A Fonseca assinalou, a 8 de abril de 2015, 200 anos que começou a sua atividade. Foi com a compra de 32 pipas de Vinho do Porto que João dos Santos Fonseca marcou o arranque da casa Fonseca – está um registo nos livros do Arquivo da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
Desde o lendário 1840, o primeiro Vintage feito sob o nome Fonseca, que a firma tem produzido continuamente vinhos marcantes, incluindo os icónicos vintages de 1927, 1948, 1977 e o 1994, todos com 100 pontos. Estes, entre muitos outros, contribuíram para confirmar a Fonseca como uma casa pertencente à primeira liga das empresas produtoras de Vinho do Porto.
Durante duzentos anos, os destinos da firma foram moldados por quarto famílias. Os Fonseca e os Monteiro que fundaram o negócio. A dinastia Guimaraens que conduziu a firma durante mais de um século e fez os vinhos desde 1860 até ao presente. Por último, chegou a família Yeatman e os seus descendentes, que dirigiram a empresa com grande sucesso durante a segunda metade do século 20 e no novo milénio.
James Suckling, no seu livro de referência sobre vinhos do Porto Vintage, escreve: “Os Portos Vintage da Fonseca são talvez os mais consistentemente excecionais de todos. Não só apresentam uma corpulência notável e uma riqueza poderosa enquanto jovens, mas também mantêm essa juventude durante décadas”.
O estatuto da Fonseca como casa produtora de Vinho do Porto Vintage é incontestado. Contudo, para muitos amantes de vinho, é mais conhecida como produtora de um dos mais populares vinhos do Porto jamais produzidos: o Fonseca Bin No.27. Esta reserva baseia-se na herança dos grandes vintages da Fonseca e partilha a opulência de fruta que define o estilo da casa Fonseca.
Fiel a uma tradição de vinho únicos, distintivos e de caráter inconfundível, a Fonseca produz uma das mais individualizadas gamas, que inclui o Vintage Guimaraens, o LBV não filtrado, um raro Crusted e o primeiro Vinho do Porto Biológico, o Terra Prima.
Pioneira na viticultura biológica e sustentável no vale do Douro, a Fonseca mantém uma estreita ligação à vinha e possui três das melhores quintas da região, incluindo a emblemática Quinta do Panascal.
O Fonseca Crusted, numa edição limitada especial do Bicentenário. Engarrafado em 2008, apresenta atrativas notas de envelhecimento em garrafa e é um vinho especial para celebrar os 200 anos da Fonseca.
Contudo, aqueles que preferirem guardá-lo em cave como recordação do Bicentenário podem esperar que continuará a melhorar na garrafa.
Além do Bicentenário da Fonseca, este ano marca também o 200.º aniversário da Batalha de Waterloo. A derrota das tropas Napoleónicas no dia 18 de Junho de 1815, dez semanas depois de a Fonseca ter iniciado a sua atividade comercial, pôs fim a 26 anos de conflito entre a França e a quase totalidade das nações Europeias. Foi um triunfo para o Duque de Wellington, que liderou as forças Anglo-Alemães, facto que será amplamente comemorado em Inglaterra durante os próximo meses.
Wellington passou grande parte da sua carreira liderando tropas aliadas de portugueses e ingleses contra as forças Napoleónicas, durante as campanhas peninsulares. Qual o melhor vinho para brindar à bravura e firmeza do Duque de Ferro e aos seus homens que o Vinho do Porto, o símbolo da amizade e da aliança Anglo-Portuguesa.
Em homenagem à vitória de Wellington, a Fonseca criou uma edição especial, a Waterloo Edition, uma encorpada, robusta e vigorosa reserva que estará disponível brevemente.
HISTÓRIA DA FONSECA 1815 – FUNDAÇÃO DA CASA FONSECA
Informação cedida pela própria Casa Fonseca aquando do seu bicentenário.
O primeiro registo de comércio do vinho do Porto pela empresa data de 8 de abril de 1815 e pode encontrar-se nos arquivos da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, a companhia do reino que detinha o monopólio do setor.
Este documento regista a compra de 32 pipas de vinho do Porto pelo fundador da empresa, João dos Santos Fonseca. A sua primeira venda documentada ocorreu em 14 de setembro de 1815, seguida, em 1816, do seu primeiro embarque para o estrangeiro.
