É mesmo verdade o que dizem sobre os Açores: cada ilha é diferente e tem a sua beleza única. Para mim, o Faial foi uma verdadeira surpresa: pela sua grande história passada e recente é mesmo uma ilha recheada de “estórias” que se desvendam aos nossos olhos. E é aí que percebemos: a ilha é linda! Assista ao vídeo que mostra o meu dia no Faial:
Fiz um passeio de meio dia com a Naturalist – Science & Tourism, que tem sede/loja na cidade da Horta e que se distingue de todas as outras agências de viagens: são uma equipa de investigadores e biólogos de campos, que estudam ambientes naturais marinhos e terrestres. Por isso, todos os seus tours, além de cruzarem a História, focam-se bastante na génese que, no caso do Faial, tem tudo a ver com origem vulcânica. Em cada local é explicada a presença da fauna e flora endógenas e de como são preservadas.
Também fazem os passeios de barco para avistar baleias e golfinhos – estava para o fazer, também, mas o mau tempo arruinou-me os planos e não consegui ir para o mar com a Naturalist. Além dos Açores, a empresa também faz tours em Lisboa e Peniche.
No Grupo Central dos Açores, a ilha do Faial tem cerca de 173 km2, sendo a terceira ilha mais habitada do arquipélago, com cerca de 15 mil residentes (dados de 2011). Deverá ter sido descoberta depois da ilha Terceira e o nome vem da planta faias-da-terra. Dizem que pelo facto de estar no Grupo Central, e com vista para os vizinhos do Pico, estas serão as ilhas que menos sentem o isolamento. O Faial foi já uma ilha muito cosmopolita onde se falavam várias línguas devido ao estabelecimento dos cabos submarinos.
Passo a explicar melhor: o edifício do hotel onde fiquei (o Hotel Azoris Faial Garden) era onde viviam os militares norte-americanos e ingleses, baseados no Faial, que geriam os cabos submarinos (condutores de mensagens por impulsos elétricos). A posição geográfica da Horta, no meio do Atlântico, tornou-a assim um ponto geograficamente estratégico. Em 1928, a Horta tinha 15 cabos telegráficos submarinos ligados à Inglaterra, Estados Unidos da América, Canadá, Irlanda, França, Cabo Verde, Itália e Alemanha. Ou seja, a cidade era um dos maiores centros de comunicações do planeta.
E, tudo isso, tornou a Horta numa cidade cosmopolita e num local de mistura de culturas: falavam-se diferentes línguas, ouviam-se diferentes estilos musicais e eram criados clubes desportivos com novas modalidades como o remo, a vela, o pólo aquático, o ténis ou o futebol – que vinham dos ingleses, por exemplo. E o que é agora o edifício central do hotel Azoris Faial Garden era a messe; e as habitações em seu redor, eram as casas dos norte-americanos que trabalhavam nos cabos submarinos e também que pertenciam a companhias aéreas. No bar do hotel tem fotografias antigas, a preto e branco, que recordam esses tempos, com os hidroaviões junto da atual marina. E, esta unidade, além de receber todas essas influências foi também o hotel onde ficava a tripulação da conhecida Pan America.
Com tudo isto, não é de admirar que a Horta se auto-apelide de “a mais pequena cidade cosmopolita do mundo”.
A Marina da Horta é, também por isso, considerada um dos portos de abrigo mais famosos do mundo – diz ser a terceira marina mais visitada do mundo. E onde os velejadores criaram vários rituais: um deles é deixar um desenho na marina – segundo a superstição, fazem-no para terem sorte no mar – e basta falar a algum marinheiro do Peter’s Cafe Sport, na Horta, e toda a gente contará a história… de ir lá beber um gin. Aliás, conta a História que o “Peter” começou a fazer uns favores a marinheiros ingleses (que o apelidaram de Peter) e o pagamento era feito em gin e daí se ter criado quase esse ritual.
E os povos que passaram pela ilha deixaram muitas marcas culturais. Como foi o caso dos flamengos, navegadores holandeses, com os moinhos. E, ainda hoje, estão moinhos na ilha que provam essa influência, apesar de já só servirem de miradouros – e há uma freguesia chamada Flamegos.
