Depois da estrada na serra do Açor, surgem-nos os socalcos que deram a Piódão a aparência que tem hoje em dia, com a imagem das pequenas casas encavalitadas. Todas assumem a pedra que existe em fartura: o xisto, tomando um tom escuro, que contrasta com o verde em seu redor e com as portas e janelas, que alguns proprietários pintaram de azul, dando ainda maior visibilidade. Apenas a Igreja Matriz se destaca por ser branca, com pormenores azulados. Entrar em Piódão é como entrar num conto de fadas, onde vive gente real e muito hospitaleira. Neste texto, fique com a lista dos locais que não pode perder numa visita a Piódão, no centro de Portugal, e que é uma das Aldeias Históricas de Portugal. As fotografias foram tiradas no inverno e no verão. Veja também o vídeo:
Fui a Piódão num domingo à tarde e os carros estavam a abandonar o largo central (largo Cónego Manuel Fernandes Nogueira), onde está o Posto de Turismo. Sorte a minha que consegui um lugar de estacionamento, sem grande esforço. Os fins de semana são claramente quando a aldeia fica cheia de visitantes, por isso, se puder, vá na acalmia da semana. Existem alguns cafés/restaurantes no largo, assim como lojas de artesanato. Mas, o edifício que mais se destaca é a Igreja Matriz, no cimo de uma escadaria, com as suas paredes brancas. Não estranhem as imagens do interior e do altar que aqui tenho. É que, normalmente é proibido fotografar dentro da igreja mas, por ser jornalista, tive o privilégio de poder fotografar para aqui vos mostrar (ver mais abaixo).
Percorro as ruelas e salta-me logo à vista a “Venda do Lourenço”. No vidro da porta tem a data de abertura deste pequeno espaço, cheio de cestaria: 1929. “O meu avô era Lourenço, o meu pai também e eu”, diz-me o senhor Lourenço que foi taxista durante 48 anos e sabe de cor e salteado as estradas desta região. Conduziu milhares de quilómetros, quando a aldeia ainda tinha muito mais do que os atuais 60 habitantes e ainda quando nem existia uma estrada secundária.
Mais impressionante do que observar a arquitetura das casas de Piódão, feitas de xisto, é o chão onde as pedras foram enterradas – tenham cuidado que, em dias de muita chuva, o chão pode ficar bastante escorregadio, principalmente as tampas de saneamento. Com uma pequena volta se ficam a conhecer os caminhos da aldeia, as capelas e o início de muitos percursos pedestres. Haja bom tempo para os fazer: os que sobem o monte e os que vão até junto do ribeiro, onde estão antigos moinhos, e por onde a água passa por pontes parecendo uma cascata de brincar.
O escritor Miguel Torga também se interessou e escreveu sobre este local: “Com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada, vim aqui despedir-me do Portugal primevo. Já o fiz das outras imagens da sua configuração adulta. Faltava-me esta do ovo embrionário”. (Piódão, abril de 1991) E que está inscrito em pedra no seu Memorial que tem vista para Piódão.
Quando lá estive estava a chover bastante, o que fazia com que as quedas de água se tivessem multiplicado. Alguma, surgem nas ruelas entres casas, desgastando as pedras que encontram pelo caminho. Se olhar com atenção, no chão, ao lado das casas, foram construídas as levadas, que conduzem a água. E também encontra diversas fontes, como é o exemplo da Fonte dos Algares.
Aliás, foram as nascentes que trouxeram para aqui os pastores há muitos séculos, que procuravam também pastagens verdes para o gado. A adaptação ao clima da serra – que em minutos pode ter baixas temperaturas e neve, como testemunhei – fez com que, entre os socalcos, surgissem estas casas. Aliás, antes, na época medieval, o povoado de Casas de Piódam surgiu num outro local e depois foi transferido para aqui, onde se diz ter existido um Mosteiro de Cister, do qual já não existem vestígios (século XIII). Foi em finais do século XIX, que o Colégio de Piódão – também apelidado de Seminário – trouxe mais vida à aldeia, onde vieram viver muitos jovens seminaristas.