No período que se seguiu, o negócio de João dos Santos Fonseca prosperou. Em 1820, tornou-se um exportador substancial de vinho do Porto e constituiu uma parceria com Francisco José Gomes Monteiro, membro de uma conhecida família de comerciantes, formando uma nova empresa conhecida como Fonseca & Monteiro. O capital adicional trazido para o negócio por Monteiro permitiu-lhe um maior crescimento adicional e, em 1821, a empresa tinha aumentado as suas compras anuais para 1.139 pipas.
O ano seguinte marcou um ponto decisivo nos destinos da empresa. Em junho de 1822, um enérgico jovem membro da empresa, Manoel Pedro Guimaraens, partiu para a Inglaterra aos 27 anos. Este viria a ter um papel crucial na história da empresa.
Ao partir para a Inglaterra, Manoel Pedro esperava escapar da perseguição como defensor da causa liberal. Contudo, também houve um motivo comercial. Um recibo assinado pelo diretor da empresa e que lhe permitiu viajar para Londres mostra que a sua passagem fora paga pela Fonseca & Monteiro. Tinha sido feito um acordo, evidentemente, pelo qual a Fonseca & Monteiro iria continuar a comprar e a enviar vinho do Porto. Manoel Pedro, depois de se estabelecer como um comerciante de vinhos em Londres, seria responsável por vendê-lo.
AS CASAS DA SOCIEDADE EM LONDRES E NO PORTO
Manoel Pedro teve o cuidado de garantir que a marca Fonseca, bem como o seu próprio nome, se tornariam bem reconhecidos. Nos anos que se seguiram, ele negociou simultaneamente em seu próprio nome e com vários nomes comerciais que incorporavam a palavra Fonseca, Monteiro, Guimaraens ou ambos.
A sociedade entre Fonseca & Monteiro, no Porto e Manoel Pedro Guimaraens em Londres foi muito produtiva. Os registos da Real Companhia para os anos de 1822 e de 1823 mostram um aumento repentino nas vendas e exportações da Fonseca & Monteiro, números que continuaram a crescer nos anos seguintes.
MANOEL PEDRO E A CAUSA LIBERAL
Manoel Pedro combinou o seu próspero negócio na Inglaterra como comerciante de vinhos, com o apoio contínuo ao movimento constitucionalista em Portugal. Durante este período, muitos liberais portugueses estavam exilados em Londres, onde Manoel Pedro lhes proporcionou hospitalidade e apoio financeiro. A Rainha D. Maria, na sua tomada de posse, outorgou-lhe o título de Cavaleiro, e mais tarde o de comendador da Ordem de Cristo, em reconhecimento pelo seu apoio à causa liberal.
Em 1834, Manoel Pedro casou com Georgiana Frances Pearson, filha de um advogado. Em setembro de 1836, Georgiana deu à luz o seu primeiro filho, Manoel Fonseca Guimaraens. O seu segundo filho, Pedro Gonçalves Guimaraens, nasceu dois anos depois, em 1838 e o terceiro, Frederico Alexandre, em 1841.
1840 – OS PRIMEIROS VINHOS DO PORTO VINTAGE DA FONSECA
Durante este período, a sua empresa foi adquirindo uma boa reputação pela qualidade dos seus vinhos, especialmente pelos seus vinhos do Porto Vintage. Em meados do século XIX iniciou-se uma era dourada para o vinho do Porto Vintage, bem como para a prática de ‘declarar’ vintages, por outras palavras, lançar vinhos do Porto Vintage apenas a partir das melhores vindimas ao invés de engarrafar um vinho vintage em cada ano. O mais antigo vinho do Porto Vintage enviado sob a marca Fonseca foi o de 1840. Este atraiu pouco interesse no seu lançamento, mas foi muito procurado vinte anos mais tarde, precisamente quando o mercado desenvolveu um gosto por vinhos mais velhos.
O segundo Fonseca Vintage, o de 1844, foi mais bem-sucedido, como o foram o de 1846 e o de 1847. O Este último foi frequentemente considerado como o melhor Porto Vintage de meados do século XIX. O excecional 1851 ajudou a selar a reputação da casa
1857 – MANOEL FONSECA GUIMARAENS ASSUME A LIDERANÇA
Em 1857, o primeiro filho de Manoel Pedro, Manoel Fonseca Guimaraens, completou 21 anos e juntou-se ao seu pai na empresa agora com o nome MP Guimaraens & Son. No ano seguinte, Manoel Pedro morre, aos 63 anos.
As exportações para a Inglaterra e para o Brasil tinham caído drasticamente e as condições comerciais adversas tinham arrastado a empresa portuense Fonseca, Monteiro, Guimaraens & Co. para a falência. Manoel Fonseca Guimaraens decidiu procurar outras fontes para a compra dos seus vinhos.
OS IRMÃOS GUIMARAENS FIXAM-SE NO PORTO
Em 1862, o segundo filho de Manoel Pedro, Pedro Gonçalves Guimaraens, juntou-se ao seu irmão na empresa.
Em 19 de agosto de 1863, os dois irmãos adquiriram a marca Fonseca & Co dos herdeiros de Carlos Francisco Monteiro. Isto marcou o ponto em que os irmãos Guimaraens assumiram o controlo total do destino da marca Fonseca e de todo o negócio em Londres e no Porto. A partir deste momento as famílias Fonseca e Monteiro deixam de estar envolvidas.
Em 1864, Frederico Alexandre Guimaraens, o terceiro filho de Manoel Pedro, juntou-se aos seus dois irmãos como sócio na empresa. Por volta de 1865, os irmãos Guimaraens criaram a sua própria empresa, Guimaraens & Co., no Porto.
O SUCESSO DOS VINHOS DO PORTO FONSECA VINTAGE
O direto envolvimento dos irmãos na aquisição dos seus próprios vinhos deu logo frutos. O Vintage Fonseca 1863 foi altamente aclamado e alcançou preços elevados no mercado de Londres. O Fonseca 1868 foi outro grande sucesso e, mesmo após muitos anos, mais precisamente em 1931, o grande escritor e especialista em vinhos, Warner Allen descreveu-o da seguinte forma: “Um dos maiores, mais escuros e mais cheios de sabor vinhos secos que eu já provei. Por isto, eu daria a “palma da mão”.
Estes sucessos eram um tributo à habilidade de Pedro Gonçalves Guimaraens, que tinha assumido a responsabilidade da empresa do Porto. Em 8 de dezembro de 1867, casou com Helen Florence Fladgate, filha de John Alexander Fladgate, mais tarde Barão de Roêda, sócio da casa produtora de vinhos do Porto, Taylor Fladgate & Yeatman. Pedro acabou por lançar um outro vinho do Porto de grande sucesso, o Porto Fonseca Vintage de 1870.
A MARCA FONSECA CONSAGRA-SE
O escritório de Londres continuou a desenvolver o mercado para os vinhos da empresa, os quais eram armazenados em caves subterrâneas nas docas de Londres. Por esta altura, a Fonseca tinha-se tornado uma marca muito respeitada de Porto Vintage.
Uma fatura de MP Guimaraens & Son, datada de 24 de março de 1874, contém a primeira menção nos registos da empresa relativos ao Porto Velho Crusted. A Fonseca é uma das poucas casas produtoras de vinho do Porto que continua ainda a produzir vinhos do Porto Crusted.
Quando Manoel Fonseca Guimaraens morreu em 1885, com 49 anos, já tinha vendido as suas quotas aos seus dois irmãos. Pedro Gonçalves Guimaraens, que detinha a maioria das participações, tornou-se no sócio maioritário. A sede da empresa permaneceu em Londres, onde Frederico Alexandre continuou a cuidar das vendas e a concentrar-se no desenvolvimento dos mercados de exportação da empresa.
1885 – PEDRO GONÇALVES GUIMARAENS
No Porto, Pedro tratava da produção e do transporte, assistido por James Yates, um jovem escocês que tinha sido nomeado gerente. Em 1887, a Guimaraens & Co ocupava as caves na Quinta do Prior, na rua do Rei Rua Ramiro, em Vila Nova de Gaia, onde permaneceria por mais de 125 anos. O sogro de Pedro, o Barão Fladgate, agora com os seus 70 anos, aconselhava-o sobre as questões relativas ao Douro e à aquisição de lotes de vinho adequados.
As compras também eram realizadas pelo agente comercial da empresa chamado Borges. O lote dos vinhos era feito por James Yates, ou pelo seu sucessor Philip Rumbold, sob as instruções de Pedro.
FRANK E ALEX ENTRAM PARA A EMPRESA
Em 1894 uma nova geração entra para a empresa. O filho de Frederico Alexandre, Frederico Alexandre Guimaraens Jnr., torna-se sócio aos 22 anos. Conhecido como Alex, tinha residência permanente em Londres, mas mantinha uma casa em Menton, na Côte d’Azur. Muito envolvido nas vendas, alcançou o mérito de ter sido ele a iniciar uma importante associação da empresa com o mercado holandês.
