Queda de Água Maletsunyane (Waterfall) - Lesoto © Viaje Comigo
Publicado em Novembro 13, 2021

As minhas (estranhas) histórias de viagens

Preparar a viagem

De cada vez que me pedem, sejam em entrevistas ou simples conversas, para contar alguma das (estranhas) histórias ou peripécias que tive em viagem (os perrengues, em brasileiro)… não me lembro de nenhuma. Também vos acontece? Para que isso não volte a acontecer, reuni aqui algumas das minhas histórias. Há coisas incríveis que acontecem, que se transformam em autênticas lições de vida. E costumo dizer que tenho a maior sorte do mundo… depois de ter apanhado o maior susto do mundo! Felizmente não tenho nenhum acontecimento que me tenha marcado de forma tão negativa que não me ria depois dele. E espero que assim continue! Qual é a vossa história mais mirabolante?

PS – e vou acrescentando aqui as histórias… lembrei-me agora que faltam muitas das histórias em tours também!

Susana Ribeiro em Khao Sok - Tailandia © Viaje Comigo

Susana Ribeiro em Khao Sok – Tailândia © Viaje Comigo

Não sabia por qual começar e tentei colocar por ordem cronológica, já que seria o mais lógico. Vou tentar fazê-lo do mais recente para o mais antigo. A verdade é entre as muitas das histórias, que aqui vou contar, nem todas são de grandes aventuras ou de grandes azares. Coloco um bocadinho de tudo, para quando a memória me falhar, me possa socorrer deste texto para me lembrar!

Casualidades, encontros e desencontros, lições de empatia, de amizade, casos de stress… Já se esqueceram de mim num aeroporto; já perdi uma audiência papal; tive de caminhar contra milhares de adeptos de futebol; fiquei “fechada” do lado de fora do avião; parámos o trânsito em Bombaim, para não perdermos o comboio; roubaram-me os óculos na segurança do aeroporto… Ainda faltam outras, mas para já, são estas algumas das minhas histórias de viagem!

Tour Piedras Rojas e Lagunas Altiplânicas - Atacama - Chile © Viaje Comigo

Atacama – Chile © Viaje Comigo

Março de 2020: Chile

A minha história mais recente teve direito a um texto só para si: como consegui sair do Chile e voltar a Portugal, no meio da pandemia da Covid-19 e com as fronteiras entre países a fecharem. Podem ler aqui toda a aventura, que envolveu sair do deserto do Atacama, pedinchar lugares em aviões; estar em permanente contacto com Embaixadas; pôr os meus amigos emigrantes de sobreaviso, caso precisasse ficar em casa deles; correr no aeroporto para apanhar um voo; passar à frente na fila do Premium, com os gritos de “go girl” do pessoal que lá estava; discutir com algumas pessoas nos balcões de check in; chegar a Madrid e ter de arranjar boleia para vir para Portugal; etc. Uma verdadeira epopeia, que acabou bem!

Tour Piedras Rojas e Lagunas Altiplânicas - Atacama - Chile © Viaje Comigo

Laguna Tuyaito – Atacama – Chile © Viaje Comigo

Não me lembro da data, nem do local específico, mas foi em Espanha
Sei que ia viajar com a mala de mão e ao chegar à porta do avião disseram que estava cheio e que iam colocar a minha mala no porão. Estávamos umas cinco pessoas a fazer o mesmo.
– Vá ali à minha colega, no início da manga e dê-lhe a sua mala.
Cheguei lá e fui a última passageira a fazer isso. Mandaram a minha mala por um escorrega abaixo, com uma identificação e disseram-me:
– Já pode embarcar, dizem-me

Percorro a manga de volta e a olhar para a porta do avião… já fechada. Estranhei e apressei o passo. Estava mesmo fechada! Tinham-se esquecido de mim cá fora!
Bati no vidro na porta montes de vezes e nada! Foi então que me lembrei de ir bater à janela do piloto, um bocadinho mais à frente (bendita manga grande!). Ele ficou a olhar para mim assustado e um minuto depois abriram-me a porta a rirem-se.
Tinham-se mesmo esquecido de mim!
Na altura, fiquei um pouco chateada com aquela reação delas e questionei:
– Não viram no manifesto de passageiros que faltava uma pessoa? Pararam de se rir.
Entretanto, passou-me o enfado. Hoje em dia, rio-me sempre que conto esta história. Principalmente porque me lembro sempre da cara de pânico do piloto!

