É no concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, que está situada uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal: Idanha-a-Velha é muito pitoresca mas, mais do que ter monumentos para apresentar, é uma aldeia em que a História fala mais alto em cada canto. Com o apoio do posto de turismo dei uma volta à vila, onde não faltam curiosidades por entre muitas ruínas e achados arqueológicos. Vejam o vídeo:
Ainda recentemente, foi publicada uma notícia que revela que foram encontradas ruínas que provam a existência de uma porta romana em Idanha-a-Velha. Assim é o trabalho de quem estuda o território e aqui não faltarão achados arqueológicos que reconstroem a História local, como se um puzzle se tratasse.
Segundo estudos efetuados, Idanha-a-Velha está situada onde outrora existiu uma cidade romana (no território da Civitas Igaeditanorum), no século I a.C., que se tornou sede episcopal durante o domínio suevo e visigótico – tendo também sido ocupada por muçulmanos, no século VIII, e posteriormente reconquistada pelos cristãos, no século XII. Mas, foi a sua doação à Ordem do Templo, no século XIII, que ditou a sua história mais recente.
E a importância de Idanha-a-Velha, em termos estratégicos, era tão grande que os reis sempre lhe deram bastante atenção: D. Afonso Henriques entregou-a aos Templários; D. Sancho II deu-lhe o Foral (em 1229); D. Dinis incluiu-a na Ordem de Cristo (1319); e D. Manuel I (1510) deu-lhe novo Foral, contemporâneo do Pelourinho que ainda encontrámos no centro da vila.
Com o tempo, Idanha-a-Velha perdeu a importância e o vigor e, no século XIX, fica anexa a Idanha-a-Nova. Sofreu com a desertificação do interior do país e teve muitas casas abandonadas. Atualmente, alguns continuam a viver neste charmoso local (classificado como Monumento Nacional) e muitos edifícios estão a ser recuperados, de forma a explorar também a vertente turística e a criar postos de trabalho a isso ligados.
Mesmo que o leitor pretenda fazer a visita sem guia, se encontrar locais fechados terá de ir ao posto de turismo para pedir que lhe abram as portas da Sé / Catedral e do Lagar das Varas (Azeite), por exemplo. Tudo o resto é possível visitar, ao ar livre, enquanto caminha pelas ruas desta charmosa vila.
ONDE DORMIR E ONDE COMER EM IDANHA-A-VELHA
Acabei por não comer nem ficar no centro de Idanha-a-Velha. Isto porque, antes de ir visitar esta Aldeia Histórica, tinha ficado a pernoitar no Monte do Vale Mosteiro (no Rosmaninhal) e, depois da visita pela manhã, fui almoçar ao centro de Idanha-a-Nova, sede de concelho, no restaurante Helana, onde se come muito bem. São dois locais que sugiro fervorosamente.
Se quiser continuar os passeios com as Aldeias Históricas de Portugal, as que estão mais próximas são:
– Monsanto: 15 Km
– Castelo Novo: 46 Km
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O QUE VER / VISITAR EM IDANHA-A-VELHA
Como comecei a minha visita: deixei o carro no estacionamento e parti, a pé, para a descoberta de Idanha-a-Velha, entrando pela Porta Norte, junto da muralha. À medida que vai caminhando vai encontrar uma mansão em obras (que pertence à família Marrocos, muito conhecida por aqui) e um café, no centro da vila, muito perto do Pelourinho. Na rua por detrás do café está o Posto de Turismo onde poderá obter mais informações, sobre o património, e a ajuda para abrir as portas de locais para visitar.
– PORTA NORTE
A muralha surgiu entre o final do século II e o início do século IV d.C. Além do muro, tem torreões, e umas escadas por onde poderá subir e percorrer a parte superior da muralha. Daqui partia a via que se dirigia a Braga, durante o tempo em que Idanha-a-Velha era uma cidade romana.
– PORTA SUL OU PORTA DO RIO PÔNSUL
Porta em frente à Sé /Catedral de Idanha-a-Velha, a caminho para a ponte romana e para as poldras sobre o rio Pônsul. Do lado de dentro, à direita, encontra as ruínas de uma casa romana.
– RUÍNAS DE CASA ROMANA
Estas ruínas – que ainda são alvo de estudo e pesquisas – estão junto da Porta Sul e em frente à Sé / Catedral de Idanha-a-velha. Apelidada de “casa romana de átrio” foi descoberta aquando da construção do Arquivo Epigráfico. Deverá ter sido construída em finais do século I d.C. e terá desaparecido quando se iniciou a construção da muralha. O fragmento à mostra é de um átrio, com pátio coberto, um corredor e duas divisões.
– TORRE DOS TEMPLÁRIOS
Como disse acima, os Templários foram muito importantes na História de Idanha-a-Velha. Existe uma torre, um pouco em ruínas, que terá sido construída em meados do século XIII (já que tem a inscrição de 1245) e que serviria de proteção ao estilo de castelo, onde foi recortada uma janela. Também estão a fazer escavações junto da torre para estudarem mais achados arqueológicos encontrados – por isso, se vir a terra tapada com um plástico preto, não mexa. São escavações a decorrer.
