É uma das praias mais conhecidas de Lagos, no Algarve. A Meia Praia tem um enorme areal, estendendo-se por 5 quilómetros, entre a Marina (molhe norte da ribeira de Bensafrim) e a Ria de Alvor. E o título? Quem se lembra da música de Zeca Afonso? Recorde mais abaixo neste texto e também de onde vem o título “Índios da Meia Praia”.
Para chegar à praia, tive de atravessar a linha de comboio. Tem também uma rede de passadiços (cordão dunar), nas dunas, que permitem passeios bem perto do mar. Se não lhe apetecer ficar estendido na toalha, pode sempre fazer a caminhada junto da água… já são 5 quilómetros de caminhada, se fizer a baía toda.
Tem bares e restaurantes de praia, e concessionários para alugar espreguiçadeiras e chapéus de sol, atividades como voleibol , futebol de praia, kitesurf e windsurf… já sabem que se se pratica estes dois últimos… é porque há vento! E esta zona é mesmo conhecida por ser muito ventosa.
No extremo nascente desta praia está o Forte da Meia Praia que, nos séculos XVII e XVIII, protegia Lagos de ataques. Segundo reza a História foi aqui que naufragaram, em 1522, os galeões que transportavam o tesouro do imperador azteca Moctezuma, derrotado pelos soldados do conquistador Hernán Cortés.
A Meia Praia é uma praia acessível, para que pessoas com mobilidade reduzida consigam desfrutar do areal.
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A esta praia vou sempre associar a música de José Afonso “Os Índios da Meia Praia”. Porquê?
Foi na década de 50, que dezenas de pescadores vindos de Monte Gordo, chegaram a Lagos, a procurar trabalho na pesca. Por não terem onde morar, começaram a construir cabanas de colmo nas dunas (que pareciam tendas indígenas), daí ter surgido a designação de Índios da Meia-Praia.
Passaram-se duas décadas e, na altura da Revolução do 25 de Abril de 1974, as cabanas já tinham sido substituídas por barracas de zinco, que o Estado tinha prometido deitar abaixo (acabar com os bairros de lata era uma das medidas). Com o Projeto SAAL – Serviço Ambulatório de Apoio Local – o Governo dava o terreno, o apoio técnico e parte do dinheiro, mas eram as populações metiam mãos à obra.
E assim foi. Aos poucos foram-se construindo as casas, com a ajuda de todos. Tendo todos os Índios da Meia Praia direito a habitações.
Fiquem com a letra “Índios da Meia Praia”:
Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço
De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Foi de marcha a ré
Quando os teus olhos tropeçam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota
Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Levam-te o couro cabeludo
Quem dera que a gente tenha
De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado
Oito mil horas contadas
Laboraram a preceito
Até que veio o primeiro
Documento autenticado
Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo
E se a má lingua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza
Dos índios da Meia-Praia
Foi sempre a tua figura
Tubarão de mil aparas
Deixar tudo à dependura
Quando na presa reparas
Das eleições acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar pra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz
Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo
E toca de papelada
No vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada