Durante três dias, fui conhecer três locais da Beira Baixa: Vila Velha de Ródão, Castelo Branco e Oleiros. Se estão à procura de ideias para os vossos passeios, por Portugal, fiquem com estas dicas que dão para três (ou mais) dias de experiências diferentes, desde visitas culturais até descobrir belezas da natureza. Siga este meu roteiro e espreite o vídeo abaixo para ficar a conhecer melhor a Beira Baixa:
No primeiro dia, fui até Vila Velha de Ródão. A neblina ainda não tinha levantado no rio Tejo e dava-lhe um ambiente bastante místico. A espreitar, ao fundo, estavam as Portas de Ródão: um monumento natural, que resultaram (isto explicado de uma forma muito simples e sem termos técnicos) de uma formação geológica provocada pela separação das rochas e uma brutal queda de água, que formou este estreitamento do rio.
Da ponte, com vista para as Portas de Ródão, consegue-se vêr já o Castelo do Rei Vamba (ou Rei Wamba). Ora, como vocês já sabem, não há castelo sem lenda e este não é exceção. Reza a lenda, que a rainha (casada com o rei Vamba) se apaixonou pelo rei mouro, que habitava do outro lado do rio – e diz-se que terá cavado um túnel onde existe, hoje, a Buraca da Moura. O rei Vamba descobriu a traição e levou-a a tribunal, onde foi condenada à morte por despenhamento, presa a uma mó. Durante a queda, diz a lenda, a rainha lançou uma maldição sobre Ródão: “nesta terra não haverá cavalos de regalo, nem padres se ordenarão e putas não faltarão”. Por onde passou a mó, e a rainha, dizem os locais, não cresceu mais vegetação nenhuma…
Na subida ao castelo, descobri a Capela da Senhora do Castelo, que terá sido construída entre os séculos XVI e XVII. No topo, junto ao castelo, há um ambiente de acalmia muito intenso. Sentimo-nos impelidos a ficar ali, durante algum tempo, só para observar a imponência da natureza que nos rodeia. No miradouro, olhando a correnteza do rio Tejo e os reflexos do sol na água, relaxei e aproveitei esta vista, enquanto a neblina vai desaparecendo.
De seguida, fui visitar o Lagar de Varas, que fica na margem esquerda do Ribeiro de Enxarrique. Aliás, é muito fácil perceber a importância da produção de azeite nesta terra, uma vez que muitos montes mantêm as fileiras de oliveiras, ainda que a plantação das mesmas não seja tão grande como antigamente. O edifício foi recuperado e é, agora, um espaço museológico onde é recordada a história do fabrico do azeite, mostrando vários sistemas que eram usados para extrair esse líquido precioso das azeitonas. A visita foi muito interessante, com toda a explicação e, mesmo eu tendo já visitado muitos lagares, havia muita coisa da história local que desconhecia, como por exemplo a utilização do azeite em várias finalidades e as marcas conhecidas desta região, por exemplo.
Morada: Lagar de Varas, Estrada Nacional 18, Vila Velha de Ródão
Telefone: +351 272 540 300
Entrada grátis
Horário: período de verão, 1 de maio a 30 de setembro, terça-feira a sábado, 09h00-12h30 e 14h30-18h00; domingo, 09h00-13h00; período de inverno, 1 de outubro a 30 de abril, terça-feira a sábado, 09h00-12h30 e 14h00-17h30; domingo, 09h00-13h00 (mediante marcação). Encerra 1 de janeiro; sexta-feira Santa; domingo de Páscoa; 1 de maio e 25 de dezembro.
O almoço foi junto do rio, no restaurante que fica perto do parque de campismo e onde há também uma zona de piqueniques, com mesas e bancos. Também neste espaço de café-restaurante pode reservar o seu passeio de barco, que poderá ter várias modalidades.
Depois de almoçar fui fazer um passeio de barco no Tejo. Existem vários passeios diferentes: há de uma ou duas horas, há de observação de fauna e flora e um outro que depende do rio, pois só mostra as gravuras rupestres quando o nível da água o permite. Mas, mesmo sem observação de gravuras, é um passeio maravilhoso, para aproveitar de forma relaxada, e observar tudo em nosso redor… passando pelo meio das Portas de Ródão. No passeio de barco, pudemos ver patos, grifos – que nidificam nas escarpas – corvos marinhos e a garças pretas. Tudo em apenas um passeio de uma hora!
