Estava no Faial, Açores, e fui conhecer a ilha do Pico com um tour de um dia com a Tripx Azores. Quis o destino que eu experimentasse o “mau tempo no canal” (referência ao livro de Vitorino Nemésio) na ligação de barco. A travessia é feita com a Atlanticoline e, quando o mar está mais bravo, é uma verdadeira aventura. Felizmente são só 30 minutos e num instante passámos de uma ilha para a outra. Tudo faz parte da experiência Açores!
Saí no barco das 7h30 da manhã e fiquei no café do terminal da Madalena a fazer horas para o início do meu tour com a Tripix Azores. A viagem no barco da Atlanticoline custa 3,60€ (7,20€ ida e volta) cada viagem, e marquei logo a viagem de regresso às 18h30 – tenha atenção que poderá esgotar, por isso, aconselho a que compre antecipadamente. Bebi um chá e comecei a olhar para o mapa, para conhecer mais sobre a ilha. A Tripix Azores fica mesmo em frente ao terminal, por isso, está perto sem precisar de se esforçar muito. Claro que… a minha vontade, no final do dia, foi ter ficado a passar (pelo menos) uma noite no Pico e quero muito voltar para fazer a subida do Pico – atualizado: subi ao Pico em 2021!. Obrigada, Raisa, pelo fantástico tour!
Mas, para quem, como eu, não tem tempo para mais, um dia de tour já é excelente! A primeira paragem do passeio (atenção que pode ter um tour adaptado aos seus gostos e interesses, eu quis um geral) fala da importância dos vinhos do Pico, com a presença de solares, ao lado dos locais de cultivo. Junto do mar, foram cortadas pedras para se transformarem em Rola Pipas, ou seja, locais por onde as pipas de vinho passavam (uma espécie de rampa, na pedra da lava) para ajudar a entrar nos barcos que iam para o Faial.
A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico é Património Mundial da UNESCO, desde 2014, e era um dos locais que eu mais tinha curiosidade de ver nesta visita. As vinhas estão plantadas de forma curiosa: isoladamente, entre muros baixos (currais), para ficarem protegidas dos ventos e da água do mar. Essa paisagem da cultura da vinha ocupa uma área total de 987 hectares, envolvida por uma “zona tampão” com 1.924 ha. E existem dois locais que são emblemáticos: o Lajido da Criação Velha e o Lajido de Santa Luzia, que estão implantados em campos de lava e, por isso mesmo, têm uma grande diversidade em fauna e flora. É mesmo um local único, com uma manta de retalhos de pedras que foi criada há muitos séculos.
Levei a mala de viagem com um grande espaço por ocupar… a ideia era trazer vinhos e queijos das ilhas dos Açores. Já tinha comprado uns queijos do Faial e da Terceira e aqui, no Pico, fui à fábrica dos queijos Alfredo, para trazer comigo um deles. A família agradeceu!
Como visitei o Pico a uma segunda-feira, fiquem já com esta advertência: alguns locais poderão estar fechados, por isso, se calhar é melhor marcarem a visita num outro dia da semana (depende também da altura do ano!). Alguns sítios fecham à segunda só na época baixa, mas entre abril e outubro estão abertos todos os dias, etc. Por isso, poderão ver aqui os horários, para melhor se organizarem.
Dito isto, não consegui visitar a Gruta das Torres e avancei para a zona do Pocinho, uma das muitas áreas balneares, e para o Porto do Calhau, muito importante nas trocas comerciais entre ilhas. As rochas vulcânicas surgem-nos na paisagem e existem poços antigos que se serviam para retirar a água doce, antes da mesma se misturar com a do mar. O Poço da Maré e o Lugar da Pontinha – onde a montanha fica mais perto do mar – fazem parte do caminho que nos faz parar na porta da Igreja de São Mateus, no concelho da Madalena, para a ir conhecer por dentro. Passando a igreja, poucos metros à frente, pode parar também para compras de artesanato, na Loja Picoartes.
A visita continua, com paragem para café (no Galeão) junto ao Porto de São Caetano: muito procurado para mergulhos – a água é transparente – e para a pesca submarina. Daqui, a vista para a montanha é deslumbrante.
