Quando lhe perguntámos quais os destinos preferidos, Cláudia Frias, autora do blogue Desejo de Voar, diz que não sabe como responder à pergunta. “Sinto apelos. Sinto afinidades. Visualizo-me “lá”. E nesta viagem, que está a fazer agora, destaca uma frase especial: ” eu devo isto a mim própria”. “Desejo de Voar” também está no Facebook.
“Escolho o destino, muitas vezes, ao ler uma reportagem, um livro, ou ter visto um filme. Mas atenção : nunca tive pretensões de ir rever o que vi no filme, por exemplo. Quero apenas, captar a atmosfera.
Depois, se é turístico, não quero. Sou casmurra. Mas, claro que, depois viajando, há sempre aquele local turístico onde vou ter de passar. O segredo, para mim, são os filtros…. mentalizar primeiro , ativar os filtros (de distanciamento, de relax, “não olhes, não ligues, não te aborreças e ri-te” e respirar e go!
A Índia está sempre no top. Deixa-me exausta, mas já se entranhou no meu corpo.
Talvez seja o destino que eu considere que vou voltar sempre!
Nicarágua, na América Central, Argentina, na América do Sul… Sri Lanka…. e o Sudeste Asiático. A antiga Indochina francesa faz-me sonhar. Eu preciso deste sentimento: de sonhar.
Aprecio o que é genuíno, espontâneo, autêntico. Simples. Aprecio o não-belo , o imperfeito.
Aprecio que seja difícil por vezes lá chegar, que não seja tudo tão fácil.
Pode ser rural ou citadino, mas confesso que me canso muito rapidamente das cidades”, explica Cláudia Frias.
Fez 40 anos em janeiro e garante que não foi a entrada numa nova década que a levou a tomar uma atitude que ansiava há muito: viajar. Vai estar pela Ásia nos próximos sete meses. “Decidi fazer uma ou várias viagens, mas com um intervalo de tempo mais longo e para usufruir mais de cada lugar. Isso porque, quando me libertei do meu trabalho, a decisão e até a motivação principal foi viajar”.
Nesta viagem já passou por: Malásia, Kuala Lumpur, Penang , Banguecoque (para pedir visto Birmania/Myanmar); 25 dias em Myanmar (“este sim era o país que eu não queria adiar mais), Cambodja (também muito desejado), Tailândia (para um retiro de yoga e acabei por conhecer algumas ilhas). E agora Filipinas e Indonésia.
“Esta viagem não tem como objetivo contar países. Fui viajando ao longo dos anos, e inclusive já tinha estado no Sudeste Asiático, e fui mudando a minha forma de viajar. Nesta viagem decidi não decidir nada! Não planear, ir apenas “indo”. No início, falava em muitos mais países que agora! Saltitava cada dia entre ir a este ou aquele”, explica a autora do blogue Desejo de Voar,.
“Busco o tudo e o nada. Quero somente Viver nestes meses! Se, quando regressar a Portugal, olhar para trás e lembrar-me de todos os pequenos momentos que vivi , do quanto eu sorri, do quanto fiz sorrir ou rir alguém com os meus disparates ou com as minhas histórias… De quantas asneiras eu disse e e do quanto resmunguei e ri-me logo a seguir. De cada vez que respirei fundo. De cada vez que me emocionei do nada. De pequenas artes que possa ter aprendido. De lições de vida que aprendi. De podermos ser felizes com tão pouco… E pensar que nós podemos ser tudo o que quisermos….”.
“E aí viagem ainda só começou. Porque a viagem não é só quando estamos nos países. É antes, durante e depois! E se o depois for longo melhor ainda! Acredito apenas no poder imenso de viajar”, sublinha Cláudia.
E o largar o trabalho?
“É um risco. No meu caso, por agora, vivo com o valor com que saí da empresa, pelos anos que lá trabalhei. Era a minha grande questão! Ficava apavorada, porque apesar de gastar quando preciso, também sou forreta, ou medricas de ficar sem dinheiro.
Pelo menos, tentei sair do pais sem despesa nenhuma associada. a não ser a viagem.
