Desbloquear a escrita - Foto: ©Free-Photos Pixabay
Publicado em Maio 25, 2020

Da minha janela… Textos da aula 5 do Workshop Online de Escrita para Blogues

Workshop de Escrita

17 – DA MINHA JANELA: OIÇO A CIDADE A VOLTAR AO NORMAL

A vida tomou, desde o fim da quarentena, o seu rumo em direcção a uma espécie de normalidade. Da nossa casa recomeçámos a ouvir os barulhos da cidade: ao longe os autocarros na rua principal, à volta as obras nos prédios, em baixo as obras da piscina. Tudo, ou quase tudo, voltou ao normal.

A vista principal da nossa varanda é para o prédio que está à nossa frente, separado do nosso por uma árvore enorme, que nos esconde todo o Verão da vista dos vizinhos da frente, mas que é cortada todos os Invernos para voltar a crescer. E cresce a uma velocidade alucinante; em menos de cinco meses já cresceu dos seus grandes ramos nus até à altura do quarto andar. E, num timing perfeito, deu-nos uma janela de oportunidade para uma família que mora mesmo à nossa frente e que ficou em casa com os filhos.

E deve ser preciso coragem. A mãe passa todas as manhãs e as tardes com os dois filhos, livros e cadernos abertos na mesa da sala junto à janela, muito provavelmente a dar-lhes o programa que a escola encomendou. A grande porta-janela da sala transformou-se pouco a pouco em parede de escola, cheias de desenhos, folhas com exercícios, e trabalhos manuais, colados ao vidro. Ao final do dia arrumam de novo a mesa, às 20h em ponto vêm todos à janela aplaudir, e depois fecham logo os estores. Tem sido quase como uma companhia, que nos relembra que a vida continua, mesmo de casa.

E já agora, temos também vista para um pequeno apeadeiro do comboio. Há algo de inexplicável na minha relação com comboios, mas essa história vai ficar para outro dia!
Nesta quarentena, conseguimos ter um breve olhar do que seria a cidade em versão mais lenta, mais silenciosa, mais tranquila. Enquanto esta espécie de normalidade volta e nós vamos pensando no que vai ser daqui para a frente, guardaremos uma boa memória da companhia que a vista da nossa janela nos fez.

E mais do que antes da pandemia, agora vai ser preciso uma enorme temeridade para voltar a sair e reconstruir esta nova normalidade.
Autor: TG

18 – DA MINHA JANELA: UM MUNDO COLORIDO

Da minha janela vejo o mundo, os meus sonhos, aquilo que quero conquistar. A minha vida divide-se entre e o campo e a cidade e para mim, em particular, são ambos maravilhosos, têm características únicas e tão diferentes que me fazem amar os dois de forma diferente, mas igual ao mesmo tempo. Neste texto pretendo descrever aquilo que os meus olhos vêm nas minhas diferentes janelas, descrever a oportunidade que tenho em poder viver entre duas realidades diferentes, mas tão importantes naquilo que proporcionam a quem as pode ter/ver.

No campo consigo ver, a paz, a liberdade, as cores vibrantes que o sol incide nas árvores, nas flores do meu jardim. Ouvir e observar o vento nos ramos acompanhado pela sua própria melodia. O cheiro da primavera que em dias de sol é único e permite-me sonhar ao mesmo tempo que oiço os pássaros nos seus voos livres e alegres. Na minha janela consigo ver o pôr do sol tão silencioso e tão inspirador. Ao contrário dos dias de sol também gosto de ouvir e observar a chuva, que muitas vezes transmite um retrato mais triste no nosso dia, mas que ao mesmo tempo pode ser enriquecedor na forma de como nos pode inspirar e ajudar em momentos de reflexão, ou de leitura, por exemplo. Para complementar toda esta beleza tenho minha janela da cidade onde vejo os prédios vizinhos, onde vejo as pessoas no seu dia a dia, nos seus passeios sozinhos ou com os seus cães, nas suas deslocações da vida, embora neste tempo que agora vivemos de confinamento/ desconfinamento não seja a afluência a que estamos habituados, as pessoas tentam ao máximo voltar ao normal, com a sua máscara claro. A cidade tem um cheiro, tem uma mistura de sons, tem uma vida que a torna diferente. Na cidade existe uma agitação única, caraterística dela própria que a enriquece, mas também faz com que por vezes não a aproveitemos da melhor forma.