Ninguém sabe ao certo quando se começou a pintar as portas e janelas de azul, mas a verdade é que esses pormenores de cor tornam a aldeia de Piódão ainda mais encantadora. Curiosidade histórica: conta-se que aqui se terá refugiado um dos assassinos de Inês de Castro: Diogo Lopes Pacheco.
Em tempos, esta foi uma aldeia com muita gente, agora não tem mais de 60 habitantes e deixou de ter padaria. Por isso mesmo, todos os dias, de manhã, se ouvem as buzinadelas da carrinha do pão que percorre as aldeias da serra. Também eu recordei os tempos das carrinhas-mercearias que apitavam para os clientes saberem que tinham chegado. Meti conversa por causa do frio e da neve que, entretanto, durante a noite, se tinha instalado no topo da serra. “Hoje há gente que vai ficar sem pão fresco”, diz-me preocupado. À mesma hora, vem uma carrinha reunir as crianças para as escolas que ficam fora da aldeia.
ONDE COMER EM PIÓDÃO
Entro no restaurante (que também é café). Existem outros, mas este foi-me recomendado principalmente pela chanfana. No restaurante Fontinha, um grupo de homens bebe umas cervejas enquanto na televisão passa um jogo de futebol. Na verdade, nem metade presta a devida atenção à partida, mas estão ali pelo convívio e vão falando de tudo e mais alguma coisa.
Fui ao restaurante Fontinha, que fica mesmo no meio da aldeia, para provar a famosa chanfana. O espaço é simples e, junto da entrada, tem escritas as sugestões do dia. A Chanfana à Fontinha vem com batata cozida e brócolos a acompanhar, regado com um molho muito saboroso. Tudo estava delicioso e creio que não é preciso dizer que estes brócolos tinham um sabor mais autêntico do que os que eu costumo comprar. Benditos produtos do campo!
Para a mesa vêm, como entradas, um pão rústico, azeitonas maravilhosas, manteiga e os patés habituais da maioria dos restaurantes. De diferente veio uma manteiga de limão (doce) que é feita no próprio Fontinha.
Além da Chanfana, a ementa tinha também o bucho de porco recheado, o bife de vaca grelhado, as febras ou as costeletas de porco e, nos peixes, o salmão grelhado ou as trutas grelhadas. Para a sobremesa, serve a também muito tradicional Tigelada do Piódão, como doce, ou então peças de fruta da época.
Nota importante: não têm pagamento com cartões, por isso, devem levar dinheiro para o restaurante.
Preço médio: 15 euros (entrada, prato principal, bebida e sobremesa)
Tem também um menu turístico de 14€ com febras ou trutas/ doce ou fruta / pão / vinho, cerveja ou sumo
ONDE DORMIR EM PIÓDÃO
Depois de atravessar a Serra do Açor, espreito ao longe, por meio de socalcos, e vejo a aldeia de Piódão, que faz parte das Aldeias Históricas de Portugal. O xisto escuro das casas contrasta com o azul de algumas portas e janelas, como é o caso da Casa da Padaria, alojamento muito típico, onde pernoitei. A casa manteve a arquitetura local com os materiais da região, como o xisto e a madeira, e no interior a decoração traz algumas memórias. Leia mais sobre a Casa da Padaria aqui.
OUTROS LOCAIS ONDE DORMIR EM PIÓDÂO
– Casa de Xisto
– Hotel Inatel Piódão
– Procura outros alojamentos para a sua viagem? Pesquise aqui
TOP 10 – O QUE FAZER E VISITAR EM PIÓDÃO
1. Igreja Matriz, Igreja de Nossa Senhora da Conceição
Não sei se os leitores notaram no mesmo, mas o que me prendeu a atenção na igreja, além da sua cor, que obviamente se destaca, foi o símbolo do anjo a tocar corneta no topo e as torres cilíndricas, na entrada. É uma igreja bastante diferente do que estamos habituados a ver em aldeias tradicionais. Sabe-se que o templo primitivo foi feito na segunda metade do século XVIII e em finais do século XIX sofreu restruturações. No interior, no altar-mor, vai ver imagens de Nossa Senhora da Conceição, de S. Miguel e de S. Sebastião. É lá que está a imagem de Nossa Senhora da Conceição, datada do século XVI, que estaria anteriormente no nicho da frontaria da igreja e que daria a benção a quem chegasse ao largo.
