O sol já ia baixo quando cheguei a Castelo Rodrigo, uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal. Foi num dia de verão, quando a temperatura baixava à medida que os raios de sol se escondiam atrás dos montes. Nesse momento, Castelo Rodrigo ganha outra tonalidade, com as suas pedras medievais meio alaranjadas. Ao caminhar, pelas ruas não se vê muita gente. Afinal, são apenas 50 os habitates da aldeia, mas que tem vindo a crescer e atualmente já tem várias crianças. Veja o vídeo:
Ao longe, por entre o casario encavalitado, os torreões das antigas muralhas sobressaem, redondos e um quadrangular. Alguns deles são usados como a continuação das casas dos habitantes locais, de uma forma familiar. Num deles, um senhor de t-shirt branca verifica se as plantas que ali tem estão a sofrer com o calor de verão. Aliás, para todos os habitantes, as ruas da aldeia são a extensão das suas casas, o que é perfeitamente normal: há roupa a secar nas traseiras da igreja e brinquedos de crianças numa das ruas. E há muitos cães e gatos, de coleira, e com sinal de serem cuidados por todos. Há várias aves a sobrevoar a aldeia e aprecio isso tudo do jardim, junto da piscina, no alojamento onde fiquei (ver mais abaixo).
Entre as vários monumentos de Castelo Rodrigo destaca-se o que resta das muralhas, o Palácio Cristóvão de Moura, o Pelourinho, a Igreja Matriz, a cisterna medieval e as casas que fizeram desta povoação, durante mais de 600 anos, sede de concelho.
A sua história, envolve vários momentos: foi conquistada aos Árabes no século XI e dependente do Reino de Leão. Foi elevada a concelho por Afonso IX, integrando definitivamente o território português a 12 de setembro de 1297, pelo Tratado de Alcanizes – assinado por D. Dinis, que confirmou o seu Foral em Trancoso e mandou repovoar e reconstruir o Castelo, ação repetida por D. Fernando I, que também lhe concedeu Carta de Feira, em 1373.
Ao entrar pela Porta do Sol (virada a nascente), vai dar com o Pátio do Castelo. É quase obrigatório entrar para tomar uma bebida pesca, com vista sobre a aldeia e a serra da Marofa. Neste espaço, que também tem loja, vai ter uma enorme oferta de amêndoas: com sal, com chocolate, com caril, com alfazema… etc. Saí de lá com um saco das peladas e outro com flor de sal. São ótimas!
Entre visitar a aldeia e o palácio – ao lado do palácio está o posto de turismo, para obter as informações (horário: 9h00-13h00 e 14h00-17h00) – vai querer parar novamente, para poder apreciar melhor a vista. Mais à frente na aldeia, tem outro lugar especial para aproveitar a esplanada e é um local especialista em… cervejas! O Cantinho do Café tem muitas marcas de cervejas artesanais. Aliás, uma delas tem no rótulo as coordenadas locais e chama-se Castelo Rodrigo. No Cantinho do Café, aproveite as recatadas e confortáveis esplanadas, com uma vista panorâmicas e a olhar a serra da Marofa. É sentar e experimentar!
E, pelo meio da aldeia, vai encontrar uma loja com objetos de decoração antigos. Quem gostar de antiguidades tem mesmo de entrar na Casa do Souto, com “artesanato, velharias e pinturas”, como diz no anúncio, no exterior. E vai encontrar alguns artigos vintage.
E se descer ao centro de Figueira de Castelo Rodrigo tem uma sugestão ótima para almoçar – o Restaurante Arco-Íris e a Taverna da Matilde – e pare para provar (e comprar) os vinhos da região na Adega de Castelo Rodrigo.
Apesar de ser a época de vindimas a mais animada, para visitar a Adega, durante todo o ano há visitas e provas que podem ser feitas. As provas são efetuadas numa sala muito moderna e bonita, com mesas e bancos compridos, no mesmo espaço onde está a loja. O passeio na Adega explica o processo de produção, desde a chegada da uva, passando nas salas com pipas e até à colocação de rótulos e ao embalar das garrafas. Leia mais sobre a Adega Cooperativa de Castelo Rodrigo.
Para alojamento – poderá ler mais abaixo – tem a proposta da Casa da Cisterna e a Casa da Amendoeira, perfeitamente integradas no meio do casario da aldeia.
O QUE VER / VISITAR EM CASTELO RODRIGO
– Pelourinho
O número de degraus nos Pelourinhos mostram a importância do local. Assim, este está assente em cinco degraus – era sede de concelho e tinha poder municipal – e foi classificado como Monumento Nacional em 1922. Tem 8 metros de altura é é datado do século XVI, com estilo manuelino.
Após as Guerras da Restauração, Castelo Rodrigo foi perdendo a importância e, em 1836, a sede de concelho foi transferida para Figueira de Castelo Rodrigo.
– Igreja Matriz
Construída no século XIII, a igreja matriz de Castelo Rodrigo é dedicada à Nossa Senhora do Rocamador – foi fundada pela Confraria dos Frades de Nossa Senhora de Rocamador, que se dedicava à assistência aos peregrinos. No interior, tem uma pequena escultura em madeira de Santiago “a matar os mouros”; no altar, a figura de Nossa Senhora de Rocamador é do século XII; e uma pequena figura de S. Sebastião, datada do século XIV. A arquitetura da igreja apresenta os estilos românicos e gótico e foi sofrendo remodelações nos séculos XVI e XVII.
