Primeiro pressuposto deste roteiro: quando se fala em visitar Óbidos, não é só do interior do castelo e das muralhas – primorosamente conservadas durante séculos – que estamos a falar. Óbidos é muito mais do que esse centro histórico e – além de existirem segredos bem escondidos nesse centro – nos arredores existem ainda mais pretextos para lá irmos… mais do que uma vez! Quem conhece bem Óbidos?
O guia com património de Óbidos já existe e está publicado no Viaje Comigo, mas até eu tinha dificuldade em voltar mais vezes, fora dos grandes eventos, dizendo a mim própria: já lá fui! A verdade é que existem sempre coisas novas e diferentes para fazer. Vou-vos deixar aqui o meu roteiro de quatro dias por lá. Fui sozinha e aproveitei muito bem todos os dias em Óbidos. Quais das seguinte dicas/sugestões não conheciam de todo?
– Siga o roteiro de Óbidos
– Programa de 4 dias para o castelo e arredores
– Restaurantes em Óbidos
– Alojamento: onde dormir em Óbidos
Por muito que se distraiam nas horas, na vila de Óbidos, as 13 horas são dadas pelo toque dos bombeiros. O som é curto, mas bastante audível em toda a vila. E desperta a fome… mesmo que estivesse adormecida! As sugestões de restaurantes estão mais baixo – o alojamento também, sendo que, desta vez, fiquei alojada no Josefa D’Óbidos Hotel.
Em 1148, D. Afonso Henriques conquistou Óbidos aos Mouros e viveu neste castelo. Que tornou a vila, como se fosse o centro de Portugal… porque aqui vivia o rei! Seguiram-se vários reis que ofereceram esta vila às rainhas, como dote de casamento. E a rainha é que ficava dona disto de tudo, e mandava e desmandava. Essa energia feminina ainda se sente na vila, onde várias rainhas criaram infra-estruturas importantes como hospitais (D. Leonor criou o Hospital e a Igreja da Misericórdia), locais para tratar leprosos (D. Isabel), mandaram fazer um aqueduto para abastecer a vila de água (D. Catarina de Áustria), e mandaram construir mais as fontes (D. Maria). As rainhas foram uma espécie de “mecenas” da vila.
Sem dúvida, dizem-me guias turísticos de Óbidos, que as rainhas foram quem mais fez por desenvolver estruturas para a população e criaram melhores condições de vida. E é esse passado que merece ser recordado nos dias de hoje, para se visitar uma vila tão histórica!
PROGRAMA DE QUATRO DIAS EM ÓBIDOS
Mal cheguei à vila, comecei por me instalar no Josefa D’Óbidos Hotel. O hotel fica a poucos metros (3 minutos a pé) da entrada principal: a Porta da Vila. E há um bom motivo fotográfico para entrar por aqui, aquele oratório tem toda a razão de existir – muitos perderam a vida aqui, uma vez que esta era a entrada numa vila que sofreu várias tentativas de ataque ao longo de séculos, até que D. Afonso Henriques a ganhou aos mouros. Ali está a Nossa Senhora da Piedade, mas é o painel de azulejos que nos rouba e prega o olhar para cima.
Mas… antes de entrarmos repare, do lado direito da muralha, na bonita loja do Espaço Ó – ID Local Concept Store – onde vai encontrar dezenas de trabalhos diferentes de artesãos locais; desde têxteis, designers, joalheiros, bonecos, desenhos, pinturas, roupas, etc. Há de tudo um pouco, numa loja que enaltece a Identidade Local e, por isso, bastou-lhe acrescentar o Store para ter um nome muito leal à causa. Se há loja que merece uma visita mais demorada, é esta!
Sigo depois para um dos meus espaços preferidos da vila de Óbidos – participei no Festival Latitudes e foi nessa altura que ficou na “lista de locais a voltar” – que é uma livraria e um Mercado Biológico, onde a fruta e os legumes são sempre frescos e, pasmem-se… cheiram e sabem mesmo a fruta e legumes, sem pretensões de serem os mais bonitos da prateleira. No entanto, aqui também os olhos comem e tudo está tão apresentável que é um gosto comprar até um canudinho de frutos vermelhos para comer enquanto se passeia. A Livraria do Mercado faz parte do roteiro da Vila Literária.
