Se me perguntarem qual a vila que mais gostei de conhecer durante a peregrinação do projeto Italian Wonder Ways, ao fazermos a Via Amerina, e seguindo os passos de S. Francisco até Roma, respondo sem hesitar… Amelia.
Amelia é uma comuna italiana da região da Úmbria, província de Terni, com cerca de 12 mil habitantes, que fica a cerca de 100 quilómetros de Roma. Durante a época dos romanos, chamava-se Ameria, dando nome à conhecida Via Amerina. Aliás, segundo alguns estudos, esta será a mais antiga cidade de Úmbria.
Ocupada por vários povos, devido às suas terras férteis e também pelo ponto estratégico, Amelia era um ponto importante no Caminho Bizantino, que ligava Roma a Ravenna.
A visita ao centro histórico de Amelia começou do alto do seu monte. Ao longe, parece uma construção de Lego, e à medida que vamos subindo, numa carrinha que mal cabe nas estreitas ruas, vamos vendo casas sobrepostas… mas de forma organizada. Tão limpa, tão bonita, com inúmeros recantos preciosos, plantas e flores espalhadas nas varandas e janelas…
No topo, vislumbra-se uma panorâmica para a cidade de Amelia e, em seu redor, inúmeros e verdejantes montes. É o vale do rio Tibre que também se pode ver. Não é por caso que se diz que Úmbria é o coração verde de Itália.
Aqui ao lado, está a catedral de Amelia, datada do século XI mas que sofreu muitas remodelações durante vários séculos até ao século XIX – o seu campanário foi erguido em 1050 a partir de partes de edifícios romanos. Tem estilo barroco e, em 1629, um incêndio obrigou a que grande parte da igreja fosse reconstruída. É dedicada à Santa Firmina, padroeira de Amelia e tem frescos, no seu interior, do século XVIII.
Na praça junto da catedral e da torre (com mais de 30 metros de altura), foi-nos apresentado o grupo de tambores e bandeiras, com porta-estandartes que, apesar de muito jovens, já são muito profissionais. Fazem aliás, parte das festas anuais de Amelia, com as suas apresentações e participam em eventos pelo mundo inteiro (no vídeo deste texto pode ver parte da apresentação destes pequenos “malabaristas”).
As paredes das casas de Amelia falam pela sua história, assim como a muralha que rodeia grande parte da vila. São blocos imensos de pedras que fazem as paredes e serpenteiam desenhando as pitorescas ruas da vila, por vezes com 3,5 metros de espessura e que se podem estender ao longo de mais de 700 metros de comprimento. Nessa muralha encontram-se quatro portas viradas para cada ponto cardeal: norte, sul, este e oeste.
Da época romana ficaram muitos vestígios. Fomos também visitar a Cisterna Romana da Praça Matteotti, que mostra o subsolo onde se fazia o aproveitamento das águas das chuva (e também da neve), através de vários túneis escavados e com muitos metros de altura. Datam do século I d.C.
A Igreja de São Francisco (do século XIII) fica na praça Vera, com um claustro e um convento que lhe foi adicionado no século XIV e renovado com influências renascentistas, no século XVI.
Aqui ao lado, na rua pedonal que viemos a descer, a partir da catedral, está um pedaço do que foi a Estrada Romana ainda bem conservada. Data do século I a.C. e aqui estão várias pedras seculares descobertas, que faziam parte da Via Amerina.
Se subir um pedaço desta rua vai encontrar o Museu Arqueológico de Amelia onde a peça de destaque é uma estátua de bronze apelidada de “Germanicus” que se estima ser da época romana. No museu pode ver e ouvir a explicação (muito interessante) desta estátua, de dois metros de altura, que representa de forma majestosa Nero Claudius Drusus.
O Teatro Sociale, do século XVIII, tem o interior de madeira e tem uma sala muito pequena e familiar. É um Monumento de Interesse Histórico e Artístico, projetado pelo Conde Stefano Cansacchi, encomendado por um grupo de nobres da cidade. A cortina é um dos destaques da sala, com uma pintura
FESTAS DE AMELIA
No final de julho e início de agosto tem lugar uma das maiores festas de Amelia: Palio dei Colombi. A recriação medieval traz cavaleiros para as ruas (há aliás uma competição entre os cavaleiros dos bairros medievais), bandas de bombos e atiradores de bandeiras (manobram as bandeiras como ninguém!) e abrem-se as portas de muitas tabernas, com mesas e bancos de madeira corridos, para nos servirem a cozinha tradicional desta região.
ONDE DORMIR EM AMELIA
Em Amelia ficamos instalados no La Gabelletta, um edifício muito bonito do século XVIII, com alojamento de duas formas: quarto ou apartamento, com cozinha e sala. Tem uma piscina nas traseiras, com vista para um monte, um restaurante e uma cave de vinhos, onde pode fazer provas.
Apesar de o local ser excelente, tivemos uma má experiência por lá. Dormimos quando fomos visitar Amelia e, na manhã seguinte, não havia ninguém no hotel! Ninguém para nos dar o pequeno-almoço… ninguém, sequer, a quem deixarmos as chaves das habitações.
Acabamos por ir tomar o pequeno-almoço a um café do centro da vila. Passadas algumas horas, pediram imensa desculpa, que a culpa tinha sido de um dos empregados (do chef, disseram) que se tinha esquecido de nos dar o pequeno-almoço. São coisas que de facto podem acontecer, quando só se tem uma pessoa para cuidar de um grupo de 12 pessoas…
Está à procura de outros alojamentos em Amelia? Pesquise aqui.
O QUE COMER EM AMELIA
Não podemos aconselhar de facto nenhum restaurante em especial em Amelia, já que só passamos lá uma noite e fizemos o jantar numa taberna que só abre as portas para as festas da cidade, no verão.
Ainda assim, foram-nos dadas a provar muitas das iguarias de Amelia. Uma delas são sem dúvida os Medalhões de Amelia, uma espécie de bolachas recheadas com doces de figos.
Aliás, conhecido mesmo é o Fichi Girotti, “típico produto umbro” (doce com figos) que tem uma loja no centro de Amelia, desde 1830. Dizem que, nessa casa, ou na do lado do estabelecimento, terá nvivido Terence Hill, o companheiro dos filmes de Bud Spencer. O nome verdadeiro de Terence Hill é… Mario Giuseppe Girotti.
À chegada a Amelia, depois de uma caminhada na Via Amerina, o almoço foi feito num espaço ao ar livre, onde está uma sinalização de madeira que refere a Associação dos Amigos do Rio Grande.
Fomos até aqui escoltados pelo grupo de cavaleiros, que fazem parte de festa medieval, que se realiza anualmente em Amelia, para aqui almoçarmos, numa espécie de piquenique.
Os patos, os cisnes e até marmotas (!) banham-se e comem no rio Grande – que nesta altura do ano tem muito pouca água -, enquanto nós aproveitamos as mesas e bancos corridos, para provarmos as delícias locais: desde as pastas e massas (La pasta Amerina), ao azeite virgem local, dos queijos aos enchidos e ainda os vinhos. Tudo uma delícia! Tem também aqui um parque infantil para os mais novos se divertiem.