A festa na Aldeia Histórica de Marialva, com histórias e sabores

O Ciclo “12 em Rede – Aldeias em Festa” passou pela Aldeia Histórica de Marialva, de 19 a 21 de julho, com encenações históricas, visitas guiadas, atividades, degustações de produtos da região e muita música. À chegada somos convidados a deixar a marca, com base na lenda da Maria Alva, Pés de Cabra. Veja o vídeo:

Entre concertos, visitas e encenações, junto do Mercadinho do Marquês, onde se podia provar e comprar produtos da região, esteve o chef Paulo Ramos, com a sua equipa (Carlos Rego e Miguel Reis) num showcooking onde mostrou receitas simples e criativas usando os produtos endógenos. Os enchidos da D. Zeza, o Mel do Rui, o Azeite Lagar dos Pinos, de Longroiva, e o queijo de cabra de A Queijaria, da aldeia Barreira, foram alguns dos ingredientes usados para as iguarias.

– Conheça as Aldeias Históricas de Portugal –

Assim, no showcooking, o chef Paulo Ramos deu a provar ao público presente:

– Pão da terra, torrado com azeite e orégãos;

– Tarte de amêndoa e mel e outra parte de amêndoa e noz;

– Folhadinhos de maçã da região;

– Bola de enchidos (farinheira, alheira e chouriça) e frutos secos e outra com mel;

– Trouxas de massa filo com alheira e mel e outra com queijo de cabra.

Recentemente foi feito um levantamento da “Gastronomia Identitária das Aldeias Históricas de Portugal”, onde se conseguiu recolher as receitas que a população indicou como as mais identitárias da aldeia de Marialva.
As informações que constam aqui abaixo são desse mesmo estudo:

“A antiga Cidade de Aravor, o principal núcleo do Aravos, fundada no século VI a.C., parece ser a antecessora de Marialva. Os Romanos chamaram-lhe de Civitas Aravorum e os primeiros cristãos mudaram-lhe o nome para S. Justo. Os árabes deram-lhe um nome mais próximo do actual, Malva, e foi em 1063 que Fernando Magno de Leão a denominou de Marialva.

O seu primeiro foral foi-lhe atribuído em 1179 pelo rei D. Afonso Henriques, após as batalhas pela Reconquista, e com ele veio a sua consequente repovoação e tentativa de desenvolvimento. No ano de 1200 foi reconquistada por D. Sancho I e, em 1286, D. Dinis criou a Feira. Um Foral Novo foi concedido em 1512, por D. Manuel I, fazendo de Marialva uma das mais importantes fortalezas de guerra de todo o reino”.

“O Convento de Vilares (ou da Nossa Senhora dos Remédios) foi construído em 1447 próximo da vila, mas em 1834, com a supressão das Ordens religiosas, o convento ficou desabitado e os seus artefactos de valor religioso e artístico foram distribuídos pelas terras vizinhas, onde Marialva se inclui.
O concelho de Marialva foi extinto e passou a pertencer a Vila Nova de Foz Côa em 1855. Mais tarde, em 1872, foi englobada no concelho de Mêda.”

Sobre a alimentação, revela o levantamento da “Gastronomia Identitária das Aldeias Históricas de Portugal”:

“Marialva era terra de dois ou três fidalgos ricos. A restante população, trabalhando para esse fidalgos vivia no limiar da pobreza e de alguma misericórdia. Batatas e couves e algum pão seriam a maior parte da dieta quotidiana. Muitas vezes os mais desfavorecidos combatiam a fome com alguns produtos que cresciam espontane- amente. É o caso das azedas, planta verde que cresce nas rias durante a época das chuvas de Fevereiro e Março, que eram cozidas e servidas frias com batatas cozidas e esmagadas e temperadas com azeite ou outras vezes comidas cruas. Outra planta era o espargo bravo que era cozinhado com ovos num género de omelete.

A produção actual baseia-se na batata, hortaliça e vinha. Há ainda quem preserve as poucas oliveiras que herdou da família para garantir o azeite e a azeitona para o seu dia-a-dia. Das receitas mais antigas ainda se fazem os grelos à pobre (que an- tigamente, muitas vezes, se comiam sem o farinheiro cozido), o cabrito e o coelho.

Os enchidos feitos no início do ano, para além dos farinheiros e chouriças, eramos moiros, o palaio, a bexiga e a chouriça buxana. Na altura da matança do porco, eram repartidos por todo o ano, tal como as carnes de salgadeira. Em relação aos doces, o tradicional arroz doce e leite creme, ambos com leite de ovelha, as filhós de joelho, os bolos de ovos e os biscoitos são apenas alguns exemplos”.

A Gastronomia

“É na gastronomia que se realçam algumas características da população. Os gostos simples, mas apurados, tornam os enchidos, o cabrito e o cordeiro assados, a Feijoada o Cozido à Portuguesa, nos pratos característicos desta vila. Mas a “Papalaverça” (água, farinha, alface ou caldo partido, azeite e sal), as Raivas (bolinhos de amêndoa), as Filhós de Joelho, as Rabanadas, os Biscoitos de Leite (farta brutos), Cavacas de tigela, os Folares Golos da Páscoa e o Docinho da Meda também são especiais.

Há ainda outros pratos típicos tais como Caldo Verde, Sopa à Lavrador, Serrabulho de sangue de porco, Farinheira com Grelos e Batata, Perú Recheado com Castanhas e Miúdos, Esparregado (nabiça desfeita com azeite fervido em alho) e Grelos à Pobre (grelos esmagados com batata, acompanhados de farinheiro ou torresmos). Dos enchidos podem referir-se o Salpicão (lombo de porco em vinho e alhos), a Chouriça (carne de porco em vinho e alhos), a Farinheira (carne de porco, frango, coelho e pão), a Moira (sangue de porco, orelheira, focinho do porco e cebola refogada, tudo em vinho e alhos) e o Palaio (rabo de porco, orelheira, focinho temperados com vinho e alhos).

