Em Linhares da Beira, uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal, o restaurante Cova da Loba conseguiu ser notícia em todo o país (e internacionalmente também), pela originalidade dos pratos propostos mas também por privilegiar os produtos da época e da terra. E, aqui, existe muita influência dos produtos tradicionais da Serra da Estrela.
Abriu as portas em 2010 e é certo que, se não virmos as suas fotografias antes, vamos à espera de um outro tipo de local. Mas, quando pomos os pés num corredor cheio de vinhos, percebemos logo que a Cova da Loba é um espaço único.
O edifício é secular. Uma casa adaptada a restaurante onde se mantêm as paredes de pedra, o forno a lenha, pontos de rusticidade que contrastam com a decoração moderna das mesas e uma cozinha aberta frente à mesa do chef que, nos dias mais frios (por estar em frente à lareira), é a mais requisitada. E o espaço gastronómico está a uns dois minutos a pé do lendário Castelo de Linhares.
Apesar de não ser diretamente da área da restauração, a gastronomia sempre foi uma paixão de Paulo Mimoso que abriu este restaurante, na terra onde nasceu, com a sua esposa. Há uma ligação umbilical ao local, mas desprende-se quando vêm para a mesa pratos modernos, que usam os produtos locais com muita originalidade.
Antes de tudo o resto, veio o couvert. São, também, criações da casa: o pão é caseiro e vêm a acompanhar pastas (que parecem manteigas) de chouriça, de azeitona, de morcela com maçã (que foi o meu preferido) e o de farinheira. Produtos da terra transformados, para serem entradas diferentes.
Como entrada em prato, veio uma surpresa devido às transformações climatéricas. Como tem chovido bastante, mesmo às portas do verão, os boletus continuavam a surgir e, não consegui resistir e pedir os últimos boletus da época, muito provavelmente. Estavam deliciosos.
A carta de vinhos tem mais de 200 referências de todo Portugal. E os vinhos são também uma paixão do dono. Paulo mantém no corredor, que dá acesso à sala de refeições, repleto de caixas de vinhos… tal e qual como se fosse a sua adega privada. Mas que, aqui, está à vista de todos.
Ora, não fosse eu uma apaixonada pelo queijo da Serra e teriam os meus olhos ido para outra proposta da carta (e não são poucas), mas o Lombinho de novilho grelhado, com creme de queijo da Serra foi a minha aposta e foi uma escolha ganha. Vinha acompanhado com batatas e verdes.
E, para terminar, tivemos uma indecisão… iria provar o arroz doce ou o leite creme, ambos com receitas familiares? A escolha recaiu no leite creme – queimado na hora… o que faz toda a diferença – que estava simplesmente divinal e terminou em beleza a refeição.
E o que há mais para comer no Cova da Loba? Se preferir o Menu de Degustação, com cinco pratos, fica nas mãos e com as escolhas do chef. Ou, então, escolha você mesmo os pratos da carta.
Seguindo os produtos da época e da região, encontrei nas entradas um gaspacho de cerejas. Também uma sopa de perdiz com boletus e shitake em massa folhada. Tem também o carpaccio de vitela com queijo da ilha de S. Jorge e mostarda Dijon; o queijo de cabra panado e compota de frutos do bosque; e o presunto Pata Negra, dos vizinhos espanhóis.
Nos pratos principais, nos peixes, tem o lombo de bacalhau no forno com puré de grão e legumes salteados; a caçarola de gambas, peixes e frutos do mar com feijão e pão de milho; e o polvo grelhado com migas de broa e chicharos com redução de balsâmico.
Nos pratos de carne, tem o peito de pato caramelizado com cerejas e legumes; o borrego grelhado com arroz de cogumelos; as burras de porco preto estufadas com cogumelos e batatinhas servidas em pão centeio; o lombinho de javali grelhado com brás de alheira; o pernil de porco assado lentamente com risoto de abóbora assada; e o cabritinho da Serra grelhado com salteado de legumes.
Nas sobremesa, além do leite creme e do arroz doce, já referidos acima, há ainda o Melhor Pão de Ló do Universo; a Pavlova com frutas e sorvete de manga; o vulcão de chocolate com frutos frescos do bosque; o crepe com doce de frutos silvestres e gelado de nata; mais gelados e sorvetes; queijo da Serra com compotas; e o pudim de amêndoa, azeite, mel e laranjas.
Tem também Menu Infantil com creme de cenoura perfumado com azeite; e, para prato principal, pode escolher entre panados de pescada com massa salteada ou bifinhos de perú com batata frita.
O nome que pode ser lido “Cova da Loba” ou “Cova da Lôpa”, tem a ver com uma lenda local. Conta no site do restaurante que “Vive nos bosques das redondezas, uma loba, outrora humana, de seu nome D. Lôpa. Santo António, primeiro a fez expulsar de sua casa uma serva, descoberto que era o Demo disfarçado, e que em Linhares angariava almas para a sua causa.
Para compensar D. Lôpa, o espirituoso santo converteu-a numa loba, por afinidade ao nome, concedendo-lhe uma longa vida, com a condição desta prestar o secreto serviço de trazer à sua terra os melhores frutos dos bosques das serras, e assim compensar os conterrâneos da inconsciente cumplicidade de outrora com Satanás”.
E, antes de ir embora, passe pela casa de banho do restaurante onde as figuras dos santos lhe dizem a qual deverá ir, guiado com luzes fluorescentes.
– Siga as dicas sobre o que visitar em Linhares da Beira, no Viaje Comigo –
INFORMAÇÕES
Restaurante Cova da Loba
Morada: Largo da Igreja, Linhares da Beira, Portugal
Telefones: +351 271 776 119 e +351 914 224 533
Horário: encerra quarta-feira todo o dia e quinta-feira ao almoço.
Nota: também há pratos vegetarianos, pergunte quais são as sugestões.