O início deste texto tem de ter já uma explicação: não fiz o Caminho Português todo, apenas acompanhei um amigo durante duas etapas, fazendo parte de um projeto que se chama “Maridando no Camiño de Santiago”. Com o Alberto Ribas fui conhecer melhor as localidades por onde passa o Caminho Português da Costa e que atividades interessantes se podem fazer, entre etapas. Já fizeram o Caminho de Santiago? Deixem-me os vossos comentários no final do texto.
O meu ponto de encontro foi em Vigo. Alberto já tinha começado com a Diana Miaus o Caminho Português da Costa fazendo a transição entre Portugal e Espanha. Depois da minha companhia (fizemos Vigo-Pontevedra), Alberto junto-se a um outro Alberto, do MochilerosTV, e ambos fizeram a gloriosa chegada a Santiago de Compostela. Podem também ler o texto do Alberto Ribas para perceberem como foi feito todo o Caminho.
Notas sobre as etapas que fiz do Caminho Português da Costa:
– Etapa Vigo – Redondela são 15,7Km (Dificuldade: Baixa). Duração estimada: 3h10
– Etapa Redondela – Pontevedra são 18Km (Dificuldade: Média). Duração estimada: 4h30
Em Vigo, na minha primeira noite neste projeto, fiquei alojada no confortável Hotel Ciudad de Vigo. O pequeno-almoço, buffet, é muito variado e tanto tem as delícias espanholas, como por exemplo o tomate para barrar no pão, azeite, churros, presunto, tortilha e outros… como tem bolachas e bolos, para os mais gulosos, assim como manteiga, mel e compotas. Para beber, além dos chás, há chocolate quente, leite, café e sumos.
De tarde, fui conhecer um projeto muito interessante: o Impact Hub, que é um espaço de cowork onde qualquer pessoa pode ficar a trabalhar e até a fazer networking (e existem vários pelo mundo). Num encontro informal, todos apresentámos os nossos projetos e até surgiram ideias de trabalharmos em conjunto. É o que dá juntar gente empreendedora na mesma sala 😀
Pela noite, matei a fome de croquetas! Só as como em Espanha e sempre que fico por lá têm de vir as mais tradicionais para o meu estômago. O jantar foi na Taberna Eligio, que é um espaço mítico de Vigo. Vai fazer 100 anos e já foi o local de encontro de boémios e intelectuais, durante a época da ditadura. Está decorado com quadros, caricaturas, pinturas de autores e artistas conhecidos. Aqui, provei delícias como polvo e calamares, croquetas, sardinhas panadas e empanada de sardinha.
De manhã cedo, começamos a caminhada para Redondela. Fazer o Caminho de Santiago (seja qual o trajecto feito) deixou, nos últimos tempos, de estar somente associado à sua componente religiosa e/ou espiritual. Mas, a verdade é que se nota nos viajantes uma alegria que transforma esta peregrinação num Caminho sorridente.
Pelo Caminho, passava por nós, gente mais nova, gente mais velha, grupos de mulheres, grupos de homens, amigos e familiares… e trocávamos todos um “Bom Caminho”, sempre acompanhado com um sorriso, mesmo que a chuva não nos tenha largado durante alguns quilómetros.
“A chuva faz parte da Galiza e não há como evitar. Faz parte do encanto também!” dizem-me alguns galegos com quem me vou cruzando pelo Caminho, acompanhando o Alberto, também ele galego, natural de Pontevedra. Outros dizem-me algo interessante: “nunca conheci um galego que tenha feito o Caminho de Santiago, certamente que os há, mas nunca os conheci”, e anuem todos os que estão em seu redor, enquanto se riem de algum ditado que certamente dirá que quanto mais próximo de nós, mais vamos deixando para amanhã…
Confesso-vos que também eu já tinha a ideia de fazer o Caminho de Santiago um dia… e fui adiando… e agora que pude fazer apenas duas etapas, estava cheia de vontade de continuar! Chegar a Compostela, depois do Caminho feito, deve ser muito emocionante!
Mas, o que me levou a fazer este caminho foi a minha veia jornalística: fomos conhecer projetos, onde os viajantes e peregrinos podem participar e envolver-se. Ora, a minha experiência foi para ir falar com as “mariscadoras”, ou seja, mulheres que estão na apanha da amêijoa na ria de Vigo. A experiência turística do Turismo Marinero Amarturmar é muito recente e surgiu da necessidade de mostrar como se processa este trabalho. E não vamos vê-lo de longe… calçamos as galochas, no porto de Cesantes, e vamos atrás de Nuria, a trabalhadora que, naquele dia, foi a nossa guia na enseada de San Simón. Nuria é das fundadoras da associação e a sua história é diferente: largou o seu emprego, atrás de uma secretária, para ficar mais perto dos filhos e ter os horários que queria, para poder cuidar e estar mais tempo junto deles.
Curiosidade: no centro da ria de Vigo estão as ilhas de San Simón e Santo Antón. E diz-se que nas profundezas das suas águas estão os resquícios dos galeões da Batalha de Rande, de 1702.
As mariscadoras – este emprego era sobretudo feito por mulheres, uma vez que os homens saíam nos barcos para a pesca, mas hoje em dia também podemos encontrar alguns homens a fazê-lo – estão de costas curvadas, ancinho na mão, a aproveitar a maré vaza para apanhar as amêijoas. Existem várias variedades do marisco e um controlo apertado, para não se venderem as que ainda não estão prontas para serem apanhadas. As que caem pelas frinchas do controlo são atiradas novamente para a água ou diretamente para os viveiros onde foram “plantadas” amêijoas, que só podem ser colhidas dentro de dois anos. Sim, leram bem, são necessários dois anos para a amêijoa estar boa para ser apanhada.
