Duas semanas a viver na Aldeia do Juízo (Casas do Juízo)

Fez duas semanas que estou a viver na Aldeia do Juízo, Pinhel (distrito da Guarda), mais propriamente nas Casas do Juízo… e o que mais me perguntam é se não sinto falta da cidade. Não, não sinto! Sinto que todos nós, citadinos que não paramos, que andamos sempre numa roda viva, devíamos fazer esta experiência de ficar num sítio onde o mais difícil é… desacelerar!

Pelo menos uma vez por ano, devíamos forçar-nos a fazer este recomeço: deixar de ter muitas coisas para fazer e nunca termos tempo para as fazer todas. Têm esse sentimento? E tem sido tão proveitoso mudar de ares (e os daqui são tão bons!), parar um pouco (continuo a trabalhar), e ficar somente a desfrutar da aldeia, das casas, da piscina, das caminhadas em redor, do património natural, descobrir outras aldeias… desfrutar do acolhimento que as gentes da aldeia nos dão!

Como disse, aqui o primeiro (e maior) desafio é desacelerar. Trouxe o trabalho comigo, mas tenho criado momentos e dias em que vou visitar as aldeias próximas e as Aldeias Históricas de Portugal. Pôr o computador de lado e ir, só porque sim, à Aldeia (sim, há uma aldeia que se chama Aldeia, aqui perto) ver o pôr -do-sol, foi um dos momentos especiais dos meus dias por aqui. E eu adoro um pôr do sol inebriante…

Ir com os meus anfitriões das Casas do Juízo (Sr. José e D. Isabel) apanhar amêndoas diretas da árvores – sabem que nunca tinha comido amêndoas diretamente das árvores?? – e parti-las no meio do monte, com a ajuda de pedras, para depois provar a sua frescura… é de facto incrível o que tenho aprendido e as coisas simples que podemos fazer aqui e nos enchem a alma.

Num dos domingo juntei-me às gentes do Juízo. Fui tentar aprender a jogar ao Chincalhão – eu até sei jogar alguns jogos de cartas, mas não consegui aprender este, com tantas “cartas” e regras diferentes – mas, diga-se de passagem, não fui muito bem sucedida. E, depois, fui pôr a conversa em dia com algumas das mulheres da aldeia, que descansavam num banco de pedra, depois de um dia muito quente. Falámos de tudo e de nada – enquanto fazíamos festas aos cães, que nos saltavam para o colo e disputavam a nossa atenção – mas sobretudo ficámos surpreendidos com a memória da D. Adélia, que faz 95 anos ainda este ano (na foto à direita).

E quando vos disserem que nada se passa no interior de Portugal… não acreditem! Desde que aqui cheguei, no fim do mês de junho, tem havido sempre festas nas Aldeias Históricas de Portugal e tanto a Beira Alta como a Beira Baixa têm eventos nas cidades e aldeias, durante todo o verão. Há sempre algo para fazer! Tinha de deixar o trabalho totalmente de parte para conseguir ir a tudo o que gostaria!

Se num dos dias fui ver como se apanha cardo para fazer o queijo… (confesso que nem sabia da existência dessa planta!), na outra manhã estou a ver o sr. Justino a ceifar o milho… E até houve aqui na aldeia uma recriação da malha do centeio, organizada pelas Casa do Juízo! E, como se não fossem atividades suficientes, organizaram também um concerto privado para os habitantes do Juízo – e alguns convidados de fora – na piscina da Casa do Juízo! O espetáculo de música e poesia contou com os artistas da região Suzete Marques e Ângelo Marques. Foi um momento único e inesquecível! Podem ver mais deste meu dia-a-dia nas histórias do Instagram (tem um Destaque para as Casas do Juízo) e na página do Facebook.

Todos os dias há coisas novas para aprender: aprendi a identificar as árvores e plantas que ainda estão a crescer… nunca tinha visto um grão-de-bico, em planta, e também nunca tinha visto quão bonita é a folha da melancia. E também não sabia que as figueiras dão fruto duas vezes por ano…. Suponho que sou uma, assumida, ignorante rural! E há todo um léxico novo para acompanhar: o rolheiro, coanhar, o apeguilho e o gado que acarra… num futuro texto prometo explicar.

Na Aldeia do Juízo, com pouco mais de uma dezena de habitantes, a pessoa mais nova tem 33 anos e a mais velha 94. A placa dos CTT e Telefone continua pendurada numa casa onde, recorda-se o Sr. José Guerra, se chamavam as pessoas para irem ao telefone, enquanto se faziam as ligações, através de operadoras.

Se a revitalização de muitas das casas da aldeia (grande parte pelas Casas do Juízo) lhe trouxe um ar de agora, por outro lado a senhora que passa com as ovelhas no meio da rua, leva-nos ao passado não muito distante… aqui ainda se trabalha o campo de sol a sol e ainda se vive com o que o campo dá. Mas há muito desejo que venha mais gente: “Vem para cá viver, menina Susana? Precisámos de gente aqui!”, dizem-me.

E as Casas do Juízo o que mais convidam é a relaxar. Há aqui uma acalmia que, para mim, é fora do normal… nunca senti isto noutro lado: é algo que nos transporta para uma paz interior fantástica. Dizem-me que há “muita gente da cidade que, quando vem para cá, não aguenta o silêncio” ou, então, “diz que há muito barulho” – como é tão grande o silêncio ouve-se tudo em nosso redor, até os nossos pensamentos… e isso pode ser assustador.  De facto, o silêncio na aldeia é grande e com isso podemos ouvir melhor os pássaros, os chocalhos das ovelhas escondidas na vegetação alta, o vento a soprar as folhas das árvores, as abelhas de flor em flor… e tudo isso tem-me trazido uma ligação à natureza, que já não me recordava sequer que existia.

Poder ter ovos das galinhas da aldeia, ir colher folhas de alface, courgete e tomates ao quintal, e os doces figos sacados das árvores… são luxos que só aqui percebi quão importante é tê-los. São coisas tão boas que nos dá a vida na aldeia… que quase até nos esquecemos que não há sítio nenhum para fazer compras. Que o homem do pão, que buzina desenfreadamente na carrinha, quando chega ao centro do Juízo, só cá vem de dois em dois dias e que para compras maiores só em Pinhel, que fica a uns 15 minutos de carro… Mas isso também faz parte do encanto de morar na aldeia do Juízo.

E se estão a pensar ainda onde vão passar as vossas férias… aquelas que andam a prometer para vocês próprios que “para a próxima vou descansar ainda mais”. Não precisam de procurar mais… é mesmo aqui nas Casas do Juízo. Entre a piscina, a leitura de  livros, as visitas a aldeias, a gastronomia regional (e pode reservar os petiscos com a Taberna do Juiz que fica aqui na aldeia, com o serviço tão especial do André e da Daniela)…   Precisam de mais argumentos ou já estão convencidos?