Foto avião © Viaje Comigo

Janela do avião © Viaje Comigo

Fevereiro de 2020: Suazilândia
Durante a viagem à Africa do Sul, fui também fazer uma breve visita à Suazilândia. Este pequeno país tem, infelizmente, a maior taxa de infecção pelo HIV. Por isso, se um dia lá forem, não estranhem que os balcões da fronteira – onde temos de preencher os papéis para entrar no país – estejam cheios de caixas de preservativos. Muitos mesmo!

Fevereiro 2020: Lesoto e África do Sul

Duas vezes fui parada para me multarem e para me prenderem. Uma vez, no Lesoto, porque estava “mal estacionada” (e não estava! Estava a falar com uma polícia, quando outro apareceu a dizer que não podia estar ali parada) e outra vez porque ia em excesso de velocidade. A primeira coisa que me disseram, depois de terem o meu passaporte na mão, foi que ia presa. E aí percebi, em ambas as situações, que eram casos de me quererem extorquir dinheiro. Pura e simplesmente.

Além de não ter mais do que 20€ para lhes dar, em nenhum dos casos dei dinheiro para as mãos dos polícias. Disse que mais valia me prenderem – depois de uma conversa de 30 minutos em que perguntavam sempre quanto dinheiro eu tinha – porque não tinha dinheiro extra. Disse sempre que estava de regresso a casa e que não tinha dinheiro. Vou-vos dizer que foram ambas as situações bastante stressantes e enervantes porque, de facto, eles podem inventar o que quiserem para nos pararem e fazerem pagar. E nada me dizia que eles não se ensaiavam para me prenderem… mas aquilo enervou-me tanto que em vez de me encolher de medo, reagi. Disse em ambas as situações: então, é melhor não perdermos mais tempo e prender-me, porque não tenho dinheiro para lhe dar. Deixaram-me vir embora.

2019: Israel
Foi o país onde mais senti a segurança nos aeroportos. Fui verdadeiramente interrogada antes de sequer chegar ao balcão do check in no aeroporto. A verdade é que tinham existido algumas ameaças de bomba e eles fazem sempre segurança apertada.
A segurança/polícia pega no meu passaporte – aquele, por acaso, estava carregado de carimbos – e começa a perguntar:
– Foi para o Egipto quando? Com quem? Num grupo? Diga o nome de uma pessoa que estava no seu grupo.
O mesmo perguntou sobre a Malásia, Tailândia… e continuou…
– Vai muito a Marrocos? Em férias? Sozinha? Com quem viaja?
Recordo que isto é tudo antes de nos chegarmos sequer ao balcão do check in. O objetivo, claramente, é perceber se estamos a mentir. Também ficou mais desconfiada, porque eu tinha visitado o Egipto há pouco tempo e Israel tem relações difíceis com países vizinhos.

Já na segurança, tiramos tudo para os tabuleiros e novo interrogatório.
– Quando entrou no aeroporto estava com o telefone na sua mão?
Aqui ficamos sempre a pensar um pouco… e a forma como a pergunta é feita, deixa-nos apreensivos.
– Não sei se o tinha na mão ou na carteira…
– Alguma vez, durante a sua viagem, deixou de ver o seu telefone? Alguém poderá ter mexido no seu telefone? – perguntam de cara fechada e pouco amigos.

Razão: algumas das últimas explosões tinham sido comandadas à distância, por telemóveis, daí as questões. Apenas respondi que não, que estive sempre com o meu telefone comigo e avancei.
Mas, a senhora que estava à minha frente – que nem falava muito bem inglês – começou a demorar nas respostas e foi chamada à parte. Acho que era só nervosismo, coitada, mas foi levada à parte para novo interrogatório.
Posso dizer que foi o aeroporto onde vi maiores cuidados e interrogatórios.

2018: Sri Lanka
Esta é uma daquelas casualidade engraçadas… quando se conhece muitos bloguers de viagens. Estava eu numa praia do Sri Lanka, deitada, a apanhar sol e vejo uma rapariga a caminhar ali a menos de dois metros de mim… Aleksandra? Não é possível, pensei eu!
Era possível! Encontrei Aleksandra, uma colega travel bloguer que conheci na Índia e que já fizemos também uma viagem juntas à Roménia. Também já encontrei outra travel bloguer em Malta!