As minhas janelas complementam-se e complementam-me, eu tenho a sorte de poder viver a minha vida nestas duas realidades, e de me proporcionarem experiências incríveis que me enriquecem enquanto pessoa.

O amor pelo campo é um amor colorido por todas as vibrações que nos transmite, que nos alegra o coração, é diáfano, é mágico. Em relação à cidade, é um amor único, o sol brilha entre os edifícios, entre os jardins de uma forma diferente, proporcionando cores também elas diferentes, lindas e especiais à sua maneira.

Autor: Marisa Heliodoro

19 – DA MINHA JANELA: VEJO O MUNDO À NOSSA ESPERA!

Vivo num T2 em Linda-a-Velha, sem varanda. Desde há 2 meses que a janela da cozinha se tornou a minha parte preferida da casa (e dos meus dois gatos também, parece-me…). Gosto especialmente porque a partir da hora de almoço o sol entra sem pedir licença e eu posso ficar ali a ler, fechando os olhos de vez em quando e imaginando que estou na praia e não na minha cozinha. Outras vezes sou eu que, sem pedir licença ao mundo, abro a janela e ficou a vê-lo a acontecer. Cá fora. À espera que nos possamos juntar a ele.

Da minha janela da cozinha vejo pessoas de máscara a andar na rua! De máscara?? Às vezes ainda abro e fecho os olhos com força para ter a certeza que não estou a sonhar e depois lembro-me… (Continuo a achar que isto foi castigo por ter gozado com a malta do Sudeste Asiático por andarem quase todos de máscara quando lá fui no Inverno passado…). Também vejo carros e mais carros estacionados, em todo o lado, até em cima dos passeios, e imagino tanta gente como eu nas suas janelas a ver o mundo. Vejo janelas com arco-íris desenhados, vejo o ginásio fechado. Vejo o gato preto do rés do chão do prédio da frente também a apreciar o mundo da janela. É tão parecido com o meu gato preto que por momentos fico em pânico. Vejo os meus amigos, que moram no prédio da frente, e a minha sobrinha (a cadela deles) e lembro-me do dia em que cantámos os parabéns a um deles à janela. Tudo coisas que não veria há uns tempos atrás e que secalhar não estaria a ver na mesma porque não teria tanto tempo para ficar em casa, a apreciar o mundo da janela. Mas também vejo, com arroubo, que o sol continua a pôr-se com o deslumbre de cores no céu de antigamente. Que as folhas das árvores da praceta continuam a cobrir os carros ali estacionados com um manto especial. E até vejo que há obras a acontecer, que estão a arranjar os passeios para quando podermos voltar a passear na rua com o peito cheio de orgulho a pensar “caramba, sobrevivemos a uma pandemia”.

Da minha janela da cozinha, vejo o mundo, pacientemente, à nossa espera, maravilhoso como dantes, secalhar até mais maravilhoso agora que o olhamos com outros olhos. Da minha janela da cozinha vejo muito mais do que os meus olhos conseguem alcançar na praceta do meu prédio, vejo os lugares maravilhosos que vamos podemos ver com os nossos próprios olhos com as pessoas que queremos abraçar ao nosso lado. E aquela bandeira de Portugal que também vejo na janela do meu vizinho de cima só me faz acreditar que o mundo está mesmo à nossa espera, que vai seguindo o percurso dele mas que sente tanto a nossa falta como nós sentimos dele.

