estão no topo da cadeia alimentar. As suas cores alternadas, como azul ou cor-de-rosa, e, também, os seus chilreios dão magia a este universo, quase parecendo que tentam conversar connosco. Os seus ninhos feitos de pequenos ramos, onde alimentam as suas crias, estão colocados dentro dos arbustos verdes escuros, servindo de camuflagem para possíveis perigos. Deste modo, consegue-se realçar a magnitude da vida. Em adição, as espreguiçadeiras de plástico e a mini piscina de seis metros, azul escura e feita de borracha, onde o azul límpido da água atenua tudo, servem para tornar este local num ideal espaço de lazer. Ao mesmo tempo, a relva reconfortante serve como um ótimo recinto ara meditar e fazer yoga, acalmando a mente de todos os distúrbios. Por outro lado, a sua localização em frente ao aeroporto permite-me ver os aviões, sabendo que cada pessoa regressa sempre com outra mentalidade de cada viagem. Pois, quando viajamos, partimos em busca de uma aventura e de temeridade, uma vez que queremos quebrar rotinas ou talvez fazer coisas diferentes que nos provoquem novas sensações.

Assim, o que vejo através da minha janela pode não ser uma praia paradisíaca ou algum daqueles destinos de sonho, mas, do meu ponto de vista, acaba por ser um ambiente onde temos a permissão para viajar para locais onde os sonhos nunca acabam.

Autor: Carolina Salgueiro

14 – DA MINHA JANELA: VEJO O MEU MUNDO

A minha janela tem muito que se lhe diga. Mais do que uma simples janela, é um local onde dou asas à minha imaginação, não sendo por acaso que, contra a geometria do meu quarto, forcei a minha secretária a estar perante a janela. Mais do que uma simples janela, é uma fronteira que me permite ver o meu mundo e o de mais ninguém, que me permite sonhar e viajar anos-luz numa pequena fração de tempo. Mais do que uma simples janela, é a minha janela.

Do meu mundo vejo o meu jardim, as minhas flores, a minha horta. Com maior esplendor, cumprimento os dois grandes choupos que tenho pela frente. Contra as leis da física lá estão eles, enormes e cheios de vida, água não é problema, eles arranjam forma de a levar a todo o lado. Ao longe vejo a fazenda do meu avô. Apesar da idade, ele não se cansa de a correr todos as manhãs, quer seja para regar a sua horta, ou para dar de comer aos animais, estes que não são poucos. Dadas as onze horas, ouço o barulho que é normal todos os dias… chegou a vez de alimentar os perus. Com um forte assobio e um grande abanão de braços exclamo, da minha janela, que o estou a ver. Desorientado, dá uma volta ao mundo com a cabeça à procura da fonte daquela onda sonora. Apercebendo-se de onde vem, com um grande sorriso e com mais um grande abanão de braços, responde feliz. Saudamo-nos muitas vezes assim. E como isto me faz bem…

Já no final do dia, quando o contraste da noite se afirma, as estrelas marcam presença.
É assim que me abstraio de tudo. Da minha janela, vejo Vénus, vejo a Cassiopeia, vejo o futuro. Depois de uma grande admiração, é aqui que os sonhos nascem. Posso passar horas a olhar para o nada e para tudo através dela. Hoje, sou quem sou muito graças a ela e, por incrível que pareça, com o passar dos anos, nunca é demais estar perante a minha janela.

Autor: Pedro Rocha

15 – DA MINHA JANELA: VOU DA CIDADE PARA O CAMPO

Engolido entre a 2º circular e o colombo, em Benfica, fica um pequeno oásis verdejante, uma quinta que nos faz transportar para a vida no campo, sempre tive curiosidade em saber como será viver naquele paraíso totalmente ladeado de árvores que não nos permite ver, somente imaginar. Uma lufada de ar fresco na agitação da capital.