Na mesma praia, estava eu a aproveitar a sombra do coqueiro e veio o nadador-salvador ter comigo:
– Queres ir mais cedo para o teu país?
– Porquê?, perguntei eu sem saber o que se passava.
– Porque aqui vais apanhar com um coco na cabeça… e há quem morra com isso!
– Ahhhh, ok, ok, eu saio daqui.
E ficamos os dois a rir.

Na Praia de Mirissa - Sri Lanka © Viaje Comigo

Na Praia de Mirissa – Sri Lanka © Viaje Comigo

2018: Piódão, Portugal

Quando cheguei à aldeia, a temperatura desceu tanto que até estava a nevar um pouco. Além disso, chovia copiosamente em Piódão – uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal – e eu era a única pessoa que andava na rua. Tinha mesmo de ir embora e não podia esperar que esmorecesse um bocadinho, aquele aguaceiro. Caminhava lentamente, com medo de cair, com uma mala numa mão e o guarda-chuva na outra. Levava umas botas que são óptimas para o mau tempo e para caminhadas… mas definitivamente não são boas para a chuva… e em Piódão. Como estava escuro e a água da chuva fazia um autêntico riacho não vi que tinha uma tampa de saneamento no meu caminho. Uma tampa, daquelas muito lisinhas… com água por cima. Já estão a ver o filme, não é?

Sei que caí como nos desenhos animados! Um pé escorregou na tampa de saneamento e a seguir tinha o outro também no ar. A mala amparou o braço que caiu e tau dou com com o cóccix no chão. Durante alguns minutos, não me conseguia mexer e até achei (daquelas coisas que pensamos em segundos de grande dor) que tinha partido alguma coisa.
Nesses dois minutos (que pareceram duas horas) em que não conseguia levantar-me e não estava ninguém na rua para me ajudar, a água continuava a correr, como um riacho, na calçada. Entrava-me pelas calças dentro, gelada que sei lá. Tive de voltar atrás para trocar de roupa mas…. no dia seguinte, só tinha uma pisadura pequena. Afinal, a água gelada funcionou para alguma coisa. Final feliz 😀

Piódão - Portugal © Viaje Comigo

Piódão – Portugal © Viaje Comigo

2018: Índia

Todos os anos faço uma viagem com os meus leitores e, em novembro de 2018, fomos para a Índia. A viagem trouxe-me um grupo excecional e muitos ensinamentos. Éramos dois grupos (com dois tour líderes) e, logo no primeiro dia, uma senhora caiu e fracturou a anca. Foi para o hospital e nunca viu a Índia.
O tour líder do seu grupo teve que ficar com a senhora no hospital, uma vez que ela não falava inglês, e eu fiquei encarregue dos dois grupos: cerca de 30 pessoas. No início não foi fácil, mas depois ficámos uma família muito unida e feliz.

Quando voltávamos de Varanasi para Deli, no aeroporto, roubaram-me uns óculos de sol. Até hoje não sei quem os roubou, mas aprendi a não colocar tudo no tabuleiro, na segurança, mas sim a pôr tudo dentro das bolsas e estas, sim, dentro do tabuleiro. Neste aeroporto de Varanasi, durante a passagem na segurança, mandavam as mulheres entrar num cubículo, para serem revistadas. Durante o tempo de revista, deixei de ver o tabuleiro, que tinha basicamente tudo o que é importante: documentos, dinheiro, telemóvel, máquina fotográfica… e óculos que tirei da cabeça e coloquei ao lado da carteira, dentro do tabuleiro.
Saí da revista e estava a pegar em tudo quando vejo a mulher-polícia com um passaporte português na mão pergunta: “De quem é isto”? Vi logo que era de alguém do meu grupo e disse que ia ver de quem era. Retirei a minha carteira o tabuleiro e disse que me encarregava de entregar à pessoa em questão.