A visita com a Naturalist, para conhecer o Faial, partiu da marina, na Horta, para subir ao Monte da Guia e falar dele como importante local de paisagem protegida – está classificado como ZPE (Zona de Protecção Especial) – onde aves nidificam e onde peixes criam berçários. Apresenta uma área de 360 hectares e uma altitude máxima de 145 metros e corresponde a um cone vulcânico de tufos, com origem submarina com uma cratera dupla aberta para o mar no seu lado sul, as Caldeirinhas.
No caminho, vemos a imagem espetacular sobre a baía de Porto Pim. Apesar de o tempo ter estado a fazer caretas, consegue-se ver a transparência da água deste local, refletindo os verdes da natureza, o que explica o porquê de ser tão famoso, assim como areal grande que tem.
Com tempo, foi-me aconselhado visitar a Fábrica da Baleia de Porto Pim. Não tive tempo… mas se conseguirem lá ir, podem visitar uma exposição com maquinaria original e informação sobre as fases de processamento do cachalote para obtenção de produtos.
Todo o tour da Naturalist mostra como a ilha foi formada e qual o verdadeiro impacto das erupções na vida das pessoas e na constituição da ilha, até aos dias de hoje. Em cada local há uma explicação do processo de erupção e mostrando a flora que daí adveio.
Passamos de uma ponta da Horta, para a outra. Subimos ao miradouro da Espalamaca, onde está uma imagem da Nossa Senhora da Conceição e uma cruz com 30 metros de altura. Com o céu limpo daqui, além do Pico que está mais próxima, avistam-se as ilhas de S. Jorge e Graciosa.
Uma das paragens da visita leva-nos até à Praia de Almoxarife (nome da freguesia também), que no verão é um dos locais que está cheio, já que é uma das maiores zonas balneares da ilha. No dia do meu tour, estava muito encoberto, mas só a vista para o Pico, a partir daquele areal preto vindo da erosão da lava, é um cenário que parece saído de um filme.
E por falar em cenário de filmes… não imaginava o quão arrepiante era estar na Caldeira do Faial. Fica no centro da ilha, este cone vulcânico que tem 2 km de largura e 400 metros de profundidade. Com tempo, pode marcar – tem obrigatoriamente de ser marcado e ter guia – para explorar os caminhos pedestres, deste local classificado como Reserva Natural, que alberga populações raras de flora endémica.
A Caldeira é o resultado de várias fases de abatimento de um vulcão com 400 mil anos e de violenta erupções que deram origem à emissão de pedra-pomes que cobriram cerca de dois terços da ilha. A Caldeira está integrada no Parque Natural do Faial e é classificada como Zona de Proteção Especial e Zona Especial de Conservação da Rede Natura 2000 e Sítio RAMSAR.
Percorremos os montes e estamos, agora, com vista para Castelo Branco, a partir da serra da Feteira. Procurámos depois, nas curvas da estrada, as marcas que mostram os empolamentos que parecem montes, mas que são a prova de que toda a ilha sentiu a terra a “rebentar” e que se transformaram em 10 vulcões da abertura tectónica.
Mais uma volta e estamos em frente è fabrica do queijo Morro. Como adoro queijo – e a fama deste precede-o – fui direta à fábrica comprar dois para trazer: o normal (que já venceu prémios internacionais em provas cegas), que já é excelente, e um de alho e salsa, que é simplesmente maravilhoso.
A Praia da Fajã do Norte é também um dos locais de visita obrigatória no Faial, principalmente no verão, quando o calor puxa para dar uns mergulhos no mar. Tem parque infantil e casas de banho. Explicando: as fajãs são um terreno plano situado à beira-mar, geralmente bastante verdejante e com riqueza em flora, formado de materiais soltos das arribas.
Apesar de toda a beleza que a ilha tem, a área que me deixou sem palavras foi a do Vulcão dos Capelinhos. Toda a envolvênvia é incrível. Fui num dia de muito vento, por isso, aconselho a que levem um lenço e óculos para protegerem a boca, nariz e olhos, da areia negra que anda no ar e é soprada ferozmente pelo vento.
