Uma das paragens, e visitas, da viagem no comboio Deccan Odyssey, na Índia, foi no estado de Goa. Não podia ter corrido melhor: calhou no dia do meu aniversário, tendo-o passado num ambiente familiar e onde me senti muito bem-vinda. Por outro lado, só foi por algumas horas e soube a pouco. Por isso, ficou a promessa: hei-de voltar com mais tempo para conhecer Goa.
Manhã cedo, depois da saída do comboio, fomos levados ao Palácio do Deão, que é tida como uma casa de inspiração portuguesa com influências indianas. Antes, somos encantados com a paisagem deste estado, onde tudo é tão verde e com as altas palmeiras… Vamos de nariz colado na janela até que pedimos para parar e fotografar esta verdura. Na beira de estrada já há algo que nos faz lembrar que estamos num estado de influências católicas, com uma santinha na beira de estrada.
Voltando à casa, existem muitas casas ao estilo português em Goa, na Índia, mas poucas terão como proprietário alguém de nome Ruben Vasco da Gama. O Palácio do Deão fica em Quepem, perto de uma igreja católica, a 14 Km de Margão, e foi reabilitado por um casal de indianos, com uma grande paixão pela cultura portuguesa. Leia mais.
Depois do lanche e tempo livre na casa portuguesa, partimos para uma plantação de especiarias. Não quiseram os portugueses outra coisa quando para aqui vieram, no início do século XVI. A Sahakari Spice Farm é claramente muito turística. Há um buffet grande para os visitantes e espaços mais recatados para grupos, como foi o nosso caso.
Depois de um verdadeiro repasto goês (com peixe panado e camarões fritos), para almoço, fomos visitar as plantações de especiarias. Vimos muito pouco, mas o problema era nosso porque andamos sempre atrasados com as visitas e já tínhamos de partir para Pangim, a capital de Goa.
Ainda aproveitei para fazer compras aqui na Sahakari Spice Farm: trouxe paus de canela, pimenta preta e cajú. E ainda trouxe umas colheres feitas a partir dos côcos. Ainda deu para provar (eu só molhei os lábios) na forte aguardente feita de caju, a Feni. Aviso: é mesmo muito forte!
Dizemos adeus às especiarias para irmos agora para Pangim (ou Panjim), a antiga Nova Goa, situada na margem esquerda do estuário do rio Mandovi. Entre Maharashtra e Karnataka, está o estado de Goa na costa do Mar da Arábia, a cerca de 400 Km de Bombaim. É o menor dos estados indianos, o quarto menor em população, e o mais rico em PIB per capita da Índia.
Goa foi a capital do Estado português na Índia e as suas principais cidades são Vasco da Gama, Pangim, Margão e Mapuçá. A ocupação portuguesa começou em 1510 e as terras foram abandonadas em 1961. Em tempos de opiniões divididas, conta-se que, as casas que tivessem um galo no telhado estariam ao lado dos portugueses.
E assim vi casas em Pangim com galos nos telhados, junto a confeitarias e joalharias – nomes usados pelos portugueses – e, inclusive, numa das casas tinha o saco de pano de pão à porta. Há algo mais tradicional do que isso? Tão tradicional que só em meio de aldeia ainda se usa em Portugal! Apesar desse legado… todos os meus companheiros de viagem ficaram tristes por não terem pasteis de nata à venda na confeitaria. Uma falha grave, realmente 😀
Numa rua estreita, parámos na Confeitaria 31 de Janeiro que tem na lista o “Bolo de Chocolate” ou o “Bolo com 3 Cores”, “Torta Inteira” ou ainda o “Bolo Madeira”, assim mesmo escritos na língua de Camões. A mesas da esplanada têm azulejos com ilustrações de pontos turísticos de Goa. Vizinhas deste estabelecimento são pequenas casas que fazem lembrar as de Portugal.
Goa é também conhecida pelas suas praias mas disso não posso falar nesta viagem, porque só lá estive algumas horas e longe dos tão procurados areais. Quanto à comida, junto do mar, é mais marcadamente portuguesa, com porco, mais longe do mar come-se mais frango, por exemplo. Mas, também comem caril de peixe, muito arroz (o castanho é o preferido), e muitos vegetais. Os peixes mais usados são a sardinha, por exemplo, e peixe salgado.
Apesar de o turismo ser o segundo motor económico do estado, Goa também ganha dinheiro com a mineração (em primeiro lugar) e a pesca (em terceiro lugar), assim como com as especiarias que exporta para todo o mundo.
Todas estas informações vão sendo dadas pelo nosso guia, que desfaz logo a primeira perceção que muitos visitantes têm: “por verem muitas igrejas católicas, acham que todos somos católicos. Mas, é totalmente mentira, a maioria é hindu (cerca de 66%), depois vem o cristianismo e o islamismo”.
E dito isto, fomos visitar três monumentos que são Património da Humanidade: a Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, a Sé Catedral de Goa (construída no século XVII) e a Basílica do Bom Jesus (onde estão as relíquias de São Francisco Xavier, no interior da igreja).
No centro histórico da antiga Nova Goa, agora Pangim, explorámos algumas ruas. No chamado Bairro das Fontainhas, há nomes das famílias escritas em azulejos, na entrada das casas, e quando tiro fotografias, perguntam-me de imediato: “É portuguesa?”, em português. Só isso seria motivo para ficar a conversar durante horas com as pessoas que encontrei, mas infelizmente tinha o tempo contado.
O senhor Francisco Fonseca está sentado junto de uma porta, acompanhado por um amigo. Está afónico, mas Chico – é o nome artístco – é um cantor que usa a língua portuguesa e conhecido por manter o fado por estas bandas. Infelizmente também só consegui ficar uns minutos à conversa com eles e tivemos de partir, para o comboio.
Há lojas com louça tipicamente portuguesa à venda, há galos (a lembrar o de Barcelos) em muitos locais, e encontro o bar do Dias pelo caminho e autocarros que dizem “Fernandes”. Tudo faz lembrar Portugal em Goa, excepto os casinos instalados do outro lado do rio. Porquê tão longe? “Para dissuadir as pessoas de jogarem excessivamente”, diz-nos o guia.
Tive de partir apressada e deixei a conversa a meio com o senhor Couto que estava sentado numa cadeira em frente à sua casa. Era hora de ponta no centro da cidade e o trânsito já estava infernal. Temos de nos despachar para chegarmos a tempo ao comboio.
Soube a pouco mas hei-de voltar. Espera pelo meu regresso, Goa… um dia vou ficar muito mais tempo para te conhecer! Prometo!