Entreguei o passaporte e quando vou a sair – tínhamos de caminhar na pista para o avião e estava sol – e vou instintivamente buscar os óculos de sol à cabeça. Não estavam. Percebo logo que tinham e ter ficado para trás. Já não me deixavam passar e contei que os óculos de sol tinham ficado na segurança. Berro para me ouvirem na segurança a gesticular. “Deixei aí os óculos de sol”, a segurança ao longe bana a cabeça e diz que não, não tinham lá nada. Ainda fiquei uns minutos a protestar, furiosa (os óculos eram dos caros, quando tenho dos baratos, nada “acontece”)… e percebi que não adiantava protestar… porque ainda me podiam deter e lá perdia eu o meu voo. Vim embora e óculos… nunca mais os vi.

Banho sagrado no Ganges - Varanasi - Índia © Viaje Comigo

Banho sagrado no Ganges – Varanasi – Índia © Viaje Comigo

2017: Malásia

Em 2017, antes do avião aterrar em Kuala Lumpur, na Malásia, estava a ver os meus bilhetes de avião e o dinheiro que ia cambiar. Tinha tudo na mesma bolsa: dinheiro, cartões, documentos, etc. Mesmo antes a aterragem, pousei essa bolsa no banco ao lado, que estava vazio. Distraí-me com algo e nunca mais me lembrei da bolsa.
O avião aterrou. Peguei na mochila e na mala de mão e lá fui eu. Para se sair daquele terminal, apanha-se uma espécie de metro subterrâneo até se chegar a outro ponto do aeroporto. E só quando cheguei ao ponto de mostrar o passaporte, para se entrar no país, é que abro a mochila e nada da bolsa, onde guardava tudo. No mesmo momento, percebi que a tinha deixado dentro do avião.

A minha primeira reação foi ir ao balcão de informação e dar-lhes a informação que tinha deixado a bolsa com tudo dentro do avião. Mas disseram-me que tinha de voltar ao avião. Como assim? Fazer isto tudo outra vez? Sim! Ok. Sobe escadas rolantes, desce escadas rolantes, meto-me outra vez no metro subterrâneo e corro para chegar à manga do avião, de onde tinha saído há uns 20 minutos. Chego lá a arfar.
“Não pode entrar e tudo o que foi encontrado no avião já foi entregue”. Vá para o local da entrega de bagagem e alguém terá lá… se o acharam. Volto para trás, já sem grande esperança, confesso-vos. Já só pedia que pelo menos os cartões e os documentos me deixassem.
Mais escadas, metro, etc…. e chego ao local do passaporte novamente, onde tive de dizer que não tinha o passaporte pois o tinha deixado no avião e deixaram-me ir mais à frente falar com as pessoas encarregues das malas. Expliquei ao rapaz o que tinha sucedido e ele perguntou-me o nome completo, de que cor era a bolsa, etc… e mostra-me a minha bolsa. Quase que o beijava!
Juro que abri a bolsa à espera de não ter lá o dinheiro… cerca de 200 euros. E estava lá tudo, tudinho!

Ainda na Malásia, existe outra história. Estávamos a fazer o trajeto para as Perhentian Islands e o ar condicionado do autocarro avariou… com uns 35 graus cá fora! Eu, que nunca desmaiei na vida, tive a sensação, por várias vezes, que ia desmaiar, de tanto que era o calor.

Lembro-me das raparigas muçulmanas, de caras embrulhadas nos seus lenços, com as pingas de suor a escorrer pela cara, ainda me dava mais calor só de olhar para elas. Chamei-lhe sempre o “autocarro do inferno”. Estivemos mais de uma hora à espera que nos dessem outra camioneta com um ar condicionado que funcionasse. Como não havia substituta, acabamos por ter de viajar nela bastantes horas a derreter. Quando já dormia, porque não agentava o calor, paramos numa bomba de gasolina e trocámos de autocarro. Aleluia!

Street Art em George Town, Malásia © Viaje Comigo

Street Art em George Town, Penang, Malásia © Viaje Comigo

2017: Sri Lanka
Sabem quando estão quase a sair de um país e tentam, no aeroporto, comprar alguma coisa com o dinheiro que nos sobra. No Sri Lanka, ainda tinha tempo antes do voo de regresso à Europa e decidi entrar numa loja para comprar bolachas ou chocolates. Contei o dinheiro muitas vezes e ia vendo os preços e lá peguei numa caixa de bombons, que iria comer para me manter acordada até à hora do voo.
Mas, quando cheguei à caixa ao pagar faltavam 20 cêntimos. Ri-me e disse ao funcionário que me tinha enganado que afinal ia comprar outra coisa.