Sopas e saladas sempre foram importantes nesta região. As “hortaliças silvestres” eram uma forma de combater a fome e aproveitar os bens que a natureza produzia de forma espontânea. Beldroegas, meruges, agriões, azedas, galulas, rabaças, bredos e espargos eram verduras bravas usadas na alimentação. Havia ainda os míscaros e os tartulhos que eram guisados ou apenas assados.

O pão caseiro era confeccionado conforme a situação económica de cada um e consequentemente o tipo de cereal que podiam adquirir: pão centeio (pão de centeio), poia (pão de trigo), broa (pão de milho), meado (pão de mistura de várias farinhas), triga-milho (pão de trigo e milho) e a sêmea (pão de farinha de trigo e cevada”.

PRATOS EM DESTAQUE

• Bacalhau assado na brasa
• Cabrito guisado
• Papas
• Filhós
• Rabanadas
• Cavacas
• Esparregado de Favas (com história da avó)
• Grelos à pobre

PRODUTOS GASTRONÓMICOS DIFERENCIADORES

• Esparregado de Favas (com história da avó)
• Grelos à pobre
• Amêndoas (ritual de apanhar e partir amêndoas)
• Vinha

RECEITA DE CABRITO GUISADO

Ingredientes:
Cabrito, alho, louro, colorau, cebola, azeite, sal, vinho, batatas

Modo de preparação:
Faz-se o refogado e junta-se-lhe o cabrito já com o sal. Deita-se o vinho, o alho, o louro e o colorau. Fica a guisar até o cabrito estar passado. Mexe-se e deixa-se apurar o molho. Serve-se com batatas cozidas.

Receita de Papas

Ingredientes:
Papas de milho (sêmola de milho), água q.b., carne de porco, sal

Modo de preparação:
Lavam-se as papas e põem-se a cozer em água. Temperam-se com sal. Deixam-se cozer até ficarem grossas. Quem gostar pode juntar uns bagos de arroz. Comem-se com carne de porco cozida ou guisada.

Nota: As papas de milho doces levam leite em vez de água e açúcar a gosto a substituir o sal quando estão quase cozidas. O modo de preparação é o mesmo.

Receita de Doce de amêndoa

Ingredientes:
4 ovos batidos, 0,5 kg de açúcar, 0,5 kg de amêndoa (bem picada com a casca) e alguma lascada.

Modo de preparação:
batem-se bem todos os ingredientes. Num tabuleiro fazem-se montinhos de massa, envolvem-se com a amêndoa lascada e vai a cozer.

Receita de Doce de abóbora com amêndoa

Ingredientes:
600 g de açúcar, 1 kg de abóbora, amêndoa a gosto, 2 paus de canela

Modo de preparação:
Desfia-se a abóbora e junta-se o açúcar. Fica assim de um dia para o outro. Leva-se ao lume com o pau de canela até fazer ponto de estrada. Quando está quase frio junta-se amêndoa lascada. Enfrasca-se no dia seguinte, quando já está bem frio.

Queijo de Ovelha

Ingredientes:
5 l de leite, cardo

Modo de preparação:
Depois da ordenha, coa-se o leite e mistura-se-lhe o cardo. Fica a coalhar durante meia hora. Depois de coalhado, vai-se deitando a coalhada no cincho, e vai-se espremendo com a mão. À medida que vai reduzindo, aperta-se o cincho. Coloca-se uma pedra por cima. Fica assim mais ou menos durante duas horas. Depois coloca-se o sal de um lado e de outro. No dia seguinte retira- se a pedra e o cincho e fica a secar. Pode comer-se fresco ou curado.

A festa só acaba em dezembro!

O ciclo “12 em rede | Aldeias em Festa 2019” só termina em dezembro! Depois de Marialva, a festa segue para Castelo Novo, de 26 a 28 de julho; Castelo Rodrigo, de 6 a 8 de setembro; Castelo Mendo, nos dias 27 e 28 de setembro; Trancoso, de 11 a 13 de outubro; Idanha-a-Velha, de 1 a 3 de novembro; Monsanto, de 8 a 10 de novembro; Almeida, nos dias 29 e 30 de novembro; e Belmonte, de 27 a 30 de dezembro.

Sobre a Rede das Aldeias Históricas de Portugal

Perdidas entre montes e vales da verdejante paisagem do interior de Portugal, repletas de lendas e castelos, sabores e tradições, há 12 singelas aldeias onde apetece perdermo-nos, para nunca mais nos encontrarmos. Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso: as Aldeias Históricas de Portugal, um destino que são 12, são paraísos escondidos que nos levam numa viagem ao tempo de reis e rainhas, épicas e infinitas batalhas que escreveram a História como a conhecemos hoje.

Viajar até às Aldeias Históricas de Portugal é, assim, descobrir a História de um país de temerários conquistadores, através das pedras das suas calçadas e das suas frondosas muralhas e castelos, orgulhosa e imponentemente erguidos. É, ainda, a garantia de momentos inesquecíveis de lazer, aventura e descoberta, temperados com os inigualáveis aromas e sabores da região, que compõem a sua típica gastronomia. No território das Aldeias Históricas de Portugal há um sem fim de trilhos para caminhadas e percursos de bicicleta e BTT – como a Grande Rota 22 (GR), a maior rota de Walking & Cycling em Portugal, com cerca de 600 km.

As Aldeias Históricas de Portugal são o primeiro destino em rede – à escala mundial –, e o primeiro destino nacional a receber a certificação BIOSPHERE DESTINATION.