A conduzir, pela estrada, já vou conseguindo ver a torre de Castelo Novo ao longe, mas distraio-me com a área fluvial que me surge no caminho, com piscina natural e área de piqueniques. Que lugar de sonho. Guardo-a na memória para descobrir mais tarde, depois da visita ao centro histórico. Todas as Aldeias Histórias de Portugal têm sido, nos últimos anos, alvo de recuperação de vários monumentos e espaços. Com a alma da Serra da Gardunha, Castelo Novo é uma dessas aldeias e tem um centro renovado e bonito. Pertence ao concelho do Fundão e ao distrito de Castelo Branco.
Apesar das ruínas do castelo – a 650 metros de altitude – entrar entre o que resta das muralhas é como fazer uma viagem ao passado. As rochas toscas fazem parte da construção e, num dos lados, estreitam a passagem, junto de uma porta, que servia para fazer com que os atacantes ficassem ali presos. Saindo por essa porta, vai estar de frente para uma casa privada e canteiros floridos. Ninguém diria que, atravessando aquela porta se recua até à época medieval. As casas de portas coloridas são muito bonitas e há o correr de água – nas caleiras – que vêm das nascentes e hidratam os campos em redor.
São poucas as pessoas que vivem lá diariamente mas, em agosto, com as férias e a chegada dos emigrantes, chegam aos mil habitantes. Só como curiosidade: Castelo Novo já chegou a ter 6 mil habitantes. Durante ao passeio, parámos junto do talho e Maria de Lourdes está à porta. Diz-se que por aqui se compram as melhores morcelas, infelizmente tinham acabado de as fazer e não tinham nenhuma para a provar. “-Num outro dia que venha…”, diz-me. “- Passo por aqui, com certeza!”, remato a conversa, continuando a calcorrear estes caminhos de casas recuperadas. Claro que não estão todas recuperadas, mas esta aldeia foi renovada quase na totalidade.
Comecei a visita a partir do Posto de Turismo de Castelo Novo. Em frente está a Igreja Matriz e ao lado está o Castelo. É um bom ponto de partida. Na loja, entre outras lembranças, há muitas relacionadas com Eugénio de Andrade, já que o escritor nasceu na Póvoa da Atalaia, muito próxima de Castelo Novo. Escreveu ele em “Véspera da Água”:
“Não colecciones dejectos o teu destino és tu
Despe-te
não há outro caminho”.
Mais afastado, fica o Cruzeiro, a Calçada Romana e o Cabeço da Forca, que são dois blocos graníticos onde ficava… a forca. Também pela aldeia, descubra a Galeria de Arte Manuela Justino, que foi considerada como uma das mais originais artistas (pintora e escultora) da segunda metade do século XX. A galeria está no rés-do-chão e, no primeiro piso, do mesmo edifício, está o Atelier de Histórias Criativas, onde nasceram as bonecas que representam 12 lendas das Aldeias Históricas de Portugal.
Fique atento às janelas e portas que vai encontrar pelo caminho. Algumas são ricos exemplos das janelas manuelinas. É interessante também ver as caleiras de água, com a água que vem das nascentes da serra e que levam a água para as culturas de Castelo Novo.
A localidade recebe o foral de D. Sancho I, em 1202 e conta a História que Castelo Novo fazia parte dos territórios doados à Ordem dos Templários. Recebe transformações com D. Manuel I, daí se verem vários exemplos da arquitetura manuelina e barroca (séculos XVI e XVIII, respetivamente), com monumentos como o Pelourinho, a Casa da Câmara e Cadeia, e o Chafariz de D. João V.
O QUE VER /VISITAR EM CASTELO NOVO
– CASTELO
A Torre é o que resta do castelo de arquitetura militar e onde está o campanário. No início do século XXI, escavações puseram a descoberto vestígios da ocupação medieval, desde a sua construção no século XII. Foi abandonado por volta do século XVII. Alguns dos itens descobertos: moedas dos reinados de D. Sancho I até D. João III, e peças de ferro, cobre e cerâmica – que estão no Núcleo Museológico de Castelo Novo, na antiga Câmara.
A Torre de Menagem começou a ser construída após a atribuição do foral, em 1202, tendo sido terminada em 1205, altura em que Pedro Guterres e a esposa (Ausenda Soares) dão, em testamento, à Ordem dos Templo, a terça parte do castelo. No século XIV, foi construída a porta Oeste do Castelo, com arco em ogiva. As janelas que vai encontrar no primeiro piso, com bancos-namoradeiras, são de construções no século XV, quando a torre de menagem pertencia ao paço do comendador.
– ATELIER DE HISTÓRIAS CRIATIVAS
Para cada Aldeia Histórica de Portugal há uma boneca e as nasceram das mãos da artesã Ana Almeida. É no Atelier de Histórias Criativas, em Castelo Novo, que nascem as bonecas, inspirados em 12 Lendas das Aldeias Históricas de Portugal. Também aqui são lidas as histórias das lendas a crianças e pode ver uma aldeia em miniatura, animada, construída por um habitante da terra, o artesão Joaquim Francisco.
– LAGARIÇA
É um dos locais mais curiosos de Castelo Novo. É um lagar de vinho ancestral, datado dos séculos VI e VIII, e está escavado nas pedras com duas pias: a maior para pisar as uvas e a mais pequena onde ia parar o mosto.
– CHAFARIZES
– Chafariz da Bica
É um enorme chafariz, do século XVIII, com influência barroca, no Largo da Bica. Tem uma cruz no topo e o brasão de D. Joao V no centro. De lado, recortado na pedra das escadas, tinha o local onde se prendiam os cavalos, para lhes dar água.
