Na minha viagem à Tanzânia, em África, tive contacto direto com a tribo Massai (ou Maassai). Este grupo étnico africano de nómadas – agora seminómadas, quando a pastagem seca, podem mudar de casa – que vive na Tanzânia e Quénia. Estima-se que sejam mais de 840 mil espalhados, em várias aldeias, ao longo do Vale do Rifte.
OS MASSAI
A religião dos Massai é animismo monoteísta, e a cor “oficial” é o vermelho, podendo estar representado em tecidos grandes ou em algo pequeno. A verdade é que o vermelho está sempre presente, nem que seja num pormenor.
A shuka. O que é? É o pedaço de tecido aos quadrados, usado como roupa pela tribo Masaai. Conta a história, que foram introduzidas durante a época vitoriana, sendo que os ingleses usavam os tecidos como moeda de troca, e assim foram ficando. Claro que, hoje em dia, os tecidos vêm maioritariamente da China…
A visita aos Massai foi uma das primeiras atividades que fiz quando estive na Tanzânia. E tivemos a sensação de estarmos num espetáculo encenado para turistas. Mas, vale a pena? Estamos a deturpar o turismo?
Bem. Vamos por partes. Não adianta que, depois de termos feito a visita, venhamos como salvadores da pátria dizer que não devia existir. Estivemos lá, vivemos aquilo e agora não queremos que va lá mais ninguém… será justo? Quero que o turismo caminhe sempre para um meio termo, que não deturpe a cultura local. Até, o melhor será que melhore o nível de vida, porque o contacto com outros povos pode ser benéfico para eles também. Uma vez que são tribos bastante fechadas entre si.
Vou-vos dar um exemplo concreto: nos meus tours em Marrocos visitámos os nómadas do deserto do Saara. E, em vez de darmos dinheiro, levamos coisas para as crianças (brinquedos, livros, etc) e fazemos compras de comida para os pais e toda a família. As crianças nómadas não vão à escola, as mãe trata da casa e filhos, e o pai anda a pastar cabras e a vender burros, etc.
Muitas vezes pensei em que como o nosso turismo poderia influenciar negativamente no modo de vida deles. Porque mudámos a sua rotina. E, na verdade, eles eram nómadas porque tinham de procurar locais mais férteis, mas agora têm dinheiro/ou comida/ou ajudas do turismo também. E têm poços de água que foram colocados por comunidades e investimentos estrangeiros.
Em Marrocos, no início. começaram por nos oferecer só chá, como boas-vindas. E agora passaram a fazer um pão. Quentinho, acabado de fazer, para receber as visitas.
Conheço crianças desde que são bebés e agora já são mais crescidas. E todos os turistas perguntam o mesmo: as crianças vão à escola? Não, não vão. Ficavam todos desapontados, sobretudo quando se vê o grau de inteligência de alguém cujo dia a dia é no meio do deserto. Onde vão buscar a imaginação, para os desenhos que fazem?
Algumas das crianças já se habituaram tanto à nossa presença, que recebem os brinquedos e ficam junto de nós. A brincar e a pintar. Das última vezes, levei cadernos para colorir. E reparei que Moina, uma menina que conheço desde que tem 2 anos, já sabia pintar muito bem… Outros turistas já lhe tinham levado também livros.
Olho para ela e penso que oportunidades lhe passarão ao lado… a ela e ao irmão… sempre a viver ali. E daqui a poucos anos está prometida num casamento que não escolherá.
Este ano, quando os fui visitar em setembro, as crianças não estavam. Perguntei onde andariam. Quando me responderam que estavam na escola fiquei emocionada. Nem queria acreditar, primeiro. Afinal, o impacto do turismo nos nómadas também tem este lado bom. Pais analfabetos e trabalhadores no deserto, que pastam animais, mandaram as crianças para a escola, porque entendem que educação e o conhecimento são o melhor que eles podem ter nesta idade.
O meu guia levou-me junto da escola, na aldeia, onde eles estavam, de mochila às costas à nossa espera. Aí sim, fiquei verdadeiramente emocionada. Ver a Moina, uma menina nómada que vi crescer, ir à escola é algo que nunca pensei ver. Espero a partir de agora, contribuir com o material que eles precisarem para continuarem a ir à escola.
Serve esta história de Marrocos para falar também dos Massai. Como me contou o meu guia da Tanzânia, a transformação de muitos lugares em parques nacionais – vedados a habitações e aldeias; em Ngorongoro estão muitos – colocaram os Massai numa situação difícil, sem tanta escolha de terreno e já não têm tanto gado. A classe social é marcada pela quantidade de vacas que tem a família. Já não têm assim tantos locais férteis para se estabelecerem e criarem o seu gado. E nesse sentido têm-se voltado mais para o turismo. Fazem as danças, mostram-nos as casas e vendem-nos o seu artesanato.