O Parque de S. João não é só um bonito jardim, com parque infantil, mas também é uma lição da ilha. Tem plantas autóctones, para mostrar as que nascem na ilha, e num painel de azulejos há a referência às erupções vulcânicas, com imagem da procissão a caminho da Ermida de Santo António a 11 fevereiro 1718 – faziam-se procissões para as erupções não acontecerem. A Zona dos Mistérios é assim chamada desde a altura em que não se conseguiam explicar as erupções.
A placa de azulejos foi colocada aquando dos 300 anos das erupções dos Mistérios de Santa Luzia e São João. Em 1718, aconteceu a última erupção registada no Pico.
Continuámos pela costa e fomos dar às Lajes do Pico, que tem um bonito centro, com piscina natural, para desfrutar no verão, e onde pude visitar o Museu dos Baleeiros. Foi aqui que fui almoçar ao restaurante Lagoa, onde pode fazer pedido à carta ou desfrutar do buffet com diversas propostas de carnes e peixes (buffet 15 euros). Comida caseira e muito boa!
O Museu dos Baleeiros merece mesmo uma visita. É ali que se pode ficar a conhecer melhor a atividade baleeira, como se processava, e para que era feita a caça da baleia. Além do núcleo do bote baleeiro açoriano; conheça a tenda do ferreiro; o núcleo do baleeiro em terra; o núcleo da construção naval; e o núcleo da arte baleeira. Tem ainda um arquivo e biblioteca especializados no tema. Mais informações aqui.
Continuámos o tour, atravessando o planalto central e perdemos a vista numa estrada com cerca de 10 km de comprimento. A reta vai levar-nos à Lagoa do Capitão, que é um local muito verde e bonito. Estava a chover muito quando a visitei, mas deu para ver a sua beleza. Quando o está céu limpo e a montanha se mostra, ela reflete-se nestas águas. Ficará sublime, acredito…
Mais umas voltas e começámos a ter vista para a ilha de São Jorge, no topo de um monte. A partir da Vila de São Roque do Pico, ficámos a a olhar para essa que é apelidada de “ilha dragão”. É assim que parece a S. Jorge, as costas de um dragão deitado e “adormecido”. Bastam 40 minutos de barco para ligar o porto de São Roque à ilha de São Jorge.
Chegámos depois às Poças de São Roque. Tinha estado a chover e estava um vento frio, mas dá para imaginar que, no tempo quente, este local será uma animação, com as piscinas naturais, as esplanadas e as mesas de piquenique.
Percorremos a avenida junto do mar, em São Roque, com uma vista linda, junto do oceano, e que tem partes especiais de ciclovia. Deve ser espetacular fazer de bicicleta este caminho… quando não estiver tanto vento, digo eu…
As furnas de Santo António são outro dos locais procurados no tempo quente. Contam-me que se dão saltos para água, para refrescar os corpos, e ali ao lado estão duas piscinas que ainda se mantêm vazias até ao verão chegar.
Em Cabrito, uma pequena igreja de pedra escura tem a porta virada para o mar. À sua frente, o chão mantém os traços da lava que ali se moveu e arrefeceu. As casas típicas desta área têm as adegas ao lado, com portas coloridas, a recordar tempos idos.
Parámos mais à frente em Lajido onde está o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha, que pode visitar, saber mais, e acabar a visita com uma prova de vinhos. Passeámos pelo meio das adegas e fomos dar à beira-mar onde ainda estão as marcas das rodas dos carros de bois que transportavam as pipas de vinho por ali.
A caminho da Madalena, parei em Lugar do Cachorro onde as formações de rochas fazem mesmo lembrar um cão! Dizem que se se fizer festas ao cachorro estamos a garantir o nosso regresso à ilha. Claro que tinha de ir lá fazer a festinha…. porque quero muito regressar ao Pico.
A última paragem, antes da viagem de barco que me levaria de volta ao Faial, é feita na Cooperativa Vitivinicola Da Ilha Do Pico – Pico Wines. A cooperativa com 240 associados, trata de 250 toneladas de uvas, em média, por ano. É possível ficar a conhecer melhor o processo de produção do vinho do Pico, onde são engarrafados, rotulados e até pode fazer as provas. Também pode comprar algumas garrafas e levar consigo, ou pedir que as despachem para a sua casa, sem ter de as levar na mala. Eu fiquei muito fã destes vinhos.
E o que levei na mala para esta viagem? Assista aqui ao vídeo.