É um trabalho desgastante e, além de estarem dentro de água, as mariscadoras têm de ser rápidas, pois é a maré que estipula o tempo de trabalho. Quando a água começa a subir, as mulheres vão saindo, uma a uma. Nuria foi a nossa guia e explicou-nos todo o processo, desde a criação de amêijoas até à sua apanha e venda. Todos os dias uma trabalhadora diferente faz de guia e ensina os viajantes que por aqui passam. “Achamos importante mostrar o que aqui fazemos, para que lhe seja dado mais valor. É também uma forma de educar e promover os produtos locais”, explica Nuria. E, agora, diz-me a guia que aqui vêm muitos peregrinos do Caminho de Santiago. “Não passam só, também ficam por Redondela”, explicam-nos as mulheres.
Além da Rota do Marisqueiro a Pé; pode fazê-lo de barco, com rede ou a Rota do Choco de Redondela (preço das visitas a partir de 8€/por pessoa; crianças co descontos). As marcações devem ser feitas com antecedência de, pleno menos, 24 horas e pelo e-mail info@turismomarinero.org.
Entre as atividades, tínhamos prevista uma visita ao Museo de Rande, mas estava com uma montagem de exposição e não o conseguimos fazer. Fomos diretos ao centro de Redondela, primeiro, para ir buscar a chave do apartamento onde ficámos alojados, para descansarmos um pouco e, depois, sairmos para conhecer Redondela. Pelas ruas do centro histórico descobrimos a Igreja, espigueiros antigos, jardins viçosos e as várias pontes históricas que atravessam, em altura, a cidade.
O nosso alojamento (o Cruceiro: um apartamento com dois quartos, sala e cozinha) fica precisamente na estrada por onde passa o Caminho de Santiago… são vários os peregrinos que passam pela nossa entrada, a pé ou de bicicleta. Percebe-se que há uma vontade de se renovar Redondela, mas ainda há muito por fazer, principalmente porque a principal rua para peregrinos, tem poucos pontos de interesse para paragem. Existem alguns cafés, muito acolhedores, mas tem de se fazer o desvio da rua do Caminho.
Pela noite, perguntámos a alguém da rua “é daqui? Sim? Diga-nos um sítio para tapear, muito tradicional”. Casa Mucha foi a resposta direta e ainda bem, porque já tínhamos visto que era um dos locais sugeridos na internet. E foi uma aposta ganha. Tudo comida excelente: provámos os calamares e os ovos rotos e depois o bolo da casa, para adoçar a boca no final.
De manhã cedo, partimos para Pontevedra e muitos peregrinos fizeram o mesmo, ainda que a chuva teimasse em não nos deixar. Uns quilómetros mais à frente atravessamos a medieval ponte Sampaio, sobre o rio Verdugo, e começámos um ziguezaguear de ruas, pode onde se contam troços da Via Romana XIX. Também passámos por entre espigueiros, a subir durante largos minutos… até entrarmos numa zona de floresta. E é nesse trilho que, de facto, fazemos a nossa introspecção e desfrutamos mais da paz e calma do Caminho, principalmente por causa da envolvência natural. É lindo!
Ainda junto à medieval ponte Sampaio, onde carimbei o meu Passaporte de Peregrino, está o café que diz ser o último no Caminho até Pontevedra… E tem razão é mesmo o último café, mas, durante o caminho, no meio da floresta, encontrei uma tenda e uma foodtruck de apoio aos peregrinos… e, mesmo com chuva, tinham a esplanada montada e vendiam bebidas e comidas.
Depois de sairmos da floresta, entramos na estrada no concelho de Pontevedra e, mais à frente, decidimos virar à esquerda num itinerário complementar que passa por um bosque. Apesar de ser um caminho mais logo, é mais bonito do que ir na estrada, por onde passam muitos carros. Mas preprarem-se, têm de ter bom calçado, porque se tiver chovido fica com muita lama e escorregadio!
Em Pontevedra, fiquei alojada no Hotel Galicia Palace, de quatro estrelas, e muito bem situado. Tão bem situado que passei por ele, antes de chegar ao ponto de final do Caminho em Pontevedra… na Capela da Virgem Peregrina (de 1778), onde fui fazer o meu último carimbo no Passaporte do Peregrino, destas duas etapas que fiz com o Alberto. O caminho continua, a partir daqui, e de forma bem visível: à noite umas luzinhas indicam, na calçada, o Caminho de Santiago, apoiadas por setas amarelas no chão.
À noite, numa sexta-feira, chovia a cântaros mas mesmo assim muita gente sai de casa em Pontevedra. As esplanadas, debaixo das arcadas do centro histórico, estão cheias e por lá nos sentámos para comer um bocadillo de calamares que, na verdade, era um pão gigante e se transformou no meu jantar. Pronta para descansar de duas etapas do Caminho, fui até ao Galicia Palace para uma boa noite de sono. O quarto era muito grande, cama confortável, mas o melhor mesmo foi acordar e ter um pequeno-almoço espetacular.
Para saberem mais de sobre todo o projeto Maridando no Camiño de Santiago e lerem como correu todo o Caminho com o Alberto Ribas, cliquem aqui.
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