Visitámos o norte de Marrocos no mês de outubro de 2016. Arrancamos num voo direto, de Lisboa para Tânger, e saímos de um dia de chuva, e 17 graus, para sermos acolhidos por dias de verão, com 26 graus de máxima, em terras marroquinas. A TAP tem voos diretos de Lisboa para Tânger e, a partir daí, pode ficar a conhecer o norte de Marrocos.
Tânger vive em permanente encruzilhada, entre as culturas europeia e marroquina, entre África e a Europa e entre Mediterrâneo e Atlântico. A sua posição geográfica sempre a tornou desejável e, por isso, mudou de mãos algumas vezes na História, tendo isso ficado marcado em diferentes aspetos até aos dias de hoje. Atualmente, é uma cidade moderna que cruza a cultura marroquina com os tiques europeus e é um local onde muitos falam espanhol.
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Os teatros e cinemas, assim como os cafés antigos, mostram os locais que foram frequentados, em tempos, por poetas, pintores, fotógrafos e escritores, vindos de todo o mundo. Alguns mudaram-se para Tânger, outros vinham durante temporadas onde se inspiravam para as suas obras… dando ainda uma maior reputação internacional à cidade.
Entre os locais mais conhecidos, e frequentados pelos artistas, estavam o Hotel el Minzah, o Hotel Continental, o Gran Café de Paris ou o Café Fuentes, entre outros. E de que nomes estamos a falar e que se apaixonaram por Tânger? Desde Eugène Delacroix a Henri Matisse, de Oscar Wilde a William Burroughs, de Tennesse Williams a Torres, e ainda Mcbey.
Pela mítica “Librairie dês Colonnes” (estava fechada das duas vezes que lá passei), que abriu em 1949, passaram nomes como Samuel Beckett, Jean Vassoura, Juan Goytisolo, Tennessee Williams, Truman Capote, Paul Morand, Jane e Paul Bowles, Mohamed Choukri e Tahar Ben Jelloun, entre muitos outros.
Mas, hoje em dia, Tânger é uma cidade em crescimento e completa transformação – os centros comerciais e hipermercados já lá estão há alguns anos -, com a ampliação do porto (para o tornar um dos dez primeiros do mundo), construção de novas vias (autoestrada Tânger-Casablanca), reabilitação urbana, novos projetos de empresas que se aqui se estabelecem com fábricas, o TGV, que será o primeiro do continente africano, e o estádio de Tânger. São apenas algumas das grandes obras.
Nos próximos anos, Tânger vai mudar com a aposta nas infra-estruturas, mas também na criação de espaços verdes, zonas residenciais (no que será o novo centro da cidade, perto da estação ferroviária), e de uma zona industrial, assim como 25 novas escolas e 21 creches. A isso se acrescenta a construção de uma cidade desportiva de 60 hectares e a reabilitação do património de Tânger.
Também o turismo vai ter forte investimento nos próximos tempos, aumentando a oferta balnear e cultural, assim como o turismo de negócio. O porto vai receber mais e maiores cruzeiros e, junto das praias, além da abertura de novos hotéis (com forte aposta no segmento de luxo), são construídas acessibilidades, praças, jardins, estacionamentos e lojas, restaurantes e cafés.
Se estiver a viajar de carro, depois de visitar o Cabo Spartel, vai passar por uma zona cheia de moradias – que parece quase Beverly Hills – onde estão embaixadas e casas de personalidades. E, a partir daí, desenvolvem-se os bairros de diferentes nacionalidades como o bairro italiano, o americano, o inglês (com igreja protestante), o bairro espanhol e, claro, um bairro português.
Atravessamos a baía toda para irmos a um promontório onde se tem vista para o mar, enquanto desfrutamos de um chá marroquino. Quando lá fui, estava um dia ventoso, mas a vista compensava. Para esse lado da baía de Tânger é onde estão os hotéis de luxo, o casino e até parques aquáticos. Toda uma nova cidade à espera dos turistas.
Para compras tem muitas lojas mas, se quiser ter uma vista de 360 graus da cidade no telhado vá à Jag – Galeria Tradicional, 79, Rue Nassiria, 90000, Tanger, Marrocos – aqui tem de tudo, desde tapetes a candeeiros, carteiras e malas, vestuário e calçado, e tudo o resto.