Todo aquele cenário, quase pós-apocalíptico, é surreal, com o farol que sobreviveu à erupção e cujo primeiro andar ficou soterrado com a terra. Só para recordar, o Vulcão dos Capelinhos entrou em erupção em 1957 e ficou ativo até 1958. Quase metade dos habitantes da ilha acabaram por sair nessa altura.
No local, debaixo de terra está o incrível Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos. Além de explicar todos o processo da erupção, com imagens e filmes da altura, é um espaço didático onde muito se aprender sobre a formação do arquipélago dos Açores.
Em 2012, foi nomeado pelo European Museum Forum, para melhor museu da Europa. Quase não se dá por ele de tão bem que está “escondido” na área. Só tive tempo para visitar a parte da entrada do museu, mas acredito que valha muito a pena ficar por lá mais tempo – até porque no final da visita pode subir ao farol e, com certeza, ter uma vista espetacular.
Antes de regressarmos à Horta, passámos na Poça da Rainha, onde os locais vão a banhos no tempo quente. Entre as rochas, num cenário surreal, estão poças de água do mar que foram pequenas “piscinas” naturais de água transparente.
O passeio terminou na Horta com direito a explorar alguns locais. Além da marina, tem ali ao lado o Forte de Santa Cruz da Horta, conhecido também como Castelo de Santa Cruz, tendo sido a fortificação da ilha. Agora é a Pousada de Santa Cruz.
No centro visite a Igreja Matriz de São Salvador, que foi construída para os Jesuítas, e que hoje em dia os edifícios em seu redor são Câmara Municipal e Museu da Horta.
No Peter Café Sport, que foi fundado em 1918, pode visitar o Museu Scrimshaw: “nasceu em 1986 e é hoje um local de visita obrigatória para todos os que procuram conhecer a verdadeira história do Faial. A sua importância é largamente reconhecida na medida em que lá se preserva, através das peças em exposição, o testemunho e a memória dessa grande aventura que foi a caça à baleia, principalmente nas ilhas do Faial e Pico.
Está ainda exposta uma das maiores e mais belas colecções do mundo de Scrimshaw: a antiga arte conseguida através do processo de gravura e escultura nos dentes e ossos dos cachalotes capturados em alto mar. Esta práctica nasceu a bordo das baleeiras de Nova Inglaterra e foi aperfeiçoada pelos mares dos Açores. As peças de melhor realização foram guardadas, estimadas e passadas de geração em geração pela família Peter, até chegarem ao nosso museu”.
ONDE DORMIR NO FAIAL
Ficar no Azoris Faial Garden – Resort Hotel, na cidade da Horta, o Faial, nos Açores, é viver e absorver um pouco da História desta ilha. Fica frente à marina e a minutos, a pé, do centro histórico, mas a melhor parte desta localização perfeita vem do facto de ter (a linda) vista para a ilha do Pico.
O quarto do Azoris Faial Garden é espaçoso: com cama grande, casa de banho com banheira, e uma secretária de trabalho. O meu quarto, com varanda para o mar, tinha vista para a ilha do Pico, o que o torna uma espécie de quadro em movimento. A cada minuto há uma imagem nova para apreciar, as nuvens a cobrirem a montanha e a descobrirem o Piquinho. É lindo… de verdade, ficar a desfrutar desta paisagem. Leia mais aqui.
ONDE COMER NO FAIAL
À noite, escolhi o restaurante do Azoris Faial Garden – Resort Hotel para os meus dois jantares. A cozinha está atualmente entregue ao chef Moisés De Castro que junta a base da gastronomia francesa aos produtos regionais açorianos e o resultado é a criação de pratos criativos e muito saborosos. Leia mais aqui.
O tempo nos Açores muda muito durante o dia, por isso, é muito difícil saber o que levar na mala. Mas, a resposta é simples: camadas. Levar muitas camadas. É mesmo verdade o que os açorianos dizem: eles têm as quatro estações num dia. Tanto pode estar sol de manhã, como levantar um vento frio ao almoço, chover de tarde, muitas nuvens, e ficar um pôr do sol lindo… Por isso, o segredo para fazer uma mala para os Açores é levar várias camadas. Leia mais, aqui.
Assista aqui ao vídeo: o que levei na mala para os Açores, para o frio.