E ele diz-me: não, leva isso e eu ponho os 20 cêntimos.
– Não, não, insisti eu. Nem pensar.
– A sério, leva. E pega na moeda, que tira do bolso, e põe na gaveta da caixa registadora.
Fiquei quase comovida com aquele gesto.
– Sendo assim, disse-lhe, vou-te dar alguns bombons para também comeres.
– Não posso – disse-me ele – Tem câmaras aqui e não posso comer nada da loja.
Agradeci de novo.
Se já achava os cingaleses um amor de povo, ainda vim mais convencida disso.
PS – em outros aeroportos do mundo já ajudei pelos menos duas pessoas, a quem só faltavam uns trocos e queriam comprar água ou comida. Acho que é o karma, a funcionar.

Mercado Pettah - Colombo - Sri Lanka © Viaje Comigo

Mercado Pettah – Colombo – Sri Lanka © Viaje Comigo

2016: Índia
A noite em que um morcego andou a voar assustado… dentro do meu quarto. E eu não consegui dormir nada. Primeiro tentei ajudá-lo a encontrar o caminho para a rua, mas ele não ia. Desisti e quando eu tentava adormecer ele vinha fazer-me voos rasantes na cama. Resultado: dormi no máximo uma hora nessa noite…

2016: Itália
Numa viagem que fiz aos Caminhos de São Francisco, éramos mais de 100 convidados e o Viaje Comigo era o representante de Portugal. Quando cheguei ao aeroporto, demorei mais a sair e… esqueceram-se de mim! Porque perdi a “boleia” inicial, acabei por perder o dia todo no aeroporto à espera que me fossem buscar. Como imaginam, “perder” um dia no aeroporto não é nada agradável, mas pronto, há coisas piores 😀

Ainda na mesma viagem, como o grupo era grande (mais de 100 pessoas), quando chegamos a Roma, colocaram-nos num hotel fora do centro da cidade, para ficarmos todos juntos. Acontece que, no dia seguinte, tínhamos uma audiência Papal. E acontece que, era dia da semana, e o trânsito para entrar na cidade de Roma era impossível. Ficamos presos no trânsito cerca de uma hora e perdemos a audiência Papal que nos tinha sido reservada. À frente, na Praça de São Pedro, no Vaticano, 100 cadeiras estavam vazias, á nossa espera. Como chegamos tarde, os seguranças já não nos deixaram sentar, mas ainda ouvimos o Papa Francisco a dizer: um bem haja para os nossos amigos que fizeram os Caminhos de S. Francisco. Podíamos ter sido cumprimentados pelo Papa, mas perdemos o nosso lugar…amelia

Ruas de Amelia - Itália © Viaje Comigo

Ruas de Amelia – Itália © Viaje Comigo

2016: Paris, França

Em 2016, Portugal ganhou o Campeonato Europeu de Futebol. Estava eu Paris, a passar uns dias de muito calor. Acima de 30 graus e o chuveiro da casa onde eu estava só deitava água quente. Virava as torneiras e água fria nada. Transpirei que nem uma doida, durante o dia, e não conseguia tomar banho. Pior… estava com o cabelo cheio de champô e não consegui tirar. Lá fiquei eu à espera horas para alguém que viesse resolver o problema.

Também em Paris tive uma verdadeira aventura na noite em que a França passou à final do Campeonato Europeu – e iria defrontar Portugal. Tinha estado a jantar no Quartier Latin e, embora tenha tido o discernimento de apanhar o metro antes do jogo acabar – para evitar a maior confusão – acabei por ter de caminhar mais de 40 minutos para chegar ao meu alojamento. Mas o problema não foi o tempo… foi ter de caminhar contra milhares de adeptos!

Por questões de segurança, tinham encerrado algumas estações de metro e tive de sair muito antes do meu destino final. E fazer o percurso a pé para o apartamento. O problema é que… o caminho que tinha de fazer era precisamente o caminho que toda a gente fazia para sair da Fan Zone, junto à Torre Eiffel. Mas, no sentido inverso! Demorei o dobro do tempo, a ir contra a corrente.

