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Publicado em Março 29, 2022

A origem do conflito Rússia – Ucrânia

Europa/ Rússia/ Ucrânia

Sei que este é um espaço sobre viagens e que, para além de informativo, pretende-se que seja leve e descontraído. Contudo, não poderia deixar passar em branco a atual guerra entre a Rússia e a Ucrânia, tanto pela devastação humana e social, como pelas transformações que afetam todos.

Não pretendo abordar o tema numa perspetiva demasiado específica, até porque, para isso, já existem vários canais de comunicação a fazer um bom trabalho. Pretendo apenas ilustrar, num contexto geral, as origens deste conflito e o porquê do seu agravamento. Sabemos que numa guerra se torna muito difícil apontar “bons” e “maus”…
Existem sempre razões, estratégias e agendas a que a maior parte de nós não tem acesso e cabe-nos “apenas” estar informados, tentar entender a situação e ajudar no que pudermos.
Fui pesquisar e tentar perceber melhor as raízes históricas do conflito; o interesse a nível económico e (algumas d)as possíveis razões para a recente invasão. O meu desejo é que termine hoje, já! 🙁

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Afinal, como começou este conflito entre a Rússia e Ucrânia?

O conflito entre a Rússia, forças pró russas e Ucrânia (como o conhecemos agora) teve início em fevereiro de 2014.
A Ucrânia foi tomada por distúrbios, quando o presidente Viktor Yanukovych se recusou a assinar um acordo de associação com a União Europeia, em 2013. Então, gerou-se um movimento político conhecido como “Euromaidan”, que exigia laços mais estreitos com a União Europeia, bem como a destituição de Yanukovych. O movimento foi bem-sucedido e culminou na Revolução de Fevereiro de 2014, que removeu Yanukovych e o seu Governo do poder.

A partir daqui os problemas só aumentariam. Os protestos de ativistas pró russos e antirrevolução começaram na Crimeia e foram seguidos por manifestações em várias cidades do leste e do sul da Ucrânia, incluindo Donetsk, Luhansk, Kharkiv e Odessa.
Gradualmente, a Crimeia começou a ser tomada pelas forças russas. Os chamados “homenzinhos verdes”, militares uniformizados que andavam pelas ruas sob a justificação de serem forças de “autodefesa locais”, revelaram-se mais tarde, afinal, soldados russos sem insígnias.

A 27 de fevereiro, o edifício do parlamento da Crimeia foi tomado pelas forças russas, tendo sido autoproclamado um governo pró russo. Este, anunciou que iria fazer um referendo sobre a independência da Ucrânia e, em resultado deste referendo, a 16 de março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia.

Tal como referi anteriormente, a instabilidade alastrou-se por outras cidades ucranianas e o conflito adensava-se. Várias eleições foram realizadas em toda a Ucrânia, tendo sido a primeira, desde a destituição do presidente Yanukovych, a eleição presidencial de 25 de maio, que resultou na eleição de Petro Poroshenko como presidente da Ucrânia.

Nesta altura, já se começavam a ver os impactos negativos a nível económico, para a Ucrânia. Segundo uma estimativa de outubro de 2014 pelo Banco Mundial, a economia da Ucrânia diminuiu 8%. Em contrapartida, as sanções económicas impostas à Rússia pelas nações ocidentais, contribuíram para o colapso do valor do rublo russo e para a crise financeira russa resultante.

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O que a Ucrânia tem de tão interessante a nível económico?

Podemos começar pelo facto da Ucrânia ser, a seguir à Rússia, a segunda maior economia da antiga União Soviética. Em 2020, foi o país 51º maior exportador do mundo.