Autor: Vanessa Rodrigues

20 – DA MINHA JANELA: ENTRAM OS MEUS SONS PREFERIDOS

Ainda não cheguei à janela e já oiço os meus sons preferidos! Nesta altura têm cheiro a flores e são de cores vivas, pois chegou a primavera. São vários e juntos resultam em grande harmonia. Tenho o privilégio de a minha casa ficar encostada a um dos jardins da cidade e isso traz-me muita tranquilidade. Foi triste olhar, durante este período de confinamento, devido à pandemia, e vê-lo vazio e despido de vida. O som dos pássaros, esse, manteve-se mas, digo-vos que não cantavam com a mesma alegria, tenho a certeza que lhes faltava o grito das crianças com quem, normalmente, disputam a melodia. Outro que me faltou foi o barulho das bolas de ténis a bater no court, pois sem ele o ritmo não é o mesmo. Hoje, já voltou e alegra-me a saudade de jogar!

Da minha janela relembro os tempos em que treinava durante horas, com a esperança de conseguir ir mais além, sem perceber que estava apenas a matar o tempo vazio de outras conquistas. Agora, quando olho para o céu, não vejo os aviões que me têm levado para outros mundos e que me preenchem os horizontes. Estou à espera deles, já estou atrasada, pois preciso de continuar as minhas conquistas.

É à janela que espero que este tempo cunctatório se apresse e passe logo. Por vezes, apoio-me no parapeito, e fecho os olhos para me embrenhar no chilrear dos pássaros e voar com eles até ao topo das árvores. Daí o mundo muda de cor e os sons ficam mais intensos. Invade-me uma sensação de leveza, começo logo a dançar e até canto, pois faço parte da orquestra. O maestro é o periquito da vizinha que fugiu há uns dias e, assim que me viu, pediu segredo. Na cara tem estampado um sorriso de orelha a orelha e as penas arrepiadas, tal não é a alegria. Não, não estou a sonhar, faço-o muitas vezes e a música é sempre diferente.

Hoje, a minha janela já traz mais vida e mais sons! São sons de esperança. Os pássaros estão felizes, e as crianças brincam, na inocência de que nada de mau se passa. Até a vizinha, do primeiro andar, deixou de procurar o seu maestro e já vem à janela falar com as margaridas que quase murcharam. É um mundo inteiro que me entra pela janela e que eu insisto em não fechar!
Autor: Sofia Martins

21 – DA MINHA JANELA: OUVE-SE O CÂNTICO DAS GALINHAS

Os carros vão passando com rapidez na VCI enquanto o sol aquece a marquise e invade a sala de estar. O som das galinhas a cacarejar, de uma pequena criação urbana a poucos metros de casa, costumava ser a única forma de romper com o silêncio que se tinha confortavelmente instalado na vizinhança. Naquele dia, olhei pela janela e vi que algo tinha mudado.

Quando sai na manhã quente de quinta-feira para ir comprar pão, como já é habitual desde o início de Abril, ouvi o burburinho das conversas passageiras. Relembrei o som do secador do cabeleireiro junto à mercearia que, pela primeira vez, tinha fila à porta. O passo lento e despreocupado substituía agora o andar vigoroso e decisivo daqueles que antes saíam à rua. O caminho deixou de ser um meio para atingir um fim. O olhar, esse, também estava diferente. O medo continuava lá, mais solidário do que nunca, mas também a esperança de quem sobreviveu ao confinamento e começa a dar tréguas a uma nova normalidade. Ao chegar à Praça Velasquez, não tive dúvidas. Duas crianças aprendiam a andar de bicicleta a poucos metros de um piquenique improvisado, e os clientes habituais regressavam às esplanadas agora mais dispersas do que nunca. Comecei a reconhecer um sorriso por detrás da máscara. Para muitos, um escudo necessário. Para outros, um adereço obrigatório. “Se tiver de ser, será, não é menina?” Acrescentou o empregado num tom bem-disposto, antes de regressar a casa embalada pelo aroma do pão quente acabado de sair do forno.

Pela primeira vez em várias semanas, as pessoas voltavam a confiar. O medo, tal como o vírus, continuava lá, mas é a resiliência que prevalece dia após dia. Ela vai brotando pouco a pouco, de forma cada vez mais destemida, e aproveita cada espaço verde para um piquenique ou fazer exercício ao ar livre. Barrei a manteiga no pão e fechei os olhos enquanto absorvia o aroma intenso do café a filtrar. O silêncio da VCI desapareceu mas, lá fora, as galinhas continuam a cacarejar.

Autor: IG

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