A visita ao Museu das Rendas de Bilros, em Vila do Conde, é um dois em um. Primeiro visita-se um bonito solar urbano oitocentista, totalmente recuperado, e em segundo vai ficar a conhecer uma das mais antigas tradições no artesanato português: as rendas de bilros.
Tempos houve em que a renda de bilros era uma forma de ganhar dinheiro extra, para famílias que tinham os homens no mar em barcos pesqueiros. Então, as senhoras iam passando, de geração em geração, a arte de saber trabalhar os bilros. Os dedos que se entrelaçam com as peças de madeira que fazem rendas de vários tipos.
Aliás, acrescento mais um motivo para ficar a conhecer este museu: é aqui que está a maior renda de bilros do mundo, certificada pelo “Guiness World Records”!
Moldada por uma montra de acrílico, numa espécie de túnel, as rendas podem ser vistas de perto, e mostram um fundo colorido e com diferentes temas, tanto de mar como de flores ou frutos, por exemplo.
A maior renda de bilros, criada em Vila do Conde, foi apresentada a 2 de agosto de 2015, e conta com 440 quadrados, de 30 por 30 cm, que perfazem 53,262 metros de quadrados de renda.
Curiosidade: foram utilizados 8 Kg de linha, trabalhados por 150 rendilheiras. A artista Joana Vasconcelos foi a madrinha deste projeto, da gigante renda de bilros, que foi içada e mostrada na nau quinhentista, que está parada (e aberta para visitas) no rio Ave, em Vila do Conde.
Dentro do museu, que se instalou neste solar do século XVIII (Casa do Vinhal) em 1991, está a história da renda de bilros, com a sua implementação em Vila do Conde, mas também com indicações de onde está presente em todo o mundo e as suas utilizações mais modernas.
Nas montras estão peças já antigas, utilizadas na produção das rendas de bilros, assim como documentos e material, desde agulhas, alfinetes ou linhas.
Com sorte apanhará algumas das mais antigas rendilheiras em pleno trabalho. Tive essa sorte, de poder ver ao vivo a arte de fazer rendas de bilros. Existe uma grande dinamização para se manter esta antiga tradição e atualmente a utilização das rendas existe em muitas outras peças modernas.
Passamos de usar só os paninhos de renda, como havia em casa da avó, para as rendas passarem a ser usadas em acessórios (como brincos ou colares, por exemplo), calçado, vestidos contemporâneos (e vestidos de noiva) e peças feitas por designers.
Para perpetuar a tradição, a Câmara Municipal de Vila do Conde instalou aqui a Escola de Rendas de Bilros, para quem quiser aprender – e que está articulado com a Associação de Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde – sem limites de idades.
Existem várias cidades onde esta tradição das rendas de bilros está mais visível, e são quase sempre cidades ligadas ao mar. Em Peniche, também já tinha visitado o Museu da Renda de Bilros (inaugurado em 2016).
E é desse texto que retiro esta informação:
“Costuma dizer-se: “Terra de redes, terra de rendas”. Isto porque, por norma, a tradição das rendas é maior junto do mar e começou nas mãos de mulheres de pescadores, que faziam as rendas para terem mais algum dinheiro a entrar nas suas casas, enquanto os homens iam para o mar.
Reza a história que as rendas terão chegado a Peniche, pelos intercâmbios comerciais com os marinheiros vindos da Flandres, na Bélgica. A verdade é que a renda passou a estar na moda com o rei francês, Luís XV. E, em Portugal, foi Marquês do Pombal que incentivou, no século XVIII, a produção das rendas como produtos de luxo”.
INFORMAÇÕES
Museu das Rendas de Bilros
Rua de S. Bento, 70, Vila do Conde
Horário: terça-feira a domingo, 10h00-18h00
Telefone: +351 252 617 506
Escola de Rendas de Bilros
Horário de Funcionamento
Durante o período letivo: terça a sexta-feira 09h30 – 12h00 / 14h00 – 18h00
Durante as férias letivas: segunda a sexta-feira 09h30 – 12h00 / 14h00 – 18h00