2. Museu de Piódão
Confesso que não estava à espera que um espaço tão pequeno fosse tão interessante. O Núcleo Museológico de Piódão, além de conseguir reunir objetos antigos, conta também as lendas locais e mostra como se vivia aqui noutros tempos. É muito interessante e está bem documentado. Vale bem a pena a visita.
3. Capela de São Pedro e Capela das Almas
Por entre o casario encontra estas pequeninas capelas. Ambas só são abertas em alturas de celebrações. A Capela das Almas fica no caminho para a Casa da Padaria e é datada do século XVIII e XX – foi capela mortuária.
A Capela de São Pedro tem, no interior, uma imagem muito antiga do santo, datada do século XVI. Na sua fachada tem uma placa negra com a seguinte inscrição:
“Pedro o bom amigo
Do Piódão padroeiro
Ajudai-o cá na terra
Que lá no céu é porteiro”.
4. Praia Fluvial
Na primeira visita, como fui num dia de muita chuva não pude apreciar esta praia fluvial, de que tanto falam. Esperei pelo tempo mais quente e fiquei deslumbrada pela beleza desta praia fluvial.
5. Fontes
No seu passeio por Piódão vai encontrar inúmeras fontes, ou não fosse esta uma terra de muitas nascentes. Junto ao restaurante Fontinha está uma que ainda tem inscrita a palavra antiga, Piodam, datada de 1939. A Fonte dos Algares, de 1968, fica entre as ruelas mais elevadas e o chafariz está dentro de um arco ogival, no interior de uma parede de xisto, com a imagem de Nossa Senhora.
6. Cafés com os queijos e enchidos
A tigelada de Piódão (que provei no restaurante Fontinha) é também um doce típico local. Mas, há também a broa de batata e queijos para provar. No largo principal há pelo menos três outros cafés tradicionais e restaurante, onde pode parar para provar os produtos regionais.
7. Percursos Pedestres
Como já referi, existem muitos percursos pedestres para ficar a conhecer as imediações. O passeio até Foz d’Égua é dos mais procurados e fica a cerca de 3,5 Km da aldeia – estima-se que o possa fazer em cerca de uma hora (ou seja, duas horas, ida e volta) .
8. Subir ao monte
Pode subir ao monte onde está instalada a aldeia de Piódão e ver a vista a partir da antiga Eira comunitária – um espaço que servia para secar e malhar os cereais colhidos.
9. As lojas locais
As lojas locais têm peças de cestaria, licores, compotas e peças com xisto como recordações. A Venda do Lourenço deverá ser a mais antiga. Tem a data de abertura na porta – 1929 – e já vai na terceira geração. O senhor Lourenço lá está rodeado de cestaria e pronto para uma conversa com os visitantes. Foi taxista por mais de 40 anos e percorreu milhares de vezes estas estradas. Bastou dizer que ia para Monsanto para me revelar – de cor e salteado – os caminhos que tinha de tomar para lá chegar.
10. Ficar alojado numa das casas locais
Fiquei alojada na Casa da Padaria. Como o nome indica, está instalada no que foi uma antiga padaria. A casa foi recuperada e transformada para alojamento mas mantém pormenores e objetos que recordam outros tempos, como é o caso do forno da padaria que anda se mantém na sala dos pequenos-almoços. E que rico pequeno-almoço servem. Além de ser um local muito agradável, os donos são os melhores conselheiros do que poderá fazer na região.
Se depois quiser visitar outras Aldeias Históricas que aqui estão mais próximas (Piódão é das aldeias que está mais afastada):
– Belmonte, que fica a 113 Km
– Linhares da Beira, que fica a 80 Km
Boa viagem!