A Casa do Bandarra é um dos locais a visitar numa ida a Trancoso, uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal. Aqui vai encontrar a história de uma das mais carismáticas personalidades desta região e um ícone nacional, naquela que terá sido a sua casa. E, afinal, quem foi Bandarra?
Sapateiro, poeta e profeta, Gonçalo Anes Bandarra, é considerado uma espécie de “Nostradamus português”, tendo inspirado autores como Fernando Pessoa que lhe dedica o poema “O Encoberto”, inspirado nas “Trovas do Bandarra”. Aliás, as suas trovas influenciaram o pensamento sebastianista e messiânico também de D. João de Castro e do Padre António Vieira.
Nasceu em 1500, em Trancoso, o Bandarra que ficou conhecido pelas suas trovas proféticas, nas quais anunciava o regresso de D. Sebastião. Em 1541, a Inquisição julgou-o mas teve uma pena leve, sendo proibido de interpretar a Bíblia ou a escrever sobre assuntos teológicos.
As cópias circulavam de forma manuscrita e, por isso, primeira edição das “Trovas do Bandarra” só foi impressa em 1603, em Paris, por iniciativa de D. João de Castro – neto sebastianista do Vice-Rei da Índia Portuguesa.
Faleceu (supõe-se) em 1556 e o corpo de Bandarra está na Igreja De São Pedro, no centro histórico de Trancoso. Foi mandado edificar por D. Álvaro de Abranches, em 1642. Dentro desta Casa do Bandarra tem documentos, filmes e áudio relacionado com a história de Bandarra. No pátio tem trovas suas escritas e podem ser “ouvidas” no fundo de um poço.
No interior da Casa do Bandarra encontra-se um painel com informação sobre a sua Vida e Obra: “Viveu numa época de grande tensão na História de Portugal. D. João III entregara a posse de Trancoso ao Duque D. Fernando, seu irmão. Os habitantes recusaram a decisão do monarca e, durante anos, a teimosia de D. Fernando, que não aceitava outra dadiva em troca da vila, conflitos com o desejo dos trancoenses. Bandarra assistiu, também, à criação da Inquisição da qual foi vítima, em 1541, à problemática dos conversos, ao abandono da produção interna, à expansão ultramarina e à guerra contra os mouros no Oriente, as abusos da administração pública e à decadência da nobreza. Este período foi inspirador e perturbador para Gonçalo Anes, como transparece nos “Sonhos”.
“Terá sido casado com Catarina Gonçalves, mas pouco sabemos da sua biografia, a escassez de documentação escrutada foi colmatada com lendas e estórias desenvolvidas em torno da sua personagem. Tinha uma posição social reconhecida; era sapateiro de correia, relacionava-se facilmente com cristãos-velhos e cristãos-novos e muitos consideravam-no um exegeta, um líder religioso. A divulgação das obras, “Trovas e Sonhos”, tornaram-no profeta de Portugal”.
As “Trovas e Sonhos”, de inspiração bíblica, criticam ainda a corrupção e a impiedade da sociedade da época: ao longo dos tempos, foram interpretados de diferentes modos. Uns leram, na obra, o anúncio da vinda do Messias Salvador, prometido; outros acreditaram na referência ao rei Encoberto; alguns decifraram a profecia do Quinto Império, a restauração da Independência de Portugal e a aclamação de D. João IV; houve quem descobrisse igualmente, no texto, o sinal das Invasões Francesas… Os textos do Nostradamus dos Portugueses, como lhe chamou Fernando Pessoa, foram incluídos no catálogo dos livros proibidos pela Inquisição, em 1581. No entanto, contrariando a sentença inquisitória, a obra de Bandarra continuou a circular em Portugal, na Europa e no Brasil. Tal como Lúcio d’Azevedo referiu: “nenhum livro se proibiu tantas vezes. E todavia nunca foi raro”.
“D. João de Castro, defensor do sapateiro e atento aos profetas e profecias que circulavam na Europa, foi o primeiro editor de algumas Trovas, em paris (1603). Em Nantes (1644), foram publicadas integralmente, pelo Embaixador de Portugal em Paris, D. Vasco Luís da Gama,. Posteriormente foram acrescentados o segundo e terceiro corpos de “Trovas”; surgiriam várias edições no século XIX, em Barcelona, Londres, Porto e Lisboa. Bandarra, o Profeta dos Sonhos, foi aficcionado e estudado por autores insignes das mais diversas áreas do conhecimento, ao longo dos séculos”.
INFORMAÇÕES
Casa do Bandarra
Travessa do Poço do Monte, Trancoso, Guarda, Portugal
Horário: terça-feira a domingo, 9h00-12h30, 14h00–17h30 (confirmar antes de visitar, poderá ter sido alterado)
Telefone: +351 271 811 147
Desafio 2017 – #327 Uma fotografia por dia…
Em 2017 tenho este desafio… colocar uma fotografia por dia, aqui no Viaje Comigo, relatando a história que está por detrás da mesma. Veja aqui outras imagens e outras histórias da rubrica “Uma fotografia por dia…”. Boas viagens!