No mesmo ano, Pedro Francis Fladgate Guimaraens, conhecido como Frank, veio trabalhar para a Guimaraens & Co., no Porto. Frank era o filho do sócio sénior da empresa, Pedro Gonçalves Guimaraens e neto do Barão da Roêda. Em 1896, assumiu o cargo de supervisionar as vindimas e manteve esse papel por mais de meio século, até 1948. De 1920 em diante, dividiu o trabalho com Harold Flower, que se juntou à Guimaraens & Co. na cidade do Porto em 1919, na qualidade de gerente.
Durante muitos desses anos, a empresa alugou uma casa e armazém na Quinta do Corval, no Pinhão, como a sua base no Douro durante a vindima. Frank Guimaraens e Harold Flower ficavam no Corval, saindo durante o dia, muitas vezes a cavalo, para visitar as quintas, nas colinas circundantes. Inspecionavam os novos vinhos que estavam a fermentar nos lagares e negociavam a compra de vinhos adequados. Entre estas propriedades estava a antiga Quinta do Cruzeiro, no coração do vale do Pinhão. A longa e importante associação com a Quinta do Cruzeiro julga-se ter começado por volta de 1870 e culminou com a compra da quinta pela empresa em 1973.
Pedro Gonçalves Guimaraens morreu aos 65 anos, em outubro de 1903. Os dois outros sócios, Frank e o seu primo Alex, continuaram a gerir a casa de Londres e o irmão mais novo de Frank, George Pearson Guimaraens, tornou-se sócio, sediando-se no Porto
1910 – DESENVOLVIMENTO DO NEGÓCIO DE EXPORTAÇÃO
Nos primeiros anos do século XX, a empresa continuou a desenvolver as suas exportações. Novos clientes no exterior, particularmente na Ásia, foram conseguidos através de Gustave Fulbaum, um energético representante sediado em Berlim. Como resultado das suas extensas viagens, a Guimaraens & Co. assegurou clientes em Rangoon, Penang, Singapura, Yokohama e Xangai, assim como na Hungria e na Rússia.
Em 1910, os registos de vendas da empresa registavam embarques para Dublin, Jerez, Copenhaga, Moscovo, Teplitz, Pilsen, Budapeste, Eger e Graz. Os negócios na Ásia continuaram a desenvolver-se. Na Grã-Bretanha, a Yates Bros & Co. foi um dos mais substanciais e consistentes clientes, permanecendo assim até à Segunda Guerra Mundial.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Os embarques continuaram durante os anos da Primeira Guerra Mundial, com Frank Guimaraens nos escritórios da Guimaraens MP& Son em Londres e o seu irmão, George, como sócio residente no Porto. A guerra trouxe muitos desafios, tais como a ameaça à navegação. No outono de 1915, o navio a vapor “O Douro” foi afundado com uma carga de vinhos do Porto Fonseca remetida à Yates Bros. Com o progresso da guerra, os ataques de submarinos alemães intensificaram-se e causaram um aumento acentuado no custo de transporte dos vinhos do Porto para Londres.
Apesar dessas dificuldades, Frank Guimaraens continuou a desenvolver a excecional reputação da empresa com os seus vinhos do Porto Vintage, nos quais tinha grande orgulho. Em 1916, a casa foi lançando no mercado, e com sucesso, os Vintages Fonseca de 1892, 1896, 1900, 1904, 1908 e 1912. A empresa também foi capaz de fornecer uma gama de vinhos do Porto Fonseca Crusted que estavam armazenados em garrafa nas suas caves. Estes eram geralmente identificados pelo número da cavidade (bin) onde estavam armazenados, por exemplo, Bin 740, Bin 57 V e Bin 82 VG. Este costume é recordado hoje no célebre lote de reserva da Fonseca, o Bin n o 27.
1918 – OS ANOS DO PÓS-GUERRA
A assinatura do Armistício em 1918 marcou o retorno a uma relativa normalidade, mas o ano não decorreu sem desafios. Uma epidemia de gripe espanhola (pneumónica) varreu a região do Douro por altura da vindima causando muitas mortes e tornando-se difícil encontrar vindimadores. Depois da guerra, um aumento súbito da procura de vinho do Porto criou uma escassez de vinho apenas ligeiramente facilitada pela promulgação da Lei Seca nos Estados Unidos. A Guimaraens & Co. teve dificuldades para fornecer até mesmo os seus clientes mais fiéis. O lançamento do Fonseca Vintage 1920 da Fonseca, em 1922, foi muito concorrido e muitos clientes não conseguiram que lhes fossem garantidas alocações.