Em tudo procuro ser poupada, sem me privar de nada que necessite. Não faço compras , ou apenas as necessárias para a viagem. Procuro ficar alojada em guesthouses, hostais, viajar e comer o mais barato possível. A experiência diz-me que é sempre o melhor! Vives mais!”
Voos e transportes
O voo para cá ficou em aproximadamente 750€
Voo Tailândia – Myanmar 65€
Voo Cambodja . Tailandia – 50€
Voo Tailândia – Kuala Lumpur Malasia – 38€
Transportes: viagens de bus variam entre os 6 a 15 dólares
“A única variável acual, em relação a viagens anteriores, é uma maior tendência para voar mais, pois os preços entre os voos ou bus ou comboio são praticamente os mesmos em determinadas situações”.
“Tendencialmente prefiro ser masoquista e passar uma noite num bus para poupar. E antes utilizava o argumento de “ver o pais”, mas durante a noite o máximo que vês é o que se passa dentro do bus (o que pode ser uma grande experiência, diga-se)”, conta Cláudia Frias.
Alojamento
“Em Myanmar consegui manter uma média de 10 dólares, que até foi bom.
Cambodja, uma média de 6 dólares. Na Tailândia, ao contrário do que se costuma dizer entre mochileiros, não está dentro do meu orçamento. Mas também estive em ilhas , e em determinados locais não queres ficar num dormitório de 10 camas, mas sim num bungalow.
E aqui os preços variam: já fiquei em camas por 3 dólares e foi a loucura quando fiquei num hotel por 20 dólares!
Há o couchsurfing, que infelizmente não tenho sido muito ativa, mas tenho que rever, pois tem muitas vantagens.”
Alimentação
“São imbatíveis, e comes maravilhosamente bem! E desde que evites os restaurantes internacionais. Há dias em que gasto 3 a 5 euros. Outros mais. Diria que o meu orçamento tem estado nos 20€/dia em média por estes países todos”, revela Cláudia Frias.
“O trabalhar por cá não está posto de lado, mas uma vez que não vou a tantos países como pensei, acho que por agora não vai ser necessário. Mas há inúmeras possibilidades e sites já próprios , para quem quer viajar e parar, umas semanas que sejam, e trabalhar, muitas vezes em troca de dormida e comida. O que quero dizer é que é tão fácil, se quisermos!”
VIAJAR SOZINHA: prós e contras
“Comecei a viajar sempre com amigos. Experimentei meio termo quando viajava para visitar família ou amigos, no Brasil e na Europa. Mas, mesmo em Portugal, por vezes, sentia a necessidade de viajar por mim, sem depender de ninguém. Era um fascínio. Gostava de estar com amigos e família, mas eu é que decidia.
Entretanto fui a Argentina sozinha. E mesmo com peripécias, de taquicardias e hospitais, fiquei viciada.
A partir daí, acho que só viajei mais uma vez acompanhada (viagem longa) com uma grande amiga. Mas, mais do que amiga! Somos muito transparentes acerca da nossa forma de viajar e da necessidade de estarmos sozinhas de vez em quando. Tinha sido a minha segunda vez na India”, conta Cláudia Frias, do blogue Desejo de Voar.
Prós de viajar sozinha
“É simples. Tu decides. Se correr mal, é só contigo que tens de falar. Estás aberta a conhecer e a que muitas pequenas aventuras aconteçam. Desde a simples conversa com o companheiro de autocarro, nas paragens, nos restaurantes. É incrível, mas sozinha toda a gente me ajuda!! Ou me faz companhia por eu estar sozinha, ou seja, nunca estou sozinha!”
Contras de viajar sozinha
“É o partilhar, o falar para o lado, o ter um ombro amigo quando algo corre mal, ou quando algo é tão mágico que queres que alguém especial estivesse contigo.
Um dos sentimentos que mais tenho aqui é o de querer que os meus sobrinhos vissem através dos meus olhos. Ou que estivessem comigo!
Felizmente as redes sociais e a net são fantásticas e já me proporcionaram momentos especiais, como assistir ao nascer do sol numa ilha na Tailândia com uma das pessoas mais especiais da minha vida em Portugal, assistindo via Skype!”
Fotos: Direitos Reservados (Cláudia Frias)