A subida à muralha, para obviamente tirar muitas fotografias, é outras das coisas que faço vezes em conta. E quando a fome apertou… fui dar ao restaurante Lounge. Tem uma esplanada na rua, outra no interior e ainda uma outra sala interior. Dá para dezenas de pessoas, o que em tempos de pandemia é sempre bom, para manter a distância, e aproveitar para comer ao ar livre. Comi um peixe grelhado (robalo) com excelentes legumes e uma sangria para matar a sede. Para a sobremesa, porque queria fugir dos doces – mas tinham doçuras muito apelativas – veio o ananás regado com ginja com chocolate. Delicioso e até meio-saudável…
A primeira ginjinha do dia – ou não fosse esta a terra da Ginja! – é na loja onde está representada a Oppidum, marca que criou a ideia dos copos de chocolate para acompanhar este néctar tão conhecido e apreciado. O projeto Oppidum é um negócio familiar, que se orgulha de dizer que faz a ginja… com ginjas de produção local. Dário Pimpão deu o salto e a ginja já viaja além-mares, com a exportação sempre a subir. E também devido ao Festival do Chocolate – que acontece todos os anos em Óbidos – os copos de chocolate a acompanhar a ginjinha, começaram a fazer todo o sentido… e todo o sabor. Criado foi o slogan “beba a ginja e coma o copo”, pela casa e mercearia – onde está a Oppidum Store – que, desde 1950, permanece na mesma família.
Conheci a Marta Pimpão, da Oppidum, que me ofereceu a mais personalizada garrafa que já alguma vez recebi. O rótulo é uma fotografia minha em Óbidos e a frase desperta o meu sentido de “wanderlust” mas não só. A frase “Viajar? Para viajar basta existir!” (de Fernando Pessoa) está relacionada também com a Óbidos Poetry Sessions: ginja e poesia, parece-me a combinação perfeita! Vídeos que ilustram essas acções podem ser encontrados aqui e aqui.
Ora, se já vos referi que em Óbidos há uma energia feminina muito grande – assim, como nas Caldas da Rainha o senti – nem só de Rainhas se faz aqui História. Josefa de Óbidos foi uma pintora marcante e também ela tem aqui um lugar de destaque na História local. São muitas as referências que se podem encontrar na vila, mas basta ir à Igreja de Santa Maria, onde se podem encontrar cinco pinturas de relevo desta artista. No Museu Municipal também encontra muitas obras dela, entre outros artistas.
Que Óbidos é histórico já o sabemos, mas digo-vos que também pode ser muito divertido e aventureiro. Na Torre do Castelo, há uma experiência imersiva a experimentar: a Escape Tower. Convém ser no mínimo 2 pessoas a jogarem, ou mais, para que seja certamente um desafio maior. Vão-nos sendo dadas pistas, para irmos passando de nível a nível num jogo muito interessante… E mais não posso desvendar porque senão seria um enorme spoiler do jogo! E também… quanto menos souberem, menos vão complicar! Acreditem que é muito divertido!
Pela noite, fui jantar ao restaurante Pretencioso. Que o nome não vos engane. A comida é genuína e os donos também. Às terças e quintas-feiras há música ao vivo e, naquele jardim maravilhoso, comi um bife com molho de ginjas e especiarias e um puré e verduras. Que delícia. Não consegui sair de lá sem provar o bolo de chocolate com morangos… ao som de música ao vivo… parecia um evento exclusivo. Vale muito a pena lá ir.
No segundo dia, fui fazer um workshop de joalharia com a designer Cecília Ribeiro, que também tem peças da sua autoria no Espaço Ó – ID Local Concept Store. Durante umas horas, fui trabalhar o metal para fazer uma pequena pulseira. O resultado do trabalho é brutal: aprendemos e ainda saímos de lá com uma recordação única.