Frank continuou a ter um grande interesse na vindima e na produção dos vinhos nos anos do pós-guerra. Ele viajava até ao Porto, vindo de Inglaterra, cerca de duas ou três vezes por ano, para conferenciar com o seu irmão, George, e participar no lote dos vinhos. Todos os outonos, deslocava-se ao Douro para supervisionar a vindima e comprar vinhos novos.
DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS DE EXPORTAÇÃO
O negócio de exportação da empresa continuou a desenvolver-se na década de 1920. Um novo representante, George Christie, foi contratado para assumir o papel realizado antes da guerra pelo enérgico Sr. Fulbaum no desenvolvimento dos mercados asiáticos. Entre os muitos novos clientes recrutados por Christie estavam os Srs. Caldbeck, Macgregor & Co., que continuam a representar os vinhos do Porto Fonseca na Malásia até hoje.
Por força dos esforços empreendidos por Alex Guimaraens, a Holanda manteve-se um mercado importante para Fonseca.
PAT GUIMARAENS ENTRA PARA A EMPRESA
No início de 1928, a empresa tinha tomado conhecimento da morte inesperada de J W Broos, o seu agente holandês de sucesso desde há 38 anos. A Guimaraens & Co. ficou de repente sem representação na Holanda, um dos seus mais importantes mercados. O filho de Alex, Pat Guimaraens, que, muito recentemente, tinha entrado para a empresa, foi despachado para a Holanda armado com o livro vermelho de contactos do seu pai. Recomendado por um bom cliente, a J Dukkers & Son de Haia, foi visitar a empresa de W van der Linden & Co. nos seus escritórios em Jufferstraat, Roterdão. Agora conhecida como Walraven Sax, esta empresa tem representado a Fonseca na Holanda desde então.
A partir deste momento, Pat Guimaraens, apesar de jovem e inexperiente, encetou grande parte das viagens pela Europa continental. Assumiu um papel importante como embaixador da marca Fonseca e, em 1929, tornou-se sócio da Guimaraens & Co., no Porto.
AÇÕES JURÍDICAS E O MERCADO DOS EUA
Em 1932, Frank interpôs uma terceira e importante ação jurídica em Londres, em defesa da marca Fonseca, desta vez contra Abel Pereira da Fonseca Lda. Embora tenha ganho esta causa, outra ação tornou-se necessária quando a mesma empresa fez uso ilegal da marca no ano seguinte nos Estados Unidos, onde a proibição da venda de álcool havia sido revogada.
A revogação da proibição da venda de bebidas alcoólicas trouxe novas oportunidades e um acordo bem-sucedido com David Clarkson Um Co. Inc. da 501 Fifth Avenue, em Nova Iorque.
CRESCENTES DIFICULDADES FINANCEIRAS
Apesar desses sucessos, a empresa permaneceu sob pressão financeira. Continuou no entanto a fazer vinhos excelentes e a sua reputação como produtora de vinho do Porto era inigualável. Mas as condições comerciais na década de 1920 e 30 tinham sido inconsistentes. O custo de litígios dispendiosos em defesa das marcas da empresa colocou um fardo ainda maior sobre o seu capital.
Em 1938, a Guimaraens & Co. apresentava graves prejuízos. A introdução pelo governo português de taxas de transporte, exigindo que os produtores mantivessem stocks muito grandes de vinho, tinha agravado as dificuldades da empresa.
1939 – OS EMPRÉSTIMOS DA YEATMAN E A VENDA DA EMPRESA
A declaração de guerra em setembro de 1939 não teve, inicialmente, muito efeito sobre o comércio. À medida que a guerra avançava, no entanto, o negócio diminuiu. Em 1943 a empresa precisava de capital adicional para permanecer no negócio. Em novembro daquele ano, a Guimaraens & Co. recebeu o primeiro de vários empréstimos substanciais a partir de uma empresa que operava no negócio de produção de vinho do Porto, a distinta casa exportadora da Taylor, Fladgate & Yeatman. Estes empréstimos foram possíveis graças à amizade entre Frank Guimaraens e Frank Yeatman, sócio sénior da Taylor.
Os problemas de liquidez da empresa continuaram após a guerra. Incapaz de pedir crédito aos bancos, manteve-se dependente de empréstimos da Taylor, Fladgate & Yeatman. As vendas para a Grã-Bretanha foram limitadas por quotas impostas pelo governo britânico e os negócios com outros mercados não ajudaram a repor a situação.
