Em Sigiriya, no Sri Lanka, há toda uma história secular para contar. Quem olha de repente não vai perceber que aquela rocha, assim, meio isolada, já foi uma fortaleza e refúgio de alguém que tomou o poder à força. De cá de baixo, olhei intrigada para perceber como poderia aquele rochedo imenso ser um local seguro e, ao mesmo tempo, a casa de um rei.
Na província de Matale, Sigiriya – que foi, em tempos, a capital do Sri Lanka- foi uma fortaleza construída em 477-495 a.C., durante o reinado do Rei Kassyapa. À medida que vamos subindo – e prepare-se que vai subir bastante – conseguimos compreender como foi tudo organizado de forma a criar aqui um reduto defensivo.
No entanto, a história do Rei Kassyapa bem que podia ter inspirado um dos episódios da célebre série “Game of Thrones”. Querem ser como? Kassyapa não estava na linha de sucessão. Era filho bastardo do rei, mas não se contentou com a sua sorte e decidiu matar o pai, para ficar com o trono. Não faz lembrar a história de Ramsay Bolton na “Guerra dos Tronos”?
Mas, ao contrário da ficção, esta história do Sri Lanka está verdadeiramente documentada – claro que, como é habitual, tem algumas lendas pelo meio. O filho do rei, monarca de direito, teve de fugir, mas voltou alguns anos depois, apoiado por tropas que defendiam a sua causa.
E Kassyapa sabia que, mais tarde ou mais cedo, o meio-irmão, e herdeiro do trono por direito, viria recuperar o seu lugar. Por isso mesmo, fez de uma rocha em Sigiriya (A Rocha do Leão) a sua fortaleza. O local é Património da UNESCO e fica a 370 metros de altura.
São alguns degraus (750 para ser mais precisa) para chegar lá acima, mas vale muito a pena. O calor e humidade não ajudam na subida, por isso, o melhor conselho que posso dar é: vá manhã cedo, fazer a visita. Primeiro, porque não está tanto calor, segundo porque há muito menos pessoas!
Antes de começar a subida propriamente dita, pode ir vendo algumas construções seculares, com muros baixos, que rodeavam os cursos de água e fontes. Estavam (e estão) rodeados de jardins verdes e mostram a arquitetura avançada (e inteligente) da altura, que fazia também o aproveitamento de águas da chuva, por exemplo. Os jardins de Sigiriya são os mais antigos e históricos do Sri Lanka.
Primeiro sobe uma escadaria, atravessando as primeiras construções, onde se veem recortes na pedra de forma a desviar e aproveitar a água da chuva. Depois, mais uns degraus levam até uma sala com seculares pinturas nas paredes – não se podem fotografar as imagens.
Continuámos na subida e passámos ao lado de um muro alto. Tão alto que só conseguimos ver a paisagem, depois de subirmos mais um par de escadas. O muro é feito de um material que faz reflexo (chamam-lhe mesmo a parede-espelho) de forma a verem, ao longe, se estariam a ser atacados. Nessa mesma parede é possível ver inscrições, datadas com muitos séculos.
Mais um lanço de escadas e damos de caras com um aviso de um potencial ataque de vespas. Parei, li e reli o anúncio (com um ar de incredulidade) colocado a amarelo, para não passar despercebido, e fui perguntar ao guia se era mesmo verdade. Disse logo que sim. Que haviam várias colónias de vespas naquele local e que estavam protegidas. O conselho do aviso amarelo é para estarmos em “Silêncio”. E qual a solução se houver um ataque de vespas? Saia do local rapidamente.
E é aqui que começámos mesmo a perceber como se tratava de uma verdadeira fortaleza. Surgem os derradeiros lanços de escadas que nos levarão ao topo de Sigiriya. Em baixo, conseguem-se ver ainda as patas gigantes de leão – diz-se que a fortaleza foi construída de forma a parecer um leão deitado – com a escadaria no meio. E que grandes patas, cravadas na rocha!
E é lá em cima que tem a vista sobre todo o verde em redor de Sigiriya. O melhor ponto para fotografias é sempre junto dos pontos precipício, por isso, tenha muito cuidado e veja bem onde coloca os pés.
Se optar por fazer a visita com o guia, ele poderá dizer-lhe onde ficariam os aposentos do rei, os vários quartos, salas de diversão (sim, o rei ficava a ver as dançarinas) e o local com o trono real, que pode ver, mas não pode sentar.
Aprofundando mais o conhecimento de toda a Sigiriya, vá lendo as informações que aparecem em certos pontos – incluindo de salas (de audiências) que se vão encontrando pelo caminho. Também é mais fácil se for com um guia para ficar atento às pedras gigantes que se assemelham a cabeça de elefante e à cabeça de serpente. Todas eram adoradas.
Como se adivinhava, o destino de Kassyapa, o seu reinado e a sua fortaleza não duraram muito tempo. Em 495 d.C., o meio-irmão voltou para recuperar o seu trono de direito e, depois de várias batalhas, Moggallana vence e mata o Kassyapa, mudando a sede do reino para Anuradapura.
Muito tempo depois, Sigiriya passou a ser casa de monges budistas, que aqui viveram até ao século XIV. E o que é curioso é que este sítio arqueológico só foi descoberto em 1831, por um major britânico e, só em 1907, ficou a ser mais conhecida internacionalmente. Somente em 1982 o governo do Sri Lanka começou a trabalhá-lo como local turístico e, hoje em dia, é um ponto imperdível de uma visita ao país.
Curiosidade: os Duran Duran gravaram parte do vídeo “Save a Prayer” no topo de Sigiriya (veja no minuto 02:25 e 4:20) – e noutros locais do Sri Lanka – e é uma forma de ver como é a fortaleza, com vista de cima.
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Desafio 2017 – #348 Uma fotografia por dia…
Em 2017 tenho este desafio… colocar uma fotografia por dia, aqui no Viaje Comigo, relatando a história que está por detrás da mesma. Veja aqui outras imagens e outras histórias da rubrica “Uma fotografia por dia…”. Boas viagens!