Com um dia de céu limpo, conseguimos avistar já da estrada o antigo castelo de Marialva, uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal. Parei o carro umas quantas vezes, para lhe tirar fotografias ao longe. O seu perímetro de muralha ainda está bem definido e, apesar das muitas ruínas, manteve três torres altaneiras, que se destacam no horizonte. Visitar a Marialva é como ter uma lição de História, onde nos perdemos nas ruínas, mas também descobrimos relíquias de antepassados.
Aliás, Marialva destaca-se por muito mais: foi sede de concelho e, dentro da muralha, por entre ruínas, consegue-se ver a importância que teve outrora, com o seu enorme Pelourinho e a casa que foi a Antiga Câmara.
Para ter uma melhor ideia: a aldeia é constituída por três núcleos: a Cidadela ou Vila, no interior do Castelo; o Arrabalde, que é a vila além da muralha; e a Devesa, que fica a sul da cidadela, e sobre uma antiga cidade romana, se estende até à ribeira, através da planície.
Foi D. Afonso Henriques que, em 1179, começou o seu repovoamento e concedeu o primeiro foral. Em 1200, teve de ser reconquistada por D. Sancho e a feira – uma das mais antigas de Portugal Ao dia 15 de cada mês – foi criada em 1286, por D. Dinis. O Foral Novo veio, depois, pela mão de D. Manuel, em 1512, fazendo com que Marialva fosse uma importante Praça Forte do reino e importante na defesa de fronteiras. Em 1855, foi suprimido o concelho de Marialva que começou a englobar o de Vila Nova de Foz Côa e, em 1872, passou a fazer parte do concelho de Mêda.
A aldeia é muito tranquila e vai encontrar os seus habitantes pelas ruas, ou a conversar à sombra. E é boa essa tranquilidade, que nos faz entrar num mundo à parte. Vem-me à cabeça a palavra: Serendipidade, que é a ação de descobrir coisas agradáveis por acaso. Marialva traz-nos isso. Explore e caminhe pela Rua da Corredoura, entre as casas antigas, e descubra o viver desta aldeia.
ONDE DORMIR EM MARIALVA
As Casas do Côro são muito mais do que um alojamento em Marialva. São um dos projetos responsáveis por dinamizarem o turismo na aldeia, com a sua aposta e investimento, e aumentaram cada vez mais a oferta, com ideias criativas, para explorar a região e os seus produtos locais.
Além de tudo isso – e já é muito! – as Casas do Côro têm vindo a crescer, ano após ano. Estive lá em 2013 quando as vinhas ainda eram jovens e, entretanto, já têm um Spa digno do charme das casas. As habitações são muito bonitas, todas com decorações diferentes, ali mesmo ao lado do castelo e das muralhas. A piscina é a menina dos olhos dos hóspedes que, no tempo quente, aqui se refrescam. E no moderno Spa conta com uma pequena piscina interior e máquinas de exercício dentro de água, além da sauna e turco, com vista para o exterior. Servem refeições para os hóspedes ou, se fizer marcação com antecedência, para não hóspedes. Mas, o melhor mesmo é ficar aqui alojado e passar um dia em grande.
Também têm outras atividades, como piqueniques no meio das vinhas, ou festas ao pôr do sol, no meio do monte e muitas mais ideias que pode vêr aqui.
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O QUE VISITAR EM MARIALVA
A maior parte dos visitantes compra o bilhete, no Posto de Turismo, para a visitar no castelo e limita-se a fazer a passear, sem perceber muito bem o que está a ver. Aconselho a que peçam a visita guiada (tem o mesmo preço no bilhete, ou seja, não paga a mais por isso) e saibam como este local foi tão importante na História de Portugal.
Aliás, o próprio Posto de Turismo é um edifício histórico, comprovadamente de origem judaica: com loja, no rés-do-chão, e primeiro andar como habitação. Na janela, encontra a marca da cruz, que assinalava as habitações dos cristão-novos.
O QUE VER DENTRO DO CASTELO
A entrada para as visitas na cidadela/castelo é feita pela Porta do Anjo da Guarda ou Porta de São Miguel, que fica a Noroeste. Olhe para a esquerda da porta, para cima, e vai ver um nicho com uma estátua de S. Miguel, o Anjo da Guarda. Também na entrada, mesmo junto da porta, vai ver dois riscos cravados na rocha. Eram as medidas que eram usadas pelos antigos, para saber o que estavam a comprar.
Antes de explorar todos os monumentos, que se encontram dentro da muralha, suba junto do campanário, mas tenha cuidado com os curtos degraus… a vista valerá a pena, mas não há corrimão para se apoiar. Ficará com a vista para o vale granítico que se estende até à Mêda. Muito bonito!
Continue a calcorrear aqueles caminhos – ainda se nota o padrão das pedras no chão das ruas – que outrora estiveram cheios de habitantes. Sente-se por uns minutos, só para apreciar e para imaginar o frenesim que, em tempos, esta cidadela teve. Foi o que o escritor José Saramago fez, segundo quem o viu, quando visitou Marialva.