O QUE VISITAR EM TÂNGER
As ruas e a organização da cidade ainda têm muitos vestígios da ocupação portuguesa. No entanto, com o passar dos tempos, a Medina transformou-se com as pequenas artérias que a mudaram para o típico labirinto marroquino – mas não tão grande como noutras cidades. A melhor forma de conhecer Tânger é percorrer a pé a cidade antiga e depois ficar a conhecer, de carro, a modernização junto da costa.
– A cidade antiga é a Medina, e o Grande Socco é o local mais frequentado da cidade. É aqui que está a antiga residência do Mendoub (representante do sultão) e os Jardins da Mendoubia.
– Na praça, a Cinemateca de Tanger difunde filmes de arte e ensaio reservando um lugar prioritário à produção marroquina. Está instalada no Cinema Rif, construído na década de 1930, e as duas salas têm decoração vintage.
– A rua dos Siaghines é conhecida por ser a rua dos joalheiros. E é partir daqui que se tem acesso ao Petit Socco, onde há cafés e hotéis que foram frequentados e serviram de inspiração a artistas do mundo inteiro, como Paul Bowles, Jean Vassoura, Paul Morand, Pasolini e Camille Saint-Saëns.
– Indo pela Rue de la Marine vai ter à Bab el Bahr (Porta do Mar), que fica enquadrada por dois borjs (torres muralhadas), entre os quais, o Borj el Mosra com os seus canhões gigantes, de onde se vê a agitação do porto de pesca.
– A Kasbah é a antiga fortaleza e a é alma de Tanger. Na Praça da Kasbah está o Palácio do sultão “Dar El Mekhzen”, que alberga um museu dedicado às artes marroquinas.
Ao lado está o palácio Dar Chorfa, que acolhe o Museu das Antiguidades e Arqueologia.
Aqui mesmo, vai estar o Café du Détroit que é um lugar privilegiado que deve o seu nome à vista fantástica que se tem sobre o estreito.
– Igreja de Saint Andrews foi construída pelos britânicos em 1884.
– Museu do Legado Americano: em 1777, Marrocos foi o primeiro país a reconhecer oficialmente a independência dos EUA. Para selar esta amizade, o sultão Moulay Slimane ofereceu esta casa de Tânger à missão diplomática americana, em 1821. É o único monumento dos EUA que está fora do seu território nacional. É uma ampla residência do século XVIII, restaurada em 1920, e que foi transformada em museu em 1956. Estão aqui diversas coleções de obras que reconstituem a história da cidade de Tânger do século XVII ao século XX.
– Túmulo de Ibn Battouta: sepultura da personagem mais emblemática da cidade de Tânger. Um viajante e explorador que nasceu em Tânger em 1304 e partiu em peregrinação a Meca, aos 22 anos. Fica numa viela do bairro Fuente Nueva, na zona da medina.
Na “Ville moderne” de Tânger:
O Boulevard Pasteur é a artéria principal da cidade nova e no final da alameda está a Praça de Faro e os seus canhões, com uma vista panorâmica sobre o porto e baía, e com tempo limpo, avista-se facilmente a costa espanhola. Infelizmente no dia em que lá estivemos, está um bocadinho de nevoeiro o que impediu que víssemos a terra espanhola.
E sabe como chamam os Tangerinos a este local? O “Sour Al Maâgazine”, ou seja, o “Muro dos preguiçosos”, já que são muitos os que passam aqui longas horas simplesmente a olhar para os navios que atravessam o estreito.
Desça agora a Rue Anoual para descobrir a fachada art déco do Gran Teatro Cervantes. Foi inaugurado em 1913, e foi considerado o mais importante teatro do Norte de África, com a sua extraordinária arquitetura, as suas 1400 poltronas e maquinaria, muito modernas para a época.
– Café Hafa
Este é um café único pela localização e vista. Tem várias esplanadas, em formato de socalcos, viradas para o mar Mediterrâneo, à direita, para o oceano Atlântico à esquerda e tem a Andaluzia em frente. Este local, aberto em 1921, foi frequentado por muitos dos artistas que passavam ou viviam em Tânger, como Paul Bowles, Rolling Stones e Randy Weston.
