Cheguei a Maputo, Moçambique, depois de um voo direto de Lisboa com a TAP. São 11 horas de voo – que se fazem num instante, porque são passadas à noite – mas o melhor mesmo é chegar num dia de sol a Maputo e ver de cima toda a baía. Quando nos aproximámos mais da cidade, e baixámos à pista é quando reparámos em todas as casinhas de chapa, nos muitos bairros das redondezas, e como contrastam com os edifícios altos e modernos do centro.
No aeroporto, demoro bastante tempo a passar a parte dos vistos e passaportes. Ao longe, vejo a minha mala às voltas na passadeira. Ainda cá dentro, junto das passadeiras, estão indivíduos que se oferecem para ajudar – procuram quem tem mais malas – e obviamente fazem-no em troca de dinheiro. Digo que não preciso de ajuda e agradeço. Não me perguntem porque podem estar na parte de dentro do aeroporto, mas é uma forma de cativarem clientes para os seus táxis que estão lá fora.
Apanham-me no aeroporto e, pelo caminho, vou vendo os bairros, com barracas, lojas e mercados na beira de estrada. Assim é a estrada até nos aproximarmos da baía, ou seja, da zona onde estão casas (mais mansões) das embaixadas de vários países.
Passam os chapas (carrinhas de nove lugares que levam 20 pessoas lá dentro) e os machimbombo (camionetas antigas de transporte de passageiros) com quem vai para o trabalho – com bilhetes entre os 7 e os 10 meticais.
É manhã cedo em Maputo e já há trânsito. Aliás, dizem-me que este é um dos maiores problemas atuais, para quem quer circular na capital moçambicana. Quem vem das cidades vizinhas tem de vir por volta das 6 da manhã (ou antes!), para não apanhar o trânsito da hora de ponta e conseguir chegar a horas ao emprego.
Também no centro se sente o desenvolvimento da frota automóvel em Maputo. Há carros em todo o lado, e as ruas ficaram estreitas demais porque os jipes (em dois tamanhos: grandes e muito grandes) estão estacionados em ambos os lados. “Mas, nestas estradas, e fora de Maputo, vai perceber que só de jipe se anda bem”, avisam-me, por causa das estrada de terra batida. E tinham razão.
Mesmo assim é muito tranquilo andar no centro de Maputo. As deslocações – fora das horas de ponta – são rápidas e quase sempre há lugares de estacionamento disponíveis.
Fiquei instalada no Polana Serena Hotel, em Maputo, que é de facto a melhor forma de fazer a passagem entre a Maputo de outrora (Lourenço Marques) e a de hoje.
Nas suas paredes estão fotografias da Maputo de algumas décadas e os seus edifícios. No Polana, manteve-se o glamour do edifício e até da decoração, clássica, mas adaptou-se em muitas coisas aos tempos modernos.
Está aliás, a fazer obras numa outra parte do hotel, do Polana Mar, com decoração mais moderna.
E há sempre sorrisos em todo o lado. Querem saber das melhores frases que trouxe de Moçambique, misturada com os sorrisos? “Estamos juntos Susana. Ya, estamos juntos”. Não há melhor frase de hospitalidade moçambicana.
Vinte e quatro horas depois de estar em Maputo saio para fazer um tour pela cidade com a agência Dana Tours (que aconselho!).
Numa das primeiras paragens, estamos em frente à Vila Algarve, ex-sede da PIDE, na antiga Lourenço Marques. Apesar de muitos locais terem sido readaptados, depois da independência de Moçambique, e alguns transformados em museus, por exemplo, na Vila Algarve ninguém mexeu e lá está a degradar-se com uma fachada onde se veem os azulejos tipicamente portugueses.
No passeio, dois senhores estão a fazer cestaria. Penduram nos muros, as cestas, malas e vassouras, para depois meterem as mãos ao trabalho. Foi criado um recinto para a Feira de Artesanato, mas muitos artesãos preferem continuar a ficar na rua, em vez de pagarem um lugar na feira.
Mais à frente, na avenida 24 de julho, está o Museu Nacional de Geologia, que era uma antiga sinagoga, datada de 1940.
A seguinte paragem foi num dos locais que mais me surpreendeu em Maputo: o Museu de História Natural, onde se fica a saber mais sobre a história moçambicana – país que tem várias tribos e mais de 20 dialetos – e se consegue visitar vários animais (estão embalsamados), representativos em várias regiões do país.
