O início da nossa rota dos Caminos de Pasión começou em Utrera, a cerca de 35 quilómetros de Sevilha, em Espanha. Uma cidade que preserva as suas tradições e que merece uma visita mesmo sem ser nas datas das suas maiores festas – já que esta é uma das cidades que faz parte do roteiro da Semana Santa.
Utrera tem cerca de 53 mil habitantes e uma área rural muito grande. Não vai ser preciso ter muita atenção para se aperceber que esta é uma cidade com muitas famílias. Há imensas crianças a brincarem nas ruas e inúmeras famílias a passearem com os bebés nos carrinhos. Depois da nossa observação, confirmam-nos mesmo que é uma cidade com muitas crianças e onde muitas famílias decidem se estabelecer, pela sua qualidade de vida.
Os primeiros dados de Utrera, com rigor histórico, são apresentados na Reconquista Cristã. Durante os século XIV, XV e XVI teve um papel importante na prosperidade da região, com imensas obras públicas. Uma data marcante: a 29 de março de 1877 consegue o seu título de cidade, ainda durante o reinado de Afonso XII.
Começamos a nossa visita no Santuário de la Consolación (dos séculos XVII e XVIII), padroeira de Utrera. É classificado Monumento Histórico e Artístico, de caráter nacional, desde 1982. Até ao século XVIII concentraram-se aqui milhares de pessoas mas, a partir de 1771, foi perdendo a sua força. Em 1870 era um local que estava abandonado e em ruína, e que depois foi recuperado.
No seu interior sobressai o altar mor com a imagem da Virgen de la Consolación, de manto azul, que está muito ligada ao mar e por isso é conhecida como “La del barquito”, tendo aliás um barco pequenino numa das suas mãos.
Pode ir ver a virgem de perto, no andar superior, nas traseiras. Segundo a tradição, entra-se pelo lado esquerdo, vê-se a Santa (e muitos tocam-lhe) e sai-se pelo lado direito.
E como surgiu a história? Conta a lenda que uma embarcação estava a afundar e só encontraram os marinheiros depois de pedirem à santa. Desde aí vários peregrinos vem fazer as suas promessas a este santuário.
Numa das salas estão as imagens de todas as Virgens de Espanha, trazidas pelos peregrinos vindos de vários locais. E uma parede está repleta de quadros onde estão narrados os milagres desta virgem (foto acima).
Em frente ao Santuario de la Consolación está um jardim onde pode encontrar cinco estátuas de artistas flamencos. Estamos, aliás, na terra onde nasceram nomes conhecidos como Enrique Montoya, entre outros.
No coração da cidade está a Plaza del Altozano, com edifícios antigos, restaurantes e cafés, e monumentos (igrejas). Crianças passam aqui a correr e a brincar, enquanto os adultos relaxam nas esplanadas. É um ambiente muito familiar, mesmo sendo um final de dia à semana.
Para os mais gulosos têm aqui, nesta praça, a possibilidade de experimentarem – e comprarem – os famosos Mostachones de Utrera, na pastelaria Diego Vázquez, fundada em 1880. São uns doces fofos, com cheirinho de forno a lenha, e sabor a canela.
Com o negócio na família há cinco gerações, é a família mais antiga a fazer estes doces tradicionais (“sem corantes, nem conservantes” diz-nos rapidamente a funcionária) e mantém os sacos ao estilo antigo, quase vintage com a frase que afasta a concorrência: “Não compre imitações”.
Junto da Plaza del Altozano está a Igreja jesuíta de San Francisco (do ano 1645) que é a sede da Irmandade de Vera Cruz y Santo Entierro.
Aqui perto vai também encontrar a Passagem del Niño Perdido (passagem do menino perdido) onde se entregavam os bebés (que não podiam ficar a cargo das mães) aos cuidados das freiras de um convento, que aqui existiu.
