Assistir às cerimónias nos templos de Kataragama, Sri Lanka

A cidade de Kataragama, no Sri Lanka, fica a cerca de 290 Km de Colombo e é conhecida por ser um local de peregrinação de Hindus, Budistas, Muçulmanos e Cristãos. Todas as religiões fazem as suas celebrações, lado a lado, separados apenas alguns metros uns dos outros, e convivem em harmonia – cada um com a sua crença e fé, sem julgar nem criticar o outro. E que bem que recebem estrangeiros (como eu), mesmo que estejamos só a visitar. Isto apesar de muitos conflitos religiosos terem marcado este país no passado (entre a minoria Hindu Tamil e a maioria Budista). Foi uma experiência incrível – veja o vídeo da minha passagem por lá:

Kataragama é uma cidade multi-religiosa onde todos procuram intervenção divina. Maha Devale é o templo Hindu, também apelidado de Shiva kovil, considerado o mais importante onde está Skanda, o Deus com seis faces e 12 braços.

Em Kataragama, fiquei alojada no Gem River Edge – Eco Home Safari, onde me deram todas as informações para visitar a cidade e os templos (a dona é portuguesa!) e também me trataram da visita ao Yala National Park.

A chamada Puja é a cerimónia diária com oferendas e que acontece três vezes ao dia: às 4:30 da manhã (menos ao sábado), às 10h30 e às 18h30. Os devotos entram com uma cesta de fruta dentro do templo, onde a mesma é dividida. Parte da fruta fica dentro do templo e trazem outra parte que vão dividir com as pessoas que estão cá fora, sejam elas família, amigos ou completos desconhecidos. Enquanto estive lá, foram-me oferecidas muitas frutas: comi banana, maçã e côco. Foi incrível ter feito parte desta experiência.

Vou-vos confessar: como jornalista eu vivo para estas experiências. Para mim, uma viagem não fica completa se não “entro dentro” de outra cultura e a tento compreender e até assimilar. Além desta passagem, durante a puja do fim da tarde a que assisti, também passei pelo complexo de templos de Kataragama durante o dia, onde vi muitos macacos a comerem a fruta que era largada pelos devotos, no exterior.

A maior parte dos devotos vai vestido de branco e também é oferecido arroz aos que estão fora dos templos e uma mistura açucarada. Tudo oferendas dos guardiões do templo, abençoadas pelo Deus. A minha entrada foi feita pelo lado da estupa branca e gigante, onde comprei e fui queimar os incensos, tal com todos faziam. Depois de uma hora ali, a viver aquele ambiente muito positivo, com cantares e orações harmoniosas, pus os pés ao caminho numa estrada de areia que liga aos dois principais templos (não se pode andar calçada e, em vez, de deixar os chinelos na entrada, coloquei-os dentro da minha carteira, simplesmente para depois não ter de voltar atrás).

Nessa avenida de areia, encontro dois elefantes presos a postes. As pessoas passam e dão-lhes fruta, sendo que apesar de estarem presos são vistos de forma divina, estes animais, e próximos de Deus. Quando entro no templo Hindu, há um sino que não pára de tocar e aproximo-me para ver o que se passa. Pelo caminho, páro no templo de Ganesha onde (depois de me dizerem que tinha de deixar os chinelos na entrada) me oferecem uma pulseira laranja, feita de múltiplos fios: dão três voltas no meu pulso e finalizam com três nós. O número mítico: 3. Uma pulseira para sorte, abençoada por Ganesha.

Nunca tinha pensado em entrar no templo de Skanda… mas um homem aproximou-se de mim, e da minha amiga, e disse para esperarmos que iríamos entrar. E foi o que aconteceu. Minutos depois estava a entrar, através dos devotos que carregavam as bandejas com frutas para o Deus. Na verdade, o templo não tem nada de mais no interior, apenas a energia de todos os fiéis o transforma em algo puro e bonito de se ver, ainda que vamos todos apertadinhos e a passagem seja feita em poucos minutos. Num ápice estamos já na porta de saída. E o sino continua a badalar.

Como fui participar na puja do fim da tarde, havia também (e há a partir das 11h45, todos os dias) a oferta de comida. Depois da cerimónia, fui convidada para me juntarmos aos devotos. Sentei-me à mesa, enquanto era servida, num prato, com arroz e várias vegetais com caril (sempre vegetariano!). Aliás, em conversa com um dos guardiões do templo de Skanda (posto que vai passando de pais para filhos), disse-me que o Deus não gosta que o devotos comam animais. “Somos todos vegetarianos”.

Quando me sentei para comer, depois de lavar as mãos, pedi para me ensinarem a comer com as mãos. Foi a minha segunda tentativa – a primeira foi em 2016, na Índia – e corre sempre mal. Não estando habituada a comer com as mãos, o arroz cai sempre todo! Lá me ensinaram a reunir a comida, mas mesmo assim não foi fácil.

Outro ensinamento, quando me viram comer, entre risos, me disseram:

– Não comas do meio do prato senão vão gozar/brincar contigo”.
– “Porquê?”, perguntei.

– Porque quem come do meio são os animais! Nós comemos de uma ponta do prato para a outra, sempre (ou seja, da “ponta” de baixo do prato para cima, sempre nessa direção, e nunca do meio).

Sempre a aprender!

Além do templo Hindu e Budista, Kataragama tem também uma Mesquita, que é provavelmente o edifício mais discreto e quase passa despercebido. Está pintado de verde e branco e esta limitado por um muro muito simples, sem decorações.

Segundo a tradição Budista, Kataragama é uma das 16 cidades sagradas do Sri Lanka e uma das mais antigas. Entre os Hindus, o Deus Skanda poderá também aparecer com outros nomes como Kandasamy, Kadiradeva, Kadiravel, Tarakajit, etc.

Para os Budistas, o templo de Kataragama é o templo de Kanta-Kumara, um dos quatro deus guardiões de Lanka, enquanto para os Hinfus ele é Skanda/Murukan, a real manifestação da Divindade.

Acredita-se que Lord Buddha encontrou-se com o Rei Mahasena em Kataragama, durante a sua visita final ao Sri Lanka. Por isso, muitos cingaleses acreditam que Kataragama foi santificada por Buda. Também existem, neste complexo de vários templos de Kataragama, árvores que são muitos antigas (Árvores da Vida) e que, presume-se, terão sido plantadas no século III antes de Cristo.

O maior festival religioso de Kataragama acontece nos meses julho e/ou agosto. E o Esala Poya é o dia de celebração (e feriado) em que todos vão aos templos. Muitos vêm de longe (fazendo dias e quilómetros de peregrinação) e atravessam o rio Menik Ganga (banhando-se nele), passando pelo meio do parque natural Yala. O festival também é conhecido pelas mutilações entre os devotos, com perfurações com flechas e caminhar em pedras quentes, por exemplo.

No final do dia, depois da puja, muitos esmagam côcos como forma de afastar o mal e mau olhado, e fazem também danças com o mesmo fim, libertando o corpo de todo o mal. Em muitos casos, enquanto a música vai aumentado de ritmo poderão existir casos de transe entre os que dançam.

Mais informações aqui e o vídeo da minha experiência aqui.