– Chafariz D’El Rei
Datado do século XIV, é um chafariz com as armas de D. Dinis, duas bicas e bacia retangular.
– Chafariz D. João V
Fica na fachada do edifício da antiga Câmara Municipal, com três bicas e o brasão de D. Joao V, já que foi construído no seu reinado. Quando o visitei tinha peixes nos tanques, de água translúcida.
– PELOURINHO
Construído no século XVI, marca a elevação de Castelo Novo a concelho. Tem estilo manuelino e é decorado com motivos alusivos à expansão marítima.Tem esculpidos o brasão real as insígnias pessoais do rei.
– ANTIGA CASA DA CÂMARA / PAÇOS DO CONCELHO
Terá sido construída no século XIII, por mando de D. Dinis, e terá sido remodelada na altura de D. Manuel, quando foi atribuído novo foral a Castelo Novo. Tem no edifício as Armas Reais, a cruz da Ordem de Cristo e a esfera armilar. É onde está o úcleo Museológico de Castelo Novo.
IGREJA E CAPELAS DE CASTELO NOVO
– Igreja Matriz / Igreja de Nossa Senhora da Graça
Construída no século XVIII, fica no Largo do Adro e tem o nome da padroeira de Castelo Novo. No interior, a igreja apresenta duas capelas laterais com a Santíssima Trindade, e o Cristo crucificado; nos altares colaterais estão Nossa Senhora de Fátima e o Sagrado Coração de Jesus. Entre as imagens de interesse artístico tem a de Nossa Senhora da Serra, oriunda do Cabeço da Penha.
– Capela de Santa Ana
Fica na Rua de Santa e foi construída nos séculos XVI e XVII.
– Capela de Santo António
Fica no Largo de Santo António e foi construída no século XVI. Tem a imagem do santo no interior, que datará do século XVII.
– Capela do Senhor da Misericórdia
Construída na segunda metade do século XVII, diz-se que foi construída – em grande parte com doações – em favor do santo por se ter acabado com uma praga de gafanhotos, que consumia as plantações locais.
CASAS E SOLARES
As casas típicas beirãs são de dois pisos, feitas em granito e sem reboco, com planta retangular. O rés-do-chão era para a loja, onde colocavam os animais, e o piso superior para habitação. Mas, também existem as casas de proprietários mais endinheirados, não tão singelas e com mais pormenores decorativos.
– Casa Família Falcão
Entre a rua da Bica e a Rua da Misericórdia está esta casa construída no início do século XVII e que tem a Porta do Cocheiro. Na fachada tem um falcão e foi casa do primeiro presidente da Câmara, em 1616.
– Casa da Comenda
Do século XVI, com influência dos estilos manuelino e maneirista. Infelizmente, ainda está, neste momento, em ruínas.
– Casa de Arquitetura Beirã
Tipicamente beirã, com alpendre, com o piso do rés-do-chão que funcionava como loja, que era onde estavam os animais, e as famílias viviam em cima.
– Casa D. Luis de José Correia
Fica no Largo da Bica e foi construída nos séculos XIX e XX.
– Casa Paroquial
Está no Largo da Bica e é datada da segunda metade do século XX. A sua arquitetura está ligada ao nome de Raul Lino, também conhecido como arquiteto do Estado Novo.
– Casa Sampaio Roquete
Esta casa senhorial fica na Rua de São Brás, junto do Chafariz d’El Rei e o edifício foi construído no século XIX.
– Solar dos Gamboas
Situado na Rua da Praça, junto do Pelourinho e da antiga Casa da Câmara, este edifício é datado do século XVIII. Foi aqui que viveu a família Gamboa.
– PRAIA FLUVIAL DE CASTELO NOVO
Na subida para o castelo, tem, ao lado da ponte, uma piscina natural, onde pode nadar (tem escada) e uma área de piquenique. E tem um bar de apoio. É um local paradisíaco!
ALOJAMENTO: ONDE DORMIR EM CASTELO NOVO
– Casa de Campo Villa Veteris
Uma casa de granito, construída entre os séculos XV e XVI e restaurada, com dois quartos, com cama de casal, e um quarto com duas camas.
Morada: Largo do Juiz de Fora, nº4, – 6230-160, Castelo Novo, Portugal
Telefone: +351 968 061 092
Site
– Casa de Castelo Novo
É um edifício do século XVII, com o nome da aldeia onde está situado, que apresenta arquitetura maneirista. Tem um quarto duplo, uma suite (dupla, com sala, quarto e casa de banho) e um apartamento (com quarto duplo, sala com lareira, casa de banho e cozinha).
Morada: Rua Nossa Senhora das Graças, nº7, 6230-160, Castelo Novo, Portugal
Telefone: +351 919636032
Site
INFORMAÇÕES DO POSTO DE TURISMO DE CASTELO NOVO
Horário de Funcionamento do Posto de Turismo:
Verão* Segunda-feira a Domingo: 9h30 – 13h00 | 14h00 – 17h30
Inverno** Terça-feira a Domingo: 9h00 – 12h30 | 14h00 – 17h30
Encerra: 25 de dezembro e 1 de janeiro
* O horário de verão implementa-se no dia 1 de maio
** O horário de inverno implementa-se com a mudança da hora no mês de outubro
Visite também as aldeias mais próximas de Castelo Novo, como Idanha-a-Velha e Monsanto. Mais informações sobre Castelo Novo, no site das Aldeias Históricas de Portugal.