Moulay Idriss, Marrocos © Viaje Comigo
Publicado em Março 23, 2022

Ramadão: o que não sabia sobre o mês sagrado islâmico

África/ Marrocos/ Preparar a viagem

Já toda a gente ouviu falar no Ramadão e a primeira coisa a que está associado é, inevitavelmente, o jejum. Porém, esta tradição tem um significado muito mais abrangente. Com as múltiplas viagens que faço a Marrocos, já fiz vários tours durante a altura do Ramadão. Esse tempo de jejum é algo que nos impressiona, sobretudo para os guias que passam o dia sem comer e beber, podendo só depois do pôr do sol alimentarem-se. A fé é o que os motiva, no sentido de fazerem sobressair princípios de paz, caridade e abnegação, em prol de uma ligação ainda maior com a espiritualidade. Mas, afinal, o que significa o Ramadão no Islão?

Mesquita Hassan II, Casablanca. Marrocos © Viaje Comigo

Mesquita Hassan II, Casablanca. Marrocos © Viaje Comigo

O que é o mês santo do Ramadão?

Trata-se do 9º mês do calendário islâmico e é considerado o “mês sagrado”. Começa oficialmente no primeiro dia de quarto crescente do 9º mês. As datas do Ramadão variam todos os anos, já que são baseadas no calendário lunar e não no gregoriano, podendo celebrar-se no inverno ou na primavera, já que todos os anos há um desfasamento de 11 dias.
Dura cerca de 30 dias e, por exemplo, em 2022, terá início a 1 de abril.

Este é um período onde a fé, a paz, a caridade e a oração ganham ainda mais destaque. Conta-se que foi neste período, nomeadamente na Laylat al-Qadr (A Noite do Poder), em que o profeta Muhammad (Maomé) recebeu as suas primeiras revelações, que dariam origem ao Alcorão (livro islâmico das escrituras sagradas). Acredita-se que durante este período, principalmente na “Noite do Poder”, todas as orações e pedidos ganham mais força e serão atendidos.

Mesquita de Konya - Turquia ©Viaje Comigo

Mesquita de Konya – Turquia ©Viaje Comigo

E o porquê do jejum durante o Ramadão?

Um quarto da população mundial – cerca de 1800 milhões de pessoas, das quais, 50 mil em Portugal, celebram o Ramadão e a prática mais conhecida é o jejum. Tal como referi anteriormente, este é um período de recolhimento, de maior reflexão e conexão com a espiritualidade…

Assim, a prática de jejuar atua, para além da purificação do corpo, como um exercício de autocontrolo, foco e superação da tentação. Tal como se pode encontrar nas escrituras: “Quem não deixa de dizer inverdades e agir falsamente, a Deus não interessa que ele deixe de comer e beber.”. Ou seja, na perspetiva islâmica, o jejum é apenas um meio para um fim maior que é o de se tornar melhor pessoa e estar mais próximo de Deus.

Mesquita de Jaffa - Israel © Viaje Comigo

Mesquita de Jaffa – Israel © Viaje Comigo

Mas como funciona na prática?

Durante todo o mês do Ramadão, os crentes não comem nem bebem nada a partir do nascer até ao pôr-do-sol de cada dia. No entanto, não se resume à privação de alimento nesse horário… Durante esse tempo, evita-se tudo o que possa constituir um vício ou prazer mundano, por exemplo: sexo, fumar, compras… Mas, para além disso, é importante também evitar os maus atos e pensamentos.

Ao visitar uma cidade islâmica nesta época, pode ver que o seu ritmo abranda durante o dia. Já, depois do pôr do sol, muitos estabelecimentos comerciais ficam abertos até mais tarde e a cidade ganha vida. Nessa altura, é momento para celebrar o mês auspicioso, confraternizando com os amigos, com a família e alimentando-se bem, para recuperar energias.
A refeição após o pôr do sol é denominada por Iftar e apresenta uma variedade de pratos à base de arroz e carnes grelhadas.

Suhoor é a refeição partilhada um pouco antes do nascer do sol e é constituída por sobremesas, iogurtes, frutas e frutos secos adoçados.

Restaurante Palais Terrab -Meknès - Marrocos © Viaje Comigo

Restaurante Palais Terrab -Meknès – Marrocos © Viaje Comigo

Uma curiosidade que muita gente tem, prende-se com o facto de pessoas doentes, ou em viagem, ou grávidas, terem que respeitar o jejum… Na verdade, não é bem assim.
Quando alguém está debilitado, ou tem uma doença grave, ou quando uma mulher está grávida ou menstruada, é aceite que possam substituir o jejum pela caridade aos pobres, ou que o possam adiar.
Finalmente, depois destes 30 dias, ao avistar o quarto crescente do próximo mês, celebra-se o Eid al-Fitr, que encerra o jejum. É também conhecida como “Doce celebração”. Originalmente, é apenas um dia de festa e oração, mas, atualmente, celebra-se durante três dias.
É natural que até nos aeroportos estejam a comer tâmaras, no final do Ramadão e as ofereçam aos viajantes estrangeiros. Isso aconteceu-me ao chegar a Marraquexe. Na apresentação do passaporte, o oficial insistiu que eu comesse uma das suas tâmaras. Só ficou contente quando eu o fiz e desejou-me um feliz dia.

Mercado Pettah - Colombo - Sri Lanka © Viaje Comigo

Mesquita do Mercado Pettah – Colombo – Sri Lanka © Viaje Comigo

O Ramadão constitui um dos 5 pilares do Islão, sendo os outros: a fé (shahadah, “Não existe outra divindade além de Allah; Muhammad é o seu profeta/mensageiro”), as cinco orações ao dia (salah), a caridade (zakah, contributo obrigatório para os mais desfavorecidos) e a peregrinação a Meca (Hajj), pelo menos uma vez na vida, se tiver possibilidades económicas para o fazer. Uma vez que a ida a Meca tem valores que rondam os 4 mil euros.

Ramadão: esta celebração, tal como a conhecemos, é apenas praticada por quem é muçulmano, contudo, podemos encontrar vários rituais e práticas em outras religiões, que visam objetivos semelhantes… Como a Sexta-Feira Santa dos Católicos, ou o Yom Kipur dos Judeus, ou várias das práticas Budistas (apenas para citar alguns).

Para quem ainda não conseguiu ir a Meca (seja por doença ou poucas possibilidades económicas), existe em Marrocos uma cidade que é considerada sagrada e equivalente – Moulay Idriss (Mulei Idris).

Dicas para quando estiver a viajar durante o Ramadão:

– Não ofereça comida, nem bebida, a quem está a fazer o Ramadão
– Não fume junto de quem está a fazer o Ramadão
– É normal, para aguentar o período de jejum, que se encontrem a descansar durante o dia
– Alguns locais poderão estar fechado durante o dia e só abrem ao pôr do sol (os locais mais turísticos mantêm o funcionamento)
– Depois do pôr do sol nota-se um aumento de gente na rua – famílias inteiras – para passear, comer e conviver

Moulay Idriss, Marrocos © Viaje Comigo

A ver Moulay Idriss, Marrocos © Viaje Comigo

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