A ilha de (Joal-)Fadiouth, no Senegal, conhecida como a Ilha das Conchas é mesmo algo incrível. Quando nos falam de uma ilha feita de conchas, é difícil de imaginar que alguém lá viva. Mas aqui vivem mesmo mais de 9 mil pessoas, e são maioritariamente católicos – ao contrário do resto do país. Por isso, não estranhe se vir muitos porcos e os seus leitõezinhos por todo o lado, inclusive a tomarem banho no lago.
As ruas são feitas de conchas, grandes e pequenas, e sendo um local turístico tem muitas lojinhas de artesanato. Durante anos e anos, as conchas dos moluscos apanhados nesta região foram aqui acumuladas e deram origem a esta ilha artificial. As casas são também feitas, em parte, com as conchas – ou, pelo menos, alguns tijolos têm conchas incluídas.
Para chegar à ilha vai ter de atravessar uma longa ponte pedonal de madeira. E antes de chegar ao outro ponto já está a conviver com a população: os cavalos e carroças que passam por nós e nos perguntam de onde somos; as crianças que saem da escola e nos pedem “cadeaux” (os presentes que os turistas dão podem ser desde canetas a rebuçados, etc).
Ainda mais curioso, e visitado, é o cemitério que também é coberto de conchas. Além de ter as campas cobertas de conchas é um cemitério muito sui generis porque é considerado um cemitério misto, em que católicos e muçulmanos estão enterrados lado a lado. É fácil de perceber quais são: as campas dos católicos têm cruzes e os outros não. E é um sentimento de tolerância e paz religiosas que este lugar transmite.
A vista do cemitério, por incrível que pareça, é muito bonita sobre o delta do Sine Saloum. Ao longe, podemos ver umas construções de palha (como se fossem espigueiros), que estão em cima da água: serve para os bichos (como ratos, por exemplo) não atacarem os cereais que a população guarda para se alimentar.
A primeira diferença da ilha Fadiouth, além das conchas, é verem-se porcos! Num pais de (maioritariamente) muçulmanos é fácil de perceber onde estão os cristãos. É onde estão os porcos – há leitoezinhos na rua a mamar da mãe porca.
Passeeei pela rua e há crianças a descansarem numa sombra, numa rua limpa, onde não há um único papel ou plástico no chão. Há inclusive, uma pilha de panelas pousada no chão, por cima das conchas.
Infelizmente nem toda a ilha está imaculadamente limpa como esta rua. O vento leva os plásticos e papéis do que comem e se entranham no chão e na água. Mais à frente, junto à árvore de baobá, está um monumento dedicado à Sagrada Família.
De regresso a terra firme, não fazemos as duas pontes, mas antes optámos por fazer a viagem de barco (piroga) enquanto vemos um grupo de homens todos vestidos de branco, em direção ao cemitério, depois dos sinos da Igreja ter dados uma série de badaladas: era um funeral onde só homens participam. Perguntámos o porquê de as mulheres não irem nesse cortejo fúnebre: “acho que tradicionalmente se condenar que as mulheres são mais frágeis e assim os homens estão a protegê-las da tristeza do funeraL, ao irem só eles”, explica-me o nosso guia.