– Frase de Saramago
Começo por destacar a frase de Saramago, porque poderá ser um bom início desta visita. A frase está inscrita numa pedra, por baixo de uma das torres, e ao lado da capela, uma citação do livro “Viagem a Portugal” de José Saramago. Diz quem viu o Prémio Nobel da Literatura por lá, que esteve sentado durante três horas nas escadas do Pelourinho… apenas a olhar (e provavelmente a tirar apontamentos). Marialva ficou-lhe na memória e, por isso, escreveu “Neste largo onde está a cisterna, onde o pelourinho está, dividido entre a luz e a sombra, adeja um silêncio sussurrante. Há restos de casas, a alcáçova, o tribunal, a cadeia, outros não se distinguem já, e é este conjunto de edificações em ruína, o elo misterioso que as liga à memória presente dos que viveram aqui, que subitamente comove o viajante, lhe aperta a garganta e faz subir lágrimas aos olhos”.
E nessa mesma declaração de Marialva, em “Viagem a Portugal”, continua dizendo “Não se diga daí que o viajante é um romântico, diga-se antes que é homem de muita sorte: ter vindo neste dia, nesta hora, sozinho entrar e sozinho estar, e ser dotado de sensibilidade capaz de captar e reter esta presença do passado, da história, dos homens e das mulheres que neste castelo viveram, amaram, trabalharam, sofreram, morreram. O viajante sente no Castelo de Marialva uma grande responsabilidade. Por um minuto, e tão intensamente que chegou a tornar-se insuportável, viu-se como ponto mediano entre o que passou e o que virá. Experimente quem o lê ver-se assim, e venha depois dizer como se sentiu”.
– Antiga Casa da Câmara
No Largo da Praça da Cidadela, o edifício da antiga Câmara mostra a importância que Marialva tinha nos séculos XVI e XVII, mostrando a sua autonomia administrativa e judicial. Funcionou como escola primária nos séculos XIX e XX. Em frente está o Pelourinho e a cisterna.
– Pelourinho
No Largo da Praça está o Pelourinho, construído no século XVI, com cerca de quatro metros de altura. Num dos quatro degraus – quantos mais degraus maior era a importância do local – está inscrita a data de 1559. É Imóvel de Interesse Público desde 1933.
– Igreja de Santiago / Igreja Matriz
A Igreja de Santiago (também Igreja Matriz) tem inscrições românicas do século XII e teve remodelações no início do século XVI – sendo que o portal lateral tem a data 1585 inscrita no arco. O interior tem, no chão, lajes graníticas. No teto está pintada uma imagem de Santiago e a igreja destaca-se pelo portal de estilo manuelino, os altares de estilo barroco e a sua talha.
– Capela do Senhor dos Passos
A Capela do Senhor dos Passos é a pequena capela vizinha da Igreja de Santiago / Igreja Matriz. Com construção provável no século XVII, salienta-se, no exterior, um pulpito para as cerimónias junto do castelo e, no interior, o seu altar e os 36 caixotões do teto pintados.
– Casa da Judia
Se depois de entrar no castelo, seguir pela esquerda, uns metros mais à frente vai encontrar a Casa da Judia: está em ruínas mas manteve a porta em arco e o símbolo da cruz gravado na pedra (do lado direito, a meio), representando casas dos cristãos-novos.
– Cisterna Quinhentista
Junto do Pelourinho está esta cisterna datada do século XVI, que servia de recolha de água para abastecimento da Cidadela.
O QUE PODE VER/VISITAR FORA DA CIDADELA E CASTELO DE MARIALVA
– Capela de Nossa Senhora de Lourdes / S. João Baptista
Antes de entrar na cidadela, tem do lado de fora da muralha esta capela, junto da Porta do Anjo da Guarda. É datada do século XVII – e era antes dedicada a S. João Baptista – e tem no interior pinturas dos ex-votos de Marialva. Por detrás da capela estão sepulturas escavadas nas rochas.
– Sepulturas nas rochas
Por detrás da Capela de Nossa Senhora de Lourdes / S. João Baptista estão sepulturas escavadas nas rochas, junto da muralha do castelo.
– Capela de Santa Bárbara
Fica num local que é um miradouro sobre a Devesa, a parte mais baixa da povoação de Marialva.
– Casa do Leão
No meio da aldeia de Marialva, entre as casas dos moradores, está a Casa do Leão. Um edifício de dois pisos, do século XVI, que tem uma figura de um leão junto das escadas (Está um pouco gasta, a pedra).
– Cruzeiro
Fica em frente ao Posto de Turismo, este cruzeiro do século XV que deu nome ao largo onde está situado.
– Fonte de Mergulho
Está atualmente fechada, com uma porta de metal.
– Igreja de São Pedro
Entre o casario de Marialva está a Igreja de S. Pedro. Reza a História que, em 1515, a Ordem de Cristo criou a Comenda de São Pedro de Marialva, o que faz indiciar que tenha sido nessa altura a construção desta igreja – no século XVII, o templo terá sido ampliado e, por isso, na sacristia, encontra-se a data de 1659.
Salientam-se as pinturas a fresco, nas paredes interior, com destaque para uma de uma sereia e outra que representa o Martírio de São Sebastião.
– Solar dos Marqueses de Marialva
O edifício é do século XVII e salienta-se por ter uma pedra de armas na fachada principal. O título de Marquês de Marialva foi dado, por D. Afonso VI (1675), a D. António Luís de Menezes, terceiro Conde de Cantanhede, pelo seu papel decisivo na Guerra da Restauração (1640-1668).
Saiba mais sobre Marialva no site oficial das Aldeias Históricas de Portugal. Existem Percursos Pedestres que pode fazer: o PR1 com o Percurso da Aldeias Histórica de Marialva (3,8KM, com a duração de 1h15 minutos) e o PR2, Ao Encontro dos Castelo: Mêda, Longroiva e Marialva (24,2KM, duração de quase 7 horas).