No centro geográfico da Andaluzia, em Espanha, e em pleno Parque Natural das Serras Subbéticas está Cabra. É uma das povoações mais antigas da comarca, albergando vestígios da época Paleolítica.
Já no século III a.C., Cabra fez parte das terras dos Romanos, que lhe atribuíram o nome de Igabrum – de onde terá derivado o nome atual. Sim, nome não vem do animal cabra! Por isso, os habitantes brincam “Somos cabreños e não cabrones”.
Foram os romanos que desenvolveram a parte urbana e fizeram destacar a riqueza em oliveiras, cereais e a exploração das pedreiras. Durante a ocupação Visigótica, Cabra foi uma das sedes episcopais do sul da Península Ibérica e o o Cristianismo sobreviveu mesmo durante a época árabe.
Com 21 mil habitantes, Cabra é atualmente uma cidade com um monumental património, onde as suas tradições, gastronomia e festas são os atrativos turísticos. A época da Semana Santa – Cabra é um dos municípios que faz parte dos Caminos de Pasión – é uma das mais movimentadas e é declarada Festa de Interesse Turístico Nacional, com a participação de 29 Irmandades e Confrarias.
Cabra mantém as muralhas à volta do seu centro histórico e tem vários exemplos da arquitetura barroca, com as igrejas de San Juann de Dios, San Juan Batista e o convento de St Domingo, entre outras. E tem uma Rede de Espaços de Interpretação da Semana Santa, como é o caso do Museu da Paixão de Cristo.
O Bairro de la Villa é o mais antigo da cidade, sendo que o Bairro del Cerro é considerado o mais pitoresco, carregado de vasos e flores nas suas janelas e paredes. Ambos mantêm arcos de inspiração árabe pelas suas estreitas ruas, tornando-os ainda mais atrativos.
O Bairro de El Cerro conserva toda a cor descrita por Don Juan em suas obras, especialmente em “Pepita Jiménez”. Um bairro de casas brancas, abrilhantadas pelos vasos verdes e floridos. Em todo o ano é um local bonito para se visitar, mas em maio tudo está no seu esplendor e a imagem é ainda mais espetacular.
Cabra é uma cidade jovem com muita vida também durante a noite. Existem muitos bares para poder ir beber um copo, com animação. E, se o tempo estiver bom, até nas esplanadas de faz o convívio.
O ponto mais alto da Serra de Cabra é o El Picacho, com os seus 1.217 metros e está integrado no Geo-Parque Natural das Serras Subbéticas. Daqui se tem a vista para colinas que foram referenciadas em “El Quijote”, por Don Miguel de Cervantes.
Centro de Visitantes do Parque Natural Serras Subbéticas em Cabra: +34 957 506 986
Veja o vídeo de Cabra:
No cimo da serra tem impressionantes vistas. Pode fazer a subida de carro, a não ser que o caminho esteja interrompido devido à peregrinação da Virgem da Serra (que acontece em setembro)*.
O QUE VISITAR EM CABRA?
Existe o Centro de Interpretação de Cabra Jurássica, que pretende estudar e mostrar um património que se pode ver em muitos sítios. Basta que fique atento às imagens para perceber que há muitos vestígios da época em que o território esteve sob água. Seres extintos, fossilizados, que deixaram a sua marca em pedras.
– Museu Aguilar Y Eslava e Museu da Paixão de Cristo
Fala sobre o Homem da Semana Santa, ou seja, Jesus. Mas, usa uma perspetiva tanto científica como religiosa. Em várias salas tem obras de arte sacra expostas e noutras réplicas de objetos ligados à Páscoa. O Museu da Paixão de Cristo pretende explicar, com base em estudos, tudo o que está ligado à Semana Santa. Tem uma réplica do Santo Sudário, para explicar como surgiu e foi estudado, e uma do Santo Sepulcro.