– Castelo, Palácio e Torre do Relógio
Imagina-se que aqui terá existido um castelo, anterior ao foral de 1209, de Afonso IX de Leão (mais precisamente terá existido no século IX). As muralhas mais antigas existem desde o século XIII e D. Dinis terá sido o mentor das remodelações.
Para entrar no Palácio vai passar a porta monumental – já em parte arruinada – que deverá datar de finais do século XVI, quando a estrutura defensiva se tornou num palácio residencial.
É difícil perceber onde começa o castelo e acaba o palácio. Da Torre de Menagem só sobram ruínas deste monumento, que terá estado abandonado no século XVIII e foi demolida no século XIX. Foi mandada construir inicialmente por D. Dinis.
Uma das curiosidades são as bombardeiras cruzetadas, em forma de T, que eram postos de vigilância e que ainda podem ser vistos no palácio. Também, aqui, se destaca a Torre de Relógio.
Com o domínio filipino, instituiu-se o condado e marquesado de Castelo Rodrigo, com o poder nas mãos de Cristóvão de Moura, que mandou edificar este Palácio. Após a Restauração este foi destruído em parte pela população.
– Porta com Inscrição Hebraica
Fica na rua da Cadeia, no número 32, e se olhar para a parte de cima da pedra tem uma inscrição hebraica que está datada de 1508. Nesta aldeia, sabe-se que existiu uma comunidade de judeus e cristãos-novos – também pela presença de casas com as cruzes junto das portas.
– Casa da Misericórdia
É atualmente um monte de pedras, mas conserva na porta a cruz que indicava que aqui – na que agora se chama rua da Misericórdia – estavam os serviços desta reconhecida instituição.
– Casa da Câmara
Está em ruínas, mas ficava junto ao pelourinho e da igreja matriz.
– Cisterna Medieval
Supõe que por detrás da cisterna terá sido o local da antiga Sinagoga e que depois se tornou parte do edifício do abastecimento de água local. A cisterna tem duas entradas que, agora, foram fechadas com portões, por questões de segurança, mas se espreitar vai ver que tem muita profundidade. As duas entradas provam que foram feitas alterações em alturas distintas: uma das portas tem um arco de estilo gótico e a outra em forma de ferradura, ou seja, de estilo árabe.
– Padrão da Restauração
Monumento que assinala a Restauração da Independência, a 10 de Dezembro de 1640. Principalmente porque Castelo Rodrigo teve um cerco, que lhe foi movido a 25 de Junho de 1664, e foi palco da batalha a 7 de Julho.
ONDE COMER
– Restaurante Arco-Íris e Taverna da Matilde
Em Figueira de Castelo Rodrigo, faça uma paragem para provar as delícias locais, como o borrego na brasa, no restaurante Arco-Íris ou na Taverna da Matilde. Apesar de a comida ser, mais ou menos, a mesma a ser servida – a taverna tem também petiscos – a decoração e ambiente dos dois espaços é totalmente diferente.
O ambiente do Arco-Íris é muito familiar e caseiro, tal como a sua comida. Para começar, nas entradas, provei um ótimo queijo, e ainda salpicão e azeitonas, com pão regional. Mas há mais para começar a refeição: como a alheira assado, as migas de peixe, ou as pataniscas de bacalhau, por exemplo.
Na Taverna a Matilde há uma aposta grande nos petiscos. Na ementa, além dos pratos compostos, há para picar, comer sozinho ou até partilhar: tostas, prego no pão, bifanas, tábuas de queijo, tábuas de presunto ou de choriço, chouriça, alheira caseira, salada de bacalhau, Pica-pau, moelas, orelha de porco, pataniscas de bacalhau e caracóis.
Leia mais sobre o que pode provar no restaurante e taverna, aqui.
ONDE DORMIR
– Casa da Amendoeira
Na Rua do Relógio, número 2, a Casa da Amendoeira fica mesmo no meio da aldeia, a alguns passos da Igreja Matriz. É uma casa renovada, com quatro quartos com decorações diferentes e casa de banho privada. O alojamento, confortável e de ambiente familiar, inclui pequeno-almoço. Saiba mais aqui sobre a Casa da Amendoeira.
– Casa da Cisterna
Junto da antiga cisterna, surgiu a Casa da Cisterna. Na verdade, são já três agrupamentos de casas, com vários quartos, salas, e todos os serviços necessários para acomodar quem vai conhecer Castelo Rodrigo e a região. Existem casas com salas de estar, de jantar, cozinhas, todos os quartos têm casa de banho privada, e ainda existe uma sala comum onde são feitas as refeições. Além do pequeno-almoço, almoço e jantar, a Casa da Cisterna providencia cestas para piqueniques e também refeições mais ligeiras e petiscos. E também sugere bastantes atividades para ficar a conhecer melhor a região, incluindo visitas noturnas às gravuras de arte rupestre de Foz Côa.
Leia mais e veja imagens sobre a Casa da Cisterna, no Viaje Comigo.