O arco ainda marca esse local (com azulejos do Niño Perdido), que faz parte do antigo bairro judeu, que tão completo que teve uma sinagoga, hospital e cemitério.
Atualmente, o bairro é um local com habitações familiares, bares e restaurantes de tapas, como é o caso do Besana Tapas, um dos mais galardoados de Utrera.
O Ayuntamiento de Utrera tem dos salões mais bonitos: alojado no antigo Palácio Conde de Vistahermosa. No século XIX passou para as mãos de Enrique de la Cuadra, que criou um salão árabe, repleto de dourados, e um espaço japonês como salão de baile. Pode visitar estes salões fazendo a marcação no Posto de Turismo de Utrera (ou contactar por e-mail antes).
Aqui, próximo do centro, está o Teatro Municipal Enrique de la Cuadra (datado de 1887) e passamos à sua porta para irmos ter à casa e ateliê de Encarnación Hurtado. Esta pintora e escultora, é uma das mais importantes artistas de arte sacra em Utrera, responsável por inúmeras imagens e estátuas que fazem parte da Semana Santa. Pode marcar com a própria artista para ficar a conhecer o seu trabalho e ateliê.
Utrera mantém a recuperação da torre do seu castelo do século XIII perto da Iglesia de Santiago El Mayor (do século XIV), de estilo gótico. Nas traseiras desta paróquia está o Hospital de la Santa Resurrección (de 1514) conhecido como El Hospitalito.
Já a anoitecer, pelo caminho de ruas estreitas, muito limpas e organizadas, descobrimos a Casa da Cultura, com um bonito pátio árabe, com fonte central, e cartazes antigos das festas de Utrera, desde 1923. Também pode entrar aqui gratuitamente.
Subindo a mesma rua vamos dar à gótica Iglesia de Santa María de la Mesa (do século XV), com uma torre na parte alta da urbe, que faz com que seja vista de várias partes da cidade.
FESTAS EM UTRERA
– Páscoa: a Semana Santa prolonga-se com eventos durante vários dias (há 12 procissões durante a semana)
– Fevereiro: Festival Tacón Flamenco
– Maio: Romaria e peregrinação de Fátima
– Junho: Festival de flamenco “El Potaje de Utrera”, que existe desde 1957, sendo o festival de flamenco mais antigo de Espanha
– Junho: Festa de San Juan
– 8 setembro: Festas da Virgen de la Consolación (prolongam-se durante vários dias com festa)
– Novembro: Festival Flamenco del Mostachón
ONDE COMER EM UTRERA
No final do dia de passeio em Utrera, fomos ao Restaurante El Arco – o mesmo dono tem em frente um outro restaurante – na calle San Fernando, 35 (ao lado do Arco de la Villa) em Utrera.
No jantar, começámos com uma base da Inês Rosales (como um doce) com compota de tomate e bacalhau e amêndoas torradas. Seguiram-se as setas com queijo gratinado presunto e vinagre balsâmico, pequenas alfaces com presunto e camarões, croquetas e gambas com alho. Veio ainda um peixe grelhado e batatas. Para a sobremesa, veio uma mistura de vários bolos locais (todos bons) para provarmos todos do mesmo prato. Tudo estava excelente e foi uma das melhores refeições que fizemos na Andaluzia.
Sugestões de outros locais para comer em Utrera:
– o Besana Tapas (Calle Niño Perdido, 1), que já referimos mais acima, e que é um local de gastronomia criativa, com o trabalho dos chefs Curro Noriega e Mario Ríos.
– Restaurante Santo Domingo (Plaza Porche de Santa María, 7) frente à Igreja de Santa María de la Mesa e, aliás, com vista do seu jardim para uma parte do monumento religioso.
– uma rua abaixo da Igreja de Santa María de la Mes, está o na rua está o café/restaurante El Ambigú também com tapas baratas.
ONDE DORMIR EM UTRERA
Existem vários locais para ficar alojado em Utrera – pode ver várias sugestões aqui.