Nessa noite, gostava de ter filmado os franceses a celebrarem. Mas eram tantos, e tanta confusão, que tive receio que o telemóvel me desaparecesse das mãos. Não que me sentisse insegura, pelo contrário, andava sozinha e bem, mas via-se que andavam grupos com uma notória missão de aproveitar a confusão, para roubarem. Mantenho a máxima: tenho os mesmos cuidados que tenho no meu país, em iguais situações. É uma máxima a reter pelos viajantes.
Nas traseiras do Champ de Mars, tinha de fazer toda a avenida até ao bairro onde tinha o meu alojamento. Os polícias decidiram que tinham de deixar sair toda a gente da Fan Zone, antes de nos deixarem passar para o outro lado da avenida. Expliquei-lhes para onde queria ir, mas não me deixavam passar.
– Qual é então o melhor caminho?
– Não sei, não sou daqui, diz-me o polícia.
– Então, é de onde?
– De Versalhes… e não conheço isto bem. Espera 10 minutos e já vais poder passar…
Revirei os olhos. Estava a caminhar há 30 minutos, literalmente contra milhares de pessoas, e queria ir para casa descansar. Perguntei a outro polícia se podia passar para não ir ter de dar uma volta enorme… e ele acenou com a cabeça. E comecei a correr!
Mais uma multidão que eu tive de enfrentar. Mas lá cheguei a casa!

Força Portugal na Torre Eiffel © Viaje Comigo

Força Portugal na Torre Eiffel © Viaje Comigo

2005: Londres

Andava eu a passear em Londres e decidi visitar Greenwich. Quando decidi vir embora, era já hora de ponta e os comboios estavam sempre cheios. Estava acompanhada e decidimos que tínhamos de entrar no próximo. Eu, nem que não quisesse, entrava, porque me empurraram para dentro. Mas, quem estava comigo ficou cá fora…
Ora, havia telemóveis na altura mas imagino que fazer uma chamada no estrangeiro valeria muito dinheiro, porque nem me passou pela cabeça ligar-lhe. A única coisa que conseguir fazer, foi dizer por gestos, de cara colada às portas, que entretanto se fecharam: “vou sair na próxima estação”. Como se fosse um filme!
E estive muito tempo à espera que viesse um novo comboio!. E, ainda era tão imberbe nisto das viagens que estava cheia de medo, porque não sabia como ir para o hotel sozinha. Mas lá apareceu a minha companhia e fomos juntos. Confesso-vos que desesperei um bocadinho à espera!

Greenwich, Londres

Greenwich, Londres © Viaje Comigo

2018: Índia, Bombaim

Nesta aventura não estava sozinha. Eramos um grupo de bloggers que ia embarcar num comboio de luxo em Bombaim, na Índia. Mas, decidimos, antes de irmos para a estação, comprar um cartão para o telemóvel, depois de nos dizerem que a internet não era muito famosa.
Mas, na Índia não é assim tão fácil. Por questões do terrorismo, um indiano tem (ou, pelo menos, tinha naquela altura) de se responsabilizar por nós, comprando-nos os cartões de internet e dando a sua morada. Acabámos por desistir, por falta de tempo e tanta burocracia. Sem cartões e super atrasados para o comboio que nos esperava… ficámos presos no trânsito de Bombaim!

Dentro do carro, já os outros colegas nos mandavam mensagens a perguntarem onde estávamos que o comboio ia partir, e nós, apesar de não estarmos muito longe, estávamos completamente parados no meio do transito.
Na frente do carro, iam dois elementos da organização da nossa presstrip. Apesar de não entendermos nada do que eles diziam, era notório que estavam preocupados com o facto de não estarmos na cerimónia de lançamento da nossa viagem de comboio.

Quando os minutos começam a passar e o tempo começa a ficar mesmo limitado e recebemos chamadas a dizer – faltam 5 minutos para o comboio arrancar – o homem que não estava a conduzir saiu para o meio da estrada. Na altura, nenhum de nós percebeu o que ele ia fazer mas começou a pedir aos carros todos, um a um, para se afastarem, podendo assim o nosso carro passar aquele cruzamento do demónio, que não andava nem desandava. Conseguimos! Fomos a “voar” até à estação e saímos todos do carro a correr e só paramos dentro da carruagem do comboio, que arrancou 1 minuto depois. Que emoção!