A empresa, no entanto, continuou a produzir vinhos notáveis. Estes incluíram o notável Fonseca Vintage de 1945, uma referência, e o excelente Vintage de 1948, o último Porto Vintage a ser produzido sob a supervisão de Frank Guimaraens. Com a eclosão da guerra, a filha de Frank, Dorothy Guimaraens, assumiu um papel cada vez mais importante como provadora, sob a orientação do seu pai e com o benefício do experiente palato de Harold Flower.
Os problemas vieram à tona em 1949. Em 19 de maio, a empresa foi vendida ao seu principal credor, a Taylor, Fladgate & Yeatman.
PAT E DOROTHY GUIMARAENS
Mais tarde, naquele ano, Pat Guimaraens ingressou na empresa H Parrot & Co., o agente da Fonseca na Grã-Bretanha, e tornou-se sócia em 1952. A hospitaleira e encantadora, Pat era uma figura bem conhecida e popular no comércio de vinho de Londres, para além de possuir um valor inestimável como o rosto da Fonseca no mercado britânico.
No Porto, Dorothy Guimaraens, agora uma provadora experiente e respeitada, ficou encarregue da produção de vinho, reportando a Dick e Stanley Yeatman. Dorothy foi inteiramente responsável pela produção do Porto Fonseca Vintage 1955. Embora agora gerida pelos Yeatman, a empresa manteve escritórios separados nas suas caves da Rua Rei Ramiro.
1961 – DICK YEATMAN TRAZ JOVENS SÓCIOS
Em 1961, Dick, o filho de Frank Yeatman, trouxe dois jovens membros colaboradores da empresa para a sociedade, dando-lhes uma quota, tanto na Taylor’s como na Guimaraens & Co. Um era Huyshe Bower, cuja mãe pertencia à família Yeatman, em Dorset, e que se juntou à empresa em 1958. Huyshe tornou-se mais tarde diretor de vendas de ambas as empresas e foi, em grande parte, responsável pelo desenvolvimento das suas redes de distribuição internacionais nas últimas décadas do século XX.
O outro era Bruce Guimaraens, que se juntara à empresa em 1956 depois de voltar do Gana, onde havia servido na Royal West African Frontier Force. Bruce era o bisneto de Manoel Fonseca Guimaraens, o mais velho dos três filhos de Manoel Pedro, fundador da casa de Londres da Fonseca, a Monteiro & Guimaraens.
GUIMARAENS & CO. GERIDA SEPARADAMENTE
Dick Yeatman geriu a Guimaraens & Co. com pouca intervenção, permitindo que a empresa executasse as suas operações separadamente da Taylor’s e mantivesse os seus próprios escritórios na Rua Rei Ramiro. As condições comerciais na década de 1950 e 60 foram difíceis e a empresa fez pouco lucro.
Dick, no entanto, um provador habilidoso que tinha fama de ser mais interessado nos vinhos em si propriamente ditos do que em vendê-los, parecia satisfeito em subdelegar a empresa. Alguns vinhos magníficos foram produzidos nestes anos, em particular o Fonseca 1963 e o 1966, reconhecidos como um dos melhores Portos Vintage da década. Ambos foram produzidos por Bruce Guimaraens e são uma homenagem ao seu talento e instinto na produção de vinho.
1967 – ALISTAIR ROBERTSON ASSUME A LIDERANÇA
Dick Yeatman morreu em 1966, deixando a sua viúva, Beryl, e os jovens Bruce Guimaraens e Huyshe Bower como sócios. Em abril de 1967 a eles juntou-se o sobrinho de Beryl, Alistair Robertson, a quem Beryl havia pedido para assumir a gestão do negócio.
Nascido em Portugal numa família intimamente ligada ao comércio de vinho do Porto e com experiência em vendas e marketing na Grants of St James, em Londres, Alistair estava bem qualificado para a tarefa. Iniciou a reestruturação das duas empresas de vinho do Porto para torná-las mais eficientes e competitivas e trazê-las de volta ao lucro, através do desenvolvimento das vendas. Fundiu a administração da Taylor, Fladgate & Yeatman com a Guimaraens & Co., mantendo os stocks de vinho separados, criando eficiências e economias de escala, mas preservando o património individual de cada casa, tradições e estilo de vinho.
Ao mesmo tempo, a gama de vinhos do Porto Fonseca teve de ser adaptada às necessidades do mercado. Era imperioso que um produto bem-sucedido ocupasse o meio-termo entre o Porto Vintage e os baratos vinhos do Porto Ruby, o que foi conseguido em 1970 com a introdução do Taylor LBV. E que levou ao lançamento em 1972 do Porto Fonseca Bin 27, com um caráter similar a um Vintage, encorpado, apresentado numa impressionante garrafa gravada. Hoje, o Bin 27 tornou-se num dos lotes mais populares de vinho do Porto e, consequentemente, bem conhecido em todo o mundo.