Este é também um espaço da autarquia que ajuda quem quer lançar o seu próprio negócio. Na parte dos restaurantes, encontrei o restaurante Avocado, onde almocei nesse dia. Que comida maravilhosa! E como se o mimo ao paladar não fosse suficiente, a apresentação é igualmente preciosa e aqui percebe-se porque os olhos também como! Produtos frescos, saladas muito bem servidas, e as sobremesas são uma verdadeira tentação.
Ao jantar, fui experimentar a conceituada Taberna O Lidador. Para este restaurante, não basta estar dentro da muralha, porque construiu uma muralha própria, que faz parte da decoração com vista para o exterior. Também no exterior se destaca, porque tem a mais bonita buganvília a colorir a entrada e um pequeno bar, com um cantinho acolhedor para começar a noite a experimentar um cocktail, a partir da Ginja da casa. A comida é muito saborosa. Começámos pela espetada de camarões, e o queijo gratinado com frutos vermelhos, como entradas; e o prato principal, o bacalhau assado na telha… estava divinal. Se ainda houver barriga, percam-se nas sobremesas: há umas 10 diferentes para escolher, desde a mousse de chocolate, à baba de camelo, bolo de bolacha, ovos moles, etc.
Num outro dia, fui fazer um passeio especial com a empresa The Great West: fui conhecer os arredores de Óbidos, de 4×4, e perceber que a costa Oeste merece visitas mais demoradas do que o habitual. Tem um património paisagístico muito bonito! E que caminhos desconhecidos fui descobrir, pelo meio do pinhal, e fazendo toda a volta em redor da bonita Lagoa de Óbidos, até ir à deslumbrante vista da Foz do Arelho.
O passeio começa no centro da vila de Óbidos, passa pelas aldeias do Carregal e Arelho e vamos dar aos trilhos pedestres ao lado da que é a maior lagoa de água salgada da Europa: com 17 quilómetros quadrados e com uma profundidade de cerca de 2 metros, exceptuando os locais onde tem bancos de areia.
No braço da Barrosa vimos os flamingos brancos e o caminho (PR6) do Trilho dos Patos Reais e, mais adiante, no Covão dos Musaranhos (onde tem esplanada e café) muitas crianças preparavam-se para fazer a aula de SUP (stand up paddle). Passámos nas coloridas casas da Aldeia da Lapinha, uma típica aldeia, localizada no Bom Sucesso, nas margens da Lagoa de Óbidos.
A paragem para almoço foi na Taverna Viracopos, na Amoreira. Os sabores são caseiros e a apresentação traz-nos uma certa mestria à mesa. Para entrada uma tosta de queijo e camarões, regados com molho picante (adorei!); o prato principal, eram as lulas grelhadas que ficaram na memória até hoje, de tão boas que estavam. A sobremesa é também ela caseira: gelado!
No final do dia, fui jantar ao Jamon Jamon. Tem mesas no interior, mas aquele pátio tem algo de romântico e vale a pena conhecer. Fica fora da muralha, a paredes meias com uma capela, e os petiscos são reis nesta casa, tanto portugueses como espanhóis. Assim, decidi pedir duas entradas para picar: o hambúrguer de morcela e o choco frito. Mas há muito mais como as bolinhas de alheira com cogumelos e ainda pratos principais como a açorda de legumes ou o trio de lagareiros com polvo, choco e bacalhau… etc. As sobremesas prometem… babei a olhar para os bolos mas acabei por escolher a Pêra Bêbeda. Tudo delicioso!
Um dos bares mais tradicionais de Óbidos é o Reis Nobre Bar, onde pode beber a tradicional ginjinha e comer, por exemplo, um saboroso chouriço assado. Além disso, atente nas paredes… há um quadro que se revela… e cartas de um presidente do Brasil (Juscelino Kubitschek de Oliveira- veja a carta mais abaixo) que por aqui passou e nunca mais esqueceu. São muitas as histórias, mas o melhor mesmo é serem lá contadas! Visite!