Ainda de manhã, ou ao final da tarde, sugiro que vá visitar o Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo – CIART que, como o nome indica, dá a conhecer a riqueza arqueológica desta terra: existem mais de 20 mil gravuras, ao longo de 40 km de ambas as margens do rio, e a maior parte está submersa, o que aconteceu depois da construção das barragens. Lembram-se do “as gravuras não sabem nadar? yo!”.
Curiosidade: é sabido que o maior núcleo de gravuras rupestres da Europa está em Foz Côa, mas Vila Velha de Ródão tem mais e mais diversas… o problema é que estão submersas!
“A arte do Tejo é uma escrita antes da escrita” está escrito numa parede do CIART.
Morada: CIART, Largo do Pelourinho, 6030-212, Vila Velha de Rodão
Entrada grátis
Horário: terça a sexta-feira, das 09h00-12h30 e 14h30-17h30; sábado, 10h00-13h00 e 14h00-18h00
PROPOSTA DE ROTEIRO DE UM DIA EM VILA VELHA DE RÓDÃO
– Visita ao Castelo Rei Wamba com vista sobre as Portas do Ródão
– Visita ao Lagar de Varas
– Almoço no restaurante do cais
– Passeio de barco no rio Tejo, para observação da fauna e flora (e de figuras rupestres, num outro barco com mais tempo)
– Visita ao Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo – CIART
CASTELO BRANCO
O segundo dia de passeio, pela Beira Baixa, passei-o dentro do concelho de Castelo Branco. E a primeira descoberta foi a revisitar a antiga indústria têxtil local no Mutex – Museu dos Têxteis, que fica em Cebolais de Cima. A visita foi acompanhada por ex-funcionários das fábricas locais, o que significa que tive o privilégio de ouvir as histórias na primeira pessoa e pude ver o funcionamento das máquinas e acompanhar todo o processo. Além disso, pude também ver ao vivo como a tradição ainda se perpetua com o trabalho de Ricardo Martinho que trabalha no tear manual e faz as mantas e tapetes (e também bolsas), introduzindo alguma modernidade mas mantendo todo o toque tradicional (algumas peças são verdadeiras obras de arte).
Morada: MUTEX, Avenida Infante D. Henrique, 33, Cebolais de Cima
Horário: terça-feira a domingo, 10h00-13h00 e 14h00-18h00
Depois de um almoço já em Castelo Branco (fui almoçar ao Palitão, onde comi uns muito saborosos filetes de polvo), fui descobrir vários espaços da cidade que ficam apenas a alguns metros uns dos outros. Primeiro fui conhecer uma das maiores tradições locais, no Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco: onde se pode ver as bordadoras a trabalharem ao vivo. Os bordados de Castelo Branco são representativos, com motivos florais e de pássaros que têm significado como símbolos de virilidade, ou de nobreza… é muito interessante descobrir todo a razão da tradição.
Morada: Praça Camões, centro de Castelo Branco
Horário: terça-feira a domingo, 10h00-13h00 e 14h00-18h00
Numa rua acima do Centro de Bordados, fui visitar os dois pólos do Museu Cargaleiro: um deles apresenta uma coleção de cerâmica do mestre (no Solar dos Cavaleiros, um palacete do século XVIII) e o outro edifício mais moderno é onde estão as suas pinturas e outras de amigos artistas, que fazem parte da Coleção da Fundação Manuel Cargaleiro. Aqui estão expostas mais de 300 obras que mostram a vida e obra de Manuel Cargaleiro, pintor e ceramista nascido em Vila Velha de Ródão. Vale muito a pena visitar!
Morada: Rua dos Cavaleiros, 23, Castelo Branco
Horário: terça-feira a domingo, 10h00-13h00 e 14h00-18h00
A alguns minutos a pé do museu, fica a Casa da Memória da Presença Judaica. Não é um espaço muito grande, mas em dois andares conta uma grande história, que é a da presença de judeus (existiram dois grandes bairros judeus em Castelo Branco) nesta região. É também uma forma de homenagear as vítimas da inquisição e mostrar tudo o que está relacionado com os rituais e festividades judaicas.
Morada: Rua das Olarias, 43, Castelo Branco
Horário: terça-feira a domingo, 10h00-13h00 e 14h00-18h00
No passeio pelo centro de Castelo Branco, fui visitar a Sé Catedral, conhecida como Igreja de São Miguel. Este edifício terá sido construído entre os séculos XIII e XIV.