– Cabo Spartel e Cabo Malabata
São dois os cabos que marcam a entrada da cidade de Tânger: o Cabo Spartel no oceano Atlântico e o cabo Malabata no mar Mediterrâneo (com vista de 180 graus sobre o estreito de Gibraltar). Ao lado deste último está o castelo de Malabata, de início do século XX.
O Cabo Spartel tem um farol, construído em 1965, e é o local ideal para apreciar o pôr-do-sol. A caminho, faça uma paragem no miradouro de Perdicaris.
– As Grutas de Hércules
Situadas no Cabo Spartel, ao largo da costa Atlântica, as grutas de Hércules são cavernas naturais calcárias. Diz-se que foi aqui que Hércules descansou após ter realizado os seus 12 trabalhos… sabia mais aqui.
– Na Rue du Portugal pode ainda admirar alguns dos vestígios de arquitetura militar portuguesa
HISTÓRIA DE TÂNGER
Tânger tem duas necrópoles que atestam a passagem dos Fenícios, mas a cidade foi fundada no século IV a.C. pelos Cartagineses, que tornaram Tingi um grande centro comercial. Em 146 a.C., com a queda de Cartago, a cidade é incorporada, com o nome de Tingis, no reino da Mauritânia, aliado de Roma. Foi colónia romana mas, em 706 d.C., durante a conquista árabe, o general Omeíada Moussa Ibn Noussaïr apodera-se da cidade.
Também os portugueses a cobiçaram pelo seu porto, onde se comercializava mercadoria vinda de várias partes do mundo. Assim, em 1471, os portugueses conquistaram Tânger, que a largariam para os seus aliados ingleses em 1661. Em 1684, a dinastia Alauita recupera Tânger.
Em 1906, a conferência de Algeciras confere um estatuto especial à cidade que, em 1925, se converte em zona franca internacional sob a soberania do Sultão de Marrocos. Este é um período de grande desenvolvimento, a todos os níveis, em Tanger, sendo relatado no cinema e na literatura.
Para o Reino de Marrocos esta é também uma cidade especial já que foi no parque Mendoubia que o Rei Mohammed V pronunciou, em 1947, o discurso que reclama a independência do Marrocos. No entanto, Tânger conservou o seu estatuto particular até 1960.
ONDE COMER EM TÂNGER
Experimentei dois restaurantes em Tânger – e as sugestões podem ser lidas aqui.
ONDE DORMIR EM TÂNGER
Quando estive em Tânger fiquei alojada no hotel Kenzi Solazur, que fica mesmo em frente ao porto da cidade, com vista para o Estreito de Gibraltar e para a Baía de Tânger, e é só atravessar a rua para estar na praia.
Saiba mais aqui sobre os hotéis de Tânger.
AGENDA DOS PRINCIPAIS FESTIVAIS E EVENTOS EM TÂNGER
Fevereiro: Salão internacional do Livro
Março:
– Festival das Mulheres Criadoras de Assilah
– Rally Nacional do Corpo Diplomático
Abril: Feira Internacional do Livro e Artes
Maio: O Festival internacional de teatro amador de Tânger, sob a presidência de Pierre Bergé, mecenas e homem do teatro. É também um espaço de encontro entre atores e público e entre as companhias de teatro de diferentes países.
Junho:
– Festival Tan-Jazz, desde 2000 é o festival de jazz de Tanger, recebe músicos vindos dos quatro cantos do mundo e propõe uma programação rica em atividades artísticas e encontros intelectuais.
– As Noites do Mediterrâneo
Julho: Meeting Internacional de Tânger
Agosto: Festival Cultural Internacional de Assilah
Novembro: Tanja Latina – Organizado pela primeira vez em 2008, o festival distingue-se pela sua programação centrada na música latina. Festival de música “As Noites do Mediterrâneo”
COMO IR?
A TAP tem voos diretos de Lisboa para Tânger e, a partir daí, pode ficar a conhecer o norte de Marrocos.