O texto da jornalista Susana Ribeiro, fundadora do Viaje Comigo, foi um dos selecionados para fazer parte do livro “Around the World in 80 pages”, da Navigator. Se bem se recordam houve um passatempo e nós participámos também! 😀
O livro não está à venda e só foi oferecido aos 80 finalistas, que lá têm textos publicados. Foram mais de 500 participações, das quais saíram essas 80 histórias.
Todos os textos estão em inglês, já que o passatempo e a promoção foram feitos a nível internacional.
As fotografias que enviámos para o passatempo acabaram por ser secundárias. E ainda bem!! Já que – e é a parte mais bonita – cada história teve direito a uma ilustração (lindíssima) de Mário Linhares e Ana Paula Xavier.
A nossa representa o Ksar Ait-Ben-Haddou, em Marrocos, e um rapaz a segurar um cordeiro. Não ficou espetacular? (fotografia abaixo)
A apresentação e entrega dos livros teve direito a uma cerimónia em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, onde ficou, durante alguns dias, uma exposição com os textos e ilustrações que faziam parte do livro.
Parabéns à Navigator pela iniciativa e por ter dado “voz” às histórias de quem gosta de viajar. Abaixo encontra o texto de Susana Ribeiro, em inglês e português.
TEXTO EM INGLÊS
Título: Amazing journey in Morocco
Mohamed is looking rather introspective. Sitting on a rock, with his black djellaba, he’s staring at the infinity.
Leaving Marrakesh, on our way to Ouarzazate, we stop at the stunning Ksar Ait-Ben-Haddou, in the High Atlas. The atmosphere of this place, from the 7th century, exhales an inner peace that is indescribable.
But Mohamed, our guide, is concerned. “Tomorrow starts the Eid Al-Adha and I am not going to be with my family, since I’m with you guys… would you like to go with me?”
The Sacrifice Party commemorates the end of the pilgrimage to Meca, and the Muslims celebrate it with their families. “We would be honoured”, I said to Mohamed, who told his plans for the following day.
In the first day, everyone puts on their best clothes and prays, then the lamb sacrifice is made. In a way, it reminded me of how Christians celebrate Easter. In Portugal, we also reunite with our families, we wear nice clothes and we eat kid goat – we don’t kill it, but someone does that for us…
To Muslims, the sacrifice reminds them of Abraham’s story: he was about to sacrifice his son when God put a lamb in his place, which was killed instead of Ismail. After the sacrifice, the meat is cooked by the families and shared with their neighbours and with the poor. The lambs are sacrificed in the streets, but not everyone watches.
The men wander around in their white vests and the children, in the centre of Ouarzazate, ask for candies at their neighbours’ doors. The kids dance and play, once the schools are closed. As a matter of fact, on the second day it was very difficult to find any place open.
The festivity continues and the families are reunited, so hardly anyone works. However, we are waiting at Tinfou’s Dunes with the dromedaries. After the stroll, we observed one of the biggest natural challenges: a sandstorm that in minutes approached us. Seconds, maybe? We were saying goodbye and we had to jump into the van. But it was too late! We already had sand in our mouths, eyes and everywhere! We didn’t even taste the typical moroccan tea, as we were meant to. What an adventure! The amount of sand flying was unbelievable… we couldn’t see a metre in from of us!
Amidst the storm two men were calmly walking through the camp “This is normal, it will be ok in a minute”. And so it was!
The best trip for me? It is always the one in which I can participate in other cultures and become more open-minded with other ways of living… And Tolerance brings Peace to the World. Happy travels!
TEXTO EM PORTUGUÊS
Aventura em Marrocos
Mohamed está pensativo. Sentado numa pedra, com a sua veste preta, olha para o infinito. Partimos de Marraquexe, a caminho de Ouarzazate, e paramos no arrebatador Ksar Ait-Ben-Haddou, no Alto Atlas. A tranquilidade deste lugar, do século VIII, traz uma paz de espírito indescritível.
Mas a Mohamed, nosso guia, há algo que o inquieta. “Amanhã começa o Eid Al-Adha e não vou estar com a minha família, porque estou convosco… gostavam de ir comigo?”. A Festa do Sacrifício, marca o fim da peregrinação a Meca, e os muçulmanos celebram-no com a família. “Seria uma honra”, digo-lhe. Entusiasmado, Mohamed contou-me logo os planos para o dia seguinte.
No primeiro dia, todos vestem as melhores roupas e realizam orações, depois é feito o sacrifício do carneiro. De certa forma, fez-me lembrar a forma de como os cristãos celebram a Páscoa. Em Portugal, também nos reunimos em família, vestimos as melhores roupas e comemos cabrito – não o matamos… mas alguém o faz por nós.
Para os muçulmanos, o sacrifício pretende recordar a história de Abraão que ia sacrificar o filho, mas Deus colocou um carneiro no seu lugar e este foi morto em vez de Ismail.
Depois de feito o sacrifício, a carne é cozinhada pelas famílias, que dão também a vizinhos e aos mais pobres.
Nas ruas sacrificam-se os carneiros, mas nem todos assistem. Os homens passeiam as vestes brancas, e as crianças, no centro de Ouarzazate, procuram doces à porta dos vizinhos. A miudagem dança e brinca nestes dias em que as escolas estão fechadas.
Aliás, no dia seguinte, difícil era encontrar locais abertos. A Festa continua, as famílias estão reunidas e, por isso, poucos trabalham. No entanto, esperam-nos com os dromedários, nas Dunas de Tinfou. Depois do passeio, assistimos a um dos maiores desafios da natureza no deserto: uma tempestade de areia que se aproximou em poucos minutos. Segundos, talvez?
Estávamos a despedir-nos e tivemos de saltar para dentro da carrinha. Já era tarde! Já a areia estava na boca, nos olhos e em todo o lado. Nem tempo tivemos para o habitual chá marroquino no final. Que aventura! A areia era tanto a voar que não se via um palmo à frente. Ainda no meio da tempestade consegui ver alguns dos homens no acampamento, a caminharem como se nada fosse. “Isto é muito normal. Daqui a pouco já passa”. E assim foi!
A melhor viagem? É aquela em que participamos nas vidas das pessoas e trazemos maior abertura para as diferentes culturas do mundo. E… abertura e tolerância geram Paz. Boas viagens!