AS DANÇAS
Se dançam para os grupos de turistas? Dançam! Para vários grupos seguidos. São grupos grandes e o dinheiro é distribuído por todos. Se uns escolheram dançar, outros estarão a pastar o dia inteiro. Para eles, tornou-se uma profissão também. Dar 2€ só pelo espetáculo, pode ser um café e um pastel de nata para nós, e para eles significar uma semana de comida.
Abrem-nos as “portas” à sua comunidade, às suas famílias. Se podemos retribuir essa simpatia, é ajudando com dinheiro. “Esta é a minha mulher”, diz o meu guia na aldeia, mostrando orgulhoso a mulher grávida do terceiro filho. A receção é feita com as danças e cantares. Depois fazem os saltos. Nas tribos, os que saltam alto são considerados os mais valentes… e também acabam por impressionar as mulheres.
Depois de uma demonstração, tanto de homens como mulheres, com danças e saltos, em que somos convidados a participar, levam-nos para conhecer a aldeia. Dividem-nos pelas várias casas, para que a gorjeta seja mais individualizada. Cada duas pessoas tem um guia, que nos leva a sua habitação.
As cabanas, circulares, são construídas com barros e fezes de vaca – tranquilos, que secas não cheiram a nada – e, à noite, as vacas são guardadas no centro da aldeia que tem uma vedação (estacas pontiagudas) para as proteger de animais selvagens… que não são poucos na Tanzânia.
Num espaço minúsculo, o guia diz-nos que estamos sentados no seu quarto/cama, aponta para o lado e diz que é o quarto das crianças e, aqui, – onde está sentado – “é onde fazemos a comida”. Onde tem uma pequena janelinha para o fumo sair. A cabana, mesmo com chão de terra batida, está imaculadamente limpa.
De seguida, leva-nos a uma escola. Antes de entrar, ouço a voz de uma pequena criança como se estivesse a dizer a tabuada. Entro, e estão uns poucos sentados, a olhar o pequeno a apontar para um quadro e a dizer os resultados de algumas contas. É para turista ver? Sim. Espero que aprendam mais coisas, porque naquelas contas estão já profissionais! Tem uma caixa no chão a dizer “Donativos para a escola”.
De seguida vamos para o mercado desta aldeia. Onde todas as famílias estão representadas. Cada uma tem a sua banca, com venda de artesanato. Os famosos colares Maassai, as pulseiras, os brincos, animais de madeira para decoração, etc. Negoceiem bem os preços. De forma justa. É natural que vão pedir preços elevados, porque estão habituados a turistas com maior poder de compra, mas negoceiem de forma justa.
Em Ngorongoro encontramos muitas aldeias Massai, mas no Serengeti já não lhes é permitido viver, por exemplo. Pelo caminho, em procura de água, encontramos as mulheres na estrada ou com garrafões à cabeça, ou em burros a fazerem esse transporte. Os rapazes, mesmo crianças pequenas já começam a pastar o gado.
E por falar em tradições, existem duas marcantes (literalmente marcantes) na cultura Maassai.
A circunsisão masculina: os meninos são levados para locais remotos para serem circuncidados. Não devem chorar ou sequer queixar-se durante a “intervenção”. Nenhum som deve ser feito. Assim é a tradição da circuncisão nos Massai. Quem chora não passa para o nível de adulto… ou passa mas fica com marcas no rosto, por exemplo. São ainda muito jovens quando o fazem, por volta dos 12 ou 15 anos.
A mutilação genital feminina é outra das tradições, mas já proibida pelos Governos tanto do Quénia como da Tanzânia. E é daquelas tradições que me remexe o interior. Enquanto nos homens a circuncisão não lhes retira o prazer – apesar de ser uma cerimónia de dor certamente – nas mulheres é-lhes retirado, ainda quanto crianças, o direito ao prazer sexual e certamente têm problemas no aparelho reprodutivo e urinário, depois disso. E é essa a passagem também de criança a adulto… aos 12 anos. A mutilação é feita pelas mulheres mais velhas da tribo.
Os casamentos são planeados e qualquer homem pode escolhe a mulher que quiser. O contrário não acontece. Os homens podem casar várias vezes e a mulher uma só vez na vida. As mulheres têm de aceitar o ou os homens que as escolheram. Pode recusar? Pode. Mas fica sem a casa.
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