No concelho de Sabugal, Sortelha é uma das mais bem preservadas Aldeias Históricas de Portugal. As ruelas mostram o casario antigo e o altaneiro castelo, datado do século XIII, com o pelourinho manuelino e uma igreja renascentista. Há muralhas para subir, vistas que se estendem até à Serra da Estrela, portas seculares, duas pedras que se “beijam” e artesanato feito a partir de uma erva. Uma coisa é garantida: passear pela bonita Sortelha é fazer uma viagem ao passado.
Pela estrada – tinha saído do Cró Hotel Rural e Termal Spa – há pastores com o gado e vejo, ao longe, a neve, na serra da Estrela, que traz um ar gelado, mesmo estando longe. À medida que me vou aproximando, Sortelha começa a revelar-se, com a sua torre castelo e o casario encavalitado no monte. Também aos poucos se vão desvendados as eólicas que rodopiam ao sabor do vento nos montes vizinhos.
O Castelo de Sortelha é Monumento Nacional, desde 1910, e esta vila fronteiriça foi sempre alvo de disputas. Ainda assim, hoje em dia, é possível ver que está muito bem cuidada – ainda que poucos sejam os seus habitantes – com alguns negócios ainda a funcionar (com alojamentos, bares e restaurantes), dando-lhe alguma vida. Quando lá fui, poucas pessoas encontrei e, por momentos, parecia que estava numa espécie de aldeia-cenário de tão bonita que é.
As suas fundações são medievais e a vila renasceu (entre os séculos XIII-XIV), devido às necessidades defensivas nesta zona do território. A maior parte da população acabou por sair e procurar terrenos mais férteis, nas redondezas, o que fez com que o interior da muralha não tivesse muito sido alterado nos últimos séculos. E esse é parte do encanto de Sortelha.
Mal entra dentro da muralha, com o carro, vai encontrar aí o local para estacionar no Largo do Corro, onde está a Casa Nº1 e a Fonte de Mergulho (medieval, quinhentista). Aqui ao lado está o Posto de Turismo com toda a informação que vai precisar. Não é que se vá perder, porque a vila muralhada é pequena, mas assim poderá saber mais pormenores históricos e locais a atentar, sem que passem despercebidos.
Mais acima, pela Rua Direita, vai encontrar o Largo do Pelourinho, onde está a antiga Casa da Câmara e Cadeia (e onde é hoje a sede da Junta de Freguesia e mostra de artesanato). Se olhar para o lado esquerdo vai ver a porta de entrada principal do castelo e mais acima o Largo da Igreja. Depois de visitar o castelo, a ideia é continuar a subir até atingir uma das portas da muralha: uma delas tem um troço de calçada medieval e ambas têm vista para a serra da Estrela – com céu limpo é possível ver a neve, ao longe. Pelo passeio vai encontrando também os Passos da Via Sacra, datados de 1742, com motivos decorativos de influência barroca. O Pelourinho de Sortelha foi mandado construir em 1510, por D. Manuel, e está situado frente à porta do Castelo.
E há muitas curiosidades na aldeia de Sortelha:
1 – CASTELO E MURALHAS
No interior do castelo, destaca-se a Torre de Menagem. Em baixo, está ainda a cisterna, que serviu o abastecimento de água e uma pequena porta escondida. Em seu redor, está a muralha que parece abraçar todo o casario que foi crescendo, por entre enormes pedras. A Porta do Castelo apresenta o balcão e as armas reais de D. Manuel I. Sabia que o balcão tem as aberturas no chão, chamadas de Mata-Cães, que serviam para atacar os invasores?
Mata-cães é uma abertura no chão entre as mísulas que sustentam as ameias ou os balcões das fortificações medievais
2 – PORTAS DA MURALHA
A Porta da Vila é considerada a porta de entrada, porque é por onde passam também carros. Tem, nas pedras exteriores, algumas inscrições antigas.
A Porta Nova é a quem tem o troço da Calçada Medieval (com cerca de 30 metros de extensão). Curiosamente esta é a porta mais antiga (apesar de o nome dizer o contrario) e, na parede, estão duas marcas que serviam como medidas no mercado e feiras – para os tecidos, por exemplo.
A Porta Falsa tem uma vista deslumbrante, em dias de céu limpo, até à Serra da Estrela.
3 – TORRE SINEIRA
No topo de um penedo, com vista para a fachada principal da muralha, está a torre sineira de Sortelha. Tem uma escadaria antiga, em que os degraus foram feitos no próprio penedo. É estritamente proibido tocar os sinos, porque os mesmos só são usados em caso de incêndios, para alertar as povoações.
