Remédios do Hospital em Thekkady © Viaje Comigo
Publicado em Março 17, 2016

A minha ida ao hospital em Kerala, na Índia

Ásia/ Índia [ Kerala ]

Dizem que é normal. Que a maior parte dos viajantes acaba por ficar constipado depois de chegar à Índia, por causa da diferença de temperatura. Visitei Kerala em fevereiro, quando supostamente é o inverno, com temperaturas acima dos 30 graus. Muitas vezes nos 36 graus…

A diferença de temperaturas e a obrigatoriedade de se ligar o ar condicionado – não só pelo calor mas também para deixar os mosquitos KO – deram-me uma grande inflamação na garganta poucos dias depois de lá ter chegado.

Aliás, sei perfeitamente o momento em que fiquei doente: nas casas-barco nas Backwaters de Kerala. Além do calor, insuportável dentro do quarto, era impossível sair do barco, tanta era a bicharada cá fora, à noite. Lá dentro refrescávamo-nos com o ar condicionado que, não tendo comando, ficou a funcionar toda a noite… pumba, garganta inflamada. Porque, por norma, não costumo tomar comprimidos achei que ia conseguir tratar da doença apenas com anti-inflamatórios e chás de gengibre e mel…
Mas, foi mais difícil do que imaginava. No autocarro estava frio, na rua calor, no restaurante frio, na rua calor, e tão cedo não ia melhorar. Pior do que estar doente em viagem é ter de acompanhar o ritmo de um grupo de mais de 30 pessoas.

Hospital em Thekkady © Viaje Comigo

Sala de consulta, Hospital em Thekkady © Viaje Comigo

Depois de uns dias entupida e a garganta a melhorar, mas pouco, acordei um dia com o olho esquerdo totalmente inchado. Pensei “Mas o que foi agora?!”. Só tive vontade de não sair do quarto. O corpo doía, parecia que tinha um elefante sentado no peito e agora o olho inflamado…
Mandei uma mensagem a um dos organizadores da viagem.
– Preciso de ver um médico. Acordei bem pior.
– Consegues ir ao hospital ou vai o médico ao quarto?
– Consigo ir ao hospital.
Nem 30 minutos depois, tinha o diretor do resort onde estava alojada – o Greenwoods Resort, em Thekkady – a dizer que ia comigo ao hospital. Quem conduziu o carro? O chef de cozinha do resort. Não podia ia melhor acompanhada!

O hospital mais próximo era privado, a uns 15 minutos do resort. Não havia fila de espera, mas também já tinham avisado que ia lá. Entrei para uma sala vazia. Veio a enfermeira e perguntou-me se tinha febre. Disse que não sentia, mas estava tanto calor…
Mediu-me as tensões, colocou o termómetro debaixo do braço e quando o tirou “Tem febre. Pouca, mas tem!”.
Depois disse para preencher a minha ficha. Escrevo o meu nome e recebo, mais uma vez, a resposta “Susana? Bonito nome”.
Adoram o meu nome na Índia (Susana é o nome de atrizes de Bollywood).

Espero mais um minuto e vem a médica. Pergunta o que andei a tomar, de onde sou (país) e depois de olhar para a garganta:
– Ãhãh… está inflamada!
Olha para o que a enfermeira escreveu…
– E tem um bocadinho de febre. Já está com tosse?
– Pouca…
– Vou-lhe receitar… – e começa a escrever, numa folha, umas 8 indicações.
Arregalo os olhos. Mas rapidamente diz-me:
– Não se assuste! No fundo, só são três medicamentos… o antibiótico, o protetor de estômago e um comprimido para a tosse à noite… pronto e o xarope.
– E o olho? Não é estranho o olho?, digo eu.
– Ah! Isso é porque está com os canais todos entupidos e também influcencia aí…

Entretanto, o diretor do hotel, que está à porta da sala, diz-lhe que estou numa viagem com mais 30 bloggers e que todos os dias vamos para um sítio diferente.
A médica reflete durante 2 segundo e diz:
– OK, OK! Vou-lhe dar umas pastilhas que se diluem em água quente (são verdes) e são para fazer vaporizações. Faça várias hoje e amanhã vai ver que está melhor. Para o olho, vou só dar umas gotas. Quando começar a desentupir do nariz isso também vai melhorar… Evite o ar condicionado muito frio, não beba bebidas frias, e descanse um pouco. E coma bem!

(Nesse dia tínhamos a tarde livre e aproveitei para descansar e comecei efetivamente a ficar melhor. Felizmente nunca perdi o apetite!)

Remédios da farmácia do Hospital em Thekkady © Viaje Comigo

Remédios da farmácia do Hospital em Thekkady © Viaje Comigo

Depois da consulta com a médica, fomos à farmácia do hospital para levantar as receitas. Muito diferente de Portugal: se temos de tomar antibióticos 2 vezes ao dia durante 5 dias, só lhe serão dados os 10 comprimidos, nada mais, nada menos. 5 protetores de estômago, 5 comprimidos para a tosse, etc. Vêm em pequenos saquinhos de papel castanho. Tudo contado! Nada de caixas de comprimidos que se acumulam nas farmácias das nossas casas, não é?

À noite, no resort, o chef de cozinha, que me tinha levado também ao hospital, vê-me a pegar num sumo natural de melancia – que adoro! Aproxima-se de mim e diz-me “lembre-se do que disse a médica, para não beber bebidas frias”. Todo o hotel se empenhou para saber se eu estava melhor. Tanto cuidado. Muito obrigada Greenwoods Resorts!

Já agora, quando estava no hospital, à espera, reparei num cartaz que diz “Sex discrimination is punishable”. Sabem o que significa? Primeiro não percebi, mas quando começaram a explicar-me veio à memória: na Índia, as grávidas não podem saber o sexo dos seus filhos, antes de nascerem. Daí o cartaz que indica que é punido por lei quem fizer exames para saber o sexo da criança?
As grávidas podem e devem naturalmente fazer os exames para saber se o bebé está a crescer bem, na barriga da mãe, mas não podem ficar saber o sexo.

Porquê?
Porque a maior parte das famílias tradicionais prefere só ter meninos. E, antes desta lei, havia uma taxa absurda de abortos quando se sabia que eram meninas. Aliás, o infanticídio era (em algumas regiões ainda o é) muito grande. Criar uma rapariga não é visto como algo “rentável” na Índia (as famílias com filhos homens não gastam em dotes), ainda que existam regiões onde a sociedade é bastante matriarcal. Felizmente é algo que está a mudar aos poucos.

Afixado no Hospital em Thekkady © Viaje Comigo

Afixado no Hospital em Thekkady © Viaje Comigo

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