Conhecer a cidade azul: Chefchaouen, Marrocos

A curiosidade sobre Chefchaouen surge quando foram publicadas as primeiras imagens da chamada Cidade Azul, no norte de Marrocos. A cidade que pintou as paredes e casas por causa dos mosquitos – pelo menos foi essa a razão que nos deram – tornou-se mais visitada ainda por causa desse efeito fotogénico, que faz com que não se pare se tirar fotografias.

Almoçamos por Chefchaouen (também chamada de Xexuão) numa passagem rápida (Rápida demais! Eu queria ter ficado a dormir lá… mas vai ter de ficar para a próxima viagem) entre Tânger e Fez.

Demoramos cerca de 1 hora e 30 minutos a chegar a Chefchaouen, a partir de Tetouan (onde também paramos para conhecer a Medina), mas normalmente demora-se menos. Na estrada, apanhámos muitos camiões e havia mercados de agricultores pelo caminho, com animais a atravessarem a estrada de apenas duas vias. E os agricultores daqui fazem-se notar: usam chapéus de palha com pompons coloridos. E vai ver esses chapéus à venda em toda esta região. Os últimos 7 km para Chefchaouen são sempre a subir com curvas e contracurvas. Tenha cuidado com as ultrapassagens.

O primeiro ponto de paragem foi junto da cascata de água que desce, de forma natural, pelas montanhas do Rif ocidental. A água fresca serve para lavar a roupa, junto dos tradicionais lavadouros de pedra. E a roupa, colorida, lá está estendida nos arbustos, ao sol, num bonito e soalheiro dia de outubro.

“Esta se calhar é a melhor altura do ano para visitar Chefchaouen”, dizem-nos ao mesmo tempo que nos avisam: “no inverno é um frio que não se pode e no verão um calor que não se aguenta”. Por isso, as melhores opções são sempre a primavera e o outono. Ainda assim, tem um clima do tipo mediterrânico.

Descemos depois para almoçarmos no Dar Echchaouen. É um Riad com alojamento, mas tem o restaurante também aberto a quem não é hóspede. E vale a pena lá ir. A comida é boa e o ambiente melhor ainda. E é uma boa forma de entrar no espírito de Chefchaouen: uma espécie de slow city de Marrocos. Aqui não há correrias, nem souks a abarrotar de gente, com vendedores insistentes. É verdade que Chefchaouen despertou para o turismo nos últimos anos, mas continua a ser um local, comparado com outras cidades marroquinas, muito menos procurado.

As suas casas brancas contrastam com os múltiplos tons de azul e, por cima dos telhados, espreitam as montanhas do Rif ocidental. Em cada esquina vai encontrar fontes com água que vem diretamente das montanhas. Alguns aproveitam para beber outros não se inibem de ali lavar a louça.

Chefchaouen é considerada uma cidade sagrada, fundada em 1415 de forma a combater as conquistas portuguesas e espanholas. A sua defesa era precisamente estar isolada no meio das montanhas.

Hoje em dia, Chefchaouen conserva o seu património histórico, nomeadamente a sua Kasbah com uma arquitetura imponente. Além de sua importância militar, possui também um importante património religioso, onde se incluem 20 mesquitas e oratórios, 11 zaouias e 17 mausoléus, que lhe valeu o nome de Cidade Santa (El-Madina Es-Saliha). Aliás, uma das mesquitas é mais falada porque tem o minarete octogonal e, diz-nos o guia, “não há muitas assim em todo o Marrocos… talvez umas quatro ou cinco no máximo”.

Em 2010, Xexuão passou a estar inscrita como Património Cultural Imaterial da UNESCO graças à dieta mediterrânica, utilizando muitas azeitonas e azeite e incluindo no dia a dia muita fruta, legumes e cereais.

Ao chegar à cidade de Chefchaouen vai passar pelo que consideram o seu ícone e cartão de boas-vindas. Uma porta azul e branca, isolada, ao lado da estrada, a dar a indicação que está a entrar na Cidade Azul.
Curioso como, pelo caminho, encontramos estradas recentes, com rotundas grandes e bairros com prédios de três e quatro andares, para depois chegarmos ao centro, com pequenas casas, encavalitadas na montanha, em ruas estreitas onde não passam carros.

Mas, é no interior da Medina que está o encanto da Cidade Azul. O mercado tem tendas brancas no centro e numa quarta-feira, ao meio-dia, as lojas e o mercado estavam ao rubro.