Comboio Deccan Odyssey - India © Viaje Comigo

Comboio Deccan Odyssey – India © Viaje Comigo

Susana Ribeiro a bordo do comboio de luxo Deccan Odyssey, na Índia © Viaje Comigo

Susana Ribeiro a bordo do comboio de luxo Deccan Odyssey, na Índia © Viaje Comigo

Alicante, Espanha
Ficaram com a minha marmelada no aeroporto. Isto dito assim parece uma anedota, mas foi mesmo verdade. Visitei um local muito conhecido pela produção de marmelada. E foi nessa altura que percebi: nos aeroportos, a marmelada é considerada um líquido. Apreenderam-ma e fiquei mesmo triste porque a própria caixa – de metal – era um mimo.

Latas com Marmelada de Puente Genil © Viaje Comigo

Latas com Marmelada de Puente Genil © Viaje Comigo

2017: Brasil
Tinha estado a viajar durante quase 20 horas: fiz Porto, Lisboa, São Paulo e depois Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. E, depois, ainda demorei mais três, de carro, para chegar a Gramado. Quando cheguei, estava tão cansada que só queria dormir.
Quando cheguei ao hotel, de madrugada, diziam-me que não tinham a minha reserva. Como assim? Batia no teclado do computador à procura de algo com o meu nome e nada. Não descobria nada. Já só pensava que se calhar algo tinha falhado na reserva, tanta confusão, depois de não ter descansado… ainda sofri uns 15 minutos com esta situação.
Dizia-me o rapaz da receção, “Aqui para dia 23 não tenho nada!”. E foi aí que, com os dois neurónios que tinha ainda acordados, percebi que ele estava à procura no dia errado. Passava da meia-noite e ele tinha de procurar no dia anterior. Quando lhe disse isso, encontrou num minuto a minha reserva. Fim de stress.

Lago Negro, Gramado, Rio Grande do Sul, Brasil © Viaje Comigo

Junto ao Lago Negro, Gramado, Rio Grande do Sul, Brasil © Viaje Comigo

2018 – Marrocos, Fez
Mas como é que uma salada pode dar uma história? – perguntam vocês. Eu explico: se essa salada tiver miolos e eu os tiver provado sem saber… sim, dá uma história. De todas as vezes que já estive em Marrocos já experimentei algumas dezenas de saladas marroquinas diferentes. Sempre com vegetais e uma vez ou outra com um pouco de atum… mas nunca com carne.

Quando fiquei alojada no Hotel Les Mérinides, em Fez,  fui, num dos jantares, experimentar o restaurante marroquino. O espaço tinha pouca luz e, por isso, quando a salada veio para a mesa nem olhei muito bem para o prato começando logo a comer (também estava cheia de fome!). E logo nas primeiras garfadas achei dois dos ingredientes muito esponjosos. Ainda disse para a minha companhia de jantar: “Serão cogumelos? Não é nada típico os cogumelos em Marrocos mas…” e espreitava melhor para o prato, picando um outro pedaço.

Até que provei uma outra coisa, que não me soube assim tão bem, e achei melhor perguntar o que estava a comer… Ainda estava quase no início da salada!

– Peço desculpa, o que tem a salada?
– Mas porquê, não está a gostar? – diz o empregado com um ar de muito preocupado.

– Sim, estou a gostar, mas gostava de saber o que está no prato. Só por curiosidade sabe… – digo-lhe com um sorriso para o tranquilizar.

– Então tem – e começa a dizer os vegetais em francês – até que que procura a palavra para uma outra coisa e olha para o colega e sai-lhe em inglês.

– E isso são miolos (This is brains!) – esfrega as mãos com um ar muito satisfeito.

Gostava que tivessem filmado este momento da minha vida. A minha cara.

– Miolos? A sério que são miolos? – pergunto eu de olhos arregalados.

A minha companhia matava-se a rir –  porque nem tinha provado! – e a minha cara, apesar da pouca luz, de certeza que perdeu toda a cor. Eu não costumo ser nada esquisita nas comidas, mas miolos, por favor… não! Tentei não demonstrar o “ar de nojo” e lá disse ao empregado que eu não estava habituada a tamanha iguaria e que passava.

O homem ficou tão triste! Vocês não imaginam. Fiquei mesmo com pena. Ali estava ele a dar-nos a melhor das iguarias e nós não íamos comer. Ou melhor, eu não ia comer mais, porque até ali já tinha comido uns dois ou três pedaços e só parei porque não gostei muito do sabor. Mas provei! Prova superada!