Junto ao mar, numa estrada com palmeiras, passeámos na Avenida 10 de Novembro, onde está o restaurante para o nosso almoço. O Zambi foi discoteca e é restaurante e tem uma esplanada perfeita para os dias mais quentes.
Depois do almoço, continuámos a visita por Maputo. Catembe fica do outro lado da baía e está uma fila enorme de pessoas que querem embarcar no ferry – inclusive um grupo de dezenas de motociclistas que, dizem-me, vão a caminho da África do Sul. Desistimos de embarcar e continuámos do lado de cá a conhecer Maputo.
Aqui muito perto, frente à Praça 25 de Junho, está a Fortaleza de Maputo, que é um pedaço da história do país. Descubra o seu interior e veja as exposições patentes. Uma delas, permanente, é sobre a história de Gungunhana, o último imperador do Império de Gaza, território que actualmente é Moçambique.
Passamos pelo Mercado Municipal de Maputo, aberto desde 1901, que merece algum tempo para ser visitado – no exterior estão senhoras a descascar caju torrado – e ainda deu para vermos a mítica Casa Elefante com milhares de capulanas. Uma verdadeira perdição de tecidos lindos com cores e padrões vibrantes.
De seguida, é incontornável visitar o CFM, ou seja, a Estação do Caminho de Ferro de Maputo, que foi considerada, por diversas vezes, como uma das mais belas estações do mundo. No interior tem duas locomotivas antigas expostas.
Num dos dias fui ver o “famoso” pôr do sol no Dhow – “Tens de ir ao Dhow ver o pôr do sol”, disseram-me várias pessoas -, com vista para a baía; e num outro almoço em Maputo fui experimentar o Mercado de Peixe. Conheça aqui os restaurantes de Maputo que experimentei.
Se seguir pela costa, na Avenida Marginal, vai dar à Costa do Sol, área que sofreu remodelações e é a escolhida para fazer praia pelos habitantes de Maputo.
Também merece uma visita a Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo, um local onde vai encontrar todo o tipo de artesanato do norte ao sul de Moçambique. É o melhor sítio para encontrar de tudo um pouco, seja para lembranças, ou mesmo artigos para usar e de decoração.
O QUE VISITAR MAIS EM MAPUTO?
Maputo tem tido construções novas nos últimos tempos, com prédios altos no centro, tanto como centro de negócios ou como centros comerciais. Além disso, manteve muitos dos seus edifícios históricos visitáveis. É fácil encontrar ao lado de edifícios antigos e coloniais, prédios atuais, envidraçados e altos, e na rua ver a calçada portuguesa.
– A estátua de bronze em memória do primeiro Presidente da República Popular de Moçambique: Samora Moisés Machel (1989);
– A Casa de Ferro (1892) é um imóvel pré-fabricado, importado da Bélgica para servir de residência ao governador-geral. Mas este nunca lá morou porque era um edifício muito quente;
– Visite o Jardim Botânico de Tunduru, com o portão de entrada de estilo manuelino, na Avenida Samora Machel;
– A Sé Catedral (onde existiu a Igreja De Nossa Senhora da Conceição), construída em 1944, junto da Praça da Independência. Projeto do engenheiro Marcial Simõess Freitas e Costa;
– A Mesquita da Baixa construída no início do século XX, na Rua da Mesquita;
– A Casa Amarela, na Rua Consiglieri Pedroso, foi sede do primeiro Governo Colonial e é hoje o Museu da Moeda – considerado o edifício mais antigo de Maputo (anterior a 1866);
– Na Avenida Ho Chi Min está o Museu Nacional de Arte, com coleções de pinturas e esculturas de artistas moçambicanos;
– Biblioteca Nacional de Moçambique (1903-1904), virou Repartição das Obras Públicas e a seguir Fazenda (1904-1964);
– Também considerada ponto turístico é a Casa dos Azulejos. É o exterior que vale a pena ver pelos seus azulejos – é anterior a 1879 e foi sede da Câmara Municipal (1888);
– Conselho Municipal: a construção começou em 1941 e aqui funcionou o Conselho Municipal de 1910 a 1947. O autor do projeto foi o arquiteto Carlos César dos Santos.
E ainda…
Se tiver oportunidade, passeie na Reserva Natural de Maputo. Eu passei de helicóptero, a caminho da Ponta do Ouro, e tive a oportunidade de ver elefantes e hipopótamos, ao longe, mas mais bonito é acompanhar a belíssima paisagem que contrasta o verde da reserva natural com o areia clara das praias da costa. Também fiz um passeio à Namaacha. Boa viagem!