Em 1973 foram introduzidas novas regras, permitindo que o número de anos de envelhecimento em madeira pudesse ser mostrado nos rótulos dos vinhos do Porto Tawny de idade. Os lotes dos vinhos do Porto Tawny velhos da Fonseca, tais como o Choco e o Royal Tawny, foram convertidos numa nova série de vinhos do Porto Tawny com 10, 20, 30 e 40 anos.
A COMPRA DA QUINTA DO CRUZEIRO
Nesse mesmo ano decorreu a compra da Quinta do Cruzeiro, essa fantástica propriedade do vale do Pinhão que sempre fornecera a empresa com vinhos desde o século XIX. Nos anos que se seguiram, a quinta foi amplamente desenvolvida e replantada sob a supervisão de Bruce Guimaraens, que tinha assumido na empresa a gestão das novas explorações vitícolas.
ATIVIDADES DE PROMOÇÃO
Intensificaram-se esforços no mercado para criar uma nova e mais sólida base de distribuição para os vinhos do Porto Fonseca. Em 1976, Cock, Russell & Spedding renunciaram a agência de vinhos de Porto Fonseca na Grã-Bretanha e esta foi transferida pouco depois para a Mentzendorff & Co. Ltd., onde permanece até hoje. Em 1977, a marca Fonseca nomeou distribuidores em 26 países à volta do mundo, em grande parte como resultado do trabalho de Huyshe Bower.
As atividades de marketing e relações públicas também se tornaram mais criativas e muito focadas em construir a imagem da empresa a partir do recente lançamento da empresa, do distinto vinho do Porto com caráter de vintage, o Fonseca Bin 27.
Estas medidas incluíram o patrocínio, amplamente divulgado, pelo do capitão John Ridgway e pelo do seu iate Debenhams em 1977 na regata de volta ao mundo Whitbread Round, bem como de um cavalo de corrida dinamarquês chamado Fonseca. Em 1984, uma garrafa de 98 litros – a maior do mundo – foi encomendada a um fabricante de vidro português, que a produziu num molde gigante esculpido num tronco de árvore. Estava cheia de Bin No.27 e foi enviada para Nova Iorque para ser leiloada numa ação de beneficência.
A COMPRA DA QUINTA DO PANASCAL E DA QUINTA DE SANTO ANTÓNIO
A aquisição da segunda e mais significativa vinha pela empresa, a famosa propriedade da Quinta do Panascal, no vale do Távora, ocorreu em 1978. Tal como a Quinta do Cruzeiro, o Panascal havia caído em desuso. Nos anos seguintes à sua compra, cujo anterior proprietário era o Coronel José Pacheco, a quinta foi extensivamente remodelada e é agora a propriedade que simboliza a empresa, produzindo um Porto Vintage Single Quinta, o Quinta do Panascal Vintage, para além de contribuir para os lotes do clássico Fonseca Vintage.
Como resultado do trabalho pioneiro realizado por Bruce Guimaraens e pelo experiente diretor de viticultura da empresa, António Magalhães, a Quinta do Panascal tornou-se numa das primeiras propriedades da região do Douro a desenvolver viticultura biológica. Esta foi a pedra angular de um programa que pretende estabelecer a Fonseca como o expoente máximo da viticultura sustentável na região do Douro.
As aquisições de vinha pela Fonseca foram concluídas em 1981 com a compra da Quinta de Santo António, outra quinta no vale do Pinhão há muito consagrada e agora completamente convertida à viticultura biológica certificada.
1986 – EXPANSÃO PARA NOVOS MERCADOS
A marca Fonseca foi relançada em 1986, tendo a sua embalagem e imagem sido redesenhadas, um projeto que foi liderado pelo diretor da empresa, David Bain. O nome da empresa foi alterado para Fonseca Guimaraens Vinhos SARL para refletir as origens históricas da empresa e dar ênfase ao nome Fonseca.
Naquele mesmo ano, Nick Heath, atual diretor de marketing da atual Fonseca, ingressou na empresa para trabalhar com Huyshe Bower no desenvolvimento dos mercados de exportação da empresa, dando continuidade a uma ligação da família com a empresa que começou com o seu avô Harold Flower.