Entrada: 1€/donativo
– Museu Arqueológico Municipal
Foi criado em 1973 e mudou-se para este edifício (onde esteve o Banco de Espanha) em 1984. Mal entra vê o Pátio das Colunas, com 10 colunas de mármore e inúmeros achados arqueológicos da região. Alguns são vindos de escavações na “Villa del Mitra”, “O Veleña”, outros foram doações para complementarem o mesmo com história desde o Paleolítico até aos nossos dias.
Outros museus de Cabra:
– Museu da História Natural
– Museu do Azeite: Molino Viejo
Igrejas de Cabra:
– Iglesia de la Asunción y Angeles
– Iglesia RRMM Escolapias
– Iglesia de los Remedios
– Iglesia de San Juan Batista
– Iglesia de San Juan de Dios
– Iglesia de las Agustinas
– Iglesia de Santo Domingo
– Iglesia de Termens
– Iglesia de San Francisco y San Rodrigo
– Castelo Condes de Cabra
Esteve rodeado por 18 torres e tem uma planta quadrangular, com muros ao longo de 260 metros.
– Circulo de la Amistad
Está num antigo convento da Ordem de S. João de Deus, anexo à capela barroca. No interior funciona, desde 1853, um tradicional “Casino” espanhol, que é uma agremiação com associados que promove convívios, tertúlias e eventos. E está envolvidas também nos festejos da Semana Santa.
– Casa de Cayetano Muriel
Dentro do Bairro El Cerro está a casa onde nasceu o famoso cantor cabrense Cayetano Muriel, mais conhecido como Niño de Cabra. É considerado um dos mais importantes cantores do flamenco da região.
– Parque Alcántara Romero
Foi construído em 1848 e tem espaços verdes, com esplanadas, e lagos. Um ótimo sítio para passear ou aproveitar a sombra nos dias de muito calor.
ONDE DORMIR EM CABRA
Em Cabra, ficamos instalados no MS Fuente Las Piedras, um hotel de quatro estrelas. A decoração do quarto é simples e clássica, mas tem uma piscina grande no exterior, com espreguiçadeiras para apanhar sol, e o pequeno-almoço é muito bom.
Também fizemos lá uma refeição, o almoço, e só veio comprovar que se cozinha mesmo bem aqui. Foi uma das melhores refeições que fizemos durante a semana que seguimos os Caminos de Pasión.
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ONDE COMER EM CABRA
Uma das refeições, que fizemos em Cabra, foi-nos servida no Circulo de la Amistad. No entanto, sendo um clube com associados só o pode fazer se for como convidado de um sócio. Comem-se umas tapas agradáveis, com queijos e presunto, pescado frito e provamos os “flamenquines”, um panado enrolado com queijo.
– Restaurante do hotel MS Fuente las Piedras
Gostamos muito do almoço que fizemos no restaurante deste hotel em Cabra. Para começar, uma salada do chef, muito fresca, o típico salmorejo e filete de peixe grelhado. E a sobremesa, uma verdadeira e boa surpresa, com uma tarte de queijo.
EVENTOS E FESTAS EM CABRA
Janeiro
– Cabalgata de Reyes
Fevereiro
– Romaria de la Candelaria
Março
– San Rodrigo Mártir
Abril
– Semana Santa
Maio
– Dia de la Cruz
Junho
– Festas de Santo António, Huertas Bajas
– Feira de San Juan
– Romaria dos Ciganos
– Corpus Christi
Julho
– Ciclo de música e teatro
– Feira de la Barriada Virgen de la Sierra
Agosto
– Romaria dos Votos e Promessas
Setembro
– Festas da Virgem de la Sierra* (ler mais abaixo)
Outubro
– Subida (pregrinação) de Maria Santíssima de la Sierra
Dezembro
– Romaria de la Fey e la Familia
– Festa do Azeite Fresco
*A nossa experiência na Festa da Virgem de la Sierra
Domingo de manhã, dia 9 de outubro 2016: a Virgem sai da igreja onde, na noite anterior, foi celebrada uma missa especial, para assinalar a partida da padroeira para a Serra. Toda a gente está bem vestida e bem penteada, como se fossem a um casamento. Dentro da igreja, dizem Vivas à Santa, enquanto se despedem.
