Vanessa Rodrigues, 32 anos, escritora e jornalista freelancer, já viveu nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, no Brasil.
Estas são as suas sugestões, para quem vai visitar estas duas cidades. O primeiro contacto com a cidade de S. Paulo deixou em Vanessa Rodrigues um sentimento de “imponência”. “Senti-me pequena porque fui direta para São Paulo, uma super metrópole”, explicou a jornalista.
Este texto faz parte da rubrica “A cidade vista por dentro”. Mais do que sugestões de viagens, estas dicas são especiais porque são dadas por quem vive ou já viveu nas referidas cidades.
– Como são os brasileiros?
Além de muito afáveis, conversadores, festivos, deixam-te logo à vontade. Depois, há uma magia brasileira que é a cultura de que, independentemente dos problemas, tudo vai dar sempre certo. A verdade é que dá sempre tudo certo. E ainda a sensação de que ninguém te julga, valorizam o que és, na diferença, e querem partilhar isso contigo.
– Restaurantes, bares, cafés tradicionais, locais onde se come o que é típico
Algumas sugestões: Rubayat (Jardins), Vaca Véia (Itaim Bibi) Central das Artes (em Perdizes, com Crepes incríveis); Salve Jorge no centro e Vila Madalena, o Goa, Restaurante Vegetariano; Sushi é no Bairro da Liberdade, com rodízio por 10 euros.
E, claro, botecos. O meu favorito é o BH, na Rua Augusta, para comer um Bauru, prato feito, feijoada; o Consulado Mineiro, na rua Benedito Calixto; O Josephine, na Vila Nova Conceição; e as Pizzarias do Brás.
E, na zona italiana, no Bexiga, há restaurantes e cantinas italianas onde se come até chorar por mais.
No Rio de Janeiro, fui a imensos botecos, sobretudo, e espaços de sandes e sumos naturais maravilhosos, de goiaba, açaí… Vale a pena a feijoada das escolas de samba; recordo-me da pizzaria Guanabara; o Sushi Leblon para Sushi; no bairro de Santa Teresa e, na Lapa, há várias possibilidades; Devassa, para a cerveja, com o mesmo nome e petiscos.<
– Alguma sugestão de hotel?
Só fiquei uma vez num hotel, no Rio de Janeiro a trabalho: o Hotel Copacabana Othon, em frente à praia. De resto aluguei sempre quartos, apartamento ou ficava em casa de amigos, que era o mais comum.
Para pesquisar mais hotéis no Rio de Janeiro, clique aqui.
Se pretender ficar em São Paulo, aceda aqui a vários alojamentos.
– Qual é a melhor zona para ficar num hotel e que zonas devo evitar, principalmente à noite?
Em São Paulo: ficar em Itaim Bibi, Jardins ou Paulista.
A evitar: zona do Brás, zona da Luz, sobretudo.
No Rio, para ficar: Leblon, Ipanema.
A evitar: talvez a zona do centro, mas depende sempre do bom senso como em qualquer lugar.
É preciso que se diga que o Rio e São Paulo não são lugares perigosos, ao contrário, dos estereótipos. Em qualquer cidade há perigos, depende sempre do bom senso de cada um.
– Comida: o que comer típico
Feijoada brasileira, petiscos de rodízio de carnes grelhadas, mandioca frita, sandes bauru, sushi (sim, a emigração nipónica foi muito forte na década de 50, do século XX, de maneira que o sushi faz parte da cozinha típica de São Paulo e Rio de Janeiro); a comida árabe é deliciosa, bem como a italiana, por causa da forte emigração.
– Locais que temos mesmo de conhecer
As galerias de arte da Vila Madalena em São Paulo; Caixa Cultural tem sempre belas exposições de fotografia; Museu de Arte Moderna; Parque Ibirapuera, passear pelo centro e ir ao Centro Cultural Banco do Brasil; explorar os milhares de alfarrabistas onde se encontram raridades; Museu da Língua Portuguesa; Pinacoteca; Theatro Municipal; unidades do Senac em vários locais com exposições e sessões de cinema.
– Qual é o melhor meio para andar na cidade?
No Rio de Janeiro, a pé e de transportes públicos (metro e autocarro). De transportes públicos e metro em São Paulo.
– Compras: alguma sugestão?
Confesso que não sou muito de compras, sobretudo de souvenirs. Mas, a sugerir, sugiro as típicas e diversificadas havaianas, melissa, boas cachaças, e nas Galerias Ouro Fino, em São Paulo, há designers de moda, em início de carreira, que têm peças exclusivas e relativamente baratas.
Depois, os cremes e óleos da Pharmácia Granado, fundado por um português, que tem parte dos “cheiros do Brasil”. E, claro, explorar a boa literatura brasileira nas várias livrarias de são Paulo e Rio, como a livraria cultura e livraria travessa, respetivamente.
– Alguma história caricata que queiras partilhar?
Sim, churrasco na laje numa favela. Tinha ido fazer um trabalho para a revista Tabu, do jornal Sol, sobre o Sérgio Cezar, artista plástico que a partir de lixo recria maquetas pequenas de favelas, entre outros objetos artísticos. Ele ficou muito conhecido por ter feito as mini-casas de favela para a entrada de uma telenovela que passou em Portugal em 2008, acho…
Fiquei o dia todo com ele à conversa, bem como com o braço direito dele, o Robinho, ex-membro do Comando Vermelho, uma fação criminosa no Rio. Ao fim do dia, ele convidou-me para ir, no dia seguinte, a casa dele e de um amigo a quem chamavam “Macunaíma”, por ser preguiçoso, aludindo ao livro com o mesmo nome do escritor “Mário Andrade”.
A ideia era ir a um churrasco numa favela conhecida. Eu disse que sim e no dia seguinte eles estavam na boca da favela à minha espera. Galgámos as vielas apertadas com marcas de balas em algumas paredes. Chegamos, enfim, a casa deles e no pátio ao lado, degradado, estava a haver uma sessão de uma igreja evangélica para expulsar o demo.
Subi as escadas íngremes e a casa tinha duas divisões exíguas: a cozinha, ao lado da pequena casa de banho e um mini-quarto. Eu interrogava-me onde seria o churrasco, até que me encaminharam para uma janela, com um pequeno fosso, para onde tinha de saltar.
Saltei para a laje, o teto de uma outra casa vizinha, com depósitos de água, onde estavam cerca de umas 7 pessoas e o Macunaíma estava a assar carne. Dali via-se toda a favela e Santa Teresa. Passamos a tarde, pois, a comer carne e feijão preto, a beber cerveja. Um belo churrasco na laje. 😀
– Sugestão de companhia aérea para voar para o Brasil?
>A TAP é das mais confortáveis, por isso recomendo sempre.
Pode seguir Vanessa Rodrigues em Latitudes Nómadas ou Sinais da Gente (sobre a Amazónia brasileira por onde andou, quatro meses, em 2009); e Crónica Luna Samba.