Tripas à Moda do Porto - © Confraria das Tripas a Moda do Porto
Publicado em Outubro 11, 2024

Receita das Tripas à Moda do Porto

Gastronomia [ Receitas ]

As Tripas à Moda do Porto são muito mais do que um prato da gastronomia portuguesa. Elas carregam consigo uma perspectiva histórica, de uma altura em que reis governavam Portugal, e que remonta aos tempos dos Descobrimentos Portugueses.

A lenda mais conhecida das Tripas conta que, quando o Infante D. Henrique preparava a expedição para a conquista de Ceuta, em 1415, solicitou aos habitantes do Porto que fornecessem víveres para a armada. Diz-se que, com um espírito de sacrifício e patriotismo, os portuenses entregaram toda a carne que possuíam, ficando apenas com as tripas.

Tripas à Moda do Porto n'O Rápido © Viaje Comigo

Tripas à Moda do Porto n’O Rápido © Viaje Comigo

Diante desta situação, os habitantes da cidade tiveram que ser criativos e reinventar a sua culinária, utilizando as miudezas que lhes restaram. Assim, nasceu o prato que se tornaria um símbolo da cidade: as tripas à moda do Porto.

Um Prato com Identidade

As tripas à moda do Porto são um prato robusto, confecionado com diversos tipos de carne, tripas, enchidos e feijão branco. A preparação é demorada e exige alguma habilidade, sendo considerada uma verdadeira obra de arte culinária.

Este prato tornou-se um ícone da gastronomia portuguesa e considerado um Património Cultural da cidade do Porto. Existem diversas esculturas e monumentos que homenageiam este prato e a sua história, como a escultura de Lagoa Henriques (em homenagem aos Tripeiros), localizada junto aos antigos estaleiros do Ouro.

Deixo-vos aqui a receita tal como é divulgada pela Confraria Gastronómica das Tripas à Moda do Porto.

Tripas à Moda do Porto n'O Rápido © Viaje Comigo

Tripas à Moda do Porto n’O Rápido © Viaje Comigo

Ingredientes

– 400g de feijão manteiga demolhada
– 500g de dobrada de vitela (sola e folhada)
– 1 chispe de porco
– 1/2 de uma mão de vitela
– 200g de presunto gordo
– 200g de salpicão do Douro
– 1/2 de uma galinha gorda
– 1 chouriça de carne
– 2 folhas de louro
– 3 dentes de alho
– 200g de cebola
– Sal e pimenta q.b.
– 1 cenoura média
– 1 dl de azeite
– 1 colher de sopa de banha de porco
– 1 colher de chá rasa de colorau
– 2 cabeças de cravinho-da-índia
– 1 colher de sobremesa rasa de cominhos em pó

PREPARAÇÃO

1. Depois de muito bem lavada a dobrada, esfregue-a muito bem com sal grosso e coloque-a de molho em vinagre, água e limão cortado e espremido durante 1 hora. Lave de novo em várias águas e coloque numa panela com água e deixe ferver durante 1 hora.

2. Retire então essa água e coloque a galinha e a mão de vitela juntamente com as tripas e leve de novo a cozer até a galinha estar cozida e retire-a, deixando acabar de cozer as tripas e a mão de vitela.

3. Coza o feijão e, à parte, o chispe de porco.

4. Leve ao lume o azeite, a banha de porco e junte os alhos picados e a cebola picada deixando alourar ligeiramente, junte então a cenoura cortada às rodelas, o presunto em cubos e a chouriça em rodela e o salpicão em meias-luas. Deixe estufar um pouco e adicione as tripas cortadas e já bem cozidas, o chispe e a mão de vitela cortado em pedaços; deixe estufar mais um bocado e junte então um pouco de água da cozedura das tripas e das outras carnes.

5. Tempere com sal, pimenta-preta e branca, os cravinhos-da-índia e o colorau e deixe estufar mais um pouco.

6. Por fim, junte o feijão cozido com um pouco de água da cozedura das carnes e deixe apurar, mexendo com regularidade e em lume brando. O caldo deve ficar espesso e untuoso devido à cozedura da mão de vitela e da gelatina que deixa na água.

6. Desfie a galinha, no momento de servir termine as tripas com os cominhos em pó e coloque a galinha desfiada sobre as tripas. Sirva bem quente acompanhadas de arroz branco.

BOM APETITE!

Tripas a Moda do Porto -© Confraria Gastronómica das Tripas a Moda do Porto

Tripas a Moda do Porto -© Confraria Gastronómica das Tripas a Moda do Porto

Conta a história, em 1909, na Revista “O Tripeiro”

“O desconhecimento completo de um facto da história portuense, passado quando reinava D. João Primeiro, dá frequente motivo a que, quando alguém muito esperto pretende zombar de um filho da cidade do Porto, lhe atire desdenhosamente à cara com a alcunha de tripeiro, como se fora o mais ignominoso insulto.

O Portuense, conhecedor do facto ri-se e em vez de manifestar descontentamento por tal alcunha, desnorteia o contendor acceitando-a com legítimo orgulho. Dos nossos comtemporâneos, poucos serão os que não possam de prompto citar o facto histórico, senão em todas as suas particularidades, ao menos pela rama.

Não obstante, vamos recordal-lo, um pouco pela satisfação de sermos descendentes d’aquelles honrados portuenses que há 943 annos e um pouco para elucidação dos estranhos que o não conheçam ou dos nossos que o tenham esquecido.

Eil-lo: As primeiras expedições guerreiro marítimas que deviam collocar tão alto o nome lusitano e contribuir para o engrandecimento do poderio territorial do paíz pelas terras d’alem mar, já que nas do continente tinham ido até ao extremo as possibilidades d’essa expansão, devem-se às suggestões do infante D. Henrique, filho de D. João I.

Annunciado o aprecebimento da primeira expedição a Ceuta, os burgueses do Porto mal o souberam, não desmentindo a sua fama de audazes e intrépidos, quizeram os primeiros a cooperar no grandioso sonho do infante, e à sua custa, apparelharam uma poderosa armada de mais de setenta embarcações, que em pode sair galhardamente pela barra do Porto fora em busca de glória para a a nação e mais um forão para a coroa real.

Para abastecer tão numerosa esquadra não foi das mais apoucadas a generosidade dos nossos conterrâneos. Não quiz ella que a falta de víveres pudesse crear obstáculos ao bom êxito da aventura.

Abateu um enorme numero de cabeças de gado bovino com cuja carne limpa abasteceu prodigamente as dispensas das embarcações, de modo que chegassem para longo prazo, e reservou para a alimentação dos que ficaram os miudos do gado, as tripas, como vulgarmente se lhes chama, com que se cosinha o celebre prato culinario muito apreciado dos portuenses.

Eis ahi a origem do honrosos apodo de tripeiros”

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