4 – TORRE DO FACHO
É o ponto do mais alto da muralha de Sortelha. Fica numa torre, junto da muralha românica, e abarca um grande campo de visão até à Serra da Estrela, por exemplo, e dando o contacto visual com os castelos de Belmonte, Covilhã e Monsanto. E o nome, sabem de onde vem? Chama-se Torre do Facho porque costumava ter uma tocha ou fumo de fogueira para estar em contacto com as outras fortificações, em caso de ataque.
5 – CABEÇA DA VELHA
Nesta região é normal dar-se nomes às pedras que se assemelham a algo e existem lendas associadas às mesmas. Aqui, esta formação granítica, com o desgaste e erosão, deu um aspeto de um rosto envelhecido a uma rocha, que passou a ser conhecida como Cabeça da Velha.
6 – CASAS DE SORTELHA
Existem várias casas que se destacam no centro da muralha de Sortelha. A Casa Número 1, será do século XIII, e está no Largo do Corro, depois da Porta da Vila (por onde entram veículos) e, em frente, está a Casa dos Falcões, edifício do século XVI, com remodelações no século XVIII. Outras casas antigas são a Casa do Governador, dos séculos XV ou XVI, e a Casa com Janela Manuelina (tem também descrição na rua) datada do século XVI e onde também pode ver um relógio de sol gravado numa das pedras da parede exterior.
A antiga Casa da Câmara e Cadeia ficam no Largo do Pelourinho, e são datadas do século XVI. O piso inferior tem uma parede que faz parte da muralha e é onde está montada uma mostra e venda de artesanato – muito do artesanato é feito a partir da erva bracejo, que é apanhada nos campos – hoje é o edifício da Junta de Freguesia.
Já a Casa Árabe fica a dois passos da Porta Falsa e da Torre do Facho. Tem inscrito Jhvs Ave Maria e a sua data de construção estima-se que tenha sido no século XIV.
A Residência Paroquial ou Passal fica na Rua Direita e é datada do século XVI, tendo sofrido remodelações no século XVIII (1756 – conforme gravação na pedra). Tem gravado na pedra de entrada uma Cruz perolada e uma Cruz de Malta.
7 – FONTES DE SORTELHA
Há, pelo menos, duas fontes que se destacam na aldeia de Sortelha. A Fonte da Azenha é a mais curiosa porque tem o tanque escavado numa gigante rocha. Já a Fonte de Mergulho está junto do Largo do Corro e tem uma bomba de ferro verde (crê-se que seja de meados do século XIX).
8 – IGREJA E HOSPITAL DA MISERICÓRDIA
A Igreja e Hospital da Misericórdia estão situados fora da muralha, junto à Porta Nova da Vila. A construção do hospital é do século XVI e a Igreja – rodeada de sepulturas escavadas em pedras, a maior parte das quais está escondida debaixo do passadiço -, que já não tem teto, é só visitável de fora, a partir de um varandim. As origens da igreja são medievais e a Igreja da Misericórdia foi transferida para aqui em 1626. Atribui-se a devoção do templo a Santa Rita.
9 – IGREJA MATRIZ, NOSSA SENHORA DAS NEVES
A Igreja Matriz de Sortelha, dedicada a Nossa Senhora das Neves, será datada de 1573 – data que está no seu portal – podendo o templo-base ter sido construído no século XIV. Fique atento, no interior, numa das paredes, estão reveladas pinturas antigas.
10 – PEDRAS DO BEIJO ETERNO
São duas pedras que se “beijam” e estão junto da muralha de Sortelha. Reza a lenda do “Beijo Eterno” – representado em duas pedras gigantes que se tocam levemente, como se se estivessem a beijar – que o alcaide da fortaleza de Sortelha tinha uma filha muito bonita. E a mesma história conta que a mãe era feiticeira. Na altura da invasão dos mouros, a filha apaixonou-se por um dos cavaleiros invasores, que faziam o cerco à muralha de Sortelha. A mãe, que desaprovava a relação, preferiu transformar o casal de apaixonados em pedra, do que deixar a filha partir com o cavaleiro amado. E, assim, existem as pedras do Beijo Eterno!
ONDE DORMIR EM SORTELHA
– Casas do Campanário
Situadas na zona intramuralhas de Sortelha, são duas casas de aldeia que aliam o conforto do presente com a história do passado, constituindo um exemplo da arquitetura tradicional da Beira Interior. Saiba mais aqui.
– Hotel do Cró
O edifício contemporâneo do Cró Hotel Rural e Termal Spa sobressai numa moldura de natureza, rodeada de campos… sem nada mais à volta. Só se ouvem os pássaros cá fora e as únicas construções vizinhas (além do edifício do balneário termal) são as ruínas das anteriores termas do Cró. Saiba mais aqui.
Aqui perto ficam as Aldeias Históricas de Belmonte e Monsanto.*
*Para mais informações sobre as Aldeias Históricas de Portugal, clique aqui.