Da janela traseira da minha casa parece que não se passa nada, que o tempo parou, que não estou na cidade, que fui transportada para outra dimensão, mais rural. No entanto se paramos e olharmos mais profundamente vamos perceber que muito acontece. Paro dez minutos para usufruir da “agitação” rural e simplesmente observo o que ela tem para me dar. Sou invadida por um sol quente e abrangente que me permite fazer fotossíntese suficiente para me recarregar para o resto do dia. Sente-se uma breve brisa na cara como se um bom-dia se tratasse. Que bom que é receber vitamina D e pensar “ahhh chegou a primavera”. Ao longe ouve-se o frenesim da cidade, os carros da segunda circular, no entanto, entre este cenário e a minha janela ouvem-se os pássaros, em vários tons, tonalidades e afinações. Uns cantam uma melodia simétrica, outros fazem um rodopiar na voz, como se brincassem com várias oitavas, parece uma sinfonia de paz e equilíbrio. Logo de seguida canta o galo, também me quer cumprimentar.

Observo a estrada, pontualmente passa um carro, um vai com pressa, outro estaciona, calmamente, com a pandemia há lugares vagos e até pode dar-se ao luxo de escolher. De um deles sai um velhote com máscara de um carro que a aparenta ter a mesma idade que o dono. De outro sai um rapaz, calmo, estaciona e desliza sobre o alcatrão andando em tom de dança.

Olho em frente, e há toda uma primavera em flor, uma mistura de verdes, roxos, amarelos, ervas daninhas com um tamanho considerável e pólen a voar. Por baixo da janela passa um rapaz a correr, de fones, passa numa direção e a seguir na outra. Na perpendicular vê-se roupa a secar e ao longe ouvem-se estores que contrastam com os rouxinóis cantantes.
Nas traseiras do meu prédio, à primeira vista parece um espaço esquecido, no entanto há toda a tranquilidade, leveza e harmonia, um pedacinho de campo, uma autêntica quimera dentro da cidade. Da minha janela, muitas vezes simplesmente observo e questiono como este paraíso ainda permanece e como será ali viver?

Autor: CR

16 – DA MINHA JANELA: VERDE, A COR DA ESPERANÇA!

Esta casa conquistou-nos quando a visitamos pela primeira vez. A luz que percebemos que tinha (e ainda tem) e o magnífico terraço que a acaba de compor foram dois pontos-chave para a comprarmos. Com janelas grandes em todas as divisões deixa-nos olhar lá para fora sem a sensação de estarmos presos entre quatro paredes.

Da minha janela, junto à qual me sento todos os dias para trabalhar, vejo essencialmente o verde das árvores. Parece que floresceram de um dia para o outro. Lembro-me de, no início do isolamento social, ainda estarem meio despidas de folhas e permitirem ver os terraços dos prédios em frente e as varandas. Agora, repletas de folhas, dão-nos uma sensação de privacidade maior (embora alguns vizinhos nos consigam ver quando andamos lá fora).

Da minha janela vejo o canteiro dos morangos, feito carinhosamente pelos nossos pais pouco depois de nos mudarmos para cá (ideias minhas pois claro). Vejo os melros a poisarem no muro do terraço, todos pretos com o seu bico laranja. Por vezes, parecem empedernidos a olhar para os morangos, mas arranjamos maneira de os afastar sem estar sempre a correr lá para fora (uma calhar elétrica e CDs velhos fazem um bom espantalho). Vejo o sol a brilhar, o céu completamente azul e pássaros a voar de árvore em árvore (devem haver vários ninhos na espécie de pinheiro que temos mesmo em frente). Ouvimos também o seu chilrear constante, como se de música se tratasse. Parecem-me mais ariscos também, agora que tem havido menos pessoas na rua. Antes do confinamento também ouvíamos as crianças da creche que existe no prédio ao fundo da rua, som esse que agora só se ouve ao final da tarde, quando os pais terminam os seus trabalhos e saem com os filhos para um passeio aqui na urbanização.

Está a chegar a hora de almoço e, da minha janela, começo a ver mais movimento em algumas varandas com as mesas a serem preparadas para a refeição em família. Ouve-se agora o barulho dos talheres e dos pratos batidos uns nos outros e o burburinho de crianças. Se houve alguma coisa boa nestes tempos foi trazer vida às casas, às varandas e terraços e, provavelmente, às pessoas que lá moram. Pergunto-me se, quando a pandemia passar, continuarei a ver vida nestas varandas, outrora vazias de pessoas mas mobiladas para ninguém as usar. Pergunto-me se vou continuar a ouvir o cantar dos pássaros com a mesma intensidade. E pergunto-me se vou continuar a ouvir o som dos talheres e dos pratos para as refeições de família… tudo isto a partir da minha janela!

Autor: Dália Cavaco

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