Continuei o passeio e, mais à frente, descobri o bonito espaço verde do Jardim do Paço Episcopal (ou de S. João Baptista), que foi mandado construir pelo bispo da Guarda, D. João de Mendonça, no ano de 1720. Vários lagos, jardins e estátuas (de santos, apóstolos, reis e virtudes, entre outras) fazem deste um local muito bonito e a merecer uma visita sem pressas. Este espaço tem entrada paga, mas em frente está o jardim público, de entrada grátis, com um lago grande, jardim infantil e esplanada… também é um espaço muito agradável.
Curiosidade: no Jardim do Paço Episcopal, o Jardim do Buxo está dividido em 24 talhões e tem cinco lagos, com repuxos, em alusão às cinco chagas de Cristo.
Morada: Rua Bartolomeu da Costa
Horário: abril a setembro, 09h00-19h00; outubro a março, 09h00-17h00
Entrada: 2€; Séniores (+ 65): 1€; Grupo (+12): 1€; Estudantes e Crianças até aos 10 anos: Gratuito; manhãs do primeiro domingo de cada mês: Gratuito
O final deste dia foi reservado um pôr-do-sol (lindo!!) visto de cima do Castelo e das muralhas de Castelo Branco – também é conhecido como Castelo dos Templários e será datado de inícios do século XIII. Tem vista panorâmica para a cidade e também para os montes vizinhos – daí a sua importância geográfica estratégica ao longo de muitos séculos. Daqui se via (e vê) tudo.
O dia terminou em Castelo Branco, já que junto ao castelo está o hotel onde fiquei alojada. Fui jantar ao restaurante Cabra Preta, onde provei o premiado prato de ensopado de veado. Estava excelente!
E se ainda tiver com energia pela noite, poderá ver se lhe interessa algo da agenda do Cine-Teatro Avenida, no centro de Castelo Branco, e aproveitar para assistir a um dos espetáculos ou concertos que por lá vão passar.
PROPOSTA DE ROTEIRO DE UM DIA EM CASTELO BRANCO
– Museu dos Têxteis – Mutex
– Almoço em Castelo Branco
– Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco
– Museu Cargaleiro
– Casa da Memória da Presença Judaica
– Sé Catedral de Castelo Branco
– Jardim do Paço Episcopal
– Assistir ao pôr-de-sol no Castelo
– Jantar em Castelo Branco
OLEIROS
Neste terceiro dia de visita à Beira Baixa, a atenção foi dirigida para o concelho de Oleiros e a primeira paragem foi feita na aldeia de Álvaro, que é mais branca das Aldeias do Xisto. Tem vista para o rio Zêzere e, no tempo mais quente, é muito procurada pela sua praia fluvial com piscina flutuante. Mais à frente, ao fazermos a estrada com o rio à nossa esquerda, apresenta-se um miradouro com um recanto do Zêzere. É uma paisagem deslumbrante onde vale a pena parar e tirar fotografias. Chamam-lhe os Meandros do rio Zêzere, num vale fluvial, e é um dos geosítios do Geopark Naturtejo, classificado pela UNESCO.
A caminho, em Portelo, podem ser vistos fósseis de vermes marinhos com cerca de 500 milhões de anos.
O almoço foi marcado propositadamente para provar o famoso cabrito, um prato muito típico destas terras. A Adega dos Apalaches tem esse prato como especialidade mas há muita mais coisas para provar… e todas boas!
A tarde foi totalmente dedicada à natureza: primeiro com a paragem na maravilhosa vista do Miradouro do Zebro e depois na beleza natural que é também a Fraga da Água d’Alta. Aconselho a irem com tempo para usufruírem o ambiente e a vista de ambos os locais. Para o miradouro, o único problema é onde deixar o automóvel para visitar, por isso, vai ter de andar bastante a pé para o fazer. Na queda de água tem uma área de piquenique. Se quiser parar e aproveitar o melhor local é ali mesmo!
PROPOSTA DE ROTEIRO DE UM DIA EM OLEIROS
– Vista panorâmica sobre os Meandros do Zêzere
– Visita ao Portelo
– Almoço
– Miradouro do Zebro
– Cascatas da Fraga da Água d’Alta
Se desejar saber mais sobre o que visitar ou que fazer pela Beira Baixa, pode descarregar a App e ter também as dicas sempre no seu telemóvel.