Bruce Guimaraens, cuja atenção estava focada principalmente no desenvolvimento das vinhas das propriedades da empresa, passou a dedicar parte do seu tempo ao papel de embaixador da marca da Fonseca e é, talvez, nessa função que ele é mais recordado. Um talentoso e divertido contador de histórias, ele foi objeto de anedotas, quase tantas como as que contou, e a sua grande estatura, como a sua possante voz e modos um pouco excêntricos, deram-lhe uma presença carismática e envolvente. Em 1988, Alistair Robertson nomeou Bruce como vice-Presidente da Fonseca Guimaraens, uma posição que ocupou até à sua reforma em 1995.
1990 – DAVID GUIMARAENS REGRESSA AO PORTO
Em 1990, o filho de Bruce, David, voltou para o Porto após ter concluído os seus estudos de enologia no Colégio Agrícola Roseworthy na Austrália e com a experiência adquirida na produção de vinho na Austrália, Califórnia e Oregon. Quatro anos depois, assumiu a direção da produção dos vinhos do Porto Fonseca.
O Fonseca 1994, o primeiro Porto Vintage feito sob a direção de David, é reconhecido como um dos melhores Portos Vintage da década. Classificado com 100 pontos pela influente revista Wine Spectator, foi distinguido pela mesma publicação como o vinho de topo do ano. Esta foi a primeira de uma série de aclamados vinhos do Porto Vintage elaborados sob a supervisão de David. Estes vinhos têm vindo a reforçar a reputação histórica da Fonseca como a casa que produziu o primeiro Porto Vintage.
1994 – ADRIAN E NATASHA BRIDGE AGARRAM O LEME
Em maio de 1994, Adrian Bridge e a sua mulher Natasha, filha de Alistair Robertson, entram na empresa. Depois de uma bem-sucedida carreira como oficial do exército e banqueiro de investimentos, Adrian trouxe para a empresa uma valiosa liderança e habilidade nos negócios. Inicialmente, assumiu a responsabilidade pelas vendas nos principais mercados britânicos e norte-americanos, vitais para o negócio, com foco especial no desenvolvimento de vendas de Porto Vintage e no crescimento do Fonseca Bin 27.
Em 2000, Adrian, que já havia assumido uma série de funções na gestão do negócio, foi oficialmente nomeado diretor geral do Grupo Taylor Fonseca, grupo que mais tarde alterou a sua denominação social para The Fladgate Partnership, após a aquisição em 2001 da distinta casa produtora de vinho do Porto, a Croft, a mais antiga empresa que ainda permanece ligada ao negócio do vinho do Porto.
Pouco tempo depois, a sua mulher Natasha assumiu o papel de diretora da sala de prova, com a responsabilidade máxima em todos os lotes, seguindo os passos de Dorothy Guimaraens como uma das poucas mulheres que deteve esta posição numa grande empresa de vinho do Porto.
2012 – A NOVA GERAÇÃO
A nova geração, sob a liderança de Adrian e com o conhecimento técnico de David Guimaraens e de António Magalhães e das suas equipas, definem a adaptação da empresa aos ambientes de mudança que vão ocorrendo, tanto no mercado como na própria região do vale do Douro.
Os grandes investimentos que a empresa efetuou na região do Douro levam à abertura de novos armazéns de envelhecimento e de uma adega com tecnologia de ponta na Quinta da Nogueira, bem como ao desenvolvimento contínuo das três vinhas da empresa. A Quinta de Santo António foi replantada com um premiado modelo de vinha sustentável que foi desenvolvido pela equipa de viticultura da empresa, obtendo a certificação biológica, não só dos seus vinhos, mas também do seu elogiado azeite. Novos produtos foram lançados, incluindo o primeiro vinho do Porto a ser produzido inteiramente a partir de uvas cultivadas biologicamente, o Fonseca Terra Prima.
O crítico de vinhos James Suckling, autor do livro mais abrangente sobre Porto Vintage escrito até hoje, descreveu uma vez a Fonseca como sendo “o Bentley” do Porto Vintage, o que pode ser traduzido como o produtor de vinhos para o conhecedor e entusiasta. Tal como estes famosos carros de luxo, os vinhos do Porto Vintage da Fonseca são puros-sangues. São o resultado do conhecimento e da maestria, mas também da paixão e da criatividade.
À medida que se aproxima o seu bicentenário, a Fonseca continua a ser conhecida como uma das poucas casas que produzem os melhores vinhos do Porto Vintage, no fundo, uma casa de vinhos produzidos por entusiastas para entusiastas.
– FIM –