IGREJAS E CAPELAS DE IDANHA-A-VELHA
– Igreja de Santa Maria (Sé / Catedral)
Na porta da igreja terá a informação de que, se quiser visitar o interior, terá de contactar o Posto de Turismo. Apesar de entrarmos pela porta virada para a Porta Sul, a principal seria do lado esquerdo, que foi descoberta durante trabalhos arqueológicos. A própria Igreja terá sofrido várias remodelações, em diversos séculos, e consegue-se ver, através de um vidro no chão, os achados dos batistérios, em dois pontos da igreja. Crê-se que terá sido construída em finais do século IX, mas que já teriam existido no mesmo local outros templos sagrados. Os Templários terão recuperado a igreja, em meados do século XIII, dedicando-a a Santa Maria.
– Igreja Matriz
É a Igreja Matriz, mas já tinha sido da Misericórdia e é dos séculos XVII-XVIII, com estilo renascentista.
– Capela de Espírito Santo
Construída entre os séculos XVI e XVII, a Capela de Espírito Santo teve obras de reabilitação. Fica no largo do Espírito Santo e é onde se realizam festas locais, como a festa anual de Nossa Senhora da Conceição, que é padroeira da paróquia.
– Capela de São Dâmaso
Fica junto ao rio, esta Capela de São Dâmaso. Na frontaria tem a data de construção, 1748, e é de feição maneirista tardia.
– Capela de São Sebastião
Foi o primeiro edifício que vi, depois de ter estacionado o carro no parque, antes de chegar à Porta Norte. A Capela de São Sebastião é do século XVII, mas foi adaptada, no século XX, ao Museu Lapidar Igeditano. Atualmente está em ruínas, à espera de intervenção.
– PELOURINHO DE IDANHA-A-VELHA
Está no Largo da Igreja, frente à Igreja Matriz de Idanha-a-Velha, e está datado de 1510, aquando do Foral outorgado por D. Manuel I. Classificado como Imóvel de Interesse Público, o Pelourinho tem uma plataforma redonda com três degraus e escudos no capitel, assim como as armas reais e a cruz de Cristo.
– POLDRAS SOBRE O RIO PÔNSUL
Diz, quem as contou, que são 43 poldras sobre o rio Pônsul. Pela fotografia podem ver que, como visitei Idanha-a-Velha no verão, o rio não estava com uma grande caudal… aliás, estava bastante seco nesta parte. Logo, a serventia das pedras não era muita, uma vez que servem para as pessoas atravessarem sem se molharem. Quando começar a chover, dizem-me, terão muita utilidade.
– PONTE DE ORIGEM ROMANA
Uns chamam-he Ponte Romana outros Ponte Velha. Atravessa o rio Pônsul e, de facto, tem origem romana, mas teve várias reformas durante os séculos. Esta ponte ligava Mérida a Braga.
– LAGAR DAS VARAS
Na porta, vai encontrar a informação de que para visitar este antigo lagar tem de ir, ao Posto de Turismo, pedir para lhe abrirem as portas (de terça-feira a domingo, consoante a disponibilidade). É um edifício que terá sido construído em finais do século XIX, mas a data de 1755 faz crer que terá existido aqui um outro lagar, anteriormente. Está dividido em três salas: sala das tulhas e pio; sala das prensas de varas; e sala de bagaceira. E aqui se pode ver como se fazia antigamente a transformação de produtos agrícolas, resultando em azeite e bagaço, por exemplo.
– ARQUIVO EPIGRÁFICO
Este espaço também estava encerrado, mas abriram-me a porta depois da visita ao Lagar das Varas (que fica nas traseiras). É aqui que está guardada uma vasta coleção epigráfica romana de Idanha-a-Velha, sendo considerada uma das mais representativas do país.
São apresentadas 86 peças/pedras, de um total de 210, que contam com informação e tecnologia multimédia associada, para perceber melhor o que significam.
– FORNO COMUNITÁRIO
Falo novamente da família Marrocos, muito conhecida em Idanha-a-Velha e que é proprietária de vários edifícios. Também lhe pertencia este forno de cozer pão, que é comunitário. Estava encerrado quando visitei a vila e não pude ver o interior.
– PALHEIROS DE SÃO DÂMASO
Junto da Capela de São Dâmaso, estão os Palheiros de São Dâmaso que foram totalmente recuperados. Mantêm-se as paredes exteriores mas em cima vê-se uma estrutra moderna, preta, que conseguiram incluir sem que se destaque muito. É agora o edifício da Oficina de Arqueologia, onde habita quem estuda a História e os achados arqueológicos que Idanha-a-Velha vai descobrindo. No interior, passa um troço de muralha, com uma torre semicircular, que a chapa de cobre preta imita.
Mais informações nas Aldeias Históricas de Portugal.