A avenida Mohamed V é a principal artéria e tem também vendedores nos passeios – assim como algum trânsito! Há vários pontos de venda de pão seguidos e a praça principal é rodeada de lojas e restaurantes, com esplanadas, e muito gatos à espera de mimos.

“Como não tem carros no centro, Chefchaouen é um sitio mais escolhido para quem quer relaxar e quer visitar calmamente a região. Vem aqui dois ou três dias e vai conhecendo aos poucos”, diz-nos o guia. No interior da medina só passeiam burros de carga, que carregam garrafas vazias até aos camiões de abastecimento de águas e refrigerantes, que ficam estacionados em locais mais amplos.

No interior da cidade, as fontes que vai encontrar são todas de água potável que vem da nascente da montanha. Disseram para beber e, por momentos, esqueci-me da máxima do turista que só deve beber água engarrafada. Era fresca!

É hora de saída da escola e no centro da medina não há muita gente a passar. Apenas, um grupo de rapazes sobe a rua à nossa frente a brincar e a conversarem abraçados entre eles, de mochilas às costas, e duas meninas param para beber água numa das fontes.

Uma outra, atrás de uma janela, atira-me um “Pssst! Olá!”, em inglês, de tão habituada a que está aos turistas internacionais. Respondo-lhe em francês e fica tímida. Pergunta-me se estou de passagem e digo que sim, que vou seguir para Fez.
– “É bonita?”, pergunta-me.
– “Não sei, também vou lá pela primeira vez”.
– “Boa viagem” respondem os olhos meigos atrás da janela com barras de ferro.

Chefchaouen era uma cidade que há muito queria conhecer e fiquei com pena de não ter ficado ali pelo menos mais um dia. É muito bonita e o azul colocado nas paredes e portas dá-lhe um irresistível charme. Só desejava que estivesse mais limpa.

O QUE COMPRAR EM CHEFCHAOUEN?

Dentro da medina de Chefchaouen são muitas as lojas e bancas com o artesanato tradicional. Os chapéus de palha com pompons coloridos, usados pelos agricultores, podem ser levados em tamanho original ou então em tamanho mais pequeno como recordação. Os meus são pequeninos e servem de decoração, e coloco-os na árvore de Natal.

As colchas e os candeeiros a condizerem, em laranjas, rosas ou azuis, são feitos manualmente em teares. Também vai encontrar, sobretudo na altura do frio, as camisolas de lã e gorros. Tudo feito à mão.

As cestas para irem às compras e carteiras em pele são peças que encontra em quase todo o Marrocos, assim como as louças e peças em bronze. Tem lojas com as roupas tradicionais marroquinas (como o kaftan ou djellaba, por exemplo) para todas as idades, assim como tapetes, também feitos em teares tradicionais. Aliás, aqui o que é mesmo típico é o traje feminino, que usa azul em cima e um pano grosso de riscas vermelhas como se fosse uma saia. Assim, cobrem o corpo do frio e do calor.
As miniaturas das portas de Chefchaouen são outros dos artigos que só vai ver aqui à venda e também são feitos manualmente.

Ao contrário de cidades como Marraquexe, em Chefchaouen é possível fazer as compras em paz, sem sermos constantemente chamadas pelos lojistas. Mas não deixe de regatear o que compra. Eles estão à espera disso, e é algo cultural.

Apesar de muita gente associar Chefchaouen ao cultivo de marijuana (que é efectivamente plantada nas redondezas) não pense que é algo liberalizado aqui. Provavelmente será abordado para comprar, mas muita gente vai parar à cadeia à custa disso e de também tentar levá-la para fora do país. Tenha cuidado!

ONDE DORMIR E COMER EM CHEFCHAOUEN?

Existem várias possibilidades de alojamento em Chefchaouen, leia qui as nossas sugestões, onde tem também uma dica de onde comer no Dar Echchaouen.

Existem inúmeras pastelarias pelas ruas da Medina, com a doçaria típica marroquina que, por norma, contém muito açúcar e/ou mel. Passamos por uma rua e vinha o cheiro do pão acabado de fazer. Existem os fornos comunitários, onde os habitantes dão uma moeda e deixam a cozer o que fazem em casa (pão,bolos, etc). No final do dia vão lá buscar.

O que comer mais? Azeitonas, queijos frescos e os frutos secos que vai encontrar em todo o lado como figos, caju, amendoim e tâmaras, por exemplo.