No dia seguinte, domingo, a subida para a serra começa à porta da igreja às 7h00. Com o andor em ombros, os fiéis seguem a procissão pelos montes até à serra. Quando subimos até ao topo da serra, já estavam algumas centenas de pessoas, outras em peregrinação fazem-no mais calmamente.
Os carros ficam quase a cerca de dois quilómetros do topo. Já não há lugar para todos no pico da serra, e são muitos os que fazem o caminho até onde teve lugar a aparição da virgem.
Fomos de camioneta até ao topo. Não por preguiça, mas porque tínhamos o horário com mais visitas e muito apertado. Não havia forma de nós, jornalistas, termos tempo de fazer aquela caminhada e de tarde ainda termos uma outra visita, até à noite. Pelo caminho, demos boleia a senhoras de idade, que se apoiavam nas suas bengalas.
Chegamos co cimo da serra, espreitamos o ambiente dentro da igreja, onde vai entrar o andor e “devolver” a Virgem ao altar. Já há pessoas que marcam o lugar nos bancos da igreja desde cedo. E este é um dia especial. O dia em que a Virgem regressa à sua Igreja.
Aqui vai ficar até 4 de setembro do próximo ano, altura em que desce de novo ao centro de Cabra para as festas. Quando sobe a Virgem? Passado um mês, esta festa de subida à serra repete-se no primeiro domingo do mês de outubro, depois do dia 4.
Entretanto, ainda não se vê a procissão, que saiu do centro, e continuam os últimos preparativos para a festa. Arranjam-se as flores no interior da igreja e cá fora começa a sentir-se o aroma do que vai ser o almoço. E a espera é animada.
Cá fora, milhares de pessoas montaram as mesas, com as marmitas. E, apesar de haver uma casa de tapas, há uma cozinha improvisada, com uma grande enorme frigideira onde estão a preparar já o almoço. São 10h00 e já se sente o cheiro a refogado.
São 120 kilos de arroz para 1.200 pessoas. Dois homens tratam da comida – tudo com ingredientes oferecidos por empresas e lojas de Cabra – e misturam o tomate, pimentos, carne e alguns peixes e mariscos. Todos ajudam a que a festa se realize.
Todos os participantes da festa estão convidados e há, pelo menos, um prato de arroz e um copo de vinho que podem usufruir gratuitamente.
Continuámos a nossa espera pela Santa. Estamos mesmo no El Picacho, o ponto mais alto da serra (1.217 metros) e todos olham para o fundo do monte. São 11h30 e já se vê o andor em movimento, com a procissão a meio da serra, seguida por inúmeros cavaleiros.
Uma hora depois começa a sentir-se o alvoroço. A Virgem está a chegar, dão-se vivas pelo caminho e batem-se palmas. Há muita alegria nesta festa e neste regresso da Padroeira à sua Igreja.
Os devotos são de todas as idades e dão apoio aos que carregam, há muitas horas, o andor serra acima.
É visível o sofrimento de quem carrega o pesado andor, mas também se nota a felicidade por terem chegado ao destino. Os sinos batem a repique.
Vejo uma só mulher no meio dos muitos homens, que carregam a virgem. Está branca de emoção. Chora de felicidade. Atrás dos que carregam o andor outros seguram-se entre si para se apoiarem no esforço final. Faltam apenas alguns metros para o andor dar uma volta de 180 graus e entrar na Igreja. As vivas e palmas continuam, e os sinos não páram de tocar. É um momento de muita emoção para todos.
Mesmo que não vá pela festa religiosa, suba até ao topo da serra, porque a vista vale mesmo a pena. Na estrada principal diz que são 7 km, numa estrada aos “esses” até ao santuário, no cimo da serra.
Mais informações no site de turismo de Cabra.