Esta é a lista das maiores exportações da Ucrânia em 2018:
• Foi o 5º maior produtor mundial de milho (35,8 milhões de toneladas), perdendo para os EUA, China, Brasil e Argentina;
• Foi o 8º maior produtor mundial de trigo (24,6 milhões de toneladas);
• Foi o 3º maior produtor mundial de batata (22,5 milhões de toneladas), perdendo apenas para a China e Índia;
• Foi o maior produtor mundial de sementes de girassol (14,1 milhões de toneladas);
• Foi o 7º maior produtor mundial de beterraba (13,9 milhões de toneladas), que serve para produzir açúcar e etanol;
• Foi o 7º maior produtor mundial de cevada (7,3 milhões de toneladas);
• Foi o 9º maior produtor mundial de soja (4,4 milhões de toneladas);
• Foi o 7º maior produtor mundial de colza (2,7 milhões de toneladas);
• Foi o 13º maior produtor mundial de tomate (2,3 milhões de toneladas);
• Foi o 5º maior produtor mundial de repolho (1,6 milhões de toneladas), perdendo para a China, Índia, Coréia do Sul e Rússia;
• Foi o 11º maior produtor mundial de maçã (1,4 milhões de toneladas);
• Foi o 3º maior produtor mundial de abóbora (1,3 milhões de toneladas), perdendo somente para China e Índia;
• Foi o 6º maior produtor mundial de pepino (985 mil toneladas);
• Foi o 5º maior produtor mundial de cenoura (841 mil toneladas), perdendo para China, Uzbequistão, EUA e Rússia;
• Foi o 4º maior produtor mundial de ervilha seca (775 mil toneladas), perdendo apenas para o Canadá, Rússia e China;
• Foi o 7º maior produtor mundial de centeio (393 mil toneladas);
• Foi o 3º maior produtor mundial de trigo-sarraceno (137 mil toneladas), perdendo somente para China e Rússia;
• Foi o 6º maior produtor mundial de noz (127 mil toneladas).

Foto de blende12 © Pixabay

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O que poderá ter motivado a invasão da Rússia à Ucrânia, em 2022?

Esta é uma questão cuja resposta pode variar, dependendo de quem a responde.
Comecemos com um breve contexto histórico.

Vladimir Putin governa a Rússia desde a renúncia de Boris Iéltsin, em 1999. O seu Governo foi marcado, dizem muitos analistas, pelo resgate do nacionalismo, de um modo rígido e  até radical, à imagem dos antigos regimes czaristas. As tensões com os Estados Unidos da América e com a Europa Ocidental começaram a aumentar.

Em finais de 2021, a Rússia começou a fazer movimentações ao longo da fronteira ucraniana e, como resposta, a Ucrânia pediu a anexação à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), de modo a proteger-se.
Nesta altura, o Governo norte-americano começava já a entrar em conversações com a Rússia, afirmando mesmo que, caso esta invadisse a Ucrânia, seria alvo de duras sanções económicas. A 21 de janeiro, os EUA enviaram armamento e munições para a Ucrânia.

Países como a Estónia, Letónia e Lituânia ameaçaram fazer o mesmo. A 24 de janeiro, a OTAN enviou navios e aviões de guerra para a Ucrânia.
A 24 de fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão do leste da Ucrânia.

Podemos entender que, para além de possíveis razões económicas, existem várias razões políticas para esta guerra.

• A possível adesão da Ucrânia à OTAN
A Rússia vê esta possível adesão como grande ameaça, alegando querer impedir o que classifica de cerco à sua fronteira.
• As acusações de genocídio por parte da Rússia à Ucrânia
Putin acusou, sem provas, o Governo ucraniano de genocídio contra ucranianos de origem étnica russa que vivem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk.
• A tentativa da Rússia restabelecer a zona de controle e influência da antiga União Soviética

Putin não esconde o seu nacionalismo exacerbado. Uma das curiosidades sobre o seu percurso, é que foi agente da KGB durante 16 anos, tendo alcançado a patente de tenente-coronel.
Ele defende que, mesmo a nível histórico, os russos, ucranianos e bielorrussos têm uma origem comum e deveriam ser povos indissociáveis. Claro que o povo ucraniano rebate este argumento com o facto de, ao longo do tempo, ter desenvolvido uma identidade independente e, claro, não querer abdicar do seu país e independência.

Por muitas projeções que se façam, não sabemos como este conflito vai evoluir. Já está a envolver vários outros países e é possível que mais alianças se formem. O que é certo, é a devastação a todos os níveis (humano, social, económico, geográfico, etc.) que está a ser causada e que não tem data para terminar.

Texto publicado a 28 de março de 2022, por Susana Cerdeira

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