Salada - Restaurante marroquino - Hôtel Les Mérinides - Fez - Marrocos © Viaje Comigo

Salada – Restaurante marroquino – Hôtel Les Mérinides – Fez – Marrocos © Viaje Comigo

Vista do Hôtel Les Mérinides, sobre a medina de Fez - Marrocos © Viaje Comigo

Vista do Hôtel Les Mérinides, sobre a medina de Fez – Marrocos © Viaje Comigo

2002: Palma de Maiorca

Estar a visitar lugares paradisíacos de Palma de Maiorca e de repente sou assaltada e bato com o carro. Tudo no mesmo dia. Espetacular, não foi?

Quando cheguei ao Cap de Formentor, fiquei deslumbrada com a vista. Estava a fazer uma visita ao norte da ilha com o carro alugado: aluguei o mais barato possível. Um twingo amarelo desacapotável, de travão perro e acelerador e volante descontrolados. Mas não interessava. O que interessava é que ia ser o meu meio de transporte para conhecer praias virgens – com as dicas do senhor que nos alugou o carro – e montes com vistas panorâmicas.

Foi precisamente quando decidi visitar uma das montanhas mais altas que deixei a mochila dentro do carro e só levei a máquina fotográfica comigo. Erro crasso, dizem vocês. Mas, e se vos disser que não estava lá ninguém? (Pensava eu!)

Olhei em redor e não estava mais nenhum carro estacionado. Aliás, não se via vivalma à minha volta. Subi ao monte e quando desci… o carro estava destrancado. “Estranho”, pensei eu, “era capaz de jurar que tinha fechado com a chave!”.

Olhei e a mochila estava lá no chão do carro, onde a tinha deixado. Olhei à minha volta e nada… nem ninguém. Entrei, abri a mochila e o dinheiro… puff, sumiu-se. O dinheiro (uns 30 euros) e o tabaco (sim, na altura ainda fumava) tinham levado, mas definitivamente eram ladrões bonzinhos porque deixaram tudo o resto, incluindo os documentos. Lição aprendida! Mesmo que achem que ninguém vos está a ver, não deixem nada de importante dentro dos carros.

E a lição não é só para viagens, é mesmo para o dia a dia!

Praia em Maiorca

Praia em Maiorca © Viaje Comigo

Formentor, Maiorca

Formentor, Maiorca © Viaje Comigo

2016: República Dominicana

Deviam estar uns 30 e muitos graus e cerca de 80% de humidade. Dentro da carrinha, refrescávamo-nos – numa viagem de jornalistas por que todo o país – com o ar condicionado quando… furou um pneu. o desgraçado do motorista, suava em bica, só para tirar o pneu e descobrir que o suplente também não estava bom. Deixou-nos na berma da estrada, apanhou uma boleia e foi procurar ajuda.
Nós ficamos ali, à espera, a “derreter” na beira de estrada, a fugirmos para as sombras das árvores. Passavam por nós, pessoas cheias de roupa, a pé para irem à igreja (era domingo à tarde e os dominicanos são muito religiosos), que andam a pé durante quilómetros.
Entretanto, um senhor sai de uma casa e pergunta-nos o que fazemos ali. Contamos a história e convida-nos para o seu alpendre. Vai buscar as melhores cadeiras, da sua sala, e pacotes de bolachas de água e sal e água. E ali ficamos na conversa até vir o novo pneu. A bondade das pessoas alegra-me!

Talho na estrada - República Dominicana © Viaje Comigo

Talho na estrada – República Dominicana © Viaje Comigo

2016 : Tailândia

Spoiler alert: fui enganada em Banguecoque. Mas não foi nada de grave. Na Tailândia – como em qualquer outro país – existe uma vida antes e depois de se ter um guia! Com um guia, quem está habituado a vê-lo, vai manter-se afastado, mas a partir do momento em que estás sozinha, és uma “presa” fácil dos que te querem apanhar nos esquemas. Leia a história toda aqui.

Passeio de barco em Banguecoque, Tailândia © Viaje Comigo

Passeio de barco em Banguecoque, Tailândia © Viaje Comigo

Banguecoque, Tailândia © Viaje Comigo

Banguecoque, Tailândia © Viaje Comigo

Passeio de barco em Banguecoque, Tailândia © Viaje Comigo

Massagem quente. Passeio de barco em